Discurso durante a 107ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Indignação com o assassinato da jovem Lílian Samara, advogada e enfermeira, na madrugada de hoje, em Teresina-PI. Apelo ao Presidente Lula para que tome providências urgentes contra a violência no País.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CONGRESSO NACIONAL. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Indignação com o assassinato da jovem Lílian Samara, advogada e enfermeira, na madrugada de hoje, em Teresina-PI. Apelo ao Presidente Lula para que tome providências urgentes contra a violência no País.
Publicação
Publicação no DSF de 07/07/2007 - Página 22711
Assunto
Outros > CONGRESSO NACIONAL. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • ELOGIO, PRONUNCIAMENTO, SENADOR, DEBATE, ASSUNTO, INTERESSE NACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, TRANSPOSIÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO.
  • ANALISE, HISTORIA, SENADO, DEFESA, INTERESSE NACIONAL, PRESERVAÇÃO, ESTADO DEMOCRATICO, COMPARAÇÃO, TRECHO, BIBLIA, REGISTRO, REABERTURA, CONGRESSO NACIONAL, POSTERIORIDADE, PERIODO, DITADURA, REGIME MILITAR.
  • CRITICA, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS, AMERICA LATINA, CONVOCAÇÃO, PLEBISCITO, CONTINUAÇÃO, MANDATO, DESRESPEITO, DEMOCRACIA, MOTIVO, INEFICACIA, ATUAÇÃO, PARLAMENTO, FALTA, CONTROLE, CONDUTA, GOVERNO.
  • APREENSÃO, EXECUTIVO, CONTROLE, IMPRENSA, MANIPULAÇÃO, DEMISSÃO, JORNALISTA.
  • LEITURA, TRECHO, NOTICIARIO, INTERNET, REGISTRO, VIOLENCIA, ESTADO DO PIAUI (PI), VITIMA, MULHER, HOMICIDIO, SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PRIORIDADE, MELHORIA, POLITICA, SEGURANÇA PUBLICA.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Lucena, que preside esta sessão de sexta-feira, 6 de julho, Senadoras e Senadores presentes na Casa, brasileiras e brasileiros aqui presentes ou que nos assistem pelo Sistema de Comunicação do Senado, quis Deus que estivesse presente a mocidade. Lembro Bilac, Lucena, que disse: “Criança, não verás país nenhum como este!”.

            Talvez ele não dissesse isso hoje. Mas eu posso dizer para a juventude que está aí - há poucos dias estava a UNE aqui -: este Senado é a melhor instituição do Brasil e tem 183 anos. O Senado, os senhores que estão aqui, escreve a mais bela página deste Brasil. Cuba existe; Venezuela, vocês estão vendo; o Equador está ali; Bolívia está ali; a Nicarágua bem aí. A democracia que nós vivemos somos nós que sustentamos.

            A imprensa é um poder, mas não como este. Um discurso feito aqui fez um Presidente da República tomar uma triste atitude. Refiro-me ao que disse aqui Afonso Arinos: “Será mentira a viúva? Será mentira o órfão? Será mentira o sangue? Será mentira o mar de lama?” Foi aqui. A imprensa dizia que não tinha havido nada, e Afonso Arinos... Getúlio, um dos melhores brasileiros que tivemos - não podemos julgá-lo por um instante, mas por sua vida -, retirou-se da vida para entrar na história.

            É este Senado que garante... Para tirar Getúlio da ditadura, um líder militar - estão aí humilhados os militares - disse que o preço da democracia é a eterna vigilância. Nós estamos vigiando.

            Este Senado nunca funcionou às segundas e às sextas-feiras. Todos são testemunhas disso. Mas hoje, desde as nove horas da manhã, temos ouvido os pronunciamentos de homens os mais importantes: Marco Maciel, símbolo da pureza democrática; Romeu Tuma, ícone da Polícia Federal que aqui se manifestou; Edison Lobão, que dirigiu esta Casa em um de seus momentos mais difíceis, quando se digladiavam dois líderes, o Presidente Jader Barbalho e Antonio Carlos Magalhães. Edison Lobão passou por isso - isso passa - e entregou a Presidência, ele que era Vice, a Ramez Tebet, que hoje está no céu, como todo o Brasil sabe, por sua pureza. Por aqui passou o Senador Geraldo Mesquita, filho de ex-Governador, autor de livros sobre decência política.

