Discurso durante a 103ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Cobranças de maior rapidez no processo contra o Senador Renan Calheiros no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Homenagem a festa do boi-bumbá realizada em Parintins/AM e as agremiações culturais Garantido e Caprichoso.

Autor
João Pedro (PT - Partido dos Trabalhadores/AM)
Nome completo: João Pedro Gonçalves da Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL. :
  • Cobranças de maior rapidez no processo contra o Senador Renan Calheiros no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Homenagem a festa do boi-bumbá realizada em Parintins/AM e as agremiações culturais Garantido e Caprichoso.
Publicação
Publicação no DSF de 03/07/2007 - Página 31954
Assunto
Outros > SENADO. HOMENAGEM. POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • COBRANÇA, AGILIZAÇÃO, PROCESSO, COMISSÃO DE ETICA, DECORO PARLAMENTAR, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, RENAN CALHEIROS, PRESIDENTE, SENADO.
  • SAUDAÇÃO, FESTA JUNINA, SIMBOLO, TRADIÇÃO, CULTURA, FOLCLORE, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, REGIÃO NORTE, REGIÃO NORDESTE, ATRAÇÃO, TURISTA, AUMENTO, RENDA, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, POPULAÇÃO CARENTE.
  • HOMENAGEM, FESTA JUNINA, MUNICIPIO, PARINTINS (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), HERANÇA, MIGRANTE, REGIÃO NORDESTE, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO MARANHÃO (MA), INFORMAÇÃO, GRUPO, VITORIA, FESTIVAL, FOLCLORE.
  • REGISTRO, PRESENÇA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO TURISMO, FESTIVAL, MUNICIPIO, PARINTINS (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM).
  • CUMPRIMENTO, PRESIDENTE, EX PRESIDENTE, FUNDADOR, ARTISTA, GRUPO, PARTICIPAÇÃO, FESTIVAL, FOLCLORE.

O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, morei no Pará durante parte de minha vida: passei sete anos no Município de Alenquer.

Sr. Presidente, V. Exª esteve no Acre, nesse final de semana? Que bom! Esteve no Acre e em Rondônia?

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Fui conhecê-los.

O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - Faltou o Amazonas.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Estou aguardando o convite de V. Exª, de Geraldo Mesquita e de Expedito Júnior.

O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - V. Exª está convidado a conhecer aquele belo Estado da nossa Federação.

Sr. Presidente, aqui, ouvi dois pronunciamentos acerca da conjuntura política, acerca do tratamento dado ao Congresso Nacional, principalmente ao Senado da República, pela mídia e pela opinião pública. É verdade que algumas abordagens, principalmente de alguns articulistas, generalizam, e isso é perigoso. É verdade também que há prejulgamentos. E é verdade também que, no Senado, no Congresso Nacional, precisamos ter uma postura mais célere para responder. V. Exª, que é médico, sabe que, em alguns momentos, devem-se fazer cirurgias de emergência, às vezes até sem anestesia. Então, o Senado da República precisa responder. Estamos, há três semanas, sem responder à denúncia feita pela revista Veja. Precisamos respondê-la.

O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar - que não é uma CPI, embora, às vezes, seja tratado como se o fosse - tem competência limitada, mas precisa responder se houve ou não quebra de decoro, sob pena de ficarmos emparedados pela opinião pública e pela mídia. E não precisamos disso! Precisamos responder, ir ao mérito da questão, analisá-la com celeridade e pronto. Vamos caminhar!

É evidente que a democracia do nosso País e a sociedade brasileira têm um diferencial das outras sociedades latino-americanas. Então, fico tranqüilo. Temos maturidade, a sociedade tem maturidade, a sociedade civil tem um papel importante, a imprensa tem um papel importante. Penso que os problemas apontados não vão deixar de merecer uma resposta firme do Senado da República, mas quero dizer: penso que o Senado está demorando. Sou membro do Conselho de Ética, entrei nesse processo na condição de 1º Suplente. Precisamos acelerar e responder, imediatamente, à questão posta em discussão no Conselho de Ética, o que é fundamental.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero saudar, hoje, o Brasil dos folguedos juninos. Esse é o Brasil da tradição, da cultura popular e da valorização de aspectos peculiares do dia-a-dia desta tão diversa Nação. As festas juninas expressam a força criativa do povo, seja no agradecimento ou na crítica social cáustica. Elas expõem as raízes do Brasil, pois representam, em sua grande maioria, o caldo cultural que consolidou a identidade brasileira. Não bastasse a força cultural, que, por si só, é merecedora do reconhecimento desta Casa, as festas juninas, principalmente nas Regiões Nordeste e Norte, transformaram-se em eventos turísticos de visibilidade nacional e internacional, geradores de renda e de melhoria da qualidade de vida para as camadas mais pobres da nossa população.

