Discurso durante a 122ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio a proposta de projeto de lei, em elaboração pelo governo, que permite a exploração de recursos minerais em terras indígenas.

Autor
Augusto Botelho (PT - Partido dos Trabalhadores/RR)
Nome completo: Augusto Affonso Botelho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INDIGENISTA.:
  • Apoio a proposta de projeto de lei, em elaboração pelo governo, que permite a exploração de recursos minerais em terras indígenas.
Publicação
Publicação no DSF de 10/08/2007 - Página 27014
Assunto
Outros > POLITICA INDIGENISTA.
Indexação
  • QUESTIONAMENTO, POLITICA, FUNDAÇÃO NACIONAL DO INDIO (FUNAI), DEFESA, ISOLAMENTO, GRUPO INDIGENA, ALEGAÇÕES, PRESERVAÇÃO, CULTURA, COSTUMES, CRENÇA RELIGIOSA, TRADIÇÃO, IMPEDIMENTO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, COMUNIDADE INDIGENA.
  • CRITICA, UTILIZAÇÃO, FUNDAÇÃO NACIONAL DO INDIO (FUNAI), ARTIGO, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, VALIDAÇÃO, IMPLANTAÇÃO, AMPLIAÇÃO, RESERVA INDIGENA, REPRESENTAÇÃO, INVASÃO, TERRA PUBLICA, EXPULSÃO, POSSEIRO, PRODUTOR RURAL, HABITANTE, TERRAS, IMPEDIMENTO, ATO LEGAL, EXPLORAÇÃO, BENS, RIQUEZAS, RESERVA, DESRESPEITO, DIREITOS, INTERESSE, INDIO.
  • REGISTRO, REALIZAÇÃO, MUNICIPIO, MANAUS (AM), ESTADO DO AMAZONAS (AM), SEMINARIO, PATROCINIO, ENTIDADE, DEFESA, INDIO, OPOSIÇÃO, POLITICA, FUNDAÇÃO NACIONAL DO INDIO (FUNAI), DEBATE, PROBLEMA, NATUREZA SOCIAL, NATUREZA CULTURAL, NATUREZA ECONOMICA, GRUPO INDIGENA, GARANTIA, DIREITOS, COMUNIDADE INDIGENA, EXPLORAÇÃO, RIQUEZAS, RECURSOS MINERAIS, RESERVA.
  • APOIO, INICIATIVA, GOVERNO, ESTUDO, PROPOSTA, PROJETO DE LEI, ABERTURA, TOTAL, TERRAS INDIGENAS, EXPLORAÇÃO, RECURSOS MINERAIS, GARANTIA, REGULAMENTAÇÃO, ESTABELECIMENTO, NORMAS, CONTROLE, ATIVIDADE, RESERVA INDIGENA, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE, VIABILIDADE, ESTADO, ARRECADAÇÃO, IMPOSTOS.

            O SR. AUGUSTO BOTELHO (Bloco/PT - RR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Gerson Camata.

            Sr. Presidente Gerson Camata, Srªs e Srs. Senadores, desde a promulgação da Constituição de 1988, foram feitas, nesta Casa, sem sucesso, várias tentativas de aprovar um projeto de lei que permitisse a abertura de terras indígenas à mineração. A política da Funai sempre se opôs ao desenvolvimento socioeconômico dos povos indígenas, ao defender o isolamento dessas populações sob o argumento de preservar a sua cultura, costumes, crenças e tradições e protegê-los da ação do homem do mundo dito civilizado.

            A política da Funai, ao interpretar o art. 231 da Constituição Federal de 1988, visa à implantação de novas reservas e à ampliação das já existentes. A instituição chama essas ações de “retomada de terras pertencentes aos índios”, quando, na esmagadora maioria dos casos, trata-se de uma verdadeira invasão de terras públicas e de expulsão de posseiros e de pessoas que vivem há muito tempo em suas terras. Os índios têm direito às suas terras, mas esse direito tem de ser exercido de forma correta.

            A Funai usa o art. 231 da Constituição Federal para validar suas ações, mas não o usa até suas últimas conseqüências. Assim, quando se trata da exploração de bens e riquezas contidas nas reservas indígenas, todos os meios são usados para impedir qualquer atividade legítima, lícita, nessas áreas, sem que os maiores interessados, Srªs e Srs. Senadores, que são os índios que nelas vivem, sejam ouvidos. Repito: são os índios os maiores interessados na exploração de bens e riquezas de suas reservas, seus donos legítimos, e devem ter o direito de, conforme a lei e o bom senso, explorar os recursos existentes para o bem-estar de suas comunidades.

