Discurso durante a 121ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2007 - Página 26934
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DA BAHIA (BA), COMENTARIO, DIFERENÇA, POLITICA PARTIDARIA, AUSENCIA, OBSTACULO, PARCERIA, INTERESSE PUBLICO, CRIAÇÃO, FUNDO ESPECIAL, COMBATE, POBREZA, PERCENTAGEM, CONTRIBUIÇÃO PROVISORIA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA (CPMF), ATUALIDADE, FINANCIAMENTO, BOLSA FAMILIA, PARTICIPAÇÃO, DEBATE, RENDA MINIMA, CIDADANIA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros; Srª Arlete Magalhães, esposa do Exmo Senador Antonio Carlos Magalhães; Srª Teresa Helena Magalhães; prezado Senador Antonio Carlos Júnior; Sr. Deputado Federal Antonio Carlos Magalhães Neto; Sr. Ministro Rider Nogueira de Brito; meu caro Luís Eduardo Filho, que estava no Incor na última vez que vi o Senador Antonio Carlos Magalhães, poucos dias antes - por estar em Seul, Coréia do Sul, no dia em que ele faleceu, não pude participar da cerimônia e do funeral do Senador Antonio Carlos Magalhães, para expressar o meu profundo sentimento de pesar aos seus familiares aqui presentes e ao povo baiano.

Passei a conviver com o Senador Antonio Carlos Magalhães sobretudo a partir de 1995. Eu aqui chegara em 1991. Tínhamos trajetórias muito diferentes, ele tendo sido Deputado Estadual, Deputado Federal, Prefeito de Salvador, Governador, Ministro e, ao longo de sua história, em algum momento ligado ao regime militar, mas com a trajetória de ter sido um dos responsáveis pela abertura, pela democratização do País.

Foi um homem que muitas vezes era crítico de pessoas muito ligadas a mim próprio, como nós, do Partido dos Trabalhadores, inclusive do ex-Governador e Ministro Waldir Pires, do Governador Jaques Wagner; mas isso não dificultou que eu passasse a ter com ele uma relação de muito respeito, de amizade. E, em que pesem nossas diferenças, mantivemos uma relação muito produtiva e construtiva em defesa do interesse público e da melhora do Brasil.

Isso ocorreu, por exemplo, quando foi criada a Comissão de Combate à Pobreza, presidida pelo Senador Maguito Vilela, tendo como Relatora a Senadora Marina Silva, que culminou com o exame em profundidade de debate da sua proposta de emenda à Constituição para a criação de um fundo de combate à pobreza, sendo hoje responsável para que o Bolsa-Família tenha aproximadamente R$10 bilhões oriundos da CPMF. Dos 3,8%, 0,20% vão para a saúde, 0,10% para a educação e 0,08% para o Fundo de Combate à Pobreza, que constitui uma das principais fontes de financiamento. É importante, neste momento em que o Congresso Nacional está analisando a CPMF, que possamos todos estar conscientes disso.

O Senador Antonio Carlos Magalhães muitas vezes dialogou comigo a respeito da proposta de Renda Básica de Cidadania, que tantas vezes aqui defendi. A sua palavra, inclusive, junto ao Deputado Antonio Carlos Magalhães Neto, em seu gabinete, quando expus a idéia em profundidade, ao lado dele - pouco antes de, na Câmara dos Deputados, na Comissão de Constituição e Justiça, ter sido objeto de aprovação também ali -, foi a de que via com simpatia a idéia, e a compreendeu.

Nesta semana, Presidente Renan Calheiros, recebi uma notícia de surpresa. Eis que a MTV me comunicou que, entre os cinco melhores e mais assistidos vídeos da MTV neste ano, para a festa da MTV em setembro, será apresentada - e fui convidado para ser um dos cinco melhores - a exposição que fiz, durante a Comissão de Constituição e Justiça, sobre por que eu acreditava que melhor do que baixar a maioridade penal seria justamente expandir as oportunidades de educação para todas as crianças e jovens e instituir uma renda básica de cidadania. Para ilustrar isso, eu ali expus Triste Partida, de Patativa do Assaré, e, em seguida, para ilustrar qual o grau de liberdade percebido pelos jovens de hoje nas grandes cidades, declamei o Homem na Estrada, de Mano Brown, dos Racionais MC’s. Quando eu estava em meio àquela declamação, olhei para o Presidente Antonio Carlos Magalhães, e eis que ele estava tendo uma reação como poucas vezes vi na vida dele e na minha. Ele sorriu, mas era quase uma explosão de sorriso. Fiquei até preocupado. Teria isso causado algum problema? Mas, certamente, o fato de dar uma risada nunca vai ser responsável por um problema de coração. Espero que isso não tenha colaborado para agravar seu estado de saúde.

Alguns Senadores, naquele dia, ficaram preocupados comigo, como verifiquei pela observação do Senador Jefferson Péres, mas outros julgaram a apresentação interessante. Inclusive, aquela expressão do Senador Antonio Carlos Magalhães está expressa nesse vídeo, que já teve mais de 43 mil acessos de repetição pela Internet, em apenas uma das apresentações, fora as outras.

O Senador Antonio Carlos Magalhães, no período de 2002 a 2003, apoiou o Governo do Presidente Lula, mas, a partir de 2004, 2005, passou a ser cada vez mais crítico e, em certas situações, passou a criticar o Governo do Presidente Lula com tal agressividade, contundência e virulência que, certo dia, o Presidente, numa viagem que fez com ele, cobrou-me não apenas em relação ao Senador Antonio Carlos Magalhães, mas a outros aqui: “Puxa, mas é preciso que você e os companheiros do Partido rebatam mais!” E eu algumas vezes disse ao Senador Antonio Carlos Magalhães - porque o Presidente Lula assiste muito à TV Senado - que, se ele usasse de uma linguagem mais construtiva, mais carinhosa em relação ao Presidente - com quem ele já tivera uma relação muito positiva -, talvez ele pudesse até ser mais ouvido e produtivo nos seus objetivos. Entretanto, ele continuou muito contundente.

O Presidente Lula, em abril passado, resolveu visitar o Senador Antonio Carlos Magalhães. Naquele mesmo dia - era um final de tarde de sábado -, eu o visitei no hospital e percebi que ele estava muito contente com a visita. Logo que saiu do hospital, ele fez uma visita ao Presidente Lula, ocasião em que ambos disseram da admiração que tinham um pelo outro nas suas qualidades. Depois disso, a relação entre ambos passou a ser muito mais na direção daquilo que eu havia expressado.

Sr. Presidente, quero dizer que com o Senador e nosso Presidente Antonio Carlos Magalhães tive aqui um notável aprendizado, assim como todos nós. Quero expressar o meu cumprimento a toda sua família, à sua senhora e aos baianos, por terem tido um representante, um Senador que tão bem honrou o povo de sua terra. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2007 - Página 26934