Há, portanto, um Brasil que pulsa mais forte em junho. É esse País, entre muitos outros, que o Brasil precisa descobrir melhor, como já conhece o Brasil dos carnavais e o Brasil do futebol.

Somos, Sr. Presidente, habitantes de um País que escreve sua formação social e cultural nas trocas dos hábitos e costumes de povos de origens diversas. Por isso, afirmo, sem medo de cometer exagero: somos um País de identidade invejável, pois nos unimos não por um, mas por diversos ícones culturais.

Devemos nos orgulhar dessa riqueza. É esse sentimento de altivez que conduz o arraial gigante de Campina Grande, na Paraíba; a festança de Caruaru, em Pernambuco; o coco de roda de Arapiraca, em Alagoas; o forró pé-de-serra baiano, que ocorre no terreiro das fazendas do interior do Estado. No Maranhão, são os festejos do bumba-meu-boi que dominam a quadra junina, enquanto, no Amazonas, no meu Estado, o boi-bumbá é a manifestação cultural popular de maior vulto. Existem milhares de folguedos juninos por este Brasil afora. Certamente, a todos presto minha homenagem por intermédio dos que acabo de citar, com toda ênfase para o boi-bumbá parintinense, que se alimenta do imaginário das populações tradicionais das florestas e dos rios amazônicos.

A cidade de Parintins, minha terra natal, está localizada à margem direita do rio Amazonas, a 325 quilômetros de Manaus em linha reta. Possui cerca de 70 mil habitantes, mas, na última semana de junho, tem sua população duplicada pela presença de turistas brasileiros e estrangeiros. Há 42 anos, os parintinenses promovem um festival de folguedos juninos, cuja atração principal são os dois bois-bumbás Garantido e Caprichoso. A bandeira do Garantido ostenta as cores vermelho e branco, e a do Caprichoso exibe as cores azul e branco. As duas agremiações culturais reúnem, juntas, mais de 8 mil brincantes, que atraem para o Bumbódromo, uma arena a céu aberto, 30 mil pessoas, 30 mil espectadores, 30 mil participantes.

Parintins conquistou visibilidade, graças à força criativa do seu povo, que deriva da cosmologia amazônica, que estrutura suas relações sociais cotidianas, por meio de atitudes e de gestos que levam em conta o equilíbrio ambiental. Não poderia ser diferente, Sr. Presidente: a Amazônia é a região que abriga o maior número de povos indígenas. Só no meu Estado, um vasto território de 1,5 milhão de quilômetros quadrados, existem mais de 200 mil índios distribuídos em 200 etnias. A Amazônia também se expressa na população cabocla, nos coletores de produtos da floresta, nos migrantes, nos habitantes das metrópoles e das pequenas cidades ribeirinhas.

Essa festa, Srªs e Srs. Senadores, tornou-se, ao longo dos anos, uma referência das culturas amazônicas na mídia nacional e internacional. Afinal, o que se vê nessa ópera é uma amostra do imaginário amazônico, que desfila nas alegorias, nas fantasias, nos adereços, nas toadas e nos gestos dos brincantes e das brincantes dos bois-bumbás Garantido e Caprichoso.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Peço licença para anunciar a presença do extraordinário ex-Senador Odacir Soares, cuja passagem nesta Casa engrandeceu a história do Senado.

O SR. JOÃO PEDRO (Bloco/PT - AM) - O boi-bumbá, que se desenvolveu em Parintins, é uma herança dos migrantes nordestinos, principalmente dos maranhenses, povo que difundiu esse folguedo pelo Brasil afora na versão bumba-meu-boi. Na Amazônia, a brincadeira incorporou elementos indígenas. Em Parintins, esse processo de hibridização cultural destacou-se pelo aperfeiçoamento técnico e artístico voltado para um espetáculo de arena.

