Discurso durante a 76ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

A invasão da USP.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ENSINO SUPERIOR.:
  • A invasão da USP.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/2007 - Página 16084
Assunto
Outros > ENSINO SUPERIOR.
Indexação
  • ANALISE, IMPORTANCIA, DIALOGO, NEGOCIAÇÃO, AMBITO, DEMOCRACIA, NECESSIDADE, EXERCICIO, AUTORIDADE, GARANTIA, RESPEITO, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, REITERAÇÃO, CRITICA, OMISSÃO, GOVERNO, CRISE, TRANSPORTE AEREO.
  • ANALISE, INVASÃO, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), OPOSIÇÃO, GOVERNO ESTADUAL, CRIAÇÃO, SECRETARIA, ENSINO SUPERIOR, ESCLARECIMENTOS, AUSENCIA, RESTRIÇÃO, AUTONOMIA, AUMENTO, TRANSPARENCIA ADMINISTRATIVA, APLICAÇÃO DE RECURSOS, COMENTARIO, PERDA, PRODUÇÃO, CIENCIAS, FORMAÇÃO, CURSO DE DOUTORADO, CRITICA, CRITERIOS, POLITICA PARTIDARIA, DEBATE, MATERIA, DEFESA, ATUAÇÃO, JOSE SERRA, GOVERNADOR, DISPONIBILIDADE, ORADOR, NEGOCIAÇÃO, COBRANÇA, RESPONSABILIDADE, PREVENÇÃO, CRISE.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, fico muito agradecido ao Senador Suplicy pela atenção que deu às minhas palavras e à advertência que procurei aqui fazer na qualidade e na condição de Líder do PSDB.

            Digo que se faz democracia sempre com diálogo, e o nosso Partido neste Senado é uma prova sobeja de que não se furta a dialogar, por iniciativa nossa ou por iniciativa de quem quer que seja nesta Casa. Mas democracia se faz também com autoridade, não se faz permitindo quebra-quebra em Tucuruí, não se faz permitindo a desmoralização da autoridade militar como no episódio dos controladores de vôo; democracia se faz com respeito ao que diz a Constituição, ao que diz a lei.

            Então, Sr. Presidente, volto a dizer a V. Exª que, especificamente em relação à USP, vamos dar nome aos bois, Partido da Causa Operária, um outro partido, se não me engano, PSTU, sei lá... E imagino que o PT de São Paulo haverá de se portar com a mesma grandeza com que a Oposição se porta em relação ao Presidente Lula aqui nesta Casa. Estamos acabando de votar o PAC na terça-feira. O Presidente Lula diz que isso é essencial para o seu Governo, e estamos aqui fazendo isso e imagino que não é hora mesmo. Eu conheço a grandeza do Senador Suplicy, quero confiar na grandeza dos seus companheiros de Partido em São Paulo. Não é hora de tirar casquinha de ninguém, não é hora de nada menor.

            E vamos explicar de uma vez por todas o que se passa na USP. O Governador Serra não quer tocar absolutamente em nada da independência, da autonomia universitária. Ele, ao contrário, está aumentando as dotações financeiras. Portanto, não quer também estrangular financeiramente a USP.

            Sr. Presidente, dizem que o fato de ele ter criado a Secretaria de Ensino Superior - esse é o pretexto - significaria ele estar castrando a autonomia universitária. As mesmas pessoas que dizem isso talvez tenham esquecido já que a Secretaria de Desenvolvimento era aquela à qual estava vinculada sem subalternidade, como não terá subalternidade agora em relação à de Ensino Superior, a outra secretaria, a de Desenvolvimento.

            Do mesmo modo, nós temos uma cobrança nítida de transparência: não dá para se escudarem no que entendem ser autonomia universitária para não prestarem contas do dinheiro público, não prestarem contas do desempenho acadêmico. Há uma cobrança nítida. Não é possível que a USP esteja em queda em relação à produção científica, em relação à formação de doutores.

            Vamos dar um exemplo muito claro e temos de fazer uma autocrítica conjunta. Eu estou sem nenhuma paciência para fazer joguinho de PT contra PSDB, eu estou sem nenhuma paciência para isso. Eu quero pensar no meu País. Eu tenho filhos. Eu tenho quatro filhos, de doze a vinte e oito anos de idade.

