Discurso durante a 122ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro dos 158 anos do falecimento, na Itália, da brasileira Anita Garibaldi.

Autor
Neuto de Conto (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SC)
Nome completo: Neuto Fausto de Conto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Registro dos 158 anos do falecimento, na Itália, da brasileira Anita Garibaldi.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 10/08/2007 - Página 27010
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, ANITA GARIBALDI (SC), VULTO HISTORICO, NACIONALIDADE BRASILEIRA, IMPORTANCIA, BRAVURA, PARTICIPAÇÃO, GUERRA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, ITALIA, DEFESA, LIBERDADE, PAZ, MUNDO.

            O SR. NEUTO DE CONTO (PMDB - SC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há 158 anos, mais precisamente no dia 4 de agosto de 1849, falecia em Mandriole, na Itália, Ana Maria de Jesus Ribeiro. Uma mulher que superou as limitações. Pois, se ainda hoje há muito de opressão, de injustiça, de discriminação, imaginem naquela época. Era destemida e voluntariosa e detentora de fibra inquebrantável. Não tinha nascido para ser coadjuvante.

            Por vontade de seu marido, seu corpo encontra-se sepultado no monumento construído em sua homenagem, em uma colina na parte ocidental de Roma, conhecida como Gianículo. E está situada a oeste do rio Tibre, fora dos limites da cidade antiga.

            Além deste, há outros dois, feitos pelo povo italiano, para homenageá-la. Um representando a cena que antecede sua morte, idealizado pelo escultor Luzi di Rimini, inaugurado em 24 de abril de 1976, situado em uma praça gramada, rodeada de árvores, na frente da Igreja de São Clemente, em Mandriole, na Província de Ravena.

            Na mesma região, outro monumento, um busto de porte médio da heroína catarinense, foi construído defronte à casa da Fazenda Guicioli, onde se deu sua morte. A própria casa e o quarto como eram àquela época.

            Catarinense. Mulher. Guerreira. Revolucionária.

            Um exemplo de ser humano, cujas ações em vida superam o passar dos anos, fazendo com que sua saga seja lembrada, suas batalhas, contadas e recontadas. Ela foi tão importante na história democrática deste País que, no meu Estado, Santa Catarina, é homenageada por sua dedicação e coragem, com a designação de dois municípios.

            Ana Maria de Jesus Ribeiro, que durante as batalhas de construção da chamada República Juliana, que teve período curto, de quatro meses, conheceu seu grande amor: Giuseppe Garibaldi. Como os senhores já sabiam, refiro-me à memória de Anita Garibaldi, e os Municípios que a homenageiam são Anita Garibaldi e Anitápolis, ambos de Santa Catarina.

            E naquele monumento já citado, defronte à casa da Fazenda Guicioli, referido há pouco, há uma placa de bronze com o seguinte texto gravado em enormes letras: “Do outro oceano, com cabelos ao vento e o estampido do fuzil, Anita foi para Garibaldi e para a Itália a verdadeira imagem da liberdade”.

            Srªs e Srs. Senadores, em 1934, durante a Constituinte, muito se discutiu em relação ao voto da mulher, e a lembrança dessa catarinense lutadora foi uma constante no plenário, como um forte argumento em favor da proposta. Todos nós sabemos que a mulher brasileira alcançou o direito ao voto a partir daquele ano.

            Foram amantes da Liberdade. Garibaldi e Anita.

            Aliás, é necessário dizer que o jornalista Paulo Ramos Derengoski lançou o livro Garibaldi e Anita - Os amantes da Liberdade em Dois Mundos de Guerras, que li e motivo de lembrar tão importante personagem de nossa história.

            Derengoski, nascido em Lages, Santa Catarina, foi repórter do extinto jornal Última Hora, no Rio de Janeiro, tendo trabalhado em outros jornais de destaques, como Folha de S.Paulo e revistas como a Manchete. É um estudioso a quem parabenizo pelo notável trabalho de pesquisa da vida desse casal, heróis de duas pátrias, Brasil e Itália, e cujo livro, de enorme valor cultural, recomendo a leitura.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Neuto de Conto, V. Exª permitiria que eu participasse?

            O SR. NEUTO DE CONTO (PMDB - SC) - Concedo um aparte a V. Exª, com muita satisfação e com muita honra.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Neuto de Conto, V. Exª traz o exemplo da bravura da mulher. Olha, esse mundo melhorou muito com a liberdade e com a coragem da mulher. Presidente Camata, se observarmos a história do mundo, quando o mundo começou a pensar, os filósofos na velha Atenas, a mulher era igual ao escravo, não participava, principalmente da vida intelectual. Então, muitos daqueles filósofos do começo do mundo que começaram a pensar, Valter Pereira, debruçavam-se, noite toda, sobre a pesquisa, debatendo, buscando os conhecimentos que explicassem os fenômenos da natureza, o que a Filosofia e as ciências nos explicavam. Naquela época já tinha vinho, e as mulheres não participavam das discussões filosóficas em busca do conhecimento. E eles ficavam depois do vinho... Um grande número de filósofos foram homossexuais porque as mulheres eram alheias, não participavam. Então, o mundo melhorou depois que as mulheres começaram a participar mesmo. Nós ficamos mais homens com a participação da mulher. Muitos dos primeiros filósofos eram homossexuais, pois as mulheres eram escravas e não podiam participar da luta em busca do saber. Essa daí libertou as mulheres. Foi uma mulher heróica para o mundo. Ela começou a participar nas lutas pelas liberdades, na Revolução Farroupilha, com Bento Gonçalves. Ela era de Santa Catarina, apaixonou-se por aquele revolucionário Giuseppe Garibaldi e foram quase até o fim. Abandonaram, mas foram para o Uruguai e continuaram com os seus ideais: o amor que constrói a liberdade. E terminaram lá pela Itália. Eu vi retratos dela recordando a bela história da Itália, onde se deu o Renascimento, onde o Senado é fonte de inspirações. São homenagens que existem lá ao exemplo de vida que foi esse casal. Com amor, lutaram pelas liberdades. E isso nos envaidece, pois, sem dúvida, a origem da nossa República foi aquela batalha de que ela participou com Giuseppe Garibaldi e Bento Gonçalves. E foi a origem da liberdade dos escravos. Houve um compromisso quando Bento Gonçalves aceitou a paz. Duque de Caxias tinha-se comprometido a libertar os negros, e não cumpriu sua promessa. Aí, aqueles lanceiros negros resistiram, mas sucumbiram e foram massacrados pelo Exército brasileiro. Então, foi uma contribuição dessa mulher de Santa Catarina, que V. Exª exalta. Ela, sem dúvida, com a sua bravura e com o seu amor a Giuseppe Garibaldi, participava, e foram precursores da liberdade dos nossos escravos e da formação da nossa República. A ela a nossa homenagem, pois liderou a participação da mulher na vida do mundo.

            O SR. NEUTO DE CONTO (PMDB - SC) - Agradeço e incorporo a meu pronunciamento o aparte de V. Exª, Senador Mão Santa.

            Encerro dizendo que, no último sábado, completaram-se 158 anos de sua morte. Um dos seus filhos foi general na Itália e lutou pela República Juliana, em Santa Catarina, e na Guerra dos Farrapos, no Rio Grande de Sul e no Paraguai, e acabou-se consagrando, inclusive na Itália, quando defendeu a união dos povos italianos. Naquele momento, foi dado ao casal de heróis o título de Heróis de Dois Mundos: Brasil e Itália.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/08/2007 - Página 27010