Discurso durante a 91ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Necessidade de diminuição do número de pessoas nomeadas para cargos comissionados na administração federal. Considerações sobre o turismo no Brasil.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. TURISMO.:
  • Necessidade de diminuição do número de pessoas nomeadas para cargos comissionados na administração federal. Considerações sobre o turismo no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 15/06/2007 - Página 19915
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. TURISMO.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, EPOCA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CRITICA, GOVERNO FEDERAL, DESNECESSIDADE, CRIAÇÃO, CARGO PUBLICO, REALIZAÇÃO, RESTRIÇÃO, LIBERDADE DE IMPRENSA.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, TRIBUNA DA IMPRENSA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, GOVERNO, FALTA, ATENÇÃO, INVESTIMENTO, HOSPITAL, CAPITAL DE ESTADO.
  • SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, SAUDE, SEGURANÇA, MELHORIA, TURISMO, BRASIL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador João Pedro, que preside esta reunião de 14 de junho, Srªs e Srs. Senadores, brasileiros e brasileiras, esta é uma sessão extraordinária, porque está aqui presente o melhor do PT, com o seu camisa 10, que é o Senador Paulo Paim. Quero agradecer a Deus, porque está aí o Sibá, que é do Piauí e é a maior autoridade hoje do Estado. Todos os governos tiveram um Ministro do Piauí, e nós não temos, mas o Sibá representa bem o Piauí como Presidente do Conselho de Ética. Também está aqui a Senadora Fátima Cleide, professora, que representa a grandeza da mulher. O PT está bem representado aqui.

Todo mundo gosta do Presidente Lula, que é uma figura simpática. Votei nele no seu primeiro mandato. No segundo, não votei em Lula, mas eleição é assim mesmo.

Senador Sibá, já que temos muitos Senadores do PT aqui, gostaria que levassem ao Lula - sei que ele é muito atarefado, não gosta de ler - o teor de uma reportagem muito boa da revista Época. Li todas no final de semana. Ninguém vai roubar o valor da minha síntese. Os repórteres são Ana Galli, Andréa Leal, Matheus Leitão, Rafael Pereira e Walter Nunes, que traduzem o que era objeto de minha preocupação.

Acredito muito no estudo. Professora Fátima Cleide, acredito em Deus, no amor, na verdade, no estudo e no trabalho. Acho que para tudo tem-se que estudar. Ontem, vimos um jogo de futebol. Se futebol a gente estuda... Eu assisti ao jogo do Boca Juniors e tudo tem razão de ser, porque é Argentina. E o PT.

O que o Brasil precisa fazer para combater a corrupção? Bill Clinton tem uma figura de estadista. Outro dia, li uma pesquisa, Paim, sobre os líderes do mundo. O nosso Mandela, raça negra, foi o mais querido. Se fosse para ser governador do mundo seria Mandela. O segundo mais votado foi Bill Clinton, com aquele jeitão, democrata, mas Bill Clinton, quando assumiu a presidência dos Estados Unidos - atentai bem, Paim, V. Exª que é o melhor candidato que o PT tem para tomar aquele governo do Rio Grande do Sul, e conheço a história do PT e a do Rio Grande do Sul -, Clinton tinha sido por quatro vezes governador do Arkansas. Mas, quando ele chegou à presidência - eu também fui governador, é como a gente guiar um fusca e, depois, guiar uma carreta -, apavorou-se com a complexidade. Ele tinha sido quatro vezes, Professora Fátima Cleide, governador do Estado do Arkansas e se dedicou muito à educação. De repente, ele se apavorou e mandou estudar a democracia. Buscou Ted Gaebler e David Osborne, os mais preparados técnicos da Universidade de Administração, que escreveram o livro Reinventando o Governo. A democracia é complicada. E, resumindo, eles disseram que o governo não pode ser grande demais, tem de ser menor, porque grande demais não dá certo. Olha o caso do Titanic: era o maior navio do mundo e afundou. Está aí o exemplo da maior tecnologia, os engenheiros...

           O Governo não pode ser grande demais porque afunda. E aí eu acho um erro, ô Paim, e eu adverti. Fui Prefeito da minha cidade, Parnaíba, e governei o Piauí seis anos, dez meses e seis dias. Paim, atentai bem: havia quinze ou dezesseis Ministérios - ao longo de 507 anos de Brasil, esse foi o número máximo -, e, de repente, são quase quarenta.

