Discurso durante a 99ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao Governo pela apresentação de projeto de lei, que muda as regras dos estágios, vindo na contramão de proposição de sua autoria, sobre a matéria, ainda não votada na Casa.

Autor
Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLAÇÃO TRABALHISTA.:
  • Críticas ao Governo pela apresentação de projeto de lei, que muda as regras dos estágios, vindo na contramão de proposição de sua autoria, sobre a matéria, ainda não votada na Casa.
Publicação
Publicação no DSF de 27/06/2007 - Página 20772
Assunto
Outros > LEGISLAÇÃO TRABALHISTA.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO FEDERAL, APRESENTAÇÃO, PROJETO DE LEI, CAMARA DOS DEPUTADOS, ALTERAÇÃO, NORMAS, ESTAGIO, INTERESSE, EXTINÇÃO, ALEGAÇÕES, AUMENTO, OFERTA, EMPREGO, REGISTRO, CARTEIRA DE TRABALHO, CONTRADIÇÃO, PROPOSIÇÃO, AUTORIA, ORADOR.
  • DEFESA, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, AMPLIAÇÃO, OPORTUNIDADE, ESTUDANTE, REALIZAÇÃO, ESTAGIO, CONCESSÃO, INCENTIVO FISCAL, EMPRESA, GARANTIA, QUALIFICAÇÃO, CONCORRENCIA, MERCADO DE TRABALHO.
  • CONCLAMAÇÃO, SENADOR, APOIO, VOTAÇÃO, PROPOSTA, AUTORIA, ORADOR, PARALISAÇÃO, PROJETO, GOVERNO, IMPEDIMENTO, PREJUIZO, JUVENTUDE, PAIS.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, começo agradecendo a um amigo que tenho no Paraná, Jorge Guirado, por me comunicar a apresentação pelo Governo de um projeto de lei, na Câmara dos Deputados, que é mais uma comprovação daquilo que sempre falo aqui: o Governo não quer que o Congresso legisle. Jorge Guirado tem razão.

Apresentei o projeto de lei do primeiro emprego e o Governo copiou-o mal. Foi um desastre o Primeiro Emprego.

Apresentei um projeto de lei em 2003 que reformula a Lei dos Estágios no Brasil que, agora, tem como Relator o Senador Cristovam Buarque que, espero, ofereça a oportunidade de votarmos essa matéria, com a apresentação do seu relatório. Não é possível que para fazer a simples alteração de uma lei, que é a Lei do Estágio, o Congresso fique quatro anos com um projeto na gaveta.

E aí vem o Governo e apresenta um projeto na Câmara. Para quê? Para que nenhum Senador seja autor de uma lei aprovada no Congresso Nacional. Tem de ser o Executivo, ou por medida provisória, ou por projeto de lei.

Só que o projeto que estou apresentando dispõe o contrário daquele que o Governo está apresentando. O projeto de lei que o Governo apresentou, na Câmara dos Deputados, se aprovado, prejudicará cerca de um milhão de estudantes estagiários em nosso País. Cerca de quatrocentos mil estagiários irão para a rua e perderão seu estágio. Por quê? Porque o Governo está querendo relacionar o número de funcionários da empresa com o numero máximo de estagiários: 10%. Por exemplo, se uma empresa tem 10 funcionários, ela pode ter 1 estagiário.

No meu, não. Eu estou propondo o dobro - 20% - e estabeleço regras em que, para o estudante, será obrigatório o estágio, e a empresa que conceder o estágio terá incentivo fiscal. Tudo o que eu estou propondo no meu projeto, o Governo propõe o contrário: ele quer acabar com o estágio dizendo que com isso vai gerar mais emprego com carteira assinada.

