Discurso durante a 121ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.

Autor
José Agripino (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2007 - Página 26935
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, VIDA PUBLICA, QUALIDADE, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, DEPOIMENTO, EXPERIENCIA, AMIZADE, APOIO, ORADOR, EXERCICIO, LIDERANÇA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA FRENTE LIBERAL (PFL), DEMOCRATAS (DEM).

O SR. JOSÉ AGRIPINO (DEM - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores; Dona Arlete; Senador ACM Júnior, e sua esposa, Rosário, que aqui se encontra; ACM Neto, meu dileto amigo; Teresa Helena, César Mata Pires, e seus filhos que os acompanham; Ministro Rider Nogueira, Presidente do TST, que muito nos honra com a sua presença; amigos de Antonio Carlos. O Senador Arthur Virgílio, Dona Arlete, disse uma coisa que é a expressão da pura verdade. Esta Casa é feita por gente de muita experiência: ex-Governadores, ex-Ministros, até ex-Presidentes da República. E aqui há ícones. Há os monstros sagrados. Há pessoas que são referências, que são respeitadas, que são temidas, cuja palavra faz opinião. E o seu marido Antonio Carlos era um desses, cabeça branca.

O Senador Arthur Virgílio disse, referindo-se a mim, da tarefa difícil que eu tinha levado a efeito durante tanto tempo de ser Líder de Antonio Carlos. Eu quero ter a pretensão de dizer à senhora que exerci a Liderança, por muitos anos, com o voto dele, com o repetido voto dele, e que, em muitos momentos, até encabeçava o processo de recondução de meu nome à Liderança, por razões que, acho, a senhora sabe, mas que muitos aqui que nos vêem e nos ouvem não sabem. Eu tinha uma relação mais do que política com Antonio Carlos, Duquinho. Eu tinha uma relação pessoal com Antonio Carlos. Seu avô, na primeira eleição que disputou - creio que no diretório da faculdade -, obteve a vitória por um voto. Esse voto foi do meu tio Otávio, médico como ele, a quem ele chamava de Tavinho. Meu tio foi amigo dele até morrer, como Tarcísio Maia, meu pai, foi amigo dele até morrer.

Dona Arlete, estive com Antonio Carlos na quarta-feira, às cinco da tarde - ele morreu na sexta-feira, às onze da manhã. Eu troquei algumas palavras amáveis com ele. Ele se despediu de mim, com aquele beijo, distante, e com um pedido para que eu desse lembranças à Anita, minha mulher, baiana como a senhora e ele. Com aquele cumprimento, eu sentia que estava, naquele momento, despedindo-me de Antonio Carlos. Eu senti. Ele estava se despedindo de mim, baianamente.

Ele, com quem tantas vezes, eu tinha conversado, até na casa da senhora, comendo aquela moqueca de siri mole, para a qual ele me convidava com tanta fidalguia. Conversávamos sobre a minha meninice na Bahia, partilhando da intimidade de uma relação pessoal que facilitou muito José Agripino liderar uma bancada da qual fazia parte Antonio Carlos Magalhães.

Dona Arlete, as pessoas não sabem que eu conseguia liderar porque havia uma relação pretérita, robusta, de muita amizade pessoal, calcada em muitos fatos, e porque, no campo político, nunca quis impor a Antonio Carlos nada que não fosse pela força do argumento e muito menos ele quis me impor nunca nada que não fosse pela força do argumento.

Nós tínhamos uma relação racional, movida pelo argumento e pelo respeito mútuo. Foi por essa razão que fomos, até o fim, amigos e solidários.

Dona Arlete, eu não venho aqui homenagear Antonio Carlos. Eu homenageei Antonio Carlos a minha vida inteira. Nunca estive distante de Antonio Carlos em nenhuma das disputas dele. Quando ele foi candidato a Presidente da Casa, eu era, talvez, o seu principal interlocutor, ajudando a conquistar e consolidar os votos que ele conseguiu ter. Para indicá-lo Presidente da CCJ, eu fui o grande arauto. Para defendê-lo, nos momentos de dificuldade, eu era sempre a primeira voz. Não venho aqui para homenageá-lo porque eu o homenageei a vida inteira. Eu venho aqui, de certa forma, abrir o meu coração para a família, para a senhora em particular, que é uma dama por quem eu e Anita temos o maior respeito, por quem a senhora é, pela sua família e pelo que Antonio Carlos foi.

