Discurso durante a 89ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Protesto contra matéria publicada pela revista Veja, no último dia 6 de junho, de autoria do jornalista Roberto Pompeu de Toledo, que traz afirmativas inverídicas sobre o Estado de Roraima.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Protesto contra matéria publicada pela revista Veja, no último dia 6 de junho, de autoria do jornalista Roberto Pompeu de Toledo, que traz afirmativas inverídicas sobre o Estado de Roraima.
Aparteantes
Augusto Botelho, Rosalba Ciarlini.
Publicação
Publicação no DSF de 13/06/2007 - Página 19345
Assunto
Outros > IMPRENSA. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • REPUDIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, SITUAÇÃO, POBREZA, ESTADO DE RORAIMA (RR), FALTA, OPORTUNIDADE, DESENVOLVIMENTO, IMPORTANCIA, ESCLARECIMENTOS, BRASIL, INFERIORIDADE, DIMENSÃO, TERRITORIO, QUANTIDADE, RESERVA ECOLOGICA, RESERVA INDIGENA, IMPOSSIBILIDADE, EXPLORAÇÃO, RIQUEZAS, REGIÃO.
  • COMENTARIO, LOCALIZAÇÃO, ESTADO DE RORAIMA (RR), FRONTEIRA, POSSIBILIDADE, DESENVOLVIMENTO, APREENSÃO, SITUAÇÃO, TERRAS, AMBITO REGIONAL, DOMINIO, INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRARIA (INCRA), DESAPROVAÇÃO, CONDUTA, IMPRENSA, DESVALORIZAÇÃO, REGIÃO.
  • IMPORTANCIA, UNIVERSIDADE FEDERAL, CENTRO DE CIENCIAS, TECNOLOGIA, INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL, ENSINO SUPERIOR, ESTADO DE RORAIMA (RR), COMENTARIO, AUTORIA, ORADOR, LEGISLAÇÃO, CRIAÇÃO, UNIVERSIDADE.

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco/PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado, Sr. Presidente.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na revista Veja do dia seis deste mês, na última página, num ensaio de Roberto Pompeu de Toledo intitulado “O arquiteto da fila”, o referido jornalista faz inúmeras acusações contra um Parlamentar de Roraima, o Senador Romero Jucá. Não entrarei no mérito dessas acusações, até porque cabe àquele Senador defender-se, como, aliás, fez. Na revista desta semana, inclusive, o próprio jornalista refere-se à defesa que o Parlamentar fez e acolhe-a parcialmente.

            Quero falar - e o faço publicamente - em homenagem e respeito ao povo de Roraima, porque sou parte dele, nasci lá, tenho tudo o que é meu ali, mulher e filhos. Não aceito as afirmações daquele jornalista a respeito do meu Estado. Ele diz que o Senador Romero Jucá é representante de um Estado pobre, de escassa oferta de oportunidades. Esse fato, lamentavelmente, é uma constatação na maioria dos Estados Brasileiros. Meu Estado é pequeno e pobre - é verdade -, até porque é impedido de explorar suas próprias riquezas pelo Governo Federal. Temos talvez as maiores riquezas minerais da Amazônia, mas, sobre o mapa das nossas reservas minerais, foram estabelecidas reservas ecológicas, reservas indígenas, e estamos impedidos de explorá-las.

            Agora, o que mais me ofende - e ofende, portanto, o povo de Roraima - é que, mais à frente, ele diz, de novo se referindo ao Senador Jucá, que o Senador representa um Estado desimportante. Isso eu realmente não posso aceitar.

            A importância de um país ou de um estado não se mede nem pelo número de habitantes, nem pela distância que esse estado ou esse país tenha dos grandes centros.

            Acho que, se é importante o Rio de Janeiro - creio que o jornalista é de lá -, importante também é o Estado de Roraima. O povo de Roraima é tão brasileiro, ou mais, do que muitos outros povos de outros Estados. Não aceito, portanto, essa classificação de desimportância.

            Nós temos importância para o País, inclusive geopolítica, muito grande. Estamos encravados dentro da Venezuela e da Guiana, numa região de conflito internacional, e temos uma localização que podia nos tornar um Estado altamente próspero, não fossem as políticas de sucessivos Governos federais, que entravam - pasmem! - até mesmo que o Estado, que foi transformado de território em Estado, tenha suas terras - quando território federal, as terras pertenciam ao Incra. E continuam pertencendo ao Incra.

            Então, eu quero, em nome de todos os roraimenses, daqueles que nasceram lá, como eu, ou daqueles que não nasceram lá, mas foram para lá, como meu pai, que foi do Ceará para lá, manifestar a minha indignação e a minha irresignação com essa afirmação, porque cada brasileiro lá de Roraima é tão importante quanto qualquer brasileiro do Rio de Janeiro, de São Paulo, do Rio Grande do Sul ou de qualquer outro Estado.

            Gostaria de conceder, com muito prazer, o aparte, inicialmente à Senadora Rosalba Ciarlini e, depois, ao Senador Augusto Botelho.

