Discurso durante a 78ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre a expectativa dos conteúdos das revistas de circulação nacional neste próximo fim de semana, no que tange aos desdobramentos da Operação Navalha, da Polícia Federal.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. LEGISLATIVO.:
  • Comentários sobre a expectativa dos conteúdos das revistas de circulação nacional neste próximo fim de semana, no que tange aos desdobramentos da Operação Navalha, da Polícia Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 26/05/2007 - Página 16518
Assunto
Outros > IMPRENSA. LEGISLATIVO.
Indexação
  • CRITICA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DIVULGAÇÃO, NOTICIA FALSA, ACUSAÇÃO, MEMBROS, TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU), PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO, EMPRESA, CONSTRUÇÃO CIVIL, ILEGALIDADE, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, TESOURO NACIONAL, AUMENTO, GASTOS PUBLICOS.
  • APOIO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, MARCO MACIEL, SENADOR, REGULAMENTAÇÃO, FUNÇÃO, LOBBY, IMPEDIMENTO, PERSEGUIÇÃO, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, CONGRESSISTA.
  • SOLIDARIEDADE, MINISTRO, PROCURADOR, TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (TCU), VITIMA, INJUSTIÇA, ACUSAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, eu quero dizer ao Senador Mão Santa que fique absolutamente tranqüilo, porque serei bem consciencioso no uso do tempo hoje.

Mas eu queria apenas dizer que o Brasil vive - e é normal em crises dessa natureza - momento de pânico. Pânico por listas que circulam, suposta ou hipoteticamente. Pânico porque, no final de semana, as revistas, as três revistas de maior conceito, são aguardadas com expectativa. E aí, à boca pequena, se comenta que vem arrasando fulano, vem em cima de sicrano. É um Deus nos acuda! Assessores e alguns mais afobados varam a noite esperando receber as informações em primeira mão. Mas é preciso, Senador José Maranhão, que, nessa avalanche de denúncias, principalmente partida de lobistas, veja-se com cuidado onde há verdade, onde há fantasias, onde há a picaretagem e a má-fé.

Vi uma matéria, hoje, no Globo Online, que vai circular na Veja deste final de semana e que me preocupou bastante, porque envolvem duas figuras extraordinárias do Tribunal de Contas da União. Um, já aposentado e que foi nosso Colega, é o ex-Ministro Adylson Motta.

Quem teve oportunidade de conviver com Adylson Motta na Câmara não admite, por hipótese alguma, nem de longe, a possibilidade de ter havido um diálogo dessa natureza. Homem de aspecto carrancudo, mal-humorado até, mas de quem todos os Parlamentares gostavam e gostam. Tanto é que entrou na disputa para a vaga ao Tribunal de Contas da União na Câmara sem apoio de ninguém, apenas com a sua luta e o seu exemplo de atuação, e foi o mais votado, sendo conduzido para o Tribunal. Homem de vida simples e conhecido por todos.

Não há a menor possibilidade. Seria para mim o fim do mundo admitir como verdade o diálogo que a revista transcreve como tendo ocorrido. O Sr. Sérgio Sá, que ainda não entendi quem é - se é lobista, dono de empresa, o que representa, o que faz na vida -, comunica ao Sr. Zuleido que terá um encontro às 13h30min com o Procurador Lucas Furtado, do Tribunal, outra figura que conhecemos - recentemente ele teve seu nome indicado para uma vaga do Tribunal de Contas da União, mas, infelizmente, disputou com um candidato oriundo desta Casa, figura unanimemente querida por todos nós, Raimundo Carreiro, e, de maneira muito elegante, aceitou o resultado; é um dos homens que melhor entende de apuração de contas públicas neste País.

E o diálogo diz mais ou menos o seguinte:

Sérgio Sá: “Adylson chamou o Lucas na casa dele uma e meia da tarde. Tenho que chegar um pouco antes. Deixe o celular ligado que te informo”.

O Zuleido diz: “OK”. Posteriormente, às 16:56, ele liga novamente, e aí já fala com Dª Fátima Palmeira e diz: “O Lucas só levou os pareceres do processo. Quando cheguei lá, o Adylson ficou ... da vida [estou cortando duas palavras aqui, por censura, são palavrões]; ele falou assim [segundo o Sr. Sérgio Sá, Adylson Motta falou]: ‘Faz de conta que eu não vi isso’”.

E a Fátima completa: “É um absurdo”.

Duvido muito de que Adylson Motta dê cabimento e liberdade para receber pessoas na casa dele. Amigos, sim. Poucos. Mas trabalho?! Eu conheci, a gente conhece as pessoas, V. Exª conviveu com Adylson Motta, a gente conhece as pessoas. Não há a menor possibilidade.

