Discurso durante a 121ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.

Autor
Tasso Jereissati (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Tasso Ribeiro Jereissati
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2007 - Página 26912
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, VIDA PUBLICA, POPULARIDADE, TRABALHO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Senador Renan Calheiros, Presidente do Senado Federal; Deputado Osmar Serraglio, representante do Presidente da Câmara dos Deputados; Sr. Ministro Rider Nogueira, Presidente do Tribunal Superior do Trabalho; Vice-Governador do Distrito Federal, Sr. Paulo Octávio; Srªs e Srs. Senadores; Srªs e Srs. Deputados, lideranças, Prefeitos, amigos do Senador Antonio Carlos Magalhães, Srª Dona Arlete, Antonio Carlos Júnior, Teresa, eu trouxe um discurso escrito para homenagear o nosso querido amigo Senador Antonio Carlos Magalhães. Confesso, no entanto, que estou sentindo enorme dificuldade, não sendo um orador nato, para fazer esse discurso, porque sinto uma enorme compulsão de falar com o meu coração a respeito de um dos maiores políticos dos últimos 50 anos da História brasileira, um homem, um ser humano com quem tive o privilégio de conviver. Mais que isso, sempre terei o privilégio de dizer para meus filhos, meus netos e meus amigos: fui amigo de Antonio Carlos Magalhães e com ele convivi.

Dona Arlete, Antonio Carlos Magalhães não era um homem comum. Tudo nele fugia ao ordinário. Nada nele era moderado, comum, trivial.

Que homem forte! Que homem fantasticamente forte, Teresa!

Como pôde, eu me pergunto, aquele coração suportar tamanha paixão? Nada que ele fazia era sem paixão. Quando se aborrecia, era de uma maneira intensa, e ele colocava todo esse aborrecimento dentro do seu coração. Quando amava, essa intensidade era maior ainda.

Quantas vezes, Neto, por um pequeno detalhe de que ele discordava, eu o vi iniciar uma discussão. Eu lhe dizia: “Senador, para que essa discussão? Esqueça! Deixe para lá!”. No entanto, ele não aceitava sequer viver sem riscos. Em tudo ele carregava o risco junto.

Ele não aceitava, Senador José Sarney, seu grande amigo e homem conhecedor das palavras, a mediocridade. Ele não convivia com a mediocridade. A sua vocação não era para a mediocridade; e, se isso o levava ao risco, que viesse o risco, mas ele sucumbiria a essa vocação.

Nos últimos anos, no Senado, todos convivemos com essa sua fortaleza e com essa sua paixão. No último momento, lembro-me aqui, quando ele teve uma indisposição, todos nós, Presidente Sarney, sugerimos a ele que pegasse uma cadeira de rodas e fosse para o hospital. E ele, de maneira absolutamente altiva - a resposta não foi nem um não -, levantou-se, desenrolou a manga da camisa, vestiu o paletó e saiu andando, marchando, com pressa e altivez, olhando-nos como se dissesse: ando ainda melhor do que vocês todos.

Perdoem-me aqui todos os homens públicos, mas, com certeza, nunca vi um amor por um Estado como o amor do Senador Antonio Carlos Magalhães pela Bahia. E aquele não era um sentimento político, não era um sentimento criado, mas, sim, um sentimento que era fruto dessa fonte de paixões e de emoções que ele tinha. Lembro-me de uma vez em que, sobrevoando Salvador, chegando a Salvador, pela janela do avião, ele olhou aquela cidade, olhou para mim e disse: “Como é bonita essa Bahia!”. E olhava-a com orgulho, como se a cidade fosse ele.

Antonio Carlos foi uma lição para mim nesse aspecto. Aqui, muito foi dito do administrador brilhante que transformou a Bahia e que mudou o traçado da cidade de Salvador, do criador de quadros, do descobridor de talentos, do lançador na vida política brasileira de grandes, importantes e brilhantes políticos e da sua participação na história recente da política brasileira. Mas, hoje, sou convencido de que o grande diferencial de Antonio Carlos era seu amor por aquilo que fazia, principalmente seu amor pela Bahia. Conheci administradores, Vice-Governador Paulo Octavio, muito bons, muito competentes, que conseguiram fazer, em seus Estados, em suas áreas, grandes administrações. Mas a diferença entre ele, grande administrador, e os outros grandes administradores era essa paixão. Ele fazia isso com muito amor. E, de uma maneira até compulsiva, eu diria, ele fazia as coisas pela Bahia, defendia a Bahia.

Penso que esse amor foi o que fez com que Antonio Carlos se transformasse ao longo do tempo, mesmo com revezes políticos aqui e acolá. Observávamos isso na Bahia. Ele não era mais o político Antonio Carlos, como sou o político Tasso Jereissati no Ceará. Ele virou uma instituição na Bahia. Mesmo que, em determinado momento, não vivesse ele o auge da sua popularidade, ele era uma instituição. ACM era uma instituição. Acabou transformando-se, no imaginário popular brasileiro, em uma instituição baiana, como os personagens de Jorge Amado, como o som de Caymmi, como as cores do Caribe: ACM e a Bahia; a Bahia e ACM.

