O SR. ROMEU TUMA (DEM - SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa, vou ser rápido. Agradeço a gentileza a V. Exª, bem como ao Senador Alvaro Dias e ao Senador Gerson Camata.

            Há muitos assuntos sobre os quais discorrer da tribuna, Senador Mário Couto, muitas coisas que nos afligem e nos angustiam. Dizem que o avião do Presidente Lula recebe mais atenção que os aviões que levam passageiros civis. Tudo isso nos traz uma profunda e amarga preocupação.

            O ex-Presidente da Infraero disse que é vício do povo brasileiro não respeitar a ética e a moral. Para ele, é assim, mas não aceito isso, rejeito isso. Tenho a certeza de que V. Exª já demonstrou, nesta Casa, que a ética e a moral são princípios religiosos, os quais, sem dúvida alguma, formam os alicerces de sustentação da vida militar - e essa é a origem dele. Por parte de quase todos os militares, na hora da passagem, não houve reação alguma no sentido de fazer com que ele corrigisse a anomalia das palavras que usou, responsabilizando o povo brasileiro por não conseguir manter a ética e a moral, o que é algo terrivelmente ruim para nós. Todas as ocorrências deverão ser explicadas pela Infraero, pela Anac ou seja por quem for, mas nós, aqui, temos ética, dignidade e respeito pelo povo brasileiro.

            Pedi autorização ao Diretor-Geral da Polícia Federal, Dr. Paulo Lacerda, para solicitar ao Dr. Jaber, Superintendente da Polícia Federal em São Paulo - até há poucos dias, estava no Paraná; é meu amigo pessoal -, um resumo da Operação Farrapos, que me permitiria ler rapidamente, para não tomar o tempo do Senador Alvaro Dias, o qual, provavelmente, terá coisas importantes a relatar. Diz o documento:

Investigação: durou dois anos e meio e foi realizada e executada pela Polícia Federal brasileira.

O inquérito tramita na 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, especializada em lavagem de dinheiro, contou ainda com o intercâmbio de informações sigilosas entre Brasil, Estados Unidos, Espanha, Uruguai e Argentina.

            Eu queria chamar a atenção do Sr. Presidente e das Srªs e dos Srs. Senadores para essa troca de informações permanente entre os adidos policiais com que, hoje, o Brasil conta em vários países - a recíproca é verdadeira -, o que tem facilitado as operações, principalmente, contra o crime organizado, contra a lavagem de dinheiro e contra o tráfico de drogas.

            Prossigo a leitura:

Objetivo: desbaratar esquema criminoso em que traficantes colombianos transportavam grande quantidade de entorpecentes para a Europa e os Estados Unidos, cujo lucro retornava ao Brasil, saindo da Espanha e do México e transitando ainda pelo Uruguai. O ciclo da lavagem de dinheiro era completado pela organização, aproveitando-se de investimentos no ramo imobiliário (hotéis e mansões) e industrial e na aquisição de veículos [inclusive, na indústria de proteção aos veículos].

            Ontem, a televisão teve a oportunidade de mostrar vários segmentos de propriedade desse indivíduo. A quadrilha estava localizada em seis Estados da Federação: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Contra ela, havia 17 mandados de prisão e 28 ordens de busca e de apreensão. Os mandados cumpridos foram 13, e outros quatro estão na Colômbia. Todos os mandados de busca foram efetuados. Este foi o dinheiro apreendido na casa do elegante traficante: US$544 mil, €.250 mil e R$55 mil. Também ali foram encontrados seis carros blindados, jet-skis e lanchas. Um dos presos foi flagrado com dez armas de grosso calibre (12 e 45).

            O principal alvo era o traficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadia, 44 anos de idade, chefe do Cartel de Drogas Vale do Norte, um dos mais procurados do mundo, principalmente pela Agência Antidrogas dos Estados Unidos, o DEA:

Abadia é suspeito de ser o mandante de centenas de homicídios na Colômbia e nos Estados Unidos, entre eles policiais e informantes [ontem, a televisão informava que ele responde por processos referentes a 300 homicídios].

O traficante também é responsável pela criação de sua própria rede distribuidora de drogas em Nova York e se dedicava ao transporte e comércio de heroína. O traficante acumulou uma fortuna estimada em US$1,8 bilhão, segundo o Departamento de Estado dos Estados Unidos, possuindo cerca de 16 empresas no Brasil.

Nascido em 1963, em Palmira, na Colômbia, Abadia foi o mais jovem líder do cartel de Cali, na década de 90, assumindo cerca de 80% do tráfico de cocaína no país depois que Pablo Escobar foi morto, em Medelin, em 1993.

            Pablo Escobar era o grande líder do tráfico de drogas e dominava a região com a assistência social que dava aos moradores plantadores de coca. Esse papel, que às vezes vemos em alguns morros do Rio de Janeiro e de São Paulo, em que o traficante dá assistência social aos mais carentes e faz com que eles sejam simpáticos à sua presença e protegidos contra ações policiais, é um exemplo altamente negativo. O Estado tem de estar presente, tem de responder por suas responsabilidades e não deixá-las nas mãos daqueles que fazem uso dessa prática para o crime.

Abadia está envolvido com o tráfico de droga pelo menos desde 1986. Na década de 90, a organização criminosa liderada por ele foi responsável pela entrada de milhares de quilos de cocaína na Europa e nos Estados Unidos.

O traficante foi preso pelo menos duas vezes na Colômbia. De acordo com a Justiça norte-americana, Ramirez foi indiciado por tráfico de drogas no Colorado, em 1994 e 1996.

Em março de 2004, um júri federal em Washington também indiciou o criminoso por tráfico de drogas e liderança do cartel do Vale do Norte.

A prisão ocorreu no condomínio fechado de luxo Morada dos Lagos, no Município de Aldeia da Serra (SP), por volta das 6:00h de hoje.

            Senador Mão Santa, a Aldeia da Serra é um loteamento de alto luxo, as casas têm um valor inestimável. Ele vivia como príncipe, como rei, conforme foi demonstrado ontem pela televisão e pelos jornais internacionais.

            Cumprimento o grande feito da Polícia Federal Brasileira. Eu não poderia deixar, como ex-Diretor da Polícia Federal, de cumprimentar o Dr. Paulo por autorizar essas operações, que não estão vinculadas apenas àqueles que desviam dinheiro público, pois sua missão principal é o combate ao tráfico de drogas, efetuando prisões desse jaez, o que traz um pouco mais de tranqüilidade internacional, visto que ninguém é inimputável perante a lei, quando a Polícia persegue e busca informações para a prisão dos responsáveis.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.