            A Srª Rosalba Ciarlini (PFL - RN) - Senador Mozarildo, quero-me solidarizar com sua indignação, porque, na realidade, não podemos aceitar que haja algum tipo de discriminação contra os Estados que enfrentam as maiores adversidades, por sermos de regiões mais pobres e mais carentes, pois somos brasileiros como qualquer outro, com o mesmo amor e com a mesma vontade de ver este País crescer e de se desenvolver, com justiça social. V. Exª sabe muito bem disso, pois vive em Roraima, vivencia seus problemas, suas dificuldades, tais como a grande distância e a falta de apoio em questões básicas e necessárias para a população. E esta Casa aqui representa um Brasil igual, porque é a representação de todos os Estados, independentemente de dimensão, de renda, de oportunidades culturais e sociais. Somos três Senadores por Estado. Sou de um Estado pequeno, um Estado nordestino. Mas quero parabenizá-lo e dizer que, como V. Exª, jamais aceitarei que queiram, de qualquer forma, diminuir a importância do meu Estado e a força que tem o seu povo, o valor daquele povo bom, forte, que enfrenta os desafios, que vence obstáculos e que recebe tão bem. Porque muitos mossoroenses estão no seu Estado, sentindo-se filhos de Roraima, porque são filhos do coração, que vocês tão bem receberam.

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco/PTB - RR) - Agradeço muito o seu aparte. Como nordestina, V. Exª sabe muito bem da importância que o Nordeste teve para o meu Estado.

            Eu disse aqui que meu pai, um cearense, foi para lá na década de quarenta; mas os meus avós maternos foram da Paraíba para lá na década de trinta. Então, o meu Estado é fruto dessa miscigenação. Como eu disse, nem os roraimenses que lá nasceram nem os que foram para lá podem aceitar essa afirmação de que somos desimportantes.

            A Srª Rosalba Ciarlini (PFL - RN) - E quantos do Sul, do Centro-Oeste, do Sudeste participam desse Estado, dando a sua contribuição, colocando para Roraima todo o seu potencial e a força do seu coração?

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco/PTB - RR) - Muito obrigado. É verdade. Lá existem brasileiros de todos os rincões da Pátria, e temos imenso prazer em recebê-los a fim de contribuírem para o desenvolvimento do nosso Estado.

            Senador Augusto Botelho, com muito prazer, ouço V. Exª.

            O Sr. Augusto Botelho (Bloco/PT - RR) - Senador Mozarildo, também quero me solidarizar com a indignação de V. Exª. Em Roraima, todos ficamos indignados quando soubemos que o nosso Estado foi tratado com desprezo. Nós, que descendemos de pessoas que foram para lá e que garantiram a fixação das nossas fronteiras, o português que demarcou a fronteira, Pedro Teixeira, e os nossos tataravôs ficariam ofendidos, porque morreram lutando e trabalhando honestamente para garantir ali os limites do Brasil. O nosso Estado, apesar de ser considerado desimportante e ser desprezado pelo jornalista, tem grandes perspectivas. Estamos entre dois países; estamos a quinhentos quilômetros do mar. A maior área do mundo disponível e ainda não explorada pela agricultura está entre Roraima, a Venezuela e a Guiana. É uma área que será produtora de álcool e grãos com certeza. E estamos caminhando para isso. O Presidente Lula, há 60 dias, prometeu que iria solucionar o problema das terras do Estado. Estamos aguardando, e tenho confiança de que solucionará o problema fundiário de Roraima. Já temos recursos. Grande parte do recurso que será investido lá volta. Este ano, voltaram R$110 milhões do FNO, porque ninguém tinha garantia para pegar o dinheiro e investir no Estado. Declaro que a maior ofensa para o nosso Estado foi esta: dizer que o Estado é desimportante, até com desprezo. Somos pequenos, mas honramos a nossa Pátria. Somos tão brasileiros quanto qualquer outro. Aliás, somos até mais um pouco, porque pagamos para sermos brasileiros por um grande período.

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco/PTB - RR) - É verdade. Nós que moramos na fronteira extrema do Brasil sabemos disso. Muitos dos cultos jornalistas, até mesmo da Rede Globo, continuam insistindo que o Brasil vai do Oiapoque ao Chuí, ignorando a geografia. O Brasil hoje, comprovadamente, vai do Monte Caburaí, em Roraima, até o Chuí.

            Nós que estamos no extremo norte temos orgulho de ser brasileiros. E pagamos por isso. Pagamos pelo custo de vida maior, pelas dificuldades, pelas doenças que incidem mais lá - na condição de médicos, sabemos disso.

            Então, somos, sim, um Estado muito importante da Federação. Tanto que, como disse a Senadora Rosalba Ciarlini, todos os Estados são representados aqui de forma igual: três senadores por Estado.

            Quero ainda dizer, até para dar uma puxada para o meu lado, que somos tão importantes que temos lá uma universidade federal, temos um centro federal de ensino tecnológico, temos mais de cinco instituições de ensino superior. Não somos, como talvez ele pense, um lugar onde existem somente políticos corruptos que estão lá para se aproveitar.

            Quero apenas dar um exemplo: a Universidade Federal de Roraima - como Deputado, tive a honra de ser o autor da lei que autorizou a criação daquela universidade - já formou milhares de jovens, entre os quais a minha filha mais nova. Ela formou-se lá, fez um concurso aqui em Brasília para juíza do Distrito Federal e Territórios, um dos concursos mais disputados, e tirou o primeiro lugar.

            Então, somos, sim, um Estado importante, de gente guerreira e muito mais nacionalista do que muitos e muitos que vivem em Copacabana ou na Avenida Paulista, em São Paulo.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/06/2007 - Página 19345