            Aqui passou Cícero Lucena, engenheiro que falou sobre um dos temas mais importantes do momento - é engenheiro esse daí. Antes de governar o Piauí, eu acredito em Deus, no estudo e no trabalho. Fui estudar como governar um Estado, e ele era Governador - Íris Rezende do outro; Tasso. Ele falou da transposição não como um qualquer, trouxe para cá a experiência do rio São Francisco. Ele falou que o Rio de Janeiro ganha água e o povo bebe às custas da transposição do rio Paraíba.

            Eu citaria aqui um exemplo muito mais antigo: na Itália, Leonardo da Vinci, o maior gênio da humanidade, fez a transposição do Arno - em 1500, quando o Brasil estava sendo descoberto. Leonardo da Vinci não é só aquele pintor, aquele artista não, era engenheiro militar.

            Lá nos Estados Unidos, no Colorado, eu fui discutir no Bird - era nosso Ministro Fernando Bezerra -, e eu incluí na transposição a parte arenosa do Piauí, que não tem água - hoje o projeto é outro. E ele, com a competência de engenheiro, com a competência de Prefeito vitorioso, de Governador vitorioso, melhor Ministro da Integração Regional - tanto é que o agraciei com a comenda maior do Piauí, que traduz a gratidão do nosso povo, a Grã-Cruz Renascença...

            Mas, hoje, este é o País em que vivemos. É aqui; é por isso que estamos aqui.

            Boris Casoy, vocês viram: o admirável. Eu o levei ao Piauí, andamos no Delta. Ele dizia: “Isto é uma vergonha!” Onde está o Boris? Onde ele pode dizer essas coisas?

            Mas eu posso. Isto aqui é uma instituição que tem 183 anos. Esta é segura, é o Senado.

            Vocês, estudantes, pensam que iam repousar esta democracia? Aqui, já saiu discurso assim também, solitário, fugindo da gente, no sentido de que o Presidente da República podia fazer um plebiscito. Já saíram uns três da Câmara. Ele não tem esse direito. É aqui o Senado. Um plebiscito foi o que o Chávez fez, foi o que o Equador fez em seis meses, para vocês verem como é a política mundial. Se o Presidente Luiz Inácio fizer um plebiscito... O Hitler fez, Napoleão Bonaparte fez; e disse: “Quero ser rei”, e o bispo colocou a coroa na cabeça dele.

            O Poder Executivo tem a chave do cofre, é o que manda na mídia.

            Ele não manda aqui. Tiraram o Boris Casoy!

            Está aí o Fidel. Conheço Cuba. Meus jovens, fui lá. Fui verificar a Ata da eleição do Fidel: trezentos votos. Imaginem uma Casa assim! Trezentos votos recebeu Fidel. O irmão dele - eu olhei: trezentos votos. Essa é a democracia. Aqui, não.

            O Presidente não tem a certeza que tem aqui. Não tem. Ele não tem direito de fazer plebiscito. O Chávez fez; o Chávez vai ser Presidente até morrer, como Fidel Castro.

            Fechou o congresso, diluiu, bem ali, na Colômbia.

            Se este Senado não fosse importante, não haveria ex-Presidentes - aqui, há dois -, eles não estariam aqui, nós não estaríamos.

            Bem ali, na Colômbia, segue a mesma linha. Esse é que é poderoso, porque o Chávez está no poder há 6 anos; Fidel, há 50; este está há seis meses, o do Equador. Elegeram um congresso; ele cassou o Presidente da República e 19 parlamentares. O Luiz Inácio não pode dizer: “Mão Santa, tira”. Não tira, não. Não tira! Essa é a diferença do nosso País, da força do Senado, da história.

            O do Equador, do mesmo time. Acho que ele é o Camisa 10 desse time que está aí, botando a ditadura. Em seis meses, ele cassou 19 parlamentares. Foram, então, para a Justiça. Um juiz, entre aqueles que ouviu o discurso de Cristo - “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça” - mandou os deputados voltarem. Sabem o que houve? O Presidente desse time que está aí mandou prender. Eram 18; prendeu oito, e os outros fugiram para a Colômbia, para não serem presos. E mandou prender os juízes, que acharam que eles mereciam voltar.

            Se este Brasil não está assim é porque Luiz Inácio não tem certeza daqui. Está tumultuado? Está. Errare humanum est. Existem erros? Existem; e já existiram também. Este Senado já foi fechado na época da Ditadura, e era Presidente um homem do Piauí. Ele só disse uma frase - eu estava do lado dele: “Este é o dia mais triste da minha vida”. Os militares se envergonharam e mandaram reabrir.