           Conheço essa malandragem toda porque governei o Piauí. Ele criou a “Sealopra”, e na hora em que esse “aloprado” chegar de Harvard, ele vai querer cargo, avião, DAS, mordomias, ele que é acostumado com as coisas públicas e viciado nelas. Criou-se uma “Sealopra”. E ele já está pensando nos DAS, nos cargos, nas mordomias, na segurança - e tudo é despesa.

           Esta é a verdade: de 15, 16 Ministérios, com que todos governaram, chegamos a quase 40! E o número de funcionários? Está aqui, na revista Época: “O que o Brasil precisa fazer para combater a corrupção”. São 24 mil nomeados pelo Presidente da República no Brasil. Atentai bem!

Adentrou o plenário o nosso Dornelles, legítimo sucessor de Tancredo Neves. Sei que tem aí uns Aécios, com cabeleira bonita, mas eu sou mais o Dornelles, que é o meu candidato. Foi quem Tancredo escolheu para tomar conta da chave do cofre. Tancredo foi quem deu confiança ao povo do Brasil para acreditar na democracia.

Veja, Dornelles, estou citando o livro de Ted Gaebler e David Osborne, Reinventando o Governo, escrito por solicitação de Bill Clinton. No Brasil, só o Lula, além de ter aumentando de 15, 16 Ministérios para quase 40 - vem aí uma nova “Sealopra” -, fez 24 mil nomeações. Atentai bem, Dornelles: nos Estados Unidos da América - e V. Exª falou no poderio econômico, na grandeza, na dependência nossa do comércio -, o Bush nomeou apenas 4,5 mil. Na França, o novo Presidente, Sarkozy, só vai nomear 500! Na Inglaterra, o que ficou no lugar do Tony Blair só vai nomear 300! Ô artigo bem feito! Na Alemanha, serão 170, mesmo com a unificação. Na Alemanha, isso vem, desde que era a Prússia, de Frederico da Prússia, diminuindo. Os servidores públicos já são de carreira, já existem.

O que é que o PT fez? Não o PT com que o Paim vai governar o Rio Grande do Sul. Ele tirou companheiros por aí e colocou nessa máquina que nós construímos, e construímos bem. O Getúlio tinha o DASP - Departamento de Assessoria e Serviço Público. Havia essa riqueza de patrimônio que era o servidor público e, de repente, tiraram tudo e colocaram 24 mil chefiando tudo aí.

O sucessor de Tony Blair, que saiu, só vai nomear 170. Ô Lula, ô João Pedro, é isso, leve a verdade. Quando o Lula for ao México, mande ele ler a frase do General Oregon: “Eu prefiro um adversário que me leve a verdade, do que um aliado puxa-saco que me leve a mentira”. Como esses aloprados a que ele, em um ato de pureza, reagiu. Está aqui: 24 mil no Brasil; na Inglaterra, só se nomeiam 170. Agora, para que isso tudo? Para justificar o que o Presidente Lula disse.

E a Ministra do Turismo, a Marta “Suplício”? As filas estão aí. O aeroporto está aí... Eu viajei agora e a confusão é muita, a gente sai em um dia e chega no outro. “Relaxe e goze”. E o Presidente da República... O Bolsa-Família foi um negócio bom. Os pobres precisavam, o Presidente fez um chamamento, teve sensibilidade. Mas, hoje, o Presidente foi injusto com a imprensa. A imprensa é boa, a imprensa é correta. Ah se este País não tivesse essa imprensa! Se, com essa Imprensa que está aí, já há os mensalões, os corruptos, os bandidos, imaginem se não houvesse a Imprensa para denunciar. E funciona. É o único temor que eles ainda têm: da opinião pública, que a imprensa leva. Abraham Lincoln disse: “Não faça nada contra a opinião pública, que malogra”. Tudo com ela do lado tem êxito, Dornelles. Então é só a opinião pública que ainda estão temendo.

Mas o Presidente Lula foi injusto ao dizer que essa imprensa não ajuda o turismo, pois, quando fala da Bahia, é morte; do Ceará, é morte; do Piauí... Um Vereador do PT honrado e honesto, como os que estão aqui - ele é do Sindicato de Segurança -, disse que falsearam lá o número de crimes: é quatro vezes maior do que o divulgado. Ele deu foi o nome de todos. Um Vereador do PT, um líder classista da Secretaria de Justiça.

Então, o Presidente disse que a imprensa só fala de morte. Não é a imprensa. É a verdade.

