Discurso durante a 97ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Justificativas a homenagem de pesar pelo falecimento do Professor Emérito da Universidade Federal de Pernambuco Manuel Correia de Andrade, ocorrido no dia 22 de junho último, na cidade de Recife-PE.

Autor
Marco Maciel (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Justificativas a homenagem de pesar pelo falecimento do Professor Emérito da Universidade Federal de Pernambuco Manuel Correia de Andrade, ocorrido no dia 22 de junho último, na cidade de Recife-PE.
Publicação
Publicação no DSF de 26/06/2007 - Página 20700
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, INTELECTUAL, ADVOGADO, UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE), PARTICIPANTE, ACADEMIA DE LETRAS, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), SOLICITAÇÃO, VOTO DE PESAR, FAMILIA.

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Obrigado, nobre Presidente Senador Mão Santa.

Aproveito a ocasião para agradecer ao Senador Paulo Paim por permitir que eu falasse antes de sua manifestação. Cumprimento as Srªs e os Srs. Senadores presentes.

Sr. Presidente, venho, na tarde de hoje, expressar o sentimento, que não é apenas meu, mas de todo o Estado de Pernambuco, pelo passamento, ocorrido na sexta-feira passada, dia 22 de junho, de uma das grandes figuras da intelectualidade pernambucana, o Professor Emérito da Universidade Federal de Pernambuco Manuel Correia de Andrade.

Sr. Presidente, Manuel Correia de Andrade nasceu em 1922, no Engenho Jundiá, em Vicência, uma das cidades da Mata Norte de Pernambuco. Seu falecimento, em virtude de um enfarte, aos 85 anos, aconteceu na cidade do Recife.

O Professor Manuel Correia de Andrade, além de advogado e professor, foi historiador e geógrafo, onde encontrou sua verdadeira vocação e para a qual se dedicava com paixão ilimitada. Seus livros despertam muita atenção e tiveram várias reedições. Daí haver sido professor convidado por diversas universidades e comparecer a inúmeros encontros inclusive internacionais.

Talvez o mais importante de seus livros seja A Terra e o Homem no Nordeste, publicado em 1963, considerado, pela Câmara Brasileira do Livro, uma das 100 melhores publicações do século XX, referência para os estudantes de história, geografia, política econômica e social da região, com ênfase à questão agrária.

Manuel Correia era humanista e um dos mestres fundadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da então Universidade do Recife, hoje Universidade Federal de Pernambuco, e exercia a cátedra Gilberto Freyre, da Universidade Federal de Pernambuco, em homenagem ao sociólogo de mesmo nome, de quem, aliás, recebera convite para o cargo de pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, em que muito se destacou.

O professor Manoel Correia era uma figura que desfrutava de enorme prestígio não somente na comunidade científica e nas universidades, mas também muito reconhecida pela sociedade nordestina, pela profundidade dos seus estudos e pela seriedade com que desenvolvia suas pesquisas e seus trabalhos, e por sua dedicação às questões do Nordeste. Não foi por outra razão que ele praticamente devotou toda sua vida ao estudo das questões regionais.

O Jornal do Commercio de Pernambuco, na edição de ontem, publicou seu último artigo, que ele enviara na semana anterior para o referido jornal. É bom destacar que ele colaborou no Jornal do Commercio durante 12 anos, consecutivamente.

Nesse artigo, o professor Manuel Correia observa que “a lentidão do crescimento e a pobreza regional não impedem que se vislumbre a expectativa de aceleração do desenvolvimento da região...”. E prosseguia: “...e se planeja um crescimento homogêneo e voltado para os interesses da população, e não das elites, que exploram das formas mais variadas o povo e a região”.

Em que pese esse tom pessimista que caracterizou o seu último artigo, ele, de alguma maneira, manifestava otimismo com relação ao Nordeste, ao seu crescimento e, conseqüentemente, à melhoria das condições de seu povo.

Foram muitos os depoimentos oferecidos por eminentes pessoas de Pernambuco a respeito do ilustre falecido. Eu gostaria de, entre muitos, ler apenas dois.