            Aqui, tem história, tem moral.

            Sabem vocês como começou o Senado, que é a única vanguarda que garante a democracia? Cícero Lucena, Deus pediu a Moisés, o maior líder da humanidade, ungido por Ele, que libertasse seu povo. E Moisés foi - não quis saber se havia Mar Vermelho, faraó, exército, 40 anos de confusão -, e Deus deu a ele as leis. Temos de obedecer às leis de Deus; o Senado e o Brasil. Somos cristãos.

            Bezerro de ouro e falcatruas sempre existiram. E ele, desesperado, quebrou as leis, bezerro de ouro, e quis desistir. Mas ouviu uma voz, que lhe disse: “Busque os mais velhos, os mais experimentados, e eles lhe ajudarão a carregar o fardo do povo”. Assim, nasceu a idéia do Senado. Aqui, estão os mais experimentados.

            Que tem confusão, tem. À mesa de Cristo eram só 13, e teve confusão; aqui, com 81, não vai ter?

            Atentai bem, mas, aqui, há resistência. É isso o que garante essa democracia. Sabemos buscar a solução.

            Agora, encantado com a mídia e com o que dizem - estamos ouvindo. Está aí a mídia, que não vou contestar. O Presidente Luiz Inácio tem popularidade nunca antes vista. Não vou analisar como conseguiu isso, mas também, nessa pesquisa, é abordado outro ponto. Vocês já leram o Pequeno Príncipe; quem não leu vá ler. Antoine de Saint-Exupéry: “O essencial é invisível aos olhos, quem vê bem vê com o coração”. Essa mesma pesquisa, que diz que Luiz Inácio é o mais querido - e é verdade - diz ainda: “Nunca antes houve tanta corrupção neste País”.

            Luiz Inácio, estou advertindo. Eu me lembro, quando visitei o México, já como Senador, de uma frase do General Oregon - o Luiz Inácio, que viaja tanto, eu gostaria até de sugerir a ele que lesse. Diz assim, Cícero Lucena: “Eu prefiro o adversário que me diz a verdade do que o aliado que me leva à falsidade, que me engana”. Estou dizendo a verdade ao Luiz Inácio.

            Na mesma pesquisa, em que Sua Excelência está voando, está nas alturas - tem mais voto do que nós, ganhou as eleições; votei no outro -, lê-se também, que nunca antes houve tanta corrupção.

            Ulysses Guimarães, de quem vocês ouvem falar, disse esta frase: “A corrupção é o cupim que corrói a democracia”. Então, não é seguro.

            A mesma pesquisa mostra que a violência nunca esteve tão grande - isso é uma guerra civil. Fui ver - o essencial é invisível aos olhos -, e sabem o que diz a pesquisa? Está ali Cristo. O Apóstolo Paulo viveu mais do que ele: fé, esperança e caridade. Caridade o Governo faz. Existe a Bolsa, não sei quê, gestante do interior. Faz. Não vou dizer que não faz. Mas a fé, a esperança... A pesquisa mostra o seguinte: o brasileiro não acredita que vai diminuir a violência. Então, o Governo que mata a esperança, deixa todo mundo morto!

            Eu dizia no Piauí algo que vou ler. Fiquem aí, não saiam, não, porque é importante. Vocês vão ouvir a coisa mais linda escrita por uma mulher: “Violência desenfreada”. Teresina cristã. Eu andava a pé nas ruas, como Governador.

            “Advogada morre a tiros ao sair de festa em Teresina”.

            Vejam que carta linda dessa mulher! Isto reflete nosso País: a violência. E há o Orkut dela; uma bela moça, parece que com 25 anos. Vou ler. Sai e é assassinada; sim, pela violência.

“Advogada morre a tiros ao sair de festa em Teresina”. 

“Tragédia: tinha 25 anos - como vocês aí - e foi executada durante um ‘arrastão’”. [Teresina. Pares cum paribus facillime congregantur - Cícero no Senado romano: “Violência atrai violência”. ]

“A pergunta que a população piauiense faz é: ‘Até quando?!’ Ninguém agüenta mais tanta violência!” - Eu estou lendo o portal 180graus.com, que me chegou agora: “Na madrugada desta sexta-feira (06/07) uma jovem advogada, de apenas 25 anos, foi vítima desta violência desenfreada.