            Esse posicionamento intransigente e de desejo unilateral adotado até recentemente pela Funai ignora o real anseio das populações indígenas. O órgão responsável pelo bem-estar das populações indígenas não as orientou nem orienta os índios adequadamente sobre as possibilidades de uso e exploração das riquezas contidas em suas reservas.

            Comportamento semelhante ao da Funai foi adotado também, com algumas raras exceções, por organizações não-governamentais, que se auto-intitulam representantes e defensores dos indígenas e condenam essas populações a aceitarem aquilo que nem sempre é o que desejam, é o que aspiram. Felizmente, movimentos contrários a esse pensamento começam a se fortalecer e a se posicionar favoravelmente ao debate e à normatização de políticas que conduzam a utilização das riquezas disponíveis nas terras indígenas.

            Algumas organizações, como a Sodiur (Sociedade de Defesa dos Índios Unidos do Norte de Roraima) e a Coiam (Confederação das Organizações Indígenas e Povos do Amazonas), agora se opõem a essa política retrógrada da Funai. No período de 2 a 4 de julho do corrente, foi realizado em Manaus um seminário promovido pela Coiam, intitulado “Geodiversidade e Desenvolvimento Sócio-Cultural e Ambiental dos Povos Indígenas”. Nele, os problemas socioculturais, econômicos e ambientais dos povos indígenas foram analisados e debatidos. A finalidade do encontro era traçar diretrizes e estratégias de elaboração de uma nova política indigenista que permita aos povos indígenas o direito de usufruir dos recursos minerais existentes em suas terras, sendo eles os próprios implementadores de atividades e projetos geradores de alternativas que valorizem a preservação de suas terras e o desenvolvimento do patrimônio cultural, econômico e social necessários ao seu bem-estar e de toda a sua futura geração.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. AUGUSTO BOTELHO (Bloco/PT - RR) - Encerro já, Sr. Presidente.

            A Constituição de 1988, no art. 231, permite que as terras indígenas sejam exploradas por empresas, mas exige a aprovação de lei que regulamente atividade, definindo claramente a participação das comunidades indígenas no resultado da exploração não só nos aspectos econômicos, mas também nos aspectos ambientais e fiscalizadores. O Governo Federal está preocupado com o crescente descontentamento dos povos indígenas, que reclamam legitimamente mais assistência e recursos para sua sobrevivência.

            Respondendo a essa demanda dos indígenas, o Governo Federal, desde 2004, vem estudando e preparando, numa ação conjunta dos Ministérios da Justiça, das Minas e Energia e do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, uma proposta de projeto de lei que abre todas as terras indígenas para a exploração de recursos minerais. Tal projeto será apresentado na primeira reunião da Comissão Nacional da Política Indigenista para discussão e ajustes e, então, encaminhado pelo Ministro das Minas e Energia à Casa Civil para enviá-lo ao Congresso Nacional no segundo semestre deste ano.

            Os empresários de mineração, que há muito acompanham a desejam ver equacionadas as normas e diretrizes que tornem viável a convivência pacífica e compartilhada com as comunidades indígenas na atividade de mineração em suas reservas, acreditam que os estudos realizados pelo Governo já chegaram a um bom ponto de amadurecimento, apesar de se queixarem de não terem sido convidados a participar da discussão. Agora, a preocupação é com a questão ambiental. Os marcos regulatórios para exploração, incluindo aí também as empresas estrangeiras interessadas em explorar áreas indígenas, precisam ser estabelecidos com clareza pelas autoridades competentes e acordados entre as partes, empresários e lideranças indígenas.

            O Governo sabe que enfrentará fortes resistências ao projeto por parte de alguns povos indígenas, organizações não-governamentais, ambientalistas e outros. Porém, está convencido de que a regulamentação é necessária para que se estabeleçam regras de controle sobre a exploração de terras indígenas. Se nada for feito, a tendência é que o caos se estabeleça, uma vez que a exploração desordenada tem provocado conflitos sangrentos, como foi o caso de Roosevelt, em Rondônia.

            A regulamentação permitirá ao Estado, ainda, arrecadar impostos pela exploração de recursos naturais, num momento em que a demanda global por insumos minerais é crescente.

            Encerrando, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho certeza de que cada um de nós, representantes dos Estados brasileiros, não se furtará ao estudo e empenho para agilizar a aprovação desse projeto, que, certamente, tornará mais digna a vida desses brasileiros que vivem em reservas indígenas.

            Sr. Presidente Senador Gerson Camata, muito obrigado pela sua gentileza com o tempo.

            Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/08/2007 - Página 27014