Pronunciamento de Gilvam Borges em 21/06/2007
Discurso durante a 95ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Comparação entre a situação do Senador Renan Calheiros e a do então Deputado Ibsen Pinheiro, na década de 90.
- Autor
- Gilvam Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
- Nome completo: Gilvam Pinheiro Borges
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
SENADO.:
- Comparação entre a situação do Senador Renan Calheiros e a do então Deputado Ibsen Pinheiro, na década de 90.
- Publicação
- Publicação no DSF de 22/06/2007 - Página 20399
- Assunto
- Outros > SENADO.
- Indexação
-
- COMENTARIO, HISTORIA, POLITICA NACIONAL, INJUSTIÇA, ACUSAÇÃO, CASSAÇÃO, IBSEN PINHEIRO, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), PERDA, REPUTAÇÃO, MOTIVO, MANIPULAÇÃO, DADOS, IMPRENSA, APREENSÃO, REPETIÇÃO, SITUAÇÃO, REFERENCIA, DENUNCIA, RENAN CALHEIROS, SENADOR, CONCLAMAÇÃO, ATENÇÃO, SENADO, BUSCA, JUSTIÇA, REJEIÇÃO, PERSEGUIÇÃO, NATUREZA POLITICA.
- SUGESTÃO, PRESIDENTE, SENADO, PRESENÇA, CONSELHO, ETICA, OBJETIVO, ESCLARECIMENTOS.
O SR. GILVAM BORGES (PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em 1992, precisamente, no dia 28 de agosto daquele ano, o então Deputado Ibsen Pinheiro teve seu momento de glória ao presidir a sessão da Câmara dos Deputados que aprovou o impeachment do ex-Presidente Fernando Collor de Mello. Holofotes e ampla exposição na mídia, o Parlamentar do PMDB gaúcho, também jornalista e promotor aposentado, era tido como reserva moral do Legislativo. Quem não tem memória curta, deve lembrar-se de que o nome dele chegou a ser aventado como potencial candidato à Presidência da República nas eleições de 1994. Em setembro de 1993, porém, um furo de reportagem da revista Veja revelou a existência de um bando de Parlamentares predadores do Erário e que passou a ser conhecido como “Máfia dos Anões do Orçamento”. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito foi instalada na Câmara e, depois de dois meses de trabalho, as investigações associaram o nome de Ibsen Pinheiro a tal máfia. Uma transação financeira corriqueira foi tomada por alta maracutaia. Uma foto de Ibsen em companhia de alguns dos anões investigados foi considerada prova de crime de formação de quadrilha. E uma movimentação financeira de US$1 mil transformou-se numa megaoperação de US$1 milhão. Repita-se: US$1 mil viraram US$1 milhão.
Outra vez a imprensa vocalizou as denúncias em 11 de novembro de 1993. A manchete de capa da Veja bradava: “Até tu, Ibsen?”. Isso ficou marcado na memória nacional. No miolo, uma devastadora matéria, assinada por Luís Costa Pinto, sustentava as acusações contra o Deputado, com base, sobretudo, na tal movimentação de US$1 milhão, de todo incompatível com os rendimentos declarados do Parlamentar.
Resultado: No ano seguinte, o Deputado teve o seu mandato cassado pela Câmara. Era tudo falso. Tudo falso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores! A matéria da Veja estava errada. Os números não batiam. Aquele US$1 milhão não existiam. Ibsen tinha razão, mas foi escorraçado, humilhado, cassado e amargou dez anos de longo e ruminante silêncio.
O próprio Ibsen assim definiu a situação: “Destruída a imagem, a defesa é inviável - é como se a vítima perdesse a voz. Ela fala, mas ninguém escuta. Isolada, só lhe resta tomar cicuta ou silenciar”.
O caso de Ibsen não é único. A experiência demonstra que as posições da imprensa massificam o sentimento comum e se alastram pela opinião pública. Nos processos políticos, se não forem rigorosamente checados, a repercussão é imensa, mas o momento seguinte é o que costuma ser trágico: o da destruição da credibilidade do seu alvo. Aconteceu com todos, de Sócrates a Jesus Cristo.
O genial jornalista Sebastião Nery escreveu um livro intitulado Grandes Pecados da Imprensa e, nele, mostra que, somente na história republicana deste País, a imprensa brasileira devastou a vida e a honra de gente como Rui Barbosa, Juscelino Kubitschek, Orestes Quércia e Alceni Guerra.