O nome dela era Lilian Samara Nunes Barros [ Nunes Barros: teve o Senador Nunes..., Barros, Prefeito, família... 25 anos!]. Formada em advocacia e em enfermagem”.

           Atentai bem para este quadro: 25 anos, advogada e enfermeira... Mulher! Outro dia, uns pilantras que traduzem a nossa pátria agrediram uma mulher, empregada, que estava de madrugada, para conseguir uma consulta. Este é o País, é o retrato: uma mulher! E, na defesa, pensavam que era uma prostituta. 

           “Sociedade” é sócio da cidade. Esta é a sociedade barbárie que o PT nos oferece. “Ela saía de uma festa que estava sendo realizada na casa de uma amiga, no Bairro Marquês” [ é no centro, ali, de Teresina antiga, onde se faziam no passado os grandes comícios, os grandes Presidentes da República.]

           A primeira vez que falei foi no Bairro Marquês, para o povo de Teresina, Zona Norte de Teresina.

Ela entrou em seu veículo, um Fiat Uno, e não percebeu uma movimentação. Eram bandidos que faziam arrastão dentro de uma casa próxima à residência onde estava sendo realizada a festa. Eles abordaram Lilian Samara e pediram que parasse o carro. Ela, amedrontada, não obedeceu e tentou fugir. Os bandidos, então, atiraram e acertaram nas costas dela. Os bandidos fugiram. A advogada ainda chegou a ser socorrida pelas amigas, que saíram da festa desesperadas, e foi levada para o hospital HTI, que fica perto do local da tragédia, mas não resistiu. O corpo está sendo velado na capela da Pax União, Avenida Miguel Rosa, Centro de Teresina.

            Importante a mensagem. Lembro-me de quando eu era pequeno, minha mãe terceira escrevia teatro, e tinha a Santa Maria Goretti, a de Fátima, que foi assassinada e aquilo mudou o mundo. E ela tinha no Orkut, esse Orkut que vocês entendem, uma mensagem - moça de 25 anos, enfermeira e advogada; 25 anos, mulher: “Tenha sempre um sonho”.

            Lilian Samara era uma jovem dócil, e, como dizia em depoimento na sua página no Orkut, cheia de sonhos, como Martin Luther King. Veja abaixo o depoimento emocionante deixado por ela, nesse Orkut:

Tenha sempre um sonho,

e tente esquecer os dias nublados e sombrios,

mas não se esqueça nunca das horas de sol,

nem das tuas noites de estrelas...

Esqueça os momentos em que houve derrotas,

mas nunca se esqueça da batalhas que já tenha ganho.

Esqueça os erros que não pode evitar,

mas não se esqueça das lições que tenha

aprendido com eles,

e nem o que eles possam ter-lhe ensinado...

Esqueça os dias em que a tristeza lhe tenha

batido em sua porta,

mas nunca se esqueça dos sorrisos que tenha

encontrado,

e nem daqueles que ainda encontrará...

Esqueça os planos que lhe falharam, porém

jamais deixe de sonhar.

            Lilian Samara.

            Ela morreu, vítima dessa violência.

            Eu ouvi o discurso do Senador Edison Lobão. O Governo passado enfrentou um apagão e teve a coragem de fazer uma câmara para esse apagão. Foi dirigido pelo Ministro-Chefe da Casa Civil, Pedro Parente, e envolvia todos os Ministérios. Então, era hora...

            Eu tenho um sonho: o de que o Presidente Luiz Inácio acorde e construa, a exemplo do Governo passado, que enfrentou o apagão e criou uma câmara especial com todo o Governo, eu era Governador e fui, ele presidindo, Pedro Parente, e os Ministros todos, para resolver o apagão. Que isso acorde o Presidente Luiz Inácio, que está dormindo nos ares, e veja essa violência, a falta de esperança. Que esta seja, como a Santa Maria Goretti, que foi assassinada, uma mulher que mudou o mundo. Digo isso porque participei de uma peça, quando era menino, e aparecia lá, como irmão de Santa Maria Goretti, um tal de Alexandre, que a apunhalava, e mudou o mundo cristão a sua morte, o assassinato de Santa Maria Goretti. Esta a revive e deixa uma mensagem, um sonho.

            Então, Luiz Inácio, hoje todos nós temos este sonho: que Vossa Excelência se dedique a acabar com a violência. Que este Brasil tire essa bandeira vermelha e vamos ler todos na nossa bandeira: “Ordem e Progresso”.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/07/2007 - Página 22711