Discurso durante a 121ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Antônio Carlos Magalhães.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Antônio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2007 - Página 26946
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, VIDA PUBLICA, JUSTIÇA, BENEFICIO, INTERESSE PUBLICO, COMPETENCIA, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, permita-me saudar a Dona Arlete. Tantas são as autoridades, os Membros que compõem a Mesa, as Lideranças.

Presidente Sarney, li o livro A Arte de Viver, de André Maurois, que retrata a arte de pensar, de trabalhar, de comandar, de amar e de envelhecer. Sobre a arte de amar, Dona Arlete, André Maurois dizia: “O homem nasceu para a guerra, e a mulher, para o repouso do guerreiro”.

Presidente Sarney, permita-me saudá-lo. V. Exª tem muitos títulos, mas, usando as palavras do Rei Roberto Carlos, V. Exª foi o “irmão camarada” de Antonio Carlos Magalhães.

Depois de tantas vozes, é difícil. Estamos reunidos há quase seis horas, que equivalem a quatro partidas de futebol, sem cera, sem intervalo. E todo mundo está aqui querendo render homenagens a Antonio Carlos Magalhães.

Presidente Renan, ouça a voz das ruas. Não há rua, mas vou dizer aqui a voz do Plenário. Perguntei ao Zezinho, que representa o povo que chora Antonio Carlos Magalhães, o que eu deveria dizer. Aí, o Zezinho me disse: “Diga que ele foi um grande guerreiro”. Daí a homenagem ao grande guerreiro e à Dona Arlete, que deu repouso ao guerreiro, para ele poder pelear, lutar e vencer. Foi imbatível, foi vencedor.

E diria o seguinte: conheci os dois lados. Ele foi ao Piauí e me combateu duro. Duro! E eu também. Mas eu quero dizer aqui, não podia deixar de dizer, que ele era um homem justo. Aí eu ganhei as eleições, contra o PFL. E havia o Prodetur, aqueles que governavam, na época, viam as dificuldades; só se podia tirar um empréstimo se a receita fosse na proporção de dois para um do endividamento. Alagoas tinha naufragado, não tinha conseguido, e eu consegui, com austeridade, com dificuldade. Nos últimos dias, veio para cá. Presidente Sarney, eu disse: agora, estou lascado. Que nada! O homem fez andar, apressar, e liberou tudo. Eu pensava: ele sobretudo foi esse homem justo. Ele combatia o bom combate.

E depois travamos essa grande amizade.

Esse negócio aí de ética, quiseram... Quem liderou o PMDB a apoiar Antonio Carlos Magalhães fomos nós. Aprendi com ele que aquilo era injustiça, desrespeito à Bahia e aos baianos que o consagraram Senador. E era um vencedor, um imbatível. Ele não poderia tombar no Conselho de Ética. Fomos nós que lideramos o PMDB naquele instante, Renan. V. Exª e o Presidente Sarney sabem disso.

E queria, então, dizer que nós o conhecemos aqui e, bem aqui, foi meu último encontro com ele. Ele, sentado na cadeira de José Agripino, e eu ali. Sou médico há 40 anos e exerci mesmo essa profissão. E eu senti, senti e fiquei até perplexo de ver: eu sendo duro com ele, para que cuidasse da saúde, porque eu tinha 40 anos de Medicina, e sabia que ele era médico, mas sabia também que ele tinha abraçado a política logo nos primeiros anos. Eu vivi a Medicina por 40 anos. E me mostrei preocupado.

Vi, Sarney, aquele guerreiro, os sonhos, o ideal de luta, vi que aquele homem não ia parar. E apontei para ali e disse: “Ô Antonio Carlos, se cuide! Você não podia nem subir essas escadas!”. Cardíaco.

Depois, no outro dia, ele tombava, caía, e eu quis visitá-lo. Mas ninguém ia detê-lo. Ele era esse homem que deixou os exemplos, mas as obras estão aí. Eu abriria o livro de Deus em que Tiago dizia assim, Sarney: “A fé sem obra já nasce morta”. A fé daquele homem era com obras em Salvador, na Bahia e no Brasil. Tiago garante então que ele está no céu. Ninguém teve uma fé tão grande com obras, e nós reconhecemos isso.