Não sei, Sr. Presidente, o que seria muito menos nefasto para a vida nacional: que o Presidente Renan seja a vítima condenada pela imprensa ou que a imprensa seja a vítima do Congresso Nacional.
Voltaire, o iluminista francês, disse que, normalmente, a primeira infâmia contra alguém é rejeitada; a segunda, arranha-lhe a imagem e o moral; e a terceira aniquila e destrói a alma.
Queira Deus, Sr. Presidente, que não estejamos, hoje, repetindo a história de Ibsen Pinheiro nesta Casa ou fora dela. Tive a honra de ir até o Presidente Ibsen no seu exílio no Rio Grande do Sul, quando saiu escorraçado por uma informação trocada de que praticou um crime do qual não havia cometido. Mas é como ele disse, não adiantava provar absolutamente nada. Até que um dia a justiça se fez pelo próprio jornalista que teve a grandeza, a altivez de reconhecer e rememorar aqueles fatos.
Ele teve coragem. Foi correto e honesto.
Hoje, o Presidente Ibsen voltou. O destino foi cruel, mas S. Exª está hoje aqui, de volta, honrado pelo voto do povo do seu Estado, homem íntegro, honesto e honrado.
Naquele momento, Sr. Presidente, eu estava ali naquela Casa e vi tudo. Hoje, vejo como a história se repete. Não adianta. Há uma condenação sumária. As provas, as contraprovas não adiantam. Há oitivas, testemunhas. Não adianta. Não vale! O dinheiro pago, a apresentação de cheques, de provas não valem absolutamente nada!
Entristece-me quando, sob os holofotes da poderosa mídia e da imprensa, que têm um papel relevante, importante e decisivo na vida democrática, muitos colegas se curvam, se intimidam e não hesitam em silenciar. Dói-me na alma, Sr. Presidente, profundamente. Dói-me ver o massacre. Dói-me ver a história que está aí, que é cíclica, que se repete. Ocorre com o Presidente Renan, a exemplo daquela manchete que nunca me saiu da memória e que dizia assim: “Até tu, Ibsen?”. Foi um arraso. Culminou com a cassação. Mil dólares se transformaram em um milhão de dólares. A renda do Parlamentar era incompatível e eram mil dólares. Ele podia gritar, ele podia se exasperar na ânsia de justiça, de dizer que não era isso. Mas a voz dele foi abrandada, foi encolhida. Ele foi colocado no canto, e só lhe restou o silêncio. Nenhuma profunda investigação. Nenhuma. Ninguém naquele momento teve a coragem de dizer: “Olha, não era um milhão de dólares, não; eram mil dólares”. Ninguém. E cometemos um dos crimes mais horrendos, que é o crime do cerceamento...
(Interrupção do som.)
O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Prorroguei por mais cinco minutos. V. Exª fique à vontade.
O SR. GILVAM BORGES (PMDB - AP) - E para um líder, Sr. Presidente, este é o pior crime, é a pior sanção: ter que silenciar e não poder debater idéias, discutir, dar sugestões, escrever.
E lá ficou Ibsen.
Eu estive duas vezes no Rio Grande do Sul. Homem capaz, homem honrado, homem honesto. Mas foi crucificado. As histórias se repetem. De um relacionamento extraconjugal, de uma fazenda filmada com alguns chifres de bois, e mais algumas coisas, ocasionaram uma denúncia vazia do PSOL, um requerimento. Quem hoje lê esse requerimento do PSOL que instaurou o Conselho de Ética pode esclarecer, dizendo: Olha, este aqui é o objeto de denúncia.
Um processo desse se espelha em Gontijo, que é funcionário da empresa Mendes Júnior e amigo de Renan há vinte anos. Ele disse que nunca deu recurso e que recebia os recursos das mãos de Renan. Veio e testemunhou isso. Mas essa prova não vale. O Senador Renan mostrou os cheques, os extratos das contas. Isso também não vale?
Eu vejo Ibsen dizendo “Ei, não é US$1 milhão, é US$1 mil”. Todo mundo ficou surdo? É impressionante! É impressionante aqueles que vivenciaram aquele momento terem permitido que uma injustiça tão grande fosse cometida contra um homem como Ibsen Pinheiro.
Mas o grande jornalista, depois de anos, retornou e deu uma manchete esclarecendo todas as situações e a conjuntura política daquele momento. Retratou-se de uma forma corajosa. Parabéns ao grande jornalista. Foi manchete, novamente.
Portanto, Sr. Presidente, quero fazer uma homenagem a Ibsen Pinheiro, companheiro nosso do PMDB, grande líder, que por um triz não foi Presidente da República. E talvez, pelas condições que teve de sê-lo, tenha sido massacrado daquela forma. Poucos conseguiram ler e ver aquele momento histórico.
