Discurso durante a 95ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro de comparecimento de S.Exa. à solenidade de sanção do FUNDEB. Alerta para novo estudo da ONU sobre a questão do aquecimento global intitulado "Perspectiva mundial sobre o gelo e a neve".

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Registro de comparecimento de S.Exa. à solenidade de sanção do FUNDEB. Alerta para novo estudo da ONU sobre a questão do aquecimento global intitulado "Perspectiva mundial sobre o gelo e a neve".
Aparteantes
Augusto Botelho, Cristovam Buarque, Fátima Cleide.
Publicação
Publicação no DSF de 22/06/2007 - Página 20406
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • PARTICIPAÇÃO, SOLENIDADE, SANÇÃO, FUNDO DE DESENVOLVIMENTO, EDUCAÇÃO BASICA, IMPORTANCIA, LEGISLAÇÃO, AUXILIO, MELHORIA, QUALIDADE, ENSINO.
  • COMENTARIO, RELATORIO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), ALTERAÇÃO, CLIMA, ACRESCIMO, DADOS, REDUÇÃO, GELO, AGILIZAÇÃO, AUMENTO, TEMPERATURA, INUNDAÇÃO, LITORAL, VITIMA, POPULAÇÃO, ECONOMIA, CONCLAMAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, TOTAL, SOCIEDADE CIVIL, AUTORIDADE, BUSCA, REVERSÃO, PROCESSO, REGISTRO, MOBILIZAÇÃO, SENADO, MELHORIA, UTILIZAÇÃO, RECURSOS AMBIENTAIS.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, antes de iniciar a minha fala, eu gostaria de fazer uma referência muito rápida, porque o meu tempo é pouco, à nossa participação ontem - à minha e de vários Senadores e Senadoras, a Senadora Fátima já falou aqui - em solenidade no Palácio do Planalto, onde o Presidente Lula sancionou a Lei do Fundeb, tão esperada, por tanto tempo. Felizmente o nosso Congresso a aprovou e o Presidente já a sancionou.

É uma das mais importantes leis da história da educação, não tenho nenhuma dúvida disso, e eu precisava registrar. Os educadores deste País, os milhões de estudantes das nossas escolas públicas realmente têm agora mais um instrumento - forte - que os auxiliará na melhoria da qualidade da educação brasileira, com certeza.

Mas vou falar agora de um assunto que está na imprensa do mundo, que permeia as falas de Parlamentares, a preocupação de empresários, a preocupação de toda a sociedade, do Planeta, eu diria, que é o aquecimento global.

Após o relatório do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudanças Climáticas, o IPCC, que funciona no âmbito da Organização das Nações Unidas, esse assunto está gerando discussões em todo o mundo, e nós precisamos passar, com brevidade, das discussões para as ações concretas. 

De fato, é bom que nos apressemos a agir, porque outro relatório, esse já divulgado dia cinco de junho passado, Dia Mundial do Meio Ambiente, nos trouxe mais e novos motivos de preocupação. Esse último estudo, apresentado pela ONU, é intitulado “Perspectiva mundial sobre o gelo e a neve” e aponta novos e graves problemas causados pelo aquecimento da Terra.

O principal deles é que, do Oceano Ártico à tundra russa, passando pelo Himalaia, o gelo e a neve estão diminuindo rapidamente por causa do aquecimento do Planeta. A conseqüência imediata disso é mais aquecimento. A neve e o gelo, de cor branca, refletem a luz do Sol, enquanto o solo descoberto e as grandes extensões de água, aumentadas pelo derretimento, absorvem-na, e isso acelera o ritmo do aquecimento da Terra.

Para se ter uma idéia do que representa esse fenômeno que afeta o equilíbrio calórico do Planeta, estima-se que as zonas geladas do Hemisfério Norte diminuíram 1,3% em cada uma das últimas quatro décadas. As temperaturas do Oceano Ártico aumentaram mais rapidamente do que em qualquer outro lugar, o que tem ocasionado uma redução do gelo marítimo a uma velocidade, senhores, assustadora de 8,9% a cada década. Com isso, Srªs e Srs. Senadores e todos os que nos vêem, a previsão do primeiro verão em que o Oceano Ártico não terá gelo - já há essa previsão - caiu de 2100 para 2027. Daqui a 20 anos! A expectativa dos especialistas é de que o ritmo do derretimento de geleiras, calotas polares e gelo dos rios e dos mares aumente drasticamente.

As conseqüências desse rápido derretimento do gelo e da neve do Planeta são diversas, segundo os especialistas, sendo a mais importante delas o aumento do nível dos mares. Centenas de milhões de pessoas, talvez milhares de milhões serão atingidas pela elevação do nível do mar, pela escassez de água potável e para irrigação e pelo aumento dos riscos causados pelo afundamento das terras geladas, de acordo com um informe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o Pnuma.