E entre muitas e muitas aqui está uma delas: Grandes Momentos do Parlamento Brasileiro. São dois volumes. Comentamos muito essa obra. Outro dia, eu dizia a ele que gostava do discurso de Affonso Arinos. Ele me disse: “Mão Santa, leia o do Padre Gondim sobre Kennedy”. Então, pensei o que se tinha que pensar: eu tinha que vir aqui em nome do Piauí, que já foi tão bem representado pelo Senador Heráclito Fortes, irmão camarada do Luís Eduardo. O Maranhão e o Piauí têm um irmão camarada, Antonio Carlos Magalhães.

E se ele fez isso com muito carinho, dois livros e tem discos, Grandes Momentos do Parlamento Brasileiro, eu disse: ele escolheu os discursos de que mais gostou. Não vou cansá-los, mas vou indicar que os leiam. Aprender! Lembro-me de quando Ulysses disse que, perdendo-se a coragem, perdem-se todas as virtudes. Ô homem de coragem! Ele escolheu, e vou ler só um tópico. Na entrada, foi no dia 15/3/95: “Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vou dividir o meu pronunciamento em duas partes: a primeira, um assunto de muita importância para a economia baiana, a cacauicultura, no meu Estado. A segunda, a crise dos Três Poderes da República, principalmente do Judiciário”.

E se ele fez isso com tanto carinho, dois livros e tem discos, Grandes Momentos do Parlamento Brasileiro, eu disse: ele escolheu os discursos de que mais gostou. Não vou cansá-los, mas vou indicar que os leiam. Aprender! Lembro-me de quando Ulysses disse que, perdendo-se a coragem, perdem-se todas as virtudes. Ô homem de coragem! Ele escolheu, e vou ler só um tópico. Na entrada, foi no dia 15/3/95: “Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vou dividir o meu pronunciamento em duas partes: a primeira, um assunto de muita importância para a economia baiana, a cacauicultura, no meu Estado. A segunda, a crise dos Três Poderes da República, principalmente do Judiciário”.

Não vou ler. Tião Viana rememorou a coragem dele. Não vou cansá-los. Winston Churchill fez oito mil discursos; do Senador José Sarney, ainda não contei, mas do Antonio Carlos Magalhães vamos contar, Senador Renan. Mas um que é atual. Ô Luiz Inácio, grave esta - você não gosta de ler, mas só este pedaço: Mitterrand, no fim de sua vida, estava moribundo de câncer, pediu a um amigo intelectual, prêmio Nobel, que o ajudasse, e disse: “A mensagem para todos os governantes é fortalecer os contrapoderes”. Mitterrand.

Antonio Carlos, o Estadista, o santo que teve fé com obras: “Penso que a principal praga de qualquer governo, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, é a corrupção. O Governo que não for corrupto está fadado a ter êxito. Quem tem experiência administrativa sabe que se administra bem o Estado, o Município ou a União quando existe moralidade administrativa. Os recursos aparecem, e se pode realizar”.

Mas Rui Barbosa, que ele colocou ali, é completo, foi esquecido e vim completar. Antonio Carlos Magalhães chegou à Presidência da República, de 15 a 22 de maio de 1998, ele exerceu e deu ensinamento. Nesse breve período de 15 de maio a 22 de maio, aprovou um empréstimo de US$198 milhões para o Nordeste.

O Senador Garibaldi Alves já disse que quebrou o protocolo, e quem vai quebrá-lo agora sou eu. Eunício, estudei no seu Ceará. Juscelino, que foi citado, Sarney, eu o vi encantado, médico-cirurgião, como eu, da Santa Casa. Renan, ele, no fim de sua administração, visitou Fortaleza e eu o acompanhei. Lá no abrigo. Eunício, havia um abrigo perto da Assembléia. Então, vi aquela saudação do homem do Nordeste, da gratidão do povo. Um vaqueiro de chapéu não pôde se aproximar de Juscelino, que tomava um café no Pedão da Bananada, torcedor do Ceará. Ali, o homem; eu também, estudante, já atraído por Juscelino. Ele não se controlou e disse: “Ô Presidente pai-d’égua!”

E digo aqui, com o mesmo fervor de homem do Nordeste: Ô baiano pai-d’égua! E queria dizer que temos um dever. Vimos a luta e, no final, ele morreu. Senador José Sarney, vamos sair dizendo por aí que Antonio Carlos morreu, como nasceu e viveu, orgulhoso de ser baiano, baiano, baiano!

Muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2007 - Página 26946