Mas não é a falta de qualificação profissional, Sr. Presidente, que está levando maciçamente ao desemprego os nossos trabalhadores. Conversei dias atrás com o Ministro do Trabalho e também Presidente do PDT, Carlos Lupi, que me dizia que Salvador é a capital do desemprego, mas tem 35 mil vagas abertas no mercado de trabalho. Por que Salvador é a capital do desemprego e tem 35 mil vagas no mercado de trabalho? Porque os trabalhadores não estão recebendo treinamento, qualificação, capacitação. Então, Senador Paulo Paim, V. Exª - autor de estatutos no Congresso Nacional e que, se fosse para casa hoje, já teria realizado tudo o que um parlamentar pode realizar, sairia daqui com a sua carreira de parlamentar gratificada, glorificada - há de concordar comigo que não é acabando com os estágios que nós vamos qualificar os nossos trabalhadores e criar oportunidades de emprego. Ao contrário. Quarenta por cento dos jovens que estão fazendo estágio já permanecem no emprego naquela mesma empresa. Ou seja, se nós ampliarmos a oportunidade de estágio para os nossos estudantes, nós estaremos levando-os a duas conseqüências positivas: à qualificação, porque ele estará estudando, por exemplo, fazendo um curso técnico e já naquela especialidade que ele está cursando, numa empresa, fazendo o seu estágio, na prática, aprendendo o que a teoria está lhe ensinando no seu curso.

Pois bem, se ele tem essa oportunidade de praticar fazendo o estágio e, ao mesmo tempo, se qualificar, ele terá outra conseqüência positiva, que é mais facilidade de encontrar a sua vaga no competitivo e concorrido mercado de trabalho, que exige qualificação.

Desculpem-me, mas o Governo está incorrendo num erro gravíssimo. Eu, que jamais fiz aqui qualquer crítica ao Governo que não fosse no sentido de apontar erros, pelo menos naquilo que é minha convicção, faço agora um apelo ao Governo: permita que o projeto de lei que eu apresentei em 2003 seja votado no Senado Federal, para que ele, tramitando, possa estabelecer um debate onde os estudantes sejam estimulados a fazer estágio e não impedidos de fazer estágio.

O projeto de lei que eu proponho busca exatamente ampliar de um milhão para dois milhões e meio. Essa é a meta do meu projeto de lei. Sairíamos de um milhão para dois milhões e meio. E todos os estudantes do ensino médio e todos os estudantes do nível superior seriam obrigados a fazer estágio, com cargas horárias estabelecidas na lei - não vou falar sobre isso agora aqui, porque não dá tempo -, mas com critérios, Sr. Presidente, para que ele fizesse o estágio, estudasse e se preparasse para a vida. Não é assim que tem de ser?

Dizemos que a criança e o jovem têm de ir para a escola para se prepararem para o mercado de trabalho. Não! A criança e o jovem têm de ir para a escola para serem preparados para a vida. É um conceito diferente. O que estamos fazendo aqui é exatamente o contrário com esse projeto de lei do Governo que está na Câmara. Esse projeto de lei - vou repetir - manda para a rua 400 mil estagiários de cara, Senadores Paulo Paim e Mão Santa. Esse projeto de lei do Governo é contra o caminho, ele caminha para trás, porque tira exatamente a virtude do estágio, que é qualificar, capacitar o estudante e prepará-lo para o mercado de trabalho.

Só para se ter uma idéia, 65% - portanto, 35%, ao contrário, estão desempregados - dos jovens entre 16 e 24 anos estão com carteira de trabalho assinada. Enquanto isso, só 48% destes são estudantes. Se ampliarmos a oportunidade de realização de estágio, vamos ampliar também a presença desses jovens na escola, a presença em uma empresa fazendo estágio; o estímulo que daremos à empresa para que ela, com incentivo fiscal, possa oferecer estágios; e faremos aquilo que todos nós falamos em nossos discursos: ajudando, Sr. Presidente, a diminuir os índices de violência e da criminalidade que, nessa faixa de idade, crescem assustadoramente, mantendo os jovens ou na escola ou em uma empresa fazendo estágio.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

 

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Já vou concluir, Sr. Presidente.

Não sei de quem é a idéia desse projeto de lei que o Governo apresentou na Câmara, mas ele está na contramão da modernidade e da história, e nós, agora, temos mais obrigação ainda, os Senadores - e peço apoio de Senadores como Mão Santa e Paulo Paim, que são Senadores com sensibilidade, e de V. Exª, Senador Papaléo Paes, para que possamos votar o meu projeto de lei de estágio, sobre o qual fizemos uma audiência pública concorridíssima aqui, no Senado Federal. Todos aprovaram o projeto de lei, inclusive o Governo, que, agora, apresenta outro na Câmara completamente desfocado da realidade, sem sintonia alguma com os problemas das ruas ou com os que a sociedade vive.

Pelo amor de Deus, vamos votar o meu projeto no Senado e vamos engavetar o projeto do Governo, que é um desastre para os jovens trabalhadores deste País!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/06/2007 - Página 20772