            A Argentina, Sr. Presidente, tem talvez meia dúzia de Prêmios Nobel. Nós temos quantos no Brasil? E se tivesse que sair algum Prêmio Nobel, sairia de onde? Sairia da Unicamp, sairia da USP, preferencialmente, até pelas condições de desenvolvimento tecnológico e desenvolvimento de produção científica atingido por São Paulo em relação ao resto do País.

            Infelizmente, muito difícil seria sair da minha modesta, porém valorosa, Universidade Federal do Amazonas. Mas, se no futebol não é assim, a Argentina nos dá uma goleada em matéria de Prêmio Nobel. É isso o que não quer o Governador Serra. Ele quer ajudar a Universidade a se alçar além dos limites já alcançados pela universidade, pela academia argentina.

            Portanto, Sr. Presidente, ele não pretende fazer nenhuma violência, embora saibamos que não é possível ficarem morando lá. Ele não pretende se furtar a diálogo qualquer; contudo, é fundamental que esse diálogo seja muito bem montado para não parecer uma armadilha para o Governador ou uma tentativa de lhe arranhar a autoridade.

            V. Exª acompanhou de perto o bom governo feito pelo Governador Jorge Viana em seu Estado e sabe que, em alguns momentos, é preciso autoridade. Não é possível simplesmente armarem uma teia de aranha como se fossem ali fisgar alguém inadvertido, que, nesse caso, seria o próprio Governador.

            Então, estou às ordens - e disse isso ao Senador Suplicy - para favorecer, no que seja possível, o diálogo entre forças legítimas que queiram solução e o Governador Serra. Forças legítimas! Ontem, eu dizia que uma pessoa filiada ao P-SOL, uma figura da maior respeitabilidade pública que estaria lá tentando essa negociação - e tenho certeza do respeito que o Governador Serra tem por ele -, o Deputado Plínio de Arruda Sampaio, sempre o Deputado Plínio de Arruda Sampaio. Houve nomes da maior respeitabilidade. Não posso acreditar em nenhuma molequeira, em nada de leviandade praticada por um Fábio Konder Comparato. Não posso acreditar nisso. Não posso acreditar que não estejam eles imbuídos de resolver uma situação que pode se tornar dramática a depender do clima negativo de enrijecimento de posições que possa acontecer.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - O Professor Dalmo Dallari. O Aloysio Nunes Ferreira pediu a ele para...

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sim; o Professor Dalmo Dallari. Figuras que respeitamos, enfim.

            Então, Sr. Presidente, estou às ordens, na modéstia das minhas possibilidades, para ajudar nisso. Mas eu só cobro que todos os interlocutores trabalhem nesse episódio com a maior responsabilidade, porque não é hora de se tirar casquinha de ninguém.

            O Brasil vive, Sr. Presidente - e não quero me delongar -, um dos momentos mais graves da sua história recente. Não vamos bancar aqueles encastelados na torre de marfim. Este Parlamento tem um defeito. Sou admirador de Oscar Niemeyer, do gênio de Oscar Niemeyer, admirador dele mesmo, mas o nosso Parlamento tem um defeito de concepção: ele é voltado para dentro. Aqui, nós só olhamos a nós mesmos, diferentemente do Bundestag, na Alemanha. O orador está falando e está vendo uma bicicleta passar, está vendo um casal de namorados se beijar ou se desentender, está vendo um trabalhador comer o seu sanduíche, aquele seu lanche vespertino. O cotidiano está se cruzando com o que diz o orador.

            Aqui, nós ficamos ilhados, parece que estamos num submarino. E creio que esse é um defeito de concepção que deve ser compensado por muita vontade nossa de mergulharmos na sociedade para a entendermos. Não podemos ficar na torre de marfim. O Brasil vive uma crise terrível. Os indicadores econômicos são bons, mas eu sinto, no que possa ter de instinto, uma brutal preocupação. Estou preocupado com os rumos que, a meu ver, estão se encaminhando para levar o País a uma crise institucional. Tudo o que não podemos aceitar passivamente, tudo o que temos que evitar, com o máximo de responsabilidade.

            O Partido de V. Exª, do Senador Eduardo Suplicy, do Senador Flávio Arns, está no poder e está em visível processo de amadurecimento.

            O meu Partido, por tudo que já viveu, pelo que já passou, pelo que vivencia de poder estadual hoje, pelo que já vivenciou de poder federal até ontem, muita responsabilidade é cobrada de nós, Sr. Presidente.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/2007 - Página 16084