Discurso durante a 121ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.

Autor
Romero Jucá (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Antonio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2007 - Página 26939
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • QUALIDADE, LIDER, GOVERNO, HOMENAGEM POSTUMA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, INTERESSE NACIONAL.

O SR. ROMERO JUCÁ (PMDB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros; Dona Arlete Magalhães; meu caro companheiro e amigo Senador Antonio Carlos Júnior; Srª Teresa Magalhães; Deputado Antonio Carlos Magalhães Neto; Srªs e Srs. Senadores, Parlamentares, amigos e parentes do Senador Antonio Carlos Magalhães, subir à tribuna nesta noite tem para mim um significado especial. Falo em meu nome e em nome do Governo do Presidente Lula. A homenagem que o Senado da República presta pela passagem de um de seus mais ilustres representantes é, antes de tudo, o reconhecimento de uma vida dedicada à Bahia, de um símbolo que marcou a política nacional nas últimas décadas e, principalmente, da destreza e do vigor com que Antonio Carlos Magalhães conduziu sua vida como Senador, Governador, Ministro, Prefeito e Deputado.

Falar do Senador Antonio Carlos é falar, antes de tudo, de um colega a quem, apesar de algumas vezes dele divergir, sempre procurava, da minha cadeira no plenário, observá-lo com atenção e aprender um pouco daquela forma de fazer política: temperada e com uma forte e marcante pimenta da Bahia.

Senador Antonio Carlos ou ACM, como carinhosamente os baianos, o Brasil e todos os chamavam aqui, foi um homem que marcou o seu convívio pela postura dura em defesa dos interesses do seu Estado, mas, ao mesmo tempo, pela forma afável, até com os adversários, quando havia necessidade de fecharmos acordos para decidir questões nacionais.

O convívio com Antonio Carlos nesses últimos 12 anos foi marcado pelo debate acalorado e duro nesta Casa, normalmente cheia, às quartas-feiras, como hoje, dias de intensa atividade parlamentar. Sua presença no plenário dava o tom das discussões. Muitas vezes era ele quem definia temas, conduzia votações, levantava contrapontos e comandava articulações de bastidores. Uma presença fundamental na política e uma ausência irreparável para o Brasil.

Antonio Carlos respirava política 24 horas por dia de forma apaixonada, como se ainda a descobrisse, apesar de 50 anos de vida pública. Esse entusiasmo e a força na defesa do que considerava legítimo inspiraram muitos que com ele conviveram. ACM foi uma figura singular, uma marca política e uma inspiração de como é importante lutar pelo que se acredita com o vigor de um guerreiro sempre pronto para as batalhas e guerras mais sangrentas que a política nos impõe.

De todas essas características que marcaram esses anos de convívio, a coragem e a coerência na condução dos assuntos políticos foram as mais importantes. Mesmo sem concordar com as teses defendidas por Antonio Carlos, não podíamos acusá-lo de agir de forma escapista ou incoerente com sua conduta. Homem de embates, ACM manteve, ao longo de 50 anos, a mesma coerência que o marcou no início, ainda como Deputado, e que o acompanhou por toda a sua brilhante trajetória política.

Apesar de não ter sido seu contemporâneo, pude verificar, na saudosa convivência do plenário, que o Sr. Antonio Carlos continuava com o mesmo vigor dos tempos de Deputado. Histórias de um passado que me chegavam por aqueles que me antecederam na política reforçavam a atitude sempre corajosa, mesmo nos períodos mais difíceis da vida nacional.

Lembro-me do relato de dois episódios vividos por ele e que resumem bem essas características. Ainda como Deputado Federal pela UDN de Carlos Lacerda - oposição incansável ao Governo de JK -, teve a coragem de apoiar o então Presidente Juscelino Kubitschek e seu Plano de Metas, atitude que assegurou a consolidação do Plano e a construção de Brasília. Importante registrar que esse momento teve a participação de outros Deputados, como o Presidente José Sarney, aqui presente.