Antonio Carlos, na minha opinião, Dona Arlete, foi tudo neste País. Foi Deputado Estadual, Deputado Federal, Prefeito, Governador, presidente de estatal, Ministro de Estado, foi até pai de um quase Presidente da República. Ele foi tudo. E com ele tive uma relação política muito respeitosa, porque eu o tinha como um desses raros cidadãos que é grande político e grande administrador ao mesmo tempo. Normalmente, Rosário, os grandes políticos não são necessariamente grandes administradores. O seu sogro o foi.

Conheci a Bahia ainda menino, quando morava em Mossoró e viajava nos aviões da Panair, os DC3, no pinga-pinga que saía de Mossoró até chegar a Salvador, para passar as férias de final de ano com meus avós baianos, pai e mãe de minha mãe, no tempo do cacau, no tempo em que a Bahia era cacau, no tempo em que eu pousava no Aeroporto de Ipitanga, que depois passou a ser chamado de Dois de Julho e, agora, é Aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães. Sou do tempo de Ipitanga. Igual, apenas a alameda dos bambus na saída do aeroporto. Já não existe mais o sorvete da primavera nem o guaraná Fratelli Vita.

Hoje, o que existe é aquilo que Antonio Carlos fez para a Bahia mudar. Hoje, o que existe é uma Bahia próspera em razão do pólo petroquímico, pelo qual ele brigou, obtendo do Presidente Geisel a transferência desse pólo de São Paulo para a Bahia.

Hoje, o que existe é o oeste baiano, Dona Arlete, próspero, produtor de grãos, competindo com o Paraná, porque o seu marido fez. Hoje, o que existe é uma Bahia que é pólo automobilístico, porque César Borges e ele toparam a parada. E quantas vezes vi Antonio Carlos nesta tribuna esbravejando e defendendo os interesses da Bahia.

Hoje, Rosário, o que existe, é a Bahia do Pelourinho, orgulho, patrimônio da Unesco, feito pela inteligência de Antonio Carlos, que foi tão amigo de Jorge Amado e de todos os artistas da Bahia que, de Esquerda ou de Direita, rendiam homenagem a ele, todos.

Dona Arlete, eu queria muito bem ao seu marido. Eu o homenageei a vida inteira. Nós fomos juntos o tempo todo. Quando fui pré-candidato a vice-presidente, eu contei com ele até o fim. Com ele e com o Neto. Contei com ele e guardo dele momentos de convivência muito positiva. Do administrador que fez muito pela Bahia, mas do grande político que foi. E esse, talvez, seja o grande legado que ele está deixando - mais do que para você, Neto, que é uma das melhores expressões do Parlamento moderno. Pode se orgulhar muito de seu neto: é o político com espírito público. Brigão, muitas vezes se indispunha com as pessoas.

Mas o seu marido foi o homem de quem saiu a idéia de Fundo de Combate à Pobreza. Eu não entendi muito bem o porquê daquela obstinação, até que um dia fui ao Iemanjá, eu, ele e poucas pessoas mais, e senti a vaidade de Antonio Carlos em ser cumprimentado não pelos turistas ricos que chegavam, mas pelas garçonetes pobres que o reverenciavam na hora em que serviam a moqueca de siri mole. A alegria, o orgulho que ele sentia em ser cumprimentado com efusão pelos mais pobres era a tradução viva do espírito público, de uma vida pública voltada para os que precisam mais. Por isso que Antonio Carlos é uma instituição. Por isso é que aqui estão tantas pessoas, com quem ele, Dona Arlete, pode até, em alguns momentos, ter trocado palavras de divergência. Nesta platéia, agora e antes, há pessoas que tiveram rusgas com o seu marido, mas que estão aqui para reverenciar a memória de um homem que nos merece muito, cuja imagem é positiva, que é ponto de referência para ser lembrado. O seu marido, que o meu partido, que era o partido dele, reverencia, homenageia e quer que esteja em paz! (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2007 - Página 26935