E aí me preocupei, porque ainda sou dos homens desta terra solidário e amigo com as pessoas que conheço. Quando vi a matéria, aquilo me pegou fundo, porque sei que poderá enlamear dois homens que são vítimas de chantagem de lobistas que, naturalmente, usaram seu nome para proveito próprio.

Aí, Senador João Pedro, eu, muito curioso, fui para as datas. O diálogo ocorreu no dia 29 de agosto do ano passado. O Ministro Adylson Motta deu seu último expediente como Ministro do Tribunal... Preste atenção, Senador Wellington: o diálogo aqui ocorrido, de que o lobista fala, foi no dia 29 de agosto. O Ministro Adylson Motta deu seu último expediente como Ministro do Tribunal de Contas no dia 23. Sua aposentadoria saiu no Diário Oficial da União do dia 24, e, no dia 25, já como aposentado, sem nada mais poder assinar, ele participou da sua despedida e da sua festa de aniversário naquele Tribunal. O que faria no dia 29 um ex-Ministro, reunido nessas circunstâncias? Picaretagem pura! Isto é muito comum de acontecer:, lobistas de empreiteiros usarem nomes de autoridades.

Estou fazendo essa defesa porque não é de nenhum Parlamentar. Não se diga que é “operação abafa”; não é do meu feitio. Estou fazendo a defesa de dois homens que não têm esta tribuna para sua defesa. Um que está de pijama, aposentado, em casa, que é o Adylson, fazendo jus à justa aposentadoria. E tenho certeza, pela sua formação, de que isso mexe com seu espírito, mexe com sua vida pessoal, da sua família, dos seus amigos. E é um erro inadmissível. Não culpo a revista. A revista recebeu a informação; o diálogo do lobista é perfeito. Agora, até por questão de tempo, está-se vendo que foi uma armação do picareta para tomar dinheiro do dono da empresa, o picareta maior.

Para felicidade, eu tive também a curiosidade de examinar o parecer do Procurador Lucas Furtado, que foi contrário aos interesses da Gautama.

Era bravata, picaretagem. Daí por que, Senador José Maranhão, às vezes, passo por chato no meu gabinete por evitar receber lobista ligado a empreiteira, por evitar receber esse tipo de gente. Sou favorável ao projeto do Senador Marco Maciel que regulamenta a função do lobby, para que, quando nos procurar, o lobista chegue com um crachazinho e possamos saber com quem estamos lidando, e possamos separar o bom lobista do mau lobista, porque o pior do lobista é quando ele se passa por amigo.

Senador José Maranhão, pelo meu espírito, eu sou um homem que gosta da boa mesa - o meu tamanho já demonstra isso. Adoro um almoço com companheiros, mas deixei de freqüentar restaurantes em Brasília por causa da figura do lobista. Você chega a um restaurante e vem aquela figura - eu já disse isso aqui uma vez, Senador João Pedro; tenha cuidado com isso, pois V. Exª chegou agora à Casa - com um terno bem cortado, um lenço saindo da lapela, cabelo “glostorado”, uma pasta tipo 007, que brilha combinando com o sapato, brilham mais do que angu de costa - V. Exª é do Nordeste e sabe como é o angu virado -, brilham mais do que angu virado, e vão agindo com intimidade: “Conheço o seu pai; conheço a sua mãe; sua tia me fez esse favor.” Porque eles estudam a vida do parlamentar exatamente porque precisam dele, e vêm com intimidade. E agora, depois que inventaram esse telefone que é máquina fotográfica, eles podem tirar um retrato seu sem você saber. E, quando tomar conhecimento, você paga o preço. Além do mais, Senador José Maranhão, eu vou a um restaurante com V. Exª para ter um almoço agradável, e o chato do lobista senta-se à mesa ao lado a dizer besteira e a atrapalhar. Nosso tempo de almoço é curto. Eu o aboli! Ou não almoço, ou almoço em casa, ou almoço aqui num puxado no meu gabinete do Senado, exatamente por causa dessa praga. E você pensa que, no restaurante da Câmara ou do Senado, você se protege? Os lobistas têm cadeira cativa. Às vezes até por culpa de colegas nossos. Essa praga tem que acabar exatamente para se evitarem fatos dessa natureza.

Quero encerrar minhas palavras levando minha solidariedade ao Ministro aposentado Adylson Motta e ao Procurador Lucas Furtado. Os fatos já mostram a falta de fundamento pela própria data. Dia 29 de agosto, repito, o Ministro Adylson Motta já estava de pijama, e lobista não procura o antecessor, procura sempre quem está no poder. Aliás, Senador Mozarildo, para o lobista, gratidão é sempre a esperança do favor futuro. É a regra, é a lei.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/05/2007 - Página 16518