Sr. Presidente, essa festa tem a grandeza e a importância da Amazônia e do Brasil. Os bumbás Garantido e Caprichoso, por sua vez, reverberam, no desenvolvimento do espetáculo que encenam, a necessidade de a humanidade compreender que a Amazônia possui uma sociodiversidade diferenciada, importante para a ecologia do planeta. São mensagens e apelos que ganham generosos espaços na mídia nacional e estrangeira, que atingem formadores de opinião, direta e indiretamente. Neste ano, mais de 100 veículos de comunicação do Brasil e de outros países solicitaram credenciamento para cobrir o evento. Governadores, Ministros, embaixadores credenciados no Brasil e executivos de companhias brasileiras e multinacionais assistiram a esse belo festival. De tudo isso, podemos concluir que os espetáculos encenados por Garantido e Caprichoso são, hoje, uma grande vitrine de idéias e de produtos, assim como é o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro na Avenida Sapucaí.

Aproveito a oportunidade para reverenciar também o carnaval carioca, símbolo de brasilidade, que, há menos de uma década, contrata artistas parintinenses, os quais, na folia momesca, também têm se destacado pelo nível técnico e criativo. Aliás, são os artistas, essas figuras de mentes iluminadas, os grandes responsáveis pela explosão de cores e de idéias por este Brasil afora.

Sr. Presidente, o festival de Parintins aconteceu no fim de semana último, na sexta-feira, no sábado e no domingo. Hoje, segunda-feira, quero aqui anunciar o vencedor do festival - há poucos minutos, encerrou-se a apuração -, que foi a Associação Folclórica Boi-Bumbá Caprichoso.

Quero registrar também que o festival recebeu a visita da Ministra do Turismo, Marta Suplicy, que, na oportunidade, visitou a cidade de Parintins e assistiu à primeira noite do festival, o que mostra a vitalidade e a originalidade dessa festa popular, o compromisso com essa festa do povo, a importância de Parintins na política de turismo para a nossa região. É uma manifestação grandiosa! Penso que essa festa se equipara à maior das festas da nossa região, que é a festa religiosa de Belém, a Festa de Nossa Senhora de Nazaré. Belém tem essa grande festa, e Parintins, essa cidade bonita na margem direita do rio Amazonas, também faz sua grande festa. Então, registro, com muita alegria, a presença da Ministra Marta Suplicy nessa festa.

Gostaria de dar os parabéns ao Presidente do Boi Caprichoso, Carmona de Oliveira Filho, presidente campeão desse festival. Também registro nomes importantes: os ex-Presidentes Joilton Azedo e Dodó Carvalho; a Profª Odinéia Andrade, estudiosa que é; e a empresária Márcia Baranda. São pessoas que participam diretamente do Boi Caprichoso.

Do Boi Garantido, cito o atual Presidente, nosso Presidente Vicente de Matos, vice-campeão deste ano. Cito o ex-Presidente José Walmir, além de pessoas como Dé Monteverde; Fred Góes, grande poeta; Chico Cardoso; Telo Pinto e Edjander, pessoas importantes do nosso Boi Garantido.

Menciono também artistas que fazem essa festa: Inaldo Medeiros, Carlos Paulaim, Tadeu Garcia, José Carlos Portilho, Emerson Maia, Demetrius Haidos, Paulinho du Sagrado, Paula Perrone, Chico da Silva - esse grande mestre da composição popular das toadas -, Audison Leão, Juarez Lima, Emerson Brasil, Karu Karvalho, Gil Gonçalves, Cansanção, Wandir Souza, Jair Mendes, Teco Mendes, Júnior Souza, Marialvo, Roberto Reis, Júnior Paulain, Israel Paulain, Ito, Amarildo, Jairzinho Mendes, mestre Peara, Arlindo Júnior, David Assaiag. Enfim, são extraordinários artistas que fazem essa grande festa.

Estendo minha homenagem também aos fundadores do Festival Folclórico de Parintins: Raimundo Muniz, já falecido, Xisto Pereira e Lucinor de Souza Barros.

Lembro os fundadores da festa: os irmãos Cid, do Boi Caprichoso, e Lindolfo Monteverde, do Boi Garantido.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de encerrar minha participação nesta tribuna, conclamo o Brasil a voltar-se, com maior altivez, para suas festas populares. Cabe ao brasileiro, a meu ver, estimular, por meio de políticas públicas, o fortalecimento das festas populares, pois elas exprimem a compreensão de que vivemos num País multicultural.

Essas são, Sr. Presidente, minhas palavras, enaltecendo e reconhecendo - chamo a atenção do Brasil - essa manifestação do povo simples de Parintins, que faz essa festa que deixou de ser de Parintins, para ser orgulho do povo brasileiro!

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/07/2007 - Página 31954