O professor Edson Nery da Fonseca, grande pesquisador e conhecedor da obra de Gilberto Freyre - talvez, Edison Nery da Fonseca seja o maior conhecedor vivo da obra e da figura de Gilberto Freyre - e que se destacou no campo da biblioteconomia, assim se exprime sobre a morte de Manuel Correia:

A geografia humana é uma ciência enriquecida por muitos pesquisadores pernambucanos. Manuel Correia de Andrade foi certamente o maior deles, tanto pelas obras que escreveu quanto pela sua tão freqüente quanto valorosa colaboração na imprensa. Foi um geógrafo humanista, que discorria, com sabedoria, sobre os mais variados temas, com estilo de escritor nato. Vamos sentir muito a falta de seus artigos semanais que eram publicados no Jornal do Commercio”.

Outra manifestação muito significativa sobre a figura do Manoel Correia foi a do também intelectual, escritor e conhecedor dos problemas do Nordeste Leonardo Dantas. Disse ele:

Trabalhei com Manuel Correia por mais de 18 anos. Fizemos seminários juntos e assinamos alguns livros. É uma perda grande para Pernambuco. É menos uma pessoa para consultar, uma pessoa que tinha uma presença grande em trabalhos de História”.

Também gostaria de me referir a um depoimento do editor e diretor de redação do Jornal do Commercio, o jornalista Ivanildo Sampaio, que escreveu:

Manuel Correia de Andrade foi mais do que um colaborador do jornal. Ele foi um orientador do JC. Foi sob sua orientação que o jornal elaborou seu primeiro caderno especial feito em fascículos, ‘Pernambuco Imortal’, realizado em parceria com a Companhia Editora de Pernambuco, CEP, que é um órgão oficial do Estado de Pernambuco”.

Numa matéria de Olívia Mindelo e José Teles, destacaria a seguinte observação:

“Se nomes como Joaquim Nabuco, José de Castro e Gilberto Freyre ajudaram a colocar Pernambuco no mapa da intelectualidade nacional e mundial, modificando paradigmas das ciências humanas para sempre, o mesmo pode se dizer de Manuel Correia de Andrade, uma das maiores referências acadêmicas do Brasil em História e Geografia”.

Não por acaso - e já mencionei inclusive esse fato - A terra e o homem no Nordeste, publicado em 1963, a principal obra de sua carreira, teve prefácio do economista Caio Prado Júnior, um dos grandes estudiosos da realidade brasileira, ao lado de tantos outros como, no caso do Nordeste, Celso Furtado.

Sr. Presidente, o professor Manuel Correia dedicou toda sua vida a Pernambuco e ao Nordeste. Assim, não pode deixar de merecer, neste momento, nosso reconhecimento.

Daí por que apresento requerimento de pesar pelo falecimento do ilustre professor, pedindo que se dê ciência deste voto a seus familiares, de modo especial à viúva e aos seus filhos, à Universidade Federal de Pernambuco, à Fundação Joaquim Nabuco, à Fundação Gilberto Freyre, à Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional de Pernambuco - à qual ele era filiado -, à Academia Pernambucana de Letras e também à Associação de Jogos Brasileiros e ao Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.

Com essas palavras, Sr. Presidente, creio haver expendido o pensamento de pesar do Senado com o falecimento de tão ilustre e devotado intelectual nordestino. Certamente, Manuel Correia terá um reconhecimento maior agora. Com sua morte, sua obra será mais bem apreciada e analisada, o que conduzirá a que se possa melhor identificar os problemas do Nordeste em sua trajetória com vistas ao pleno desenvolvimento, criando condições também para que possamos ter no Brasil um crescimento menos desigual, mais homogêneo, porque o território brasileiro ainda é marcado por enormes desigualdades econômicas e sociais. E isso se constitui em um desafio para todos nós, ou seja, de construirmos uma nação com menos desigualdades econômicas e sociais, promovendo um processo de desenvolvimento homogêneo, como lembrava, no seu último artigo, o professor Manuel Correia, para que possamos consolidar adequadamente, em nosso País, um desenvolvimento que seja sinônimo de paz e de justiça, que esteja atento a tudo que o homem precisa: pão e espírito.

Sr. Presidente, encerro minhas palavras alusivas ao falecimento do professor Manuel Correia na certeza de que o seu exemplo concorrerá para que se fixe na consciência nacional, no coletivo do nosso povo a idéia de que todos devemos e podemos contribuir em prol de condições de desenvolvimento e de bem-estar para a Nação brasileira.

Muito obrigado a V. Exª.

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/06/2007 - Página 20700