Dornelles, V. Exª é do Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro é bonito. Eu estudei lá. Sou garoto da Praça Mauá, do Hospital dos Servidores do Estado. O jornal de Hélio Fernandes, a Tribuna da Imprensa, que é o melhor jornal que existe - eu ia trazer para cá e não trouxe -, fala do Hospital dos Servidores do Estado, Ipase. Dornelles, aquele era um hospital padrão. Eu me formei como cirurgião com Mariano de Andrade. Era um sonho, um primor. Era o mais avançado. Eram meus colegas lá no Rio Jaime Pieta, Léo Gomide, de Dom Pedrito. Fizemos residência juntos. Era um sonho. Padrão A. E está lá no jornal Tribuna da Imprensa, de Hélio Fernandes, o melhor jornal do Brasil. Aquele homem enfrentou ditaduras! E ele disse: “Há uma coluna” - eu ia até trazê-la, mas são muitos os assuntos - “sobre o Hospital dos Servidores do Estado: acabado, arrasado, desgovernado, desgastado”. Aquele hospital foi um símbolo.

Sou muito mais orgulhoso de ter sido médico residente do Hospital dos Servidores do Estado, da sua história de grandeza médica do que de ser Senador da República, aqui. Há muitos terremotos passando pelo Congresso Nacional, onde se esqueceram os valores da vergonha e da virtude. E culpa-se a imprensa!

O que eu queria dizer é o seguinte sobre o Rio de Janeiro. Fui agora, com minha Adalgisinha, Professora Fátima Cleide, passar o Dia dos Namorados em Buenos Aires. Ô Lula, aqui, seu País, está uma barbárie! Isto não é civilização. A imprensa está é muito delicada quando publica como vivemos. Isto aqui é uma barbárie! Mortes...

Ô Dornelles, sou do Piauí, como V. Exª é de Minas, oriundo da tradicional família mineira. Ô João Pedro, não sei do teu Amazonas, os costumes são outros, este País é vasto; mas, lá, no Piauí, havia o que se chama de sentinela ou velório. A pessoa morria e, quanto mais pobre, havia mais solidariedade - eu era médico da Santa Casa. Outro dia, disseram-me que havia morrido uma pessoa amiga, influente, em Teresina, capital. E eu disse: “Adalgisa, vamos, à noite, ao velório, à sentinela”. Chegando lá, Dornelles, cadê o defunto? “Já enterramos. Morreu às 5 horas, e, às 6, já enterramos. Não há mais aquele velório”. Perguntei: “Por quê?” “Porque, se fizerem velório, haverá arrastão”. Assaltam até o defunto!

Essa é a verdade, Presidente Lula; é a verdade, naquela pacata e cristã cidade, Teresina, que governei há pouco tempo. Eu saía do Palácio às 11 horas da noite e fazia um cooper, porque o calor é grande; eu fazia cooper à noite. Isso foi ainda agora!

Estudei no Rio de Janeiro. Ô Dornelles, não sei você - Adalgisa ainda não tinha nascido -, mas namorei muito naquelas gramas do Aterro do Flamengo. Ali, com as cariocas, como era gostoso! Sabe qual era a música, Conto? Era a zoada dos carros (vrum-vrum, vrum-vrum, vrum-vrum), e eu, agarrado com a carioca nas gramas! Esse era o Rio de Janeiro.

A Darcy Vargas, santa - com todo respeito à esposa do Lula, mulher bela, encantadora e elegante -, deve-se a segurança do Rio. Ela construiu a Casa do Pequeno Jornaleiro. Toda criança, ô Paim, abandonada, que vivia no meio da rua, ia morar lá. Ficava ao lado do meu hospital. Darcy Vargas as recolhia, hospedava-as, e elas iam vender jornal, ganhar dinheiro trabalhando. Nós permitíamos.

Ô João Pedro, sábado, íamos jogar futebol com eles, com os meninos de rua, que vendiam jornal.

Darcy Vargas!

Ô Dona Marisa, veja a história, com todo respeito, daquela santa mulher, Darcy Vargas. Não havia crianças na rua, porque ela as buscava. O abrigo ficava ao lado do Hospital dos Servidores do Estado.

Andei naquele Rio. Eu era garoto da Praça Mauá, andava à noite. Não havia bandido, bala perdida. Isso é coisa de agora. Havia malandro, e malandro é bom, é torcedor do Flamengo; mas bandido não havia, não. Isso é de agora, é do seu Governo essa barbárie.