Hoje, estou aqui na tribuna do Senado Federal porque vivenciei aquele dia. Vivenciei aquele dia, e essa frase não saiu da minha cabeça. Repito, Sr. Presidente: “Até tu, Ibsen?”.
Assim sempre fui. Preferi sempre Jesus a Barrabás. Não fui pela turba sedenta que conclamava e que preferiu a liberação de Barrabás. Não. Nunca fui.
Ontem, no Conselho de Ética, estavam lá alguns Parlamentares do PSOL, da Câmara dos Deputados, acompanhando ávidos uma ação política e eficiente para ver cada vez mais a sangria e o sangue de quem jorra.
Sr. Presidente, sabe qual é a matéria de capa de hoje? “Presidente Renan em seu labirinto”. Presidente Renan, no calor da família, na compreensão dos deslizes, por ter tido todos os fatos e todas as verdades a seu favor, diz que quer uma oportunidade. Eu já disse de lá: “Presidente Renan, por duas vezes tentou-se a conclusão dos trabalhos do Conselho de Ética”. Não, é preciso fazer a oitiva novamente, aquela não valeu. Não valeu porque não saiu o gol, não era assim que nós queríamos. Tem que repetir, para submeter novamente, para fazer a testemunha voltar. A testemunha voltou, Sr. Presidente. É preciso ouvir as outras partes. Todas as partes foram ouvidas, Sr. Presidente. É preciso também fazer uma investigação profunda. Foram feitas as investigações.
(Interrupção do som.)
O SR. GILVAM BORGES (PMDB - AP) - Isso aí não vale mais. Precisamos convocar a Interpol, a KGB, o FBI, para nos aprofundarmos numa investigação global e mundial, a fim de que tudo isso seja trazido à tona e esviscerado na profundidade.
Por isso, eu disse ontem: não adianta. O Presidente Renan Calheiros tem de ir ao Conselho de Ética. Eu já disse várias vezes isso. Precisamos, sim, dar o tempo que for necessário. Não adianta, porque não vai para frente. Se essa questão fosse discutida em um tribunal comum, onde houvesse avaliação técnica, esse fato já estaria totalmente resolvido, mas a questão é política. Agora, é preciso dizer assim: vamos dar 120 dias, quatro meses, seis meses, oito meses, até que se elucide tudo, até que se proceda às investigações, porque não há como dizer que vai ser amanhã ou na próxima semana, porque a questão é política, Presidente Renan. A questão é política. Sabe o que V. Exª tem de fazer? Tem de ir ao Conselho de Ética para se apresentar e fazer o que V. Exª já fez quando veio à tribuna desta Casa para retratar-se e expor as suas considerações a toda a Nação. V. Exª está nu, com frio e, hoje, desprotegido. É preciso que V. Exª diga assim: “Deixem-me concluir pelo menos este semestre, para que possamos pôr as votações estratégicas deste País para frente, e vamos estipular um prazo de 120 dias. Deixem todas as investigações procederem”. Faça esse entendimento. Acho que todos estarão abertos. E nós precisamos continuar a vida desta Nação, com as discussões aqui, porque estamos paralisados diante de uma crise como essa.
“Até tu, Ibsen?” e “Renan no seu labirinto” são duas frases que ficam comigo; uma que vivenciei na Câmara e outra história que estou vivenciando aqui.
Com essas palavras encerro o meu pronunciamento, Sr. Presidente, dizendo que um dia é da caça e o outro é da pesca, e que é da própria natureza o retorno. As coisas vão e as coisas vêm. Um dia você é julgador e, no outro, você é julgado.
Portanto, o senso de justiça deve prevalecer independentemente da imprensa, independentemente do sentimento ideológico, independentemente dos valores. Nós temos de superar tudo isso.
Dois entes são importantes no mundo democrático - isso nós reconhecemos: a imprensa e uma Justiça forte. É disso que precisamos.
Não me posso omitir em tentar contrariar uma onda que pode ser artificial. Tenho que fazer um apelo à imprensa do meu País, à Justiça do meu País e aos Parlamentares. Faço um apelo justamente para que não fiquemos no “até tu, Ibsen?” Hoje é “Renan no seu labirinto”. Não vou fazer como Pôncio Pilatos, mandar buscar um alguidar, uma bacia para lavar as mãos. Tenho posição, e posição firme: sou pela justiça.
Muito obrigado, Sr. Presidente.