Discurso durante a 114ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Lamento pelo fato de que o semestre se encerra sem ter o que se comemorar no Congresso Nacional. Reflexão sobre a vaia recebida pelo Presidente Lula no Maracanã.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ESPORTE.:
  • Lamento pelo fato de que o semestre se encerra sem ter o que se comemorar no Congresso Nacional. Reflexão sobre a vaia recebida pelo Presidente Lula no Maracanã.
Publicação
Publicação no DSF de 18/07/2007 - Página 25209
Assunto
Outros > SENADO. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ESPORTE.
Indexação
  • OPORTUNIDADE, PROXIMIDADE, RECESSO, AVALIAÇÃO, PARALISIA, CONGRESSO NACIONAL, GRAVIDADE, CRISE, SENADO, JULGAMENTO, ACUSAÇÃO, SENADOR, REITERAÇÃO, PROTESTO, EXCESSO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), OBSTACULO, LEGISLATIVO, EFEITO, DESEQUILIBRIO, PODERES CONSTITUCIONAIS.
  • CRITICA, EXECUTIVO, EXCESSO, PODER, MANIPULAÇÃO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, NEGLIGENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ABERTURA, JOGOS PANAMERICANOS, REPRESENTAÇÃO, PROTESTO, FRUSTRAÇÃO, PROBLEMA, SEGURANÇA PUBLICA, TRANSPORTE, PARALISAÇÃO, OBRA PUBLICA, SUGESTÃO, ATENÇÃO, CHEFE DE ESTADO.
  • SAUDAÇÃO, BRASILEIROS, ATLETAS, PARTICIPAÇÃO, JOGOS PANAMERICANOS.
  • SAUDAÇÃO, RETORNO, EPITACIO CAFETEIRA, SENADOR, EXPECTATIVA, RECUPERAÇÃO, SAUDE, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, CONGRESSISTA.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Agradeço a V. Exª, Senador Mão Santa. Fico muito feliz com as informações que V. Exª traz com relação ao povo do Rio de Janeiro me querer bem. Eu, pelo povo do Rio de Janeiro, tenho um carinho muito grande, e sei da autonomia carioca: o povo carioca tanto aplaude como vaia. De forma que eu agradeço, mas, com cautela, recebo as informações de V. Exª.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estamos encerrando um semestre, em que esta Casa, infelizmente, não tem o que comemorar. Um ano de paralisia.

Vemos, nas galerias, funcionários do Ibama lutando pela sobrevivência e contra, acima de tudo, uma anomalia que se quer imprimir na administração pública federal. Abrem-se os jornais, e o que se vê é o Governo prometer contratações por meio de CLTs, voltando a um passado do qual a modernização do Estado esperava ver-se livre. Tivemos um Congresso parado e de crises, crises envolvendo companheiros - companheiros em julgamento e companheiros que renunciaram ao mandato para não se submeter ao julgamento dos conselhos e do Plenário desta Casa. Há o impasse do que quer entrar no lugar do que saiu, já sob desconfiança da Justiça, acusado que foi por adversários ou não sei quem.

Senador Epitácio Cafeteira, a única alegria desta Legislatura é vê-lo de volta neste Plenário, recuperado.

Senador Flexa Ribeiro, não tivemos, aqui, nem como justificar os dias passados, noites a fio, neste plenário ou nas comissões. Mas é bom que se lembrem todos os brasileiros que o que trava e o que segura esta Casa não é crise envolvendo os Senadores; o que trava são as medidas provisórias colocadas de maneira perversa, e até criminosa, para impedir esta Casa de exercer a sua atividade soberana.

O Congresso da República transformou-se, nos últimos anos, em uma casa sempre a reboque das decisões e dos caprichos do Poder Executivo, que tem poder para tudo, porque tem a máquina que manipula a mídia impressa por meio de propagandas caríssimas. E é um Governo corajoso.

Agora mesmo, Senador Agripino, abrem-se os jornais e se vê no noticiário que uma campanha de automóveis de origem francesa foi retirada do ar há três dias a pedido do Presidente, porque molestava um dos seus assessores. Mas o culpado pela frase que causou toda a celeuma e que gerou essa mídia não recebeu do Presidente da República nenhuma reprimenda.

Nesta semana, vimos nas colunas, Senador Mão Santa, os caminhões da Gtech - aquela do escândalo do mensalão e da CPI dos Correios - descarregando caixas e mais caixas na garagem do Palácio do Planalto, mostrando que os aloprados estão voltando. E o Presidente vê tudo isso de maneira impassível.

O Presidente Lula deveria voltar um minuto apenas para suas origens, o seco sertão do Garanhuns, e ver que aquela vaia que recebeu no Maracanã é, acima de tudo, uma vaia pedagógica. Querer endereçar para quem quer que seja,

qualquer facção política, é praticamente impossível.