Por que fui a Buenos Aires? Paim, primeiro, porque o custo de vida é mais barato. Não entendo - ô João Pedro, você é mais inteligente do que eu - como é que essa Petrobras é auto-suficiente, é não sei o quê - a Patrícia chora porque não deram o dinheiro para fazer a siderúrgica -, mas o táxi, em Buenos Aires, tem o preço do mototáxi no Brasil. São cinco pesos, que equivalem a mais ou menos R$ 3,00 ou R$ 4,00. É tudo mais barato. Como é, Paim, que, lá, a corrida do táxi tem esse preço, e, aqui, é diferente?

E as coisas vão indo.

Ô Dornelles, sabe quem estava lá também? O Delcídio. Só tem brasileiro. Está cheio! Não adianta o Lula dizer que é a imprensa, não!

Norberto Bobbio... Ô Sibá, V. Exª está lendo muito. O João Pedro disse que tem uma biblioteca com quantos volumes? (Pausa.)

Três mil volumes. Norberto Bobbio foi Senador vitalício da Itália, do Renascimento. Ô Dornelles, Norberto Bobbio disse, ô Presidente Luiz Inácio: “O mínimo que se tem de exigir de um governo é segurança à vida, à liberdade e à propriedade”. Se você tem segurança, se está feliz, aplauda. O que queremos dizer é o seguinte: é por causa da violência que não há turismo aqui. A culpa não é da imprensa, não. A imprensa divulga a beleza, a comunicação; a imprensa é boa.

Está aqui um artigo bom. Srª Ideli, com todo respeito, eu gostaria de lhe apresentar este artigo da Época - cujas autoras, aliás, são mulheres. Perguntam as jornalistas: “O que o Brasil precisa fazer para combater a corrupção?” E sintetizam no número de cargos públicos existentes no Brasil em comparação com os grandes países.

A imprensa é boa e nos agrada.

A Ministra do Turismo falou aquela lástima, o Rio de Janeiro não é aquele de antigamente, mas o Presidente Lula culpa a imprensa, que só fala em morte. Não é, não! O jornal vale pela verdade que diz, Paim. Um órgão de comunicação vale pela verdade que diz. Cristo, o grande comunicador, dizia “em verdade, em verdade...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Paim Paim - Bloco/PT - RS) - Senador Mão Santa, concluíram-se os 20 minutos concedidos pelo Senador João Pedro. Dentro da minha cota, vou lhe dar mais dois minutos.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - A imprensa é tão correta que estou aqui.

Viajei para a Argentina, e a quantidade de turistas brasileiros que havia em Buenos Aires... Por quê? Vim com minha Adalgisa do Delta do Tigre e havia um casalzinho, ô João Pedro, que acho que tinha entre 90 e 100 anos. Olhamos e dissemos: “Já pensou, no Brasil, à meia-noite, um casal de velhos no ônibus? Quantos teriam sido assaltados?” Quanta gente! E andamos de mãos dadas. A imprensa é tão boa que tenho de agradecê-la, diferentemente do Lula. Adalgisa e eu fomos passear. Estava lá também o Delcídio e a mulher dele; e um outro Deputado.

Todo mundo está indo para Buenos Aires, porque lá se pode andar. Aqui, é uma barbárie. Quem consegue, ô Dornelles, andar pela Rua do Ouvidor à noite? Convido o Sérgio Cabral a passear com sua mulher, sozinhos, na Rua do Ouvidor, na rua da Colombo. Aliás, a Colombo fecha às 5 horas da tarde.

Está ali o Delcídio. Centenas, milhares de pessoas, todo mundo levantou a mão, quando, durante um show de tango, perguntaram: “Quem é brasileiro?” Havia mais brasileiros do que argentinos, porque estamos fugindo do medo e da barbárie deste Governo. E por que isso?

O Governo pegou essas funções graciosas e tirou-as da segurança, da educação e da saúde.

A imprensa é boa. Eu e a Adalgisa viajamos para o meu Piauí e estávamos namorando quando o jornal 180graus.com - hoje, há essa imprensa moderna na Internet - fez uma enquete: “O Dia dos Namorados está chegando. Para você, qual é o casal do cenário político mais admirável?” Senador Mão Santa e Adalgisa, 39,02%. Aliás, 39% foram por mérito da Adalgisa; pelo meu foi 0,02%.

Essa é a imprensa verdadeira. Essa imprensa é boa, ô Lula. Não temos segurança, educação e saúde. Proporcione este tripé, segurança, educação e saúde, e aumentará o turismo e a felicidade do povo do Brasil.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/06/2007 - Página 19915