Pronunciamento de Mão Santa em 11/07/2007
Discurso durante a 110ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Apoio à divisão do Estado do Piauí para a criação do Estado do Gurguéia.
- Autor
- Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
- Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
DIVISÃO TERRITORIAL.:
- Apoio à divisão do Estado do Piauí para a criação do Estado do Gurguéia.
- Publicação
- Publicação no DSF de 12/07/2007 - Página 23175
- Assunto
- Outros > DIVISÃO TERRITORIAL.
- Indexação
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- ELOGIO, LEONEL PAVAN, EX SENADOR, VICE-GOVERNADOR, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC).
- COMENTARIO, EXPERIENCIA, ORADOR, EX GOVERNADOR, ESTADO DO PIAUI (PI), PROCESSO, DIVISÃO TERRITORIAL, CRIAÇÃO, MUNICIPIOS, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, AMPLIAÇÃO, LIDER, POPULAÇÃO.
- APOIO, DIVISÃO TERRITORIAL, ESTADOS, ANALISE, DIFERENÇA, PAIS ESTRANGEIRO, AVALIAÇÃO, RESULTADO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, DEFESA, DIVISÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), FAVORECIMENTO, REGIÃO, INTERIOR, REGISTRO, HISTORIA, REIVINDICAÇÃO.
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Papaléo Paes, que preside esta sessão, Senadoras e Senadores, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem pelo Sistema de Comunicação do Senado, V. Exª apresentou, Senador Papaléo, o nosso Senador Leonel Pavan. Peço, então, permissão a V. Exª, que é tucano, para que, quando se referir ao Senador, que se refira a S. Exª como o melhor tucano, de perspectivas invejáveis para o seu Partido. Eu vejo vocês falando em José Serra, em Aécio, mas entendo que é o melhor candidato a Presidente da República que vocês têm, Ô Leonel Pavan, é V. Exª, o melhor candidato dos tucanos.
E, como quis Deus, a Ideli está ali. Ô Ideli, Luiz Inácio é uma figura mística, porque foi um operário que chegou à Presidência da República. Leonel Pavan era um garçom.
Ô Leonel, eu quero dar um testemunho: eu fui ao seu Estado quando governava o Piauí, buscar uma empresa, a Cerval, que depois foi, Garibaldi, comprada pela Bunge, uma multinacional. E eles me hospedaram em Camboriú. Papaléo, eu fui a um restaurante, e os garçons todos se apresentaram e disseram: “Você conhece o Leonel Pavan?”.Eu disse: “Não.” “Pois Leonel Pavan foi um dos nossos. Foi garçom, três vezes Prefeito, o melhor Prefeito de Camboriú.” A Ideli está aí, mas ele foi mesmo, e aqui foi aquela figura de Senador.
Então, Papaléo, se eu estivesse no meio dos tucanos, meu candidato seria Leonel Pavan, o melhor que vocês têm. Quem assinou minha ficha no PMDB foi Luiz Henrique, que é o Governador, e V. Exª. Então, a admiração é por dois.
Mas estamos aqui, Senador Papaléo. Acho que este Senado está muito confuso e tem de pensar pelo Brasil.
Senador Expedito Júnior, como disse Descartes: “Penso, logo existo”. Nós temos de pensar. Esta é a experiência que tenho nesta Casa, Garibaldi: um Senador representa o melhor que há no País, na história do mundo - assim o é, e aqui o é. Nós somos 81, vai haver problema. Na época de Cristo, só eram treze, e houve um problemão lá no Senado. Com 81, tem de haver problema.
Então, queria dar ao País minha experiência. Expedito Júnior, V. Exª tem perspectiva invejável na política do seu Estado, deve ser Governador muito novo e pode chegar à Presidência. Quando governei o Piauí, sucedi um extraordinário Governador, que foi Senador.
Este negócio de falar de algumas pessoas aprendi com os filósofos: quem tem bastante luz não precisa diminuir ou apagar a luz dos outros. O Governador que me antecedeu foi um homem extraordinário; foi Senador da República, talvez um dos melhores daqui. Ele esboçou um projeto de transformar povoados em cidades.