Conforme levantamento feito, mais de 15 mil ingressos foram comprados por patrocinadores ligados ao Governo, como Caixa Econômica, Banco do Brasil, Petrobras e por aí afora. Mesmo assim, não se consegue manipular uma torcida para vaiar, de maneira sistemática, todas as aparições de um Chefe de Poder.

É evidente que aqueles que foram ao Maracanã, na sua grande maioria, enfrentaram fila, compraram ingressos caros nas bilheterias ou no câmbio negro e, portanto, sentiram-se no direito de soltar aquele grito preso na garganta há muito tempo. Soltaram-no, talvez, para vingar aquele garoto que foi arrastado nas ruas do Rio de Janeiro, mostrando a violência que se abateu nas grandes cidades. O Governo prometeu, no início, segurança máxima com a construção de várias cadeias pelo Brasil afora, mas não teve a capacidade administrativa de construir ou de inaugurar nenhuma.

Talvez aquelas vaias tenham sido para o apagão, que provoca filas e mais filas nos aeroportos brasileiros, sem dar ao cidadão o direito de ir e vir, tirando-lhe, inclusive, oportunidades de emprego, porque vários foram demitidos por faltarem a suas obrigações funcionais.

Talvez essas vaias, Senador José Agripino, tenham sido dirigidas às obras prometidas e não-realizadas, às promessas não-cumpridas, aos servidores públicos que esperavam que, com a eleição de um trabalhador, fossem ter realmente enfim e por fim seu momento de justiça. Mas são tratados à míngua e a empurrões nos corredores da Esplanada dos Ministérios. Era preciso que o Governo, num gesto de humildade, analisasse de maneira mais profunda esse grito que saiu do Maracanã.

Esse Maracanã já deu tantas alegrias ao povo brasileiro, mas nem todas elas conseguiram apagar a dor do seu ato inaugural da Copa do Mundo de 1950, quando o Brasil perdeu para o Uruguai. A minha geração nascia ali, mas, ainda hoje, a gente sente a dor daquela perda, Senador Edison Lobão, como se presente estivesse naquele ato. E a geração do Maracanã foi a que condenou Barbosa, talvez o menos culpado pelo desastre do ato inaugural daquele estádio.

Seria melhor que, em vez de contagem numérica de onde partiram as vaias, se fizesse - isso, sim - um levantamento dos erros e dos acertos. A blindagem individual do Presidente da República - e nós reconhecemos - não permite esse festival de escândalos que se alastrou pelo País todo envolvendo as ONGs, envolvendo os Vavás, envolvendo as Gautamos, envolvendo a concorrência pública. É preciso, Senador Mão Santa, que preside esta sessão, que esses dias de recesso - seria melhor que não houvesse - sirvam de reflexão para os que têm assento nesta Casa e na Casa que fica ao lado.

O Brasil tem tido, ao longo da história, a capacidade de avaliar fatos e, acima de tudo...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Heráclito, desculpe-me interrompê-lo, mas eu lhe dei mais 5 minutos - vai assumir o Senador Tião Viana -, um prêmio pelos aplausos que o Piauí recebeu no Rio de Janeiro.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Senador Tião Viana, saúdo a “entronação” de V. Exª nessa cadeira.

O SR. PRESIDENTE (Tiao Viana. Bloco/PT - AC) - A recíproca é verdadeira, Senador Heráclito.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Mas, Sr. Presidente, que esses dias de recesso - inoportunos e indevidos - sirvam de reflexão não só para o Parlamento, mas também para o Executivo e, por que não dizer para o Judiciário, para que se veja que este País não merece a paralisia por que passamos nesse período e que a base do Governo compreenda que a CPI das ONGs, irreversível pelos fatos que se avolumam, Senador Arthur Virgílio, seja, na realidade, um fato marcante a iniciar o segundo semestre deste ano.

Sr. Presidente, faço votos aos brasileiros que, vaiando ou aplaudindo, acompanham os jovens atletas que defendem as nossas cores no Pan do Rio. Que tenham sucesso nas suas torcidas! Que tragam medalhas para o Brasil! E é um consolo, para os que não têm pão, ter, pelo menos, neste momento, a alegria e a consolação de vitória por meio do esporte.

E que o Presidente Lula faça dessa vaia um ponto inicial para uma reflexão profunda! Que suas promessas finalmente comecem a acontecer, porque tenho certeza de que, se assim o fizer, o mesmo povo que o vaiou irá aplaudi-lo, porque é um povo independente e, acima de tudo, um povo esclarecido!

Era exatamente, Senador Flexa Ribeira, essa gente que lotava e embelezava o Maracanã.

Por fim, desejo ao Senador Cafeteira, após o seu retorno, um restabelecimento breve. E, como última palavra, espero que o Senador Antonio Carlos Magalhães retorne o mais breve possível a esta Casa para compor, com todos os seus companheiros, esta trincheira de luta, que é o Senado da República, em defesa da democracia no nosso País.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/07/2007 - Página 25209