Discurso durante a 82ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo ao Governo Federal para manutenção da Operação Carro-Pipa, executada pelo Exército brasileiro em municípios, da Paraíba.

Autor
Efraim Morais (PFL - Partido da Frente Liberal/PB)
Nome completo: Efraim de Araújo Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CALAMIDADE PUBLICA. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Apelo ao Governo Federal para manutenção da Operação Carro-Pipa, executada pelo Exército brasileiro em municípios, da Paraíba.
Aparteantes
Cícero Lucena, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 31/05/2007 - Página 17171
Assunto
Outros > CALAMIDADE PUBLICA. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • GRAVIDADE, SECA, ESTADO DA PARAIBA (PB), REGIÃO NORDESTE, REPUDIO, BUROCRACIA, OBSTACULO, AUXILIO, ESTADO, ESPECIFICAÇÃO, DATA, PEDIDO, ATRASO, MINISTERIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL, ATENDIMENTO, MUNICIPIO, ESTADO DE EMERGENCIA, PROTESTO, SUSPENSÃO, OPERAÇÃO, EXERCITO, CAMINHÃO, ABASTECIMENTO DE AGUA, APREENSÃO, SITUAÇÃO, POPULAÇÃO, ZONA RURAL, SOLICITAÇÃO, URGENCIA, ATENÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MINISTRO DE ESTADO.
  • IMPORTANCIA, DEBATE, TRANSPOSIÇÃO, AGUA, RIO SÃO FRANCISCO, CONTROVERSIA, MOTIVO, DESCONHECIMENTO, ESTUDO TECNICO, AUSENCIA, DANOS, ECOLOGIA, REGISTRO, DADOS, JUSTIFICAÇÃO, SOLUÇÃO, PROBLEMA, ABASTECIMENTO DE AGUA.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho nesta tarde a esta tribuna - acho que até se fazia desnecessário - para tratar de um tema que muito se bateu e se debateu aqui, neste plenário, e no Congresso Nacional. É uma questão que atinge a minha região, o meu Nordeste, a minha Paraíba, que é a seca.

Dito isso, Sr. Presidente, parece até banal, tal a reincidência com que é mencionado o assunto. Mas, por trás de números, estatísticas e banalidades, há seres humanos - seres humanos em estado limite, em estado de permanente emergência.

Lamentável é que a burocracia estatal seja insensível a essa realidade.

Para que as Srªs e os Srs. Senadores entendam: desde o dia 2 de abril, está em análise no Ministério de Integração Social um pedido de ajuda - o termo mais apropriado é socorro - à zona rural da cidade de Picuí, uma das mais importantes do Curimataú paraibano, cujos Municípios estão há meses em estado de calamidade pública em face da seca naquela região. É bom que se acrescente que o flagelo atinge não só o Curimataú paraibano, mas também o Cariri, o Sertão, o Alto Sertão e também, por incrível que pareça, a região onde mais chove, que é o nosso Brejo Paraibano.

Acabo de receber, via e-mail, comunicação do presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural da cidade de Picuí, Aguifa Lira Dantas, de que a Operação Carro-Pipa, executada pelo Exército brasileiro - operação que, embora antiga e contestada, tem sido essencial para a sobrevivência daquelas populações -, terminará nesta sexta-feira, 1º de junho.

Sr. Presidente, é desnecessário dizer o que isso significará para aquelas pessoas. São dez mil seres humanos, cidadãos brasileiros, na zona rural de Picuí, sem o insumo básico à sobrevivência: a água potável. Estou me referindo a dez mil pessoas num único Município do Estado da Paraíba, Picuí.

Dois distritos daquele Município - Santa Luzia do Seridó e Serra dos Brandões, que conheço - dependem hoje, exclusivamente, de carros-pipa que são alugados pelo Exército, que deseja e quer encerrar suas operações depois de amanhã.

Ou seja, se nada for feito, se o Ministério da Integração Social não se comover com o pedido de socorro que lá está desde o dia 2 de abril - decretado o estado de emergência, comprovado o estado de emergência - e solicitar ao Exército que prorrogue a Operação Carro-Pipa na região até que as chuvas caiam - se é que vão cair -, aquelas pessoas receberão na sexta-feira próxima, depois de amanhã, quase que uma sentença de morte, que é o que significa a falta de água potável para o consumo humano.

Sim, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores: sentença de morte. Dez mil pessoas ficarão, simplesmente, sem água potável. Nada menos. Nada de novidade. Essa é a realidade.