Éramos de partidos opostos, mas temos de aprender o que dá certo. Expedito Júnior, quando ele assumiu, o Piauí tinha 115 cidades. Ele criou 30 e me entregou 145.
Vi que o negócio era bom. Senti povoados se transformarem. Não que tenha mais mérito do que ele, o ex-Governador Freitas Neto, porque peguei o bonde andando. Eu digo: é bom. Senti isso. Era Prefeito de Parnaíba, deu duas cidades, Bom Princípio e Morro da Mariana. Então, é pegar povoado e transformá-lo em cidade. Leonel Pavan, aprenda isso, leve essa experiência. Como Prefeito, V. Exª foi o melhor: foi por três vezes, é o campeão. Transformar povoado em cidade é extraordinário. Não é além daquilo que se vê, Garibaldi: praça para namorar, escola para aprender, hospital para saúde, avenidas iluminadas, cadeia para botar ordem, mercado para comercializar e fazer riqueza.
Expedito Júnior, o essencial é invisível aos olhos. O importante é transformar pessoas em líderes: Vereadores, Vice-Prefeitos, Prefeitos.
A lei permite: os Prefeitos dessas pequenas cidades estão sendo Prefeitos da capital, que chamo de cidade-mãe. São extraordinários! Já há vários casos em que o Prefeito da pequena desenvolve, trabalha e é eleito na cidade-mãe. Isso melhorou muito o Piauí. Eu criei 78 cidades. É que já peguei o bonde andando, mas melhorou. Os povoados se transformaram. Então, trazendo para o Senado: Estados, dividi-los ou não? Sim.
É hora de pensarmos isso. Ó, Garibaldi! Ó, Lucena, que é Presidente da Subcomissão de Assuntos Municipais: devem-se criar Estados. Olhem para o mapa dos Estados Unidos: é quase do tamanho do Brasil, um pouquinho maior; são 50 Estados. E olhem para o mapa do Brasil, visualizem-no na mente. Papaléo, visualize agora o mapa do Brasil e seus Estados. O dos Estados Unidos parece azulejo, todo igualzinho, quadrilátero; todos os Estados têm, mais ou menos, o mesmo tamanho. Imaginem no cérebro o nosso País: é uma zorra, uma bagunça! Olhem o tamanho dos Estados, uns grandes e outros pequenos. O meu começa magrinho, onde nasci; ele engorda e depois se junta lá na Bahia. Disforme. É comprido! Eu nasci no mar, sou garoto do delta: verdes mares bravios, brancas dunas, ventos que nos acariciam, sol que nos tosta. De onde nasci até o fundo do Piauí, lá junto com a Bahia, é longe. Dá para andar a Europa toda, uma Suíça. Andar ali parece brincadeira: dez passos, e se está na França; dez, e se está na Alemanha. A Suíça é uma brincadeira. Atravessa-se a Suíça, e se está na Alemanha, na França: muda de documento, o dinheiro não vale mais. Agora existe o Euro.
Então, é hora de dividir. O México é bem menos do que a metade. Conheço o México: riqueza como a do nosso País; tem 35 Estados, e o Brasil só tem 27.
O maior administrador era Peter Drucker. Morreu. Agora é Charan, consultor, que diz que se tem de ver resultados, escolher gente e ver o que se passa no mundo.
Resultados? Estão no Brasil. Bem aí. Mato Grosso, quando eu estudava Geografia, era um mundo; cabiam duas Europas dentro dele. Ele foi dividido, e Mato Grosso do Sul cresceu. Goiás? Era grandão. Surgiu Tocantins, que cresceu, assim como Goiás. Os dois cresceram, como os Estados de Mato Grosso.
E os territórios? Só não conheço todos, porque o Papaléo não é assim tão gentil como V. Exª. Tenho elogiado aqui o meu colega médico, mas S. Exª ainda não me convidou. V. Exª, em poucos instantes. Cheguei lá, não era nem meu roteiro, pois fora convidado a ir ao Acre para uma missão cultural e política, e V. Exª recepcionou-me com aquele extraordinário Governador, Ivo Cassol.
O que quero dizer é que são Estados novos. E como estão educados! Estou encantado com as duas capitais. Por quê? Porque as administrações estão próximas.
