Fala da Presidência durante a 105ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 70 anos de criação da União Nacional dos Estudantes - UNE, e homenagem ao Centro Popular de Cultura - CPC.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM. MOVIMENTO ESTUDANTIL.:
  • Comemoração dos 70 anos de criação da União Nacional dos Estudantes - UNE, e homenagem ao Centro Popular de Cultura - CPC.
Publicação
Publicação no DSF de 05/07/2007 - Página 22268
Assunto
Outros > HOMENAGEM. MOVIMENTO ESTUDANTIL.
Indexação
  • AGRADECIMENTO, PRESENÇA, JUVENTUDE, ESTUDANTE, PRESIDENTE, EX PRESIDENTE, UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE), SESSÃO SOLENE, SENADO.
  • IMPORTANCIA, DATA, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES (UNE), HISTORIA, BRASIL, RECONHECIMENTO, BRAVURA, RESISTENCIA, LUTA, DEMOCRACIA, EXTINÇÃO, REGIME MILITAR, DEFESA, ELEIÇÃO DIRETA, NACIONALIZAÇÃO, PETROLEO, COBRANÇA, ETICA, POLITICA.
  • CONCLAMAÇÃO, EMPENHO, JUVENTUDE, RECONSTRUÇÃO, PAIS, ATUALIDADE, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, DESIGUALDADE REGIONAL, DESEQUILIBRIO, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, GARANTIA, JUSTIÇA SOCIAL, IGUALDADE, DIREITOS, CIDADANIA, SOCIEDADE.

O SR. PRESIDENTE (Pedro Simon. PMDB - RS) - Tão oportuna é a iniciativa do Senador Inácio Arruda. Agradeço a presença de todos os jovens, todos os ex-Presidentes e ex-dirigentes e, de modo especial, do companheiro Gustavo Petta. Lamentavelmente, o protocolo da Casa não tem - deveria ter - a perspectiva de que o grande responsável por receber as homenagens, que é V. Exª, pudesse falar e nós tivéssemos a honra de ouvi-lo. Mas, mesmo assim, entenda V. Exª, e repito: nós estamos conscientes de que estamos vivendo uma hora muito importante hoje.

Esta não é apenas uma daquelas sessões, que tanto a Câmara como o Senado Federal e até as assembléias legislativas realizam periodicamente, quase que semanalmente, em homenagem a um jornal, a uma data, a uma entidade, ao nascimento. É uma data em que se comemora um dos momentos mais importantes da vida brasileira: o aniversário da nossa União Nacional dos Estudantes.

Digo que para mim hoje é um dos dias mais importantes na história do Brasil nas últimas sete décadas. A nossa história, a história da nossa geração se confunde com a União Nacional dos Estudantes; a nossa geração nasceu com a UNE, por isso nesse tempo as histórias da UNE, do Brasil e da nossa geração se confundem. Vivemos juntos, caminhamos juntos, apanhamos juntos, lutamos juntos. Mais do que isso, estivemos juntos nos mesmos caminhos, porque sempre tivemos os mesmos horizontes, comungamos do mesmo projeto de País.

Muitas passagens, citadas da tribuna, inclusive, marcaram a nossa trajetória, a da UNE, a do Brasil. Nesses últimos 70 anos, a travessia foi, sem dúvida, muitas vezes dolorida, marcada pela repressão e pela morte de tantos jovens, carregados de tantos sonhos por um Brasil livre, soberano e democrático.

Procuramos, nessa nossa história, um fato que melhor representasse essa caminhada de luta. Quem sabe a morte do estudante Edson Luís Souto no Calabouço, restaurante universitário do Rio de Janeiro, em 1968? Com os fatos que se sucederam, 1968 foi o ano que nunca acabou.

Quem sabe a atitude arbitrária do regime militar, ao extinguir a UNE, em 1964? Um ato de uma estupidez, vindo depois com outro ato, proibindo o estudante de estudar. O estudante atingido pelo 477, por dez anos, não podia estudar, o ato mais burro e mais estúpido da humanidade que vi até agora.

Quem sabe os escombros de uma sede incendiada, próxima aos arcos da Lapa?