Sem água, como é óbvio, não há vida - e isso não parece comover a burocracia do Ministério da Integração Social.

Renovo daqui o apelo às autoridades federais: ao nordestino Presidente Lula e ao nordestino Ministro da Integração Nacional, o Deputado baiano Geddel Vieira Lima. Sei que ambos conhecem de perto - e não de ouvir dizer - as agruras do sertanejo nordestino, sei que têm sensibilidade para esse drama, sensibilidade que a burocracia estatal não está tendo, pois ignora o pedido de socorro que lá está há dois meses.

Peço também ao Exército brasileiro que não suspenda a operação com os carros-pipa enquanto não houver providência por parte do Governo que a torne dispensável. Caso contrário, só no Município de Picuí, na zona rural do Município de Picuí, principalmente nos distritos de Santa Luzia do Seridó e de Serra dos Brandões, aquelas dez mil pessoas correrão o risco de deixar de viver. Será um lento genocídio, pois outro nome não encontro para designar a sentença de morte coletiva que a suspensão do fornecimento de água potável representará para quem habita aquela região.

Diante de assunto de tal porte, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não há governo ou oposição. Há o interesse público - e, mais do que isso, o interesse humanitário, superior a quaisquer querelas partidárias. É a vida de brasileiros - milhares de brasileiros - que está em jogo. Nada menos.

Essa circunstância que acabo de relatar remete inevitavelmente a um tema fundamental, infelizmente ainda controverso no âmbito do próprio Governo Federal: o da transposição das águas do rio São Francisco. A controvérsia decorre basicamente da escassez de informação, que dá curso a uma série de inverdades que os adversários da causa fazem questão de propagar.

A principal é que a transposição gerará danos ecológicos, quando há estudos técnicos de especialistas demonstrando o contrário.

A quantidade de água a ser desviada - equivalente em média a 1% do total despejado no mar - é irrisória no que concerne ao volume hídrico, mas essencial para aliviar a situação dramática e desumana em que vivem milhões de pessoas do Nordeste brasileiro, principalmente no meu Estado da Paraíba, no Estado do Rio Grande do Norte e no Estado do Ceará, entre outros.

Sr. Presidente, a transposição é a saída para um drama que permeia a história do Brasil e que submete há séculos o nordestino a humilhações de toda ordem.

A transposição do São Francisco, como tenho dito e repetido, não é um bicho de sete cabeças, muito menos uma aventura. É uma solução técnica que tem sido utilizada pela humanidade, desde a Antigüidade, com resultados positivos.

Os Estados Unidos, por exemplo, fizeram com êxito a transposição das águas do rio Colorado. A Espanha, por sua vez, transferiu também metade das águas do rio Tejo.

No caso do São Francisco, o projeto é tecnicamente bom e os obstáculos que enfrenta são políticos - e dependem, pois, de determinação do Governo Federal.

A maneira mais eficaz de superar pressões - denunciá-las - é permitindo que circulem mais informações a respeito do projeto de transposição. Dessa forma, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os que, como eu, são favoráveis à causa - que, repito, não é partidária nem é ideológica: é humanitária - podem também somar suas vozes à do Governo Federal e prestar os esclarecimentos necessários em relação à obra.

Concedo o aparte a V. Exª, Senador Cícero Lucena, com a permissão do Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Mozarildo Cavalcanti. Bloco/PTB - RR) - Pediria aos nobres Senadores que fossem breves, porque já prorroguei por dois minutos automaticamente.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Em seguida, ouvirei o Senador Mão Santa, pois em se tratando de um assunto tão importante para o nosso Nordeste, acredito na tolerância de V. Exª.

Ouço o Senador Cícero Lucena.

