Discurso durante a 105ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 70 anos de criação da União Nacional dos Estudantes - UNE, e homenagem ao Centro Popular de Cultura - CPC.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. MOVIMENTO ESTUDANTIL.:
  • Comemoração dos 70 anos de criação da União Nacional dos Estudantes - UNE, e homenagem ao Centro Popular de Cultura - CPC.
Publicação
Publicação no DSF de 05/07/2007 - Página 22261
Assunto
Outros > HOMENAGEM. MOVIMENTO ESTUDANTIL.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, ESTUDANTE, JUVENTUDE, ARTISTA, DIRIGENTE, UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE), PRESIDENTE, SENADO.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE), IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, LUTA, DEFESA, SOBERANIA NACIONAL, DEMOCRACIA, ANISTIA, REFORMULAÇÃO, PAIS.
  • QUESTIONAMENTO, UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE), NECESSIDADE, LUTA, GARANTIA, POPULAÇÃO CARENTE, IGUALDADE, DIREITOS, EDUCAÇÃO, SUPERIORIDADE, QUALIDADE, FORMA, TRANSFORMAÇÃO, PAIS.
  • PROPOSIÇÃO, PROJETO DE LEI, COLOCAÇÃO, NOME, EX PRESIDENTE, UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE), MORTO, VITIMA, REPRESSÃO, REGIME MILITAR, RODOVIA, DISTRITO FEDERAL (DF).

O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Inicio saudando toda esta juventude, estudantil ou não, mas jovens que aqui estão assistindo a esta festa pelos 70 anos da UNE, e nós a devemos ao Senador Inácio Arruda.

Cumprimento meus amigos Poerner, Mamberti, Gustavo Petta, Efraim e esse grande ícone, que é o Presidente Pedro Simon.

Senador Inácio, vim aqui com o espírito de tentar casar comemoração e desafio. Comemorar uma instituição que é capaz, ao longo de sua história, de ter estado presente em todos os momentos decisivos da nossa vida.

Esteve presente na luta pelo “Petróleo é Nosso”, nas lutas pela democracia, na luta pelas Reformas de Base, na luta pela Constituinte, na luta pela Anistia. Uma entidade que conseguiu unir o espírito juvenil brasileiro e canalizar esse espírito para caminhar na rua, mudando aquilo que fosse preciso. Mas disso muitos já falaram. Eu vou falar um pouco do desafio, antes de tentar fazer o casamento do desafio com a comemoração.

Para mim, o desafio é que a UNE ajude a completar aquilo que nós não conseguimos completar, porque nós fizemos, antes da UNE, a independência, mas não somos um País independente; proclamamos a República, mas não somos ainda um País republicano no espírito cidadão do conjunto da população; redemocratizamos, mas não distribuímos o produto, conforme a democracia faz. E muitos de nós, que não perdemos o gosto pela utopia, não conseguimos dar os passos necessários para a utopia, seja do socialismo, seja de outro nome qualquer.

Eu venho aqui trazer o desafio de que a UNE continue na rua, lutando para construir no Brasil uma sociedade utópica que tem, para mim, hoje, uma definição: uma sociedade onde o filho do pobre tenha escola com a mesma qualidade do filho do rico; uma sociedade onde possa haver desigualdade na roupa, no transporte, na comida, mas não na educação. (Palmas.) Esse é o desafio da gente! Esse é o desafio que está diante de nós e que a gente não pode deixar de lado: o desafio da igualdade e da alta qualidade na educação de base.

Claro que a gente precisa melhorar a universidade! Claro que a gente precisa de mais vagas! Mas o que a gente precisa mesmo, acima de tudo, é de que todo jovem termine o ensino médio com a máxima qualidade.

Só assim derrubaremos o muro do atraso que não nos permite ser uma sociedade com o grau de civilização que nós queremos. Estes dois muros, a desigualdade e o atraso, só serão derrubados com uma grande mobilização nacional, até porque a UNE sempre se prestou corretamente ao espírito de fazer avançar a consciência nacional.