Outro episódio que me vem à memória, para reforçar essas características que marcaram a personalidade de ACM, está no período em que foi Governador da Bahia indicado pelo regime militar. Naqueles chamados “Anos de Chumbo”, brigar com um general não era recomendável, e mesmo assim o então Governador Antonio Carlos recusou a recomendação do Comandante Militar da Região Nordeste de tirar do seu gabinete a foto de JK, considerado na época um “inimigo da revolução”. Antonio Carlos lembrava o episódio com um sorriso irônico e finalizava: “Sabe quando a foto saiu do gabinete? Só depois do final do meu mandato.” Corrija-me, se eu estiver errado, o Deputado contemporâneo de ACM e primo de JK, Carlos Murilo, aqui presente.

Assim ficou registrado na minha memória o Senador Antonio Carlos: um político que não temia os embates da vida pública e que defendia com vigor as suas convicções. Essas características ajudaram a consolidar o político nacional que conheci no Governo Sarney e com quem tive o privilégio de conviver no Senado, ora como aliado, ora como adversário, mas sempre muito claro nas disputas políticas.

Quero me ater agora a esse período de convívio. Durante o Governo Fernando Henrique Cardoso, assim como no Governo do Presidente Lula, mantinha negociações com as principais Lideranças da Casa para aprovação de projetos de interesse, e sempre a opinião do Senador Antonio Carlos Magalhães tinha uma importância grande para fechar um acordo ou para ir ao embate. Nas duas situações, a condução de ACM era sempre avaliada.

Esse foi Antonio Carlos. Um político que, mesmo sem ter a liderança formal designada do Partido, foi Presidente do Congresso Nacional e exercia liderança no Senado e no seu grupo. É até engraçado lembrar daqueles momentos, porque, ao negociar votações, nós, Líderes do Governo, seja no Senado, seja na Câmara, precisávamos saber qual era a condução das Bancadas partidárias, inclusive da Bancada carlista. ACM havia ultrapassado as condições de político para se transformar em legenda política.

Esse constante desejo de exercer o poder em toda sua plenitude fez de Antonio Carlos o mito que ele mesmo, com muita habilidade, construiu. Legado repassado ao nosso saudoso Deputado Luís Eduardo Magalhães e ao nosso colega nesta Casa Senador Antonio Carlos Júnior. Essa herança está presente também na nova geração da família, composta por jovens e promissores políticos, como o Deputado ACM Neto e Luís Eduardo Magalhães Filho.

A preocupação com a sucessão no poder e o faro político invejável de Antonio Carlos identificaram que o sonho de presidir o Brasil não chegaria para ele, porque ele sempre dizia: “A Presidência não é destino, é vontade”. Mas o destino parecia conspirar com ele, e Luís Eduardo Magalhães, após brilhante passagem pela Presidência da Câmara, despontou como o nome mais forte para as eleições presidenciais de 2002.

Infelizmente, o destino se mostrou duro como Antonio Carlos sempre foi com seus adversários e ceifou aquele desejo de forma abrupta, deixando o mundo político, a Bahia, o Brasil e todos nós, amigos de Luís Eduardo, chocados com a perda importante de uma liderança jovem e que muito haveria de fazer pelo País. Esse foi, a meu ver, o seu pior momento, o seu momento mais sofrido.

Após a morte de Luís Eduardo, acreditei que o Senador Antonio Carlos perderia o gosto pela política, mas o que se viu em seguida foi um ACM ainda mais forte; o que se viu em seguida foi um ACM que, apesar da dor da perda daquele que o sucederia, exercia a política como o oxigênio da sua vida. A sua paixão pela Bahia e seu jeito de fazer política deixarão seguidores em sua família e inspirarão outros com seu jeito polêmico e aguerrido de ser.

Desejo encerrar, Sr. Presidente, lamentando mais uma vez a perda do Senador Antonio Carlos, solidarizando-me com a família e dizendo, de coração, como Líder do Governo, que o Senador Antonio Carlos exercia aqui uma ação muito forte e nos dava muito trabalho. Mas gostaria, do fundo da minha alma, que pudéssemos continuar a ter esse trabalho, porque, junto com o trabalho, vinham o carinho, a experiência e o ensinamento de um dos mais importantes políticos da História do Brasil.

Muito obrigado e um abraço a toda a família. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2007 - Página 26939