Papaléo, não vi uma lâmpada quebrada!
Quando fui Prefeito, andava atrás de um poste mais alto para a turma não quebrar as lâmpadas.
Lá não! Não há um muro pichado, tampouco um monumento!
Então, eles se transformaram em Estado. Observei isso em Roraima (Boa Vista), em Rondônia e no Acre. V. Exª ainda não me convidou para ir ao seu Estado, não o conheço.
A criação do Estado aproxima. Papaléo, isso é velho, já está amadurecido, não pode deixar ficar podre. Este Congresso tem de trabalhar, andar, votar e trazer coisas boas. Essa é uma coisa boa.
Vejam o Gurguéia. Estou aqui com alguns compêndios que falam disso e um livro aqui de Agostinho Reis. A região do Gurguéia é boa, o rio Gurguéia é como o Nilo, dádiva da natureza para o Egito, pois enche e se espalha.
Vou contar uma, Guerra. Eu não gostava de conversar com Fernando Henrique Cardoso, não, porque ele sabe, ele é estudioso, ele é homem sabido. Papaléo, toda vez que eu, como Governador, ia lá, ele vinha falar do Gurguéia. Eu sou do mar, litoral, eu não sabia, ele sabia mais que eu. Aí, era chato, não é? Ele sabia, porque tem uma instituição em São Paulo, à semelhança da Cepal, onde ele fez um estágio, onde ele estudou. Ele passou dias e dias, vendo a riqueza do Gurguéia. Então, Fernando Henrique Cardoso estudou muito. Ele tinha uma fundação que possibilitou com que ele fizesse esse estudo. Eu, não; eu era médico-cirurgião no litoral; por que eu iria andar atrás de Gurguéia? Eu não era hippie. Então, ele sabia tudo do Gurguéia: o futuro, as perspectivas, a grandeza. Eu tirava o assunto de lá e jogava para Teresina, para o litoral, porque, do Gurguéia, ele sabia mais.
Essa gente quer criar um Estado, Senador Cícero Lucena. Eu sou do norte do Estado. Cristalândia do Piauí e Corrente estão ao sul do Estado, e o sul do Piauí é mais próximo de Brasília que de Teresina. É uma loucura de Estado. Os habitantes do sul do Estado estão mais próximos de Brasília que da capital do Estado do Piauí. O Estado é muito comprido. Então, eles querem que haja uma divisão do Estado - já queriam a divisão antes. Quando eu governava o Piauí, umas duzentas pessoas chegaram a cavalo. Mandei que eles entrassem no palácio. Realmente, o norte era mais desenvolvido. Eles se queixavam. Eu investi muito lá, em universidade, em eletrificação - 230 quilowatts.
Foi o Fernando Henrique lá e eu disse: “Cadê? Você não quer o Gurguéia? Então tem que levar energia para o cerrado”. Aí ele nos deu a linha-tronco - 230 quilowatts, que ilumina o nosso cerrado e que me possibilitou buscar lá, em Santa Catarina, a Ceval, que hoje é a Bunge; foi a primeira indústria e hoje é bem dirigida pelo Prefeito Francisco Filho. Há desenvolvimento.
Então eles foram a cavalo. Saíram de lá, 800 quilômetros, e entraram no meu Palácio. Eu não podia dividir, então investi muito, não para que acabasse com o sonho deles, mas porque tem, como na Medicina - Papaléo sabe disso -urgência e emergência. E era o que eu podia fazer: levar eletricidade, desenvolver a produção de soja, levar energia, hospitais e desenvolvimento. Mas eu não queria enterrar aquele sonho, ô Cícero, que é legítimo, que era a criação do Estado de Gurguéia. E eu queria me posicionar. Mas isso é velho, é porque as coisas aqui para acontecerem...
Em 1950, um Senador, Joaquim Pires - 1950, ano santo - já bradava; depois o Senador Chagas Rodrigues; e agora isso volta à tona. Sou do norte, do mar, do delta, mas acho viável que se divida. Os Estados Unidos têm 50 estados; o México, menos da metade do Brasil, tem 35. É hora de dividirmos o Piauí em Gurguéia e Piauí.
