Discurso durante a 121ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2007 - Página 26927
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, VIDA PUBLICA, RECONHECIMENTO, CONTRIBUIÇÃO, REDEMOCRATIZAÇÃO, PAIS, QUALIDADE, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, distintos familiares, distintas autoridades, senhoras e senhores, venho aqui também trazer o meu abraço e a minha homenagem à figura de Antonio Carlos Magalhães. Talvez eu seja dos poucos que aqui, hoje, comparecem a esta tribuna e, durante toda a vida, que esteve do lado oposto de Antonio Carlos na política estadual, na política federal. Com Dr. Ulysses e com outros tantos, representávamos uma outra facção da sociedade brasileira, na própria Bahia.

Na própria Bahia olhávamos, com ciúme e admiração, é verdade, a figura e o crescimento de Antonio Carlos. E o vimos passar por esses anos todos. Reconhecemos a importância dele no episódio do Dr. Tancredo e do Dr. Sarney, na mudança daquele quorum tão necessário na eleição do Dr. Tancredo.

            Não há como deixar de reconhecer que Antonio Carlos é uma figura que, na história deste Parlamento e na História deste País, tem que ser analisada como a dos grandes homens que o País teve que cumprem civilmente seu dever. Tinha adversários, oposição, divergência; lutava - e lutar era seu estilo - por aquilo que ele achava certo.

Reconheço em Antonio Carlos a figura de um político sui generis na História do Brasil. Desconhecer estas qualidades é praticamente impossível: a sua paixão por fazer política, a sua competência por fazer política.

O importante é que conhecemos neste Brasil muita gente que fez política a vida inteira, que ocuparam cargos mais importantes, anos e anos, e o gosto e a luta pelo poder, mas, lá, no poder, não fizeram nada que os diferenciassem e realmente tornasse conhecido seus trabalhos.

Muitas vezes, na nossa reunião do velho MDB, no meio de todas as discussões com relação à Bahia, ao MDB da Bahia e à figura de Antonio Carlos, sempre se dizia que ele era um formador de quadros, e ele era; que ele e a equipe dele, os Governadores depois dele e os Secretários de Estado, realizaram um trabalho extraordinário, não há dúvida nenhuma.

Os vários oradores que passaram por aqui, companheiros do Pará, que são inúmeros, é verdade, disseram que ele tinha paixão pelo poder, mas, vontade de exercê-lo da melhor maneira possível.

Às vezes em que conversávamos nas mesas de café do Senado ou aqui mesmo no plenário, ele dizia: “A minha escola não é apenas a minha escola, é o grupo que representamos. Mas acho que a gente tem a obrigação de fazer o melhor, e, se for companheiro, tem que fazer duas vezes melhor; por isso me acusem de tudo na Bahia, mas não podem me acusar de não ter sido eu e toda a minha equipe no Governo da Bahia de gente capaz e de gente competente”.

Talvez isso seja uma das coisas mais importantes que se pode querer num homem público.

Você pode analisar a figura do Antonio Carlos e analisar as figuras que compuseram a equipes em seus governos: uns brilhando aqui, mas todos grandes Governadores, capazes e competentes.

Em outros Estados, você vai ver que também existiram grandes líderes que ficaram por muitos anos no poder e que fizeram vários Governadores e vários Ministros, mas não formaram uma equipe, um conjunto unido, capacitado como aqueles formados sob a liderança de Antonio Carlos, capazes para o trabalho, para a administração, capazes de gerar progresso e desenvolvimento. Governadores de estilos diferentes - e nós os temos aqui como nossos grandes amigos -, com fórmulas diferentes, táticas diferentes de governar, mas que fizeram grandes governos - e posso dizer que, saindo da minha boca, é importante para mim -, e governos sérios, que mereciam respeito. Essa eu acho a característica mais importante neste momento a se destacar aqui. E, neste momento em que a falta de Antonio Carlos é sentida realmente, e muito, porque, para quem goste ou para que não goste dele, para quem o admira ou não o admira, encerrou-se uma fase.

O estilo, a capacidade, a liderança, a garra, a luta de Antonio Carlos não deixa sucessor. Eu diria que ele é o último de um estilo que fez história, como Lacerda e tantos outros. Mas, hoje, não tem sucessor. É aquilo que eu tenho dito, muitas vezes, neste plenário: “Nós estamos vivendo um momento, na vida brasileira, trágico e, como nunca, uma época em que o povo brasileiro não tem condutores”. Não existem formadores de opinião. Não há mais aqueles homens que, para mim, eram representados por Teotônio Vilela e Ulysses Guimarães; para muitos, era ACM. Homens que, quando abrimos o jornal, lemos e dizemos: “É isso aí”. Ou ficamos bravos: “Não é isso aí ou é isso aí!”. Mas esses homens deixaram palavras e pensamentos que ressoam na Nação. ACM era isto: com raiva ou sem raiva, gostando ou não gostando, o que ele falava repercutia. E, o que ele dizia, havia gente que acatava. Isso não era de graça, mas porque ele tinha um nome, uma personalidade, uma vida. Ele tinha ação. Ele construiu, ele tinha uma linha de pensamento. Pode-se dizer que ele era governo ou coisa que o valha, mas ele tinha uma linha! Podemos dizer que Ulysses era um homem assim; Tancredo era um homem assim; Teotônio era um homem assim; Arraes era um homem assim; Juscelino era um homem assim.

