Discurso durante a 112ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Reflexão sobre a violência e a criminalidade no País.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Reflexão sobre a violência e a criminalidade no País.
Publicação
Publicação no DSF de 14/07/2007 - Página 23964
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • APREENSÃO, PROPAGAÇÃO, CULTURA, VIOLENCIA, JUVENTUDE, PROTESTO, ESPANCAMENTO, MULHER, EMPREGADO DOMESTICO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CRIMINOSO, ORIGEM, CLASSE MEDIA, ANALISE, OCORRENCIA, FALTA, VALOR, MORAL, OMISSÃO, FAMILIA.

           O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como um vírus, a cultura da violência parece estar se disseminando entre os jovens, por todo o Brasil. Praticamente todos os dias somos confrontados com exemplos desse fenômeno, e os mais recentes são a prova de que algo precisa ser feito, e com urgência, para deter o que já se tornou uma epidemia.

           Ainda está vivo na memória dos brasileiros um caso ocorrido há dez anos, em abril de 1997, quando cinco jovens atearam fogo a um índio que dormia num ponto de ônibus, aqui em Brasília, e acabaram causando sua morte. Nos últimos dias, em rápida sucessão, ocorreram no Rio de Janeiro dois episódios que lembram em muito o acontecido na Capital federal.

           Na madrugada de 23 de junho, a empregada doméstica Sirlei Dias de Carvalho Pinto foi atacada brutalmente num ponto de ônibus na Barra da Tijuca por um grupo de jovens que a espancou com socos e pontapés. No domingo passado, também na Zona Sul do Rio, o salva-vidas Gisvaldo Soares de Macedo repreendeu outro grupo, que destruía lixeiras na rua, e foi vítima de agressão semelhante.

           No caso do bando que espancou Sirlei, a polícia acredita que esteja envolvido em pelo menos outros 8 casos de espancamento e assalto ocorridos na Barra da Tijuca, a região em que moram. Há também denúncias de tráfico de drogas contra um deles.

           Sirlei foi atacada quando saía da residência em que trabalhava, na Barra, para ir a um posto de saúde na Baixada Fluminense. Percorreria um total de 63 quilômetros, pegando três ônibus, para chegar até o posto. Depois da consulta ainda faria uma faxina para reforçar o salário do mês, de R$550,00. Quase foi morta, por ter sido, segundo um dos agressores, “confundida com uma prostituta”.

           Todos esses crimes envolvem jovens de classe média e classe média alta, com família, recursos financeiros e acesso a educação. Alguns deles são universitários. Não moram em favelas, não são adolescentes - todos têm pelo menos 18 anos - e não passam fome.

           Qual o motivo desse comportamento digno de selvagens, dessa conduta anti-social que indica desvios de personalidade que só se encontram em psicopatas? A resposta pode estar nas declarações do pai de Sirlei, um pedreiro de 54 anos. Ao saber do que acontecera, ele disse:

           “Eles - referindo-se aos agressores - têm tudo: família, estudo, estrutura. Mas, no fim, não têm nada. Não pude dar os brinquedos que meus filhos pediram, mas dei valores. Se tivesse que falar algo aos pais, diria que deixassem os filhos assumissem seus próprios erros. Não acobertem. Se não deram responsabilidades a eles quando crianças, dêem agora. Façam deles homens. Que eles possam tirar desse episódio alguma lição. E que não seja a da impunidade.”

           Estamos pagando o preço da dissolução dos laços familiares, da falta de autoridade paterna, da omissão dos pais, que toleram tudo ou ignoram o que seus filhos fazem. Famílias indiferentes não transmitem a seus filhos aquilo a que se referiu o pai de Sirlei: valores morais e éticos, a noção do que é certo e do que é errado, parâmetros para orientar escolhas e decidir o que fazer.

           Quem não recebe, na infância e na adolescência, a indispensável orientação familiar não tem moral e ética internas, é incapaz de respeitar outros seres humanos, habitua-se à desobediência e à transgressão. Em resumo, torna-se inapto para a vida em sociedade. Casos como os que aconteceram no Rio merecem - além da punição exemplar dos autores das agressões - uma reflexão séria sobre a sociedade cada vez mais permissiva, incapaz de impor limites, em que estamos vivendo. É ela que gera, em todas as classes, jovens sociopatas capazes de espancar uma mulher indefesa, de matar, de traficar drogas, de cometer qualquer crime - por julgarem que tudo lhes é permitido.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/07/2007 - Página 23964