O que os cientistas estimam é que a elevação do nível do mar em um metro deixaria cerca de cento e quarenta e cinco milhões de pessoas vulneráveis a inundações, especialmente na Ásia e em pequenas nações insulares. Os custos econômicos dessa tragédia superariam os 950 bilhões de dólares. O IPCC diz que essa elevação do nível do mar aconteceria dentro de aproximadamente cem anos, mas muitos especialistas apresentam dados colhidos no ano passado para sustentar que isso deverá ocorrer antes.

É que esses especialistas perceberam que o degelo gera mais degelo, porque a água derretida circula sob as geleiras e as lubrifica, acelerando seu deslizamento para o mar. O que eles não sabem ainda é com que rapidez essas duas variáveis, gravidade e lubrificação, podem atuar. Assim, não podem incluí-las em seus modelos de avaliação do processo. Uma melhor estimativa dos riscos dependerá, certamente, da prioridade que a comunidade internacional vier a atribuir às pesquisas necessárias para isso.

Contudo, Pal Prestud, do Centro de Pesquisa Internacional sobre Clima e Meio Ambiente, de Oslo, na Noruega, arrisca-se a afirmar que “a possibilidade de o derretimento dos gelos elevar o nível do mar de forma dramática é enorme e muito acima dos prognósticos do IPCC.

Há indícios de que os gelos estão se quebrando, e não apenas derretendo. No momento, não entendemos todo o processo por trás do fenômeno”.

Parece, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que há incertezas e razões humanitárias e econômicas suficientes para que comecemos a trabalhar para impedir essa catástrofe. É preciso pará-la enquanto há tempo. Não sabemos se um processo mais agudo de aquecimento e degelo começar, se teremos tempo ou condições de interrompê-lo.

Senador Cristovam Buarque, Senadora Fátima Cleide, demais Senadores aqui presentes, outro dia ouvi uma de minhas netas, pequena, com 7, 8 anos, dizer que tem medo de crescer e ter filhos porque não sabe o que vai ter no mundo para o filho dela. Fiquei extremamente assustada. Contou-me ontem um assessor meu que ele levou as suas crianças, também na faixa etária de 7, 8 anos, para assistir ao filme do Al Gore, “Verdade Inconveniente”, e teve que retirar as crianças do filme porque choraram muito de pavor, de medo do que vai acontecer. Então, fico pensando como temos responsabilidade, temos que atuar! Não podemos mais continuar nessa de vamos fazer, vamos fazer, e não conseguimos fazer ações concretas.

A Srª Fátima Cleide (Bloco/PT - RO) - Permita-me um aparte?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Concedo um aparte à Senadora Fátima Cleide.

A Sra. Fátima Cleide (Bloco/PT - RO) - Senadora Serys Slhessarenko, gostaria de parabenizá-la pela importância dos dados que V. Exª traz a este Plenário nesta tarde. É muito importante que tragamos sempre ao Senado Federal, ao Congresso Nacional, essa preocupação, para que tenhamos a consciência da nossa responsabilidade. É lógico que há vozes que se levantam, dizendo que tudo isso é alarmante, é um impedimento para o nosso desenvolvimento. Mas quero acreditar na ciência, e os dados trazidos por V. Exª são dados científicos que nos chamam a atenção para o momento de parar e refletir sobre que desenvolvimento queremos e para quem. Conforme V. Exª coloca, as crianças que já entendem sobre os riscos do nosso futuro, sobre os riscos de aquilo que praticamos hoje não permitir a elas terem futuro, começam a ficar apavoradas e sem perspectiva de futuro. Então, meus parabéns! Conte comigo em todos os momentos em que houver necessidade de somarmos vozes para levar adiante o grito de que é preciso parar, pensar, refletir e decidir que desenvolvimento queremos e que mundo queremos.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada, Senadora Fátima Cleide.

Queria aqui registrar a necessidade da participação de todos: das instituições públicas, do empresariado do nosso País e do Planeta, de todos indistintamente. E quero registrar a participação, já, Srªs e Srs. Senadores, do Senado da República, da nossa instituição. Precisamos registrar tanta coisa positiva que se faz aqui! Hoje, pela manhã, participei de uma reunião da mais alta relevância.

Entrei com uma proposição aqui no Senado - Senado: Carbono Zero -, que foi aprovada com a relatoria do Senador Casagrande e com o estímulo, a prontidão e a presteza do Senador Renan Calheiros, como Presidente, de ultimar imediatamente a constituição dessa Comissão que não chegou com termo de Senado: Carbono Zero, mas chegou Senado Verde.