É hora de dividir o Pará, que é muito grande; o Maranhão quer. Isso possibilita, Papaléo, uma melhor administração
Então, tem compêndio, hoje, tratando disso, por Deputado Federal: Gurguéia, que eu já li. Tem outro de Jesualdo Cavalcanti, que é da Associação de Prefeitos. Tem o primeiro de Agostinho Régis, e tem o de um jovem estudioso, Nelson de Aguiar: “Gurguéia: o Estado que nasce para o desenvolvimento”. É um sociólogo, pensa bem como Pascal.
Então, queremos dar nossa definição com a responsabilidade de quem criou municípios e viu como melhoraram os povoados transformados em cidades, e os exemplos dos Estados.
Essa é a nossa voz. Este Congresso não deve acabar com isso nesse recesso, deve resolver os seus problemas e acelerar esse sonho do Estado do Piauí de se dividir, que vem de 1950, cuja idéia já está amadurecida. E quero enaltecer os outros que trabalham. Não poderíamos deixar de citar o trabalho de Jesualdo, de que já falei, de Francisco Filho, seu irmão, José Nordeste. Enalteço esses autores, principalmente o último trabalho de todos, que é conciso, mas objetivo, o de Nelson de Aguiar.
E, para fechar, um quadro vale por dez mil palavras. Cícero Lucena, V. Exª é do Nordeste, Paraíba, que tem 56.440 km. Eu me lembro - e o Cícero Lucena deve se lembrar, ô Garibaldi - que o Governador de Sergipe, Albano Franco, hoje Deputado Federal, se queixava, Papaléo, para o Presidente Fernando Henrique Cardoso de que as estradas estavam ruins. Sergipe! Ai eu me virei e disse: ô Presidente, se ele está falando de Sergipe, ah, se eu governasse o Sergipe! Eu, com uma lambreta, ia governar porque ele é pequeno. Cabem doze Sergipes dentro Piauí! Então é grande.
O Sr. Garibaldi Alves Filho (PDMB - RN) - Senador Mão Santa, permita-me um aparte?
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Vou já! Doze Sergipes no Piauí. E do nosso Nordeste? Como tamanho não é documento.. - a sabedoria popular. Nunca vi um provérbio errar. Aqui temos um exemplo, o nosso provérbio do Piauí, ô Papaléo, não é do Piauí, é da Bahia, é do Nordeste: “Pau que nasce torto morre torto.” Ô verdade! Foi o nosso Conselho de Ética. Aí está a confusão.
Então, é o seguinte: atentai bem. O menor Estado do Nordeste, em tamanho: Sergipe, 21.910 km². É o que eu disse: doze Sergipes cabem dentro do Piauí. É o menor, mas é a maior renda per capita. Quer dizer, não é o tamanho que vai dar a grandeza. O menor do Nordeste é o Sergipe e é o de maior renda per capita do Nordeste.
Então, somos favoráveis à divisão.
Estamos aqui trabalhando, e acho que este Congresso tem que agilizar. Este País espera isso: soluções.
Eram estas as nossas palavras. Antes, eu gostaria de conceder um aparte a este extraordinário Líder do Nordeste - apenas um aparte para enriquecer o meu pronunciamento. Foi o Prefeito número um do Rio Grande do Norte, de Natal, e também Governador: Senador Garibaldi Alves Filho.
O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PSDB - AP) - Senador Garibaldi Alves Filho, V. Exª deseja fazer uso da palavra, agora, após o Senador Mão Santa?
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente, permita que S. Exª faça o seu aparte para complementar.
O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PSDB - AP) - Em virtude do tempo que V. Exª já se encontra na tribuna, S. Exª abre mão de fazer o aparte para fazer uso da palavra como orador inscrito.
O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu só quero que ele fique no Rio Grande do Norte, porque se ele levar o título dele para o Piauí ou para Gurguéia, eu não ganho mais as eleições. Ele é tão querido lá! É uma figura extraordinária!
Eram estas, então, as nossas palavras e espero dar àquele povo a esperança de que nós estamos aqui - como Joaquim Pires, como Chagas Rodrigues, que desde 1950 levantam esta bandeira.