Homens com a garra dessa geração, com essa formação histórica, não há mais. Estamos em dificuldades hoje.

Estamos aqui vivendo nossa crise, que é sucessora da de ontem e predecessora da que virá depois. Nossa incompetência, nossa incapacidade de agir, de dizer ao Senado o que o Senado deve ser.

Antonio Carlos fez a sua parte. Ouvindo aqui emocionei-me. Não tinha nem me dado conta. Quem poderia imaginar - e quando digo quem estou falando de nós, que fazíamos oposição a Antonio Carlos - que um projeto preocupado com a questão da fome partisse de Antonio Carlos, que um projeto preocupado com a fome construísse um apoio unânime e a votação deste Congresso? É porque S. Exª tinha respeito. Votaram com ele porque era um projeto de grande responsabilidade.

Agora, estamos vivendo uma época em que o Brasil é o País da impunidade. Não acontece nada em relação a roubos, falcatruas. Antonio Carlos, Presidente da Comissão de Justiça, reuniu as lideranças da Câmara e do Senado para fazer uma série de projetos com o objetivo de estabelecer normas de combate à impunidade. E conseguiu.

Conseguiu reunir adversários ferozes no mesmo objetivo, em projeto que nunca se imaginava que partiria de Antonio Carlos. Isso, parece-me, define o homem público. Há momentos e momentos.

O Antonio Carlos amava a sua Bahia? Amava. Mas Antonio Carlos amava sua Bahia fazendo aquilo que seria bom que cada Estado tivesse: alguém com a capacidade e com a garra dele. Ele a defendia nas horas difíceis, nas horas em que era necessário. Como naquele fato de que o Presidente Sarney citou, quando o Antonio Carlos atravessou aqui e foi em direção ao Palácio com o “exército” da Bahia. Isso foi uma das coisas que achei mais espetaculares na vida política nos últimos tempos. Movimentou-se, fez o que achou que deveria fazer, botou a Bahia inteira... Mais importante que isso, só os gaúchos com os cavalos no obelisco do Rio de Janeiro, mas ele fez o que ele achava que deveria fazer.

Por isso, vai fazer falta o Antonio Carlos; vai fazer falta em todos os sentidos, até para os que não gostavam dele. Estes, ultimamente, nem havia mais, porque ele estava vivendo uma época de tanta nacionalidade...

Na última vez em que ele esteve aqui no plenário, ele fez um pronunciamento e saiu; quando ia entrar no elevador, ele caiu. Foi aquela grita, veio todo mundo. Lembra, Sr. Presidente? Saímos todos correndo: “o que houve?” Levantamos, fomos para o gabinete da Presidência. Cheguei e falei com ele: “Antonio Carlos, há 50 anos, desde que existo, vejo todo mundo ao meu redor falar mal de ti, dizendo “um dia vamos derrubar esse Antonio Carlos”; quando veio a notícia de que tu caíste, fiquei todo assustado, preocupado, e rezei a Deus para que não te acontecesse nada”.

Realmente, ele é um nome muito importante na história brasileira. Ele é um nome muito significativo na história brasileira.

Lembro-me de ocasiões difíceis que atravessei, lá do outro lado, na morte do meu filho, muito antes, meu querido filho com 10 anos. Recebi uma carta e um telefonema de muito carinho, de muito apreço, em que ele expressava o que sentia e que, muitos anos depois, pude dizer a ele muito mais. Meu filho era uma flor que não deixaram brotar. O filho dele era um paraíso; eram rosas e mais rosas que estavam prontas para abrir.

Por isso te digo, meu prezado Antonio Carlos: importante é chegares lá, aonde estás chegando agora, vendo teu filho, tua filha.

Olhando daqui, você, de certa forma, foi bastante inteligente. Deixou um descendente aqui e outro na Câmara, porque pensou que um sozinho não poderia desempenhar as duas missões, a tua, de Câmara e de Senado. Então, a tua representação está aqui. Mas, onde estiver, você há de ver este Brasil caminhar.

E este Congresso Nacional, que está vivendo estas horas duras, com a Nação brasileira, vai entender que está antecipando uma vida que será diferente, um Brasil que será diferente, uma política que será diferente, em que se possa ter idéias, combater, colocando o Brasil em primeiro lugar.

Antonio Carlos era isto: combatia, agredia, avançava, era contra, era a favor, mas era Brasil e era Bahia. Está faltando na política brasileira mais gente que seja Brasil, seja Rio Grande, São Paulo, Rio Grande do Norte. Temos que ser mais o nosso povo e menos nós.

Um abraço e um carinho muito afetuoso para o bravo Antonio Carlos. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2007 - Página 26927