É uma Comissão constituída dos vários setores existentes no Senado da República que vai dar respostas, Senadora Fátima Cleide, com ações concretas para a mudança dessa situação, por exemplo, no Senado da República: desde mudanças no uso da água aqui, a água que nós usamos, o material que nós usamos juntamente com a água; vamos ter a questão do plantio de árvores; enfim, uma série de ações que essa Comissão está trabalhando com preocupação e agilidade aqui no Senado da República. Essa atuação do Senado é da maior relevância. E a sociedade precisa conhecer; isso precisa ser mostrado à sociedade brasileira.

Eu pediria mais um minuto só, Sr. Presidente, para ceder um aparte aos Senadores Augusto Botelho e Cristovam Buarque.

O Sr. Augusto Botelho (Bloco/PT - RR) - Senadora Serys Slhessarenko, peço este aparte a V. Exª para dizer que esta elevação do nível dos mares é uma coisa que preocupa muito o nosso País. Nós temos 8 mil quilômetros de costas habitadas, com várias famílias e até com indústrias instaladas perto do mar. Então essa subida de nível para nós vai ser algo de tremendo prejuízo. Graças a Deus, o Brasil já está inserido nesta campanha de diminuir a emissão de gases e evitar a elevação da temperatura da terra há muito tempo. E V. Exª é uma batalhadora que tem lutado por esse tema. Por isto pedi-lhe este aparte, para parabenizá-la, porque gosto de ouvir V. Exª falando sobre a nossa terra, o nosso clima. Nós, que somos da Amazônia, sabemos que isso vai nos afetar.

Por isso, temos de lutar para podermos explorar a nossa Amazônia de forma racional, mantendo-a para as gerações futuras. Obrigado.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada, Senador Augusto Botelho.

Um minuto para o Senador Cristovam.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Lamento que em se tratando de um discurso com essa importância, eu tenha um aparte só de um minuto.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Eu gostaria de lhe dar 10 minutos.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senadora, é uma pena que este tema não seja abordado aqui mais vezes. Esta Casa deveria, Presidente Flávio Arns, selecionar alguns temas e dedicar-lhes uma ou duas semanas, parando tudo, A reforma política é um deles; outro é o nosso papel na solução dessa crise ecológica. Estamos diante de dois problemas que são quase irreversíveis e que inviabilizarão, Senador Mão Santa, a civilização. Um é não haver mais como retroagir no processo do aquecimento global, o outro, é não conseguimos voltar atrás na bifurcação da humanidade em duas espécies diferentes: a dos ricos e a dos pobres, não mais por razões econômicas e sociais, mas biológicas, em função do avanço técnico-científico a favor de uma parcela da população. V. Exª traz esse assunto. Fico feliz porque este deveria ser o tema dos partidos progressistas: ecologia e educação. A ecologia porque é a única forma de garantir a mesma chance entre gerações; a educação porque é a única forma de garantir a mesma chance entre classes sociais, e penso que a bandeira da Esquerda deveria ser a mesma chance. Os nossos partidos progressistas estão sem bandeiras, estão perplexos diante do que aconteceu nas últimas duas décadas. E tão clara é a bandeira: a mesma chance para todos entre classes entre gerações, por meio da educação e da ecologia. Pena que não estejamos colocando isso no debate e que também o Brasil não esteja dando um bom exemplo em nenhum desses temas.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada, Senador Cristovam Buarque. V. Exª está cheio de razão: precisaríamos discutir com muito tempo essa temática, como outras também. Cada vez que venho à tribuna e falo desse assunto fico extremamente aflita e angustiada, porque agora, em poucos minutos, a Senadora Fátima Cleide, o Senador Augusto Botelho e V. Exª, Senador Cristovam, se pronunciaram.

Eu precisaria falar de muita coisa a esse respeito como a questão do pós-Kyoto; como a humanidade, como o Planeta, vai trabalhar isso; o mercado de carbono; o desmatamento evitável; os biocombustíveis, o combustível verde; a necessidade da participação do empresariado, da sociedade organizada, das donas- de-casa nesse debate; a educação em nossas escolas; o preparo dos trabalhadores na educação, as nossas crianças; enfim, toda essa discussão é da maior importância. Acredito que vai chegar o momento em que nós, realmente, teremos de parar, Senador Cristovam Buarque, talvez algumas sessões, talvez uma semana toda, para tratar de temas relevantes como o meio ambiente, assim como a educação, a reforma política, que é fundamental, e o meio ambiente. A reforma política e tudo que vem no bojo dela... No dia em que realmente resolvermos problemas relativos à reforma política, outras soluções virão a reboque dessa, que é maior, com o compromisso dos políticos do nosso País. Então, eu diria que é um assunto a que teremos de voltar - e estou voltando sempre.

Já estão dizendo que só venho à tribuna falar dos problemas da mulher e dos problemas do meio ambiente. Eu diria que são dois temas fundamentais para a humanidade. Infelizmente, a discriminação contra a mulher, na verdade, ocorre não apenas em nosso País, mas em todo o Planeta, tanto quanto a violência.

Muito obrigada.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/06/2007 - Página 20406