Quem sabe as invasões da Universidade de São Paulo, da UnB e de tantas outras universidades brasileiras naqueles anos de chumbo?

Quem sabe Ibiúna, sonhos em fila, rumo a outros calabouços?

Quem sabe outros nomes, como o nosso Honestino Guimarães, da Universidade de Brasília?

Quem sabe tantos outros desaparecidos, covas rasas, cemitérios clandestinos, corpos insepultos, pais e mães sofridos, filhos órfãos, amigos inconsoláveis?

Mas acho que duas palavras podem resumir a existência da UNE na história do Brasil: coragem e resistência.

Quantas vezes meninos ainda enfrentando canhões, como se o Brasil fosse uma imensa Praça da Paz Celestial. Quantas vezes multidões de jovens na luta pela democracia; pelo fim do regime militar; pelas eleições diretas, amplas, gerais e irrestritas. Quantas vezes a luta contra os militares na defesa do petróleo é nosso. Quantas vezes rostos pintados de verde e amarelo, roupas tingidas de luto, numa combinação de cores e de gestos pela ética na política. Quantas vezes! Quantos jovens! Quanta coragem!

Mas, meus amigos e companheiros de luta e de labuta na construção da história do Brasil de hoje, o País clama, de novo, pela atitude corajosa de todos os jovens deste País. É muito comum atribuir à juventude a responsabilidade pelo país do futuro. Mas, quem sabe, jamais em outro momento da nossa história, a coragem dos jovens tenha sido tão necessária para a construção do presente do nosso País.

A UNE está convocada, desta vez, não somente para construir o amanhã, mas, sobretudo, para reconstruir o hoje da nossa vida.

Por isso, sintam-se emancipados. O Brasil necessita de vocês, para que seja o País do presente. Sintam-se emancipados, sim, porque isso é importante. E, pelo que temos vivido na nossa história, cabe a vocês fundar novos alicerces, sedimentados nos princípios fundamentais da ética. As bases dessa mesma construção, que, com tanta luta, procuramos deixar-lhes como herança, mostram-se, cada vez mais, carcomidas.

Quem sabe seja a hora de ocupar de novo as nossas ruas, como em tantos outros tempos memoráveis. Quem sabe seja o momento, novamente, de fazer a história dos nossos melhores sonhos. Quem sabe este dia não seja apenas o de comemorarmos os nossos feitos do passado. Quem sabe o que vale mais sejam os 70 anos que ainda virão a partir de hoje.

Não esperem que as mudanças que o País tanto reclama no Executivo, no Legislativo, no Judiciário ocorram de dentro para fora. Não esperem que elas aconteçam de dentro dessas instituições para a sociedade brasileira. A liberdade que conquistamos a duras penas, com o sacrifício de tantos que tombaram, tem de ser exercitada hoje, na sua plenitude. As ruas, turvadas em outros tempos por nuvens de pólvora e de gás, devem ser ocupadas de novo por ventos da decência, da ética e das melhores referências.

Não se pode conceber que um País com tamanha riqueza conviva com tamanhas disparidades regionais e pessoais de distribuição de renda. Há um grande muro de vergonha a nos dividir e a nos diminuir.

Não há que se permanecer com as instituições pilares de nossa democracia no rodapé da legitimidade pública. Há que se reconstruir o Estado com novas bases, com novas divisórias, com novas luzes, para edificar uma Nação verdadeiramente cidadã, democrática, soberana e digna.

Portanto, meus irmãos, sintam-se em casa. Vocês hoje deram um banho de dignidade nesta Casa. Vocês hoje trouxeram o Brasil, o nosso passado e o nosso presente, a nos conclamar, a nos colocar contra a parede, para fazermos nós, Parlamentares, a nossa parte. A nossa alegria pelo tempo vivido. A nossa esperança pelo tempo que há de vir. A nossa homenagem a todos aqueles que dedicaram sua própria vida, para que pudéssemos respirar, hoje, o ar da liberdade - rarefeito em tempos que já se foram, espera-se que para sempre. A nossa confiança nos ventos da democracia. A nossa fé na coragem dos jovens, Brasil de hoje e de amanhã.

Hoje, como sempre, a UNE somos nós, a UNE é a nossa voz!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/07/2007 - Página 22268