O Sr. Cícero Lucena (PSDB - PB) - Senador Efraim Morais, eu estava ouvindo o seu pronunciamento e pensando na importância desse tema que V. Exª traz agora à tarde ao plenário. Quero dizer que também me somo às suas palavras, às suas preocupações, bem como à cobrança para que possamos ter equacionado, de uma forma definitiva, esse problema tão sério, em particular destes três Estados a que V. Exª já fez referência: Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Tive a oportunidade, como Governador do Estado da Paraíba, de conviver com a seca em 1993 e em 1994. Bem perto de Picuí, a que V. Exª fez referência, tinha a cidade de Soledade. Naquela época, tivemos que levar água de trem para abastecer toda a comunidade. Quem nasce na Paraíba, como em outros Estados do Nordeste, sabe muito bem o que é o problema da seca. Já convivemos, em algumas cidades, com situações em que o pobre do agricultor tem o feijão e não tem a água para cozinhá-lo. Então, é inacreditável que tenhamos, no Brasil, essa discussão sobre quem é ou não favorável a essa transposição. Na última sexta-feira, Senador Efraim Morais, estive na hidrelétrica de Itaí, em Santa Catarina, e constatei que só o vertedouro dessa hidrelétrica estava aberto e já tinha diminuído com 1,2 mil metros/segundo, quando falamos em 50 a 60 metros/segundo para a transposição, visando a abastecer esses três Estados. V. Exª citava também exemplos de transposição que tiveram êxito. Pergunte à população do Rio de Janeiro, que hoje se beneficia de uma transposição, feita lá atrás, do rio Paraíba do Sul, como seria o Rio de Janeiro sem essa transposição. A transposição das águas do rio São Francisco, pela sua importância, deve ser chamada de transfusão, porque vai dar vida e dar oportunidades às pessoas de sobreviverem nesses três Estados. Muito obrigado.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Agradeço a V. Exª, Senador Cícero Lucena, que conhece muito bem a questão da transposição das águas do São Francisco. V. Exª, que foi Ministro da Integração Nacional, conhece e acompanhou em detalhes esse projeto, pois foi uma das pessoas que iniciaram esse trabalho, ao lado do Ministro Fernando Catão e de tantos outros Ministros que passaram por aquela Pasta.

Tenho certeza de que o Ministro Geddel Vieira Lima, que tem uma posição política contrária no seu Estado, a Bahia, deverá cumprir determinação do Presidente e das forças políticas que defendem a transposição do São Francisco.

Quanto ao nosso Picuí e a nossa Paraíba, é possível que se sobrevoarem essa região, hoje, Sr. Presidente, verão tudo verde, mas é o que chamamos de seca verde, pois há o verde, mas não há água acumulada; e não adianta termos o verde sem água. É o que acontece hoje.

O que esperamos - eu, V. Exª e toda a Bancada Federal da Paraíba, o Governador da Paraíba, enfim, o povo paraibano - é que as providências sejam tomadas com a maior urgência possível. Não temos culpa, não gostaríamos de estar aqui pedindo, pelo amor de Deus, que mantenham os carros-pipa para que o nosso povo não morra de fome, sem falar nos animais. Se a burocracia não acredita, que se desloque daqui e vá até à Paraíba, vá ao Município de Picuí e suba a Serra dos Brandões para ver exatamente o que acontece em nossa região.

Ouço V. Exª, Senador Mão Santa, para, em seguida, concluir, Sr. Presidente.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Efraim Morais, seu discurso é muito oportuno. V. Exª se preocupa e simboliza o melhor da representação do Nordeste. Quando governava o Piauí, eu e outros Governadores fomos convidados pelo Ministro da Integração Nacional que sucedeu o Senador Cícero Lucena, o ex-Senador Fernando Bezerra, para irmos a Denver. Lá, acompanhamos os benefícios e a riqueza que a transposição do rio Colorado trouxe a toda região. Senador Efraim Morais, para a engenharia tudo é possível. E V. Exª simboliza essa competência de engenheiro. Mas esse problema é tão antigo que Leonardo da Vinci, líder do Renascimento e, além de artista, também engenheiro militar, fez a transposição do rio Arno.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Agradeço a V. Exª, Senador Mão Santa, e incorporo na íntegra o aparte de V. Exª.

Concluo, pois, Sr. Presidente, renovando o apelo ao Ministro da Integração Nacional, o nordestino Geddel Vieira Lima. Fui seu companheiro na Câmara dos Deputados e tenho certeza de que atenderá, com a máxima urgência, o pedido de socorro encaminhado a sua Pasta, há dois meses, pelo Governo da Paraíba, pela zona rural e pelo povo do meu querido Município de Picuí, no Curimataú paraibano. E não só no Curimataú paraibano, mas também das outras regiões da minha Paraíba. Tenho certeza de que o Sertão, o Cariri e o Brejo Paraibano precisam, neste momento, da mão amiga de outros nordestinos: o Presidente Lula e o Ministro Geddel Vieira Lima.

Mas faço também um apelo para que o Exército não interrompa a operação com carros-pipa na região. Confio, Sr. Presidente, na sensibilidade humanitária do Ministro e das autoridades do Exército brasileiro.

Era o que tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/05/2007 - Página 17171