Se há um ponto em que a nossa consciência está atrasada, é na idéia da importância da educação e do direito à educação. Nossos pobres não acreditam que têm direito a uma boa escola. Não passa pela cabeça deles, como algo concreto, real e possível, que seu filho tenha uma escola igual à dos ricos. Para as nossas populações pobres, educação é um privilégio que divinamente ficou reservado para os filhos dos ricos. Temos de quebrar esse pior dos muros, que é o da inconsciência do direito da nossa população mais pobre à educação de qualidade no ensino médio. E que disputem para entrar no ensino superior em condições de igualdade.

“Mesma chance”, para mim, são as duas palavras que resumem a utopia neste momento da história. Daqui a vinte ou trinta anos, haverá outras, mas hoje as palavras são “mesma chance”. Deve-se garantir que a criança, ao nascer, terá a mesma chance de desenvolver seu talento, sua vocação, de utilizar sua persistência. Hoje não temos isso. Ao nascer, está definido o rumo: uns têm chance, outros não têm chance.

Este é o desafio que faço à UNE: que desperte para a revolução que este País precisa fazer. A UNE está devendo isso tanto quanto todos os Partidos políticos e todos nós progressistas. A culpa não é da atual geração, mas da geração mais velha, como a minha, que não trouxe para vocês a bandeira de uma utopia; deixamos que os sonhos utópicos desmaiassem, porque mortos eles não estão.

Este é o desafio, meu caro Petta e todos presentes, que ponho nas mãos de vocês, como mais jovens: Tragam de volta o sonho de que o Brasil precisa de uma revolução. Não deixem morrer essa palavra, como alguns querem. Tragam de volta a idéia de que temos de sonhar com a utopia, não deixem morrer a palavra utopia. Proponho que essa utopia seja a educação da máxima qualidade e igual para todos. E proponho que a revolução seja pela educação de base e pela ecologia, para garantir a mesma chance entre gerações, enquanto a educação garante a mesma chance entre classes sociais.

Esse é o desafio que eu queria deixar aqui. Mas eu disse, Sr. Presidente, que vinha casar comemoração com desafio. E estou tentando, de uma maneira que pode parecer singela, casar essas duas coisas com um projeto de lei muito simples, que tem um artigo, dizendo apenas que fica denominado Rodovia Honestino Monteiro Guimarães o trecho da rodovia BR-020, que atravessa o Distrito Federal de ponta a ponta. (Palmas.)

Por que creio que isso é um casamento de comemoração e desafio? Comemoração porque, ao lembrar o nome do Honestino, estamos lembrando o nome da UNE, e desafio porque todos os jovens que passarem por essa rodovia, inclusive porque ela leva à UNB, para os que vêm lá do Gama, vão se lembrar da UNE e de Honestino, que morreu lutando para que este País pudesse caminhar para uma revolução e construir uma utopia. Esses jovens que passarão por ela vão perguntar aos líderes estudantis: “Cara, Honestino faria assim?” Todas as vezes em que os jovens e a UNE se acomodarem, ao passar pela rodovia Honestino Guimarães, eles vão perguntar: “E Honestino se acomodaria diante das injustiças? Ele se acomodaria diante da escola que, neste País, não está dando o salto que precisaria para ser igual para todos?” Ao lembrar de Honestino e da luta que ele teria, eles vão repetir para vocês o desafio que hoje faço. Não deixemos que morra Honestino, porque ele significa o sonho de uma sociedade utópica, por meio de uma revolução que está em nossas mãos fazer.

Este é o casamento que faço entre homenagem e desafio. Não posso dizer que a comemoração é maior do que o desafio nem que o desafio é maior do que a comemoração. Como em um casamento, são dois lados de uma mesma família: a família brasileira, a família da revolução de que o povo brasileiro precisa. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/07/2007 - Página 22261