Fui ao casamento de um neto de ACM. Lembro-me dele, com seu jeito peculiar, sendo cumprimentado. Fiquei observando-o, Sr. Presidente Sarney. Lembro-me muito bem da cena. A mãe de Caetano, Dona Canô, beijou-lhe as mãos. Com muita naturalidade, ele estendeu-lhe as mãos, que foram beijadas como as de uma instituição como Mãe Menininha. Em qualquer outra parte, em qualquer outro Estado, não seria uma circunstância tão natural, tão normal. Mas ACM, na Bahia, era uma instituição, virou uma instituição.

Permitam-me falar sobre a paixão que ele tinha - e tive a felicidade de conviver muito com ele nos últimos anos - pela sua família, por Dona Arlete. Não me lembro - e não foram poucas vezes; eram constantes - de vê-lo falar em Luís Eduardo sem que seus olhos ficassem, no mínimo, lacrimejando. Quando ele ou alguém puxava algum assunto sobre Luís Eduardo, seus olhos começavam imediatamente a lacrimejar. Que homem forte! Como pode um homem conviver tantos anos com tanta dor, fora outras dores que ele teve ao longo da vida? Como pode conviver com dor tão intensa? Nele, aquela dor era muito intensa, muito aguda, e ele convivia com ela com certa naturalidade.

Sobre o amor por sua família, ele nunca deixou de falar, Dona Arlete. Faço questão de dizer que ele nunca deixou de mencionar, em conversas que tínhamos aqui, quando estávamos um pouco mais descontraídos, o amor por seus filhos e por seus netos e sua preocupação com a vida de cada um deles.

Esse homem deixou um vazio enorme neste plenário, Senador Renan Calheiros. Era impossível - e hoje eu comentava isso, se não me engano, com a Senadora Patrícia e com o Senador Arthur Virgílio - não sentir a presença de Antonio Carlos neste plenário. Era tal seu carisma, era tal sua presença, era tal sua energia, que a entrada do Antonio Carlos neste plenário era imediatamente sentida, era imediatamente percebida. Ninguém, nem na Bahia nem fora daquele Estado, ficava indiferente a Antonio Carlos. Podia-se até odiá-lo, mas indiferente a Antonio Carlos ninguém ficava. Confesso, Dona Arlete, que, para mim, pessoalmente, vai ser muito difícil entrar neste plenário e me acostumar à convivência nesta sala sem sua presença absolutamente marcante.

Talvez, seja um exagero, mas vou dizer o que penso na hora da despedida: acho difícil que este Plenário tenha, nesses três anos, o mesmo brilho, a mesma vivacidade que teve enquanto Antonio Carlos esteve aqui. Ele, indiscutivelmente, gostando-se ou não se gostando disso, criava aqui dentro um clima de polêmica, de controvérsia, de democracia e de paixão. Sua discussão não era fria; era uma discussão apaixonada.

Penso que vamos ter de fazer muito esforço para cobrir a lacuna por ele deixada. Para mim, este plenário hoje é mais triste. Confesso que ainda não consigo olhar esta sala e entrar neste salão azul e não sentir um enorme vazio. Esse sentimento foi abrandado quando vi ali sua fotografia exposta nesse telão.

Tenho a idéia sempre presente em nós cristãos - sou cristão, sou católico - de que quem sabe, finalmente, ele esteja dando vazão às suas lágrimas, encontrando seu querido Luís Eduardo e sua filha que se foi também. Talvez, estejam lá juntos, de mãos dadas, e estejamos sendo objeto, Senador Arthur Virgílio, daquele finíssimo humor que ele possuía. Espero que sejamos objeto do finíssimo humor que ele possuía, não de algum tipo de reprovação, porque ele não escondia também quando havia reprovação. É impossível que todos nós, que privamos da sua amizade, não imaginemos ou não tenhamos essa visão dele ao lado de Luís Eduardo, sabendo desse poço de paixão que era Antonio Carlos. E, sem dúvida alguma, um dos pontos altos da paixão de Antonio Carlos era seu querido filho Luís Eduardo.

Portanto, Dona Arlete, eu gostaria de deixar aqui nossa homenagem e nosso respeito. Conheci Antonio Carlos e sei do enorme respeito e da admiração que ele tinha por V. Sª. Sei que não seria uma mulher normal, ou seja, uma mulher comum, uma mulher que não tivesse talentos extraordinários, que domaria aquele vulcão e conviveria com ele.

Ao estender nossas homenagens à senhora e à sua família, tenho a certeza, a convicção de que estamos realizando aqui, mais do que meu desejo, o desejo de Antonio Carlos.

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2007 - Página 26912