Discurso durante a 121ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.

Autor
Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2007 - Página 26918
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, VIDA PUBLICA, LIDERANÇA, POLITICA NACIONAL.

O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Senador Renan Calheiros, Presidente do Senado Federal; Exmª Srª Arlete Magalhães, viúva do Senador Antonio Carlos Magalhães; Exmº Sr. Deputado Federal Osmar Serraglio, que, nesta cerimônia, representa a Câmara dos Deputados; Exmº Sr. Ministro Rider de Brito, Presidente do egrégio Tribunal Superior do Trabalho; Srª Teresa Helena Magalhães, filha do Senador Antonio Carlos Magalhães; Senador Antonio Carlos Magalhães Júnior, ao saudá-lo, quero saudar também o Deputado Antonio Carlos Magalhães Neto; Exmº Sr. Vice-Governador do Distrito Federal, Paulo Octávio, que cerimônia, representa o Governador José Roberto Arruda; Srªs e Srs. Senadores, autoridades presentes ou representadas.

Sr. Presidente, se gramático fosse e pretendesse definir morfologicamente a figura do Senador Antonio Carlos Magalhães, não o classificaria como substantivo comum, muito menos como substantivo abstrato. Antes, o consideraria substantivo coletivo, pois, embora de forma singular, exprimia diversos seres, portanto, um ente múltiplo.

Ou seja, Antônio Carlos Magalhães, era uma instituição, identificado por uma legenda - ACM, como, aliás, apreciava ser chamado. Ele haveria de constituir-se um autêntico líder, posto que dotado plena e abundantemente do dom da vitalidade, recurso energético básico, para ser grande em qualquer função, especialmente no sáfaro território da política.

Em todas as formas de grandeza humana, na opinião de Ortega y Gasset, é tão dependente da vitalidade como a grandeza política. Não se pode retirar do político uma visão de mundo; mas viver para o político não é só pensar, é, sobretudo fazer. O político nasce e nessa condição se exercita; a natureza parece enlaçar-se com a evolução da história. Natureza e história quase se confundem, foi o que vimos ao longo de quase meio século de atuação de ACM na vida política nacional.

A política, sabemos, é ciência e, sobretudo arte, exige uma enorme “provisão de sol interior”, para usar uma expressão de Joaquim Nabuco ao lutar pela abolição do trabalho escravo, é uma atividade em que se constrói muitas vezes desconfiando da solidez dos materiais e do terreno; por isso, mais do que uma profissão, é sobretudo uma atitude de vida a reclamar doação integral à causa abraçada. Nada do que é humano, frise-se, é indiferente à vida pública.

Nessa interação metabólica entre política e história, não se deve esquecer que liderança não é sinônimo de carisma, isto é, liderança não prescinde da capacidade de o político antever o futuro, antecipar-se aos fatos e saber decidir no instante acertado. Para tal, a intuição, entendida como certeza do inconsciente, é essencial. ACM a possuía em alta voltagem. Apesar de muitos considerarem a intuição ilógica, irracional, uma vez que exclui a prova da razão, a intuição é, a meu ver, importante, porque permite pressentir ou mesmo sentir o momento da conduta a adotar, sobretudo quando se está - e quantas vezes vivemos essas situações - no solitário vale das decisões. E, para isso, é necessário, também, coragem: coragem no decidir. A coragem para Churchill, das virtudes, é a primeira. Deve ser algo inerente ao político. E ninguém pode afirmar que tem coragem se nunca defrontou o perigo, como aliás salientou certa feita La Rochefoucauld.

Coabitavam também em ACM alguns atributos weberianos como o senso de responsabilidade e o senso da proporção e, com intensidade, como aqui se salientou, a paixão. A paixão é entendida por Weber não como agitação estéril, mas no sentido de total disponibilidade a uma causa que a inspira.

O seu amor pela Bahia, certamente sua primeira devoção, expressa bem a apaixonada dedicação pela terra. O Senado, aliás, por constituir-se em Casa da Federação - leia-se Casa dos Estados - convive cotidianamente com esses conflitos que continuam a marcar a diversidade brasileira até conseguirmos realizar nosso projeto de desenvolvimento.

Sr. Presidente, Srªs e Srs., a pátria de todo cidadão, como escreveu o notável Senador Bernardo Pereira de Vasconcelos, século e meu atrás, é o lugar onde se nasceu. É nela que buscamos alento, nos retemperamos para os desafios e nos refugiamos nas adversidades. Ser telúrico não é um mero provinciano. Ademais, é possível ser telúrico e amar a terra e, ao mesmo tempo, dispor do "instinto de nacionalidade", como falava Machado de Assis.

ACM cultuava também - como aqui foi lembrado - o gosto pela polêmica, cativando admiradores e muitas vezes gerando adversários e até mesmo inimigos. Com alguns logo se reconciliava. Enfim, sabemos, "o estilo é o homem", como sinteticamente definiu o escritor francês Louis Buffon.

Sr. Presidente, em todo o percurso de mais de trinta anos de amizade, ACM e eu militamos nas mesmas agremiações políticas - Arena, PDS, PFL e, a partir de dezembro passado, o Democratas. Conquanto as siglas possam indicar direções diferentes, conservamo-nos na mesma família partidária.

Divergimos em raríssimas oportunidades; nossa convivência foi marcada pela identidade de posições. Praticamos, como diria Vinícius de Morais, a "arte do encontro". Foi o que aconteceu, em alguns episódios, inclusive no que tornou possível a eleição de Tancredo Neves e José Sarney, porque o diálogo é matéria-prima da política.

Sr. Presidente, não esqueçamos nesta saudosa evocação que o Senador Antonio Carlos Magalhães é um amigo fiel e afetuoso esposo, pai e avô. Deixa ilustres descendentes e amigos, muitos dos quais vocacionou para a vida pública. O Brasil inteiro se comoveu com a perda do seu querido filho e meu amigo Luís Eduardo Magalhães, tão jovem e já encaminhado em brilhante carreira, cujo falecimento abalou tão profundamente o pai que o País com ele se associou na dor.

Jó, o servo sofredor, disse que “a vida era um sopro”. É verdade. Somos peregrinos neste mundo e sabemos que “a morte não é, todavia, o contrário da vida, mas o avesso dela”, conforme escreveu Amoroso Lima. A perda de Antonio Carlos Magalhães gera um vácuo em todos nós e parece deixar o País menor.

Convém lembrar a memória de Antonio Carlos Magalhães recordando palavras de outro ilustre baiano - Rui Barbosa, patrono desta Casa, para quem “a morte não extingue: transforma; não aniquila: renova; não divorcia: aproxima”.

Que Deus o acolha e sua vida continue a inspirar nossos trabalhos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2007 - Página 26918