Discurso durante a 121ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à memória do Senador Antônio Carlos Magalhães.

Autor
Magno Malta (PR - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória do Senador Antônio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 09/08/2007 - Página 26948
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, SENADOR, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONTRIBUIÇÃO, POLITICA NACIONAL, INICIATIVA, REFORMA JUDICIARIA, FUNDO ESPECIAL, COMBATE, POBREZA, LEGISLAÇÃO, POLITICA, SEGURANÇA PUBLICA, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL, ESPECIFICAÇÃO, RODOVIA, FACILITAÇÃO, TURISMO, REGIÃO NORDESTE.

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaria de saudar a Mesa e a família - não vou ler isto aqui não - do Senador Antonio Carlos, neste momento ímpar da História, que não se repetirá.

            Sr. Presidente, V. Exª tem o privilégio de presidir - gostaríamos todos que ele aqui estivesse - uma sessão solene em homenagem a uma pessoa muito querida de todos nós.

Microfone nunca me assustou desde a minha infância, nunca me pôs nervoso e nunca fez palpitar o meu coração, dando-me taquicardia. Esta é a primeira vez que assomo à tribuna e a minha mão treme - pela primeira vez na minha vida.

            Eu dizia ao Senador César Borges que sou o único aqui que teria de falar, porque, quando “nasci os dentes”, mamãe já votava nele. Quando eu “nasci os dentes”, Senador Sarney, ele já era ACM.

Tive dois momentos significativos na minha vida. Um deles foi quando eu fiz o meu primeiro discurso aqui como Senador da República. Sou filho de uma faxineira do interior da Bahia de ACM, que sempre acreditou nele. No dia em que vim a esta tribuna pela primeira vez e vi ACM sentado ali... Eu, filho de Dadá, faxineira. Acompanhei minha mãe nas ruas com as bandeiras de ACM, menino. E tive o privilégio de ser criado por um Estado que não é meu, e que me acolheu, Senador Renato Casagrande, como filho seu. Fui ser Senador pelo Estado do Espírito Santo, Estado que tenho muito orgulho de representar.

Eu nunca tremi fazendo discurso, nunca tive medo de microfone. Eu cheguei a esta tribuna pela primeira vez e comecei o meu discurso contando uma história que ACM me contou. Olha que coisa! Eu cresci vendo minha mãe votar nele, depois eu já era colega dele. E fiz o meu primeiro discurso nesta Casa contando uma história que ele me contou.

Quando eu tinha 13 anos de idade, Senador Renan Calheiros, a minha mãe recebeu uma profecia na igreja - eu nunca tive livro, nunca tivemos casa - de que eu seria Senador da República. Elegi-me Deputado Federal e vi um homem chamado Moroni Torgan recolhendo assinaturas para uma CPI de Narcotráfico. Como recupero drogados há tantos anos da minha vida, vi aquilo como a realização de um sonho voltado para políticas públicas no Brasil. Quinhentos e treze. Eu desconhecido. Estado pequeno. Fui ajudar esse rapaz a colher assinaturas, mas não consegui vaga na tal CPI. Comecei a bater à porta dos Líderes, por orientação do próprio Moroni. Pedi uma vaga para o Aécio Neves, então Líder do PSDB, que me disse: “Não posso. Todo o mundo quer participar”. Pedi ao Geddel, então Líder do PMDB, que me disse: “Não posso”. Pedi ao Inocêncio, que me disse: “Não tem como. Todo o mundo quer participar”.

Eu estava num hotel, o Kubitschek Plaza, onde morava, orando à noite. Li minha Bíblia e saí de lá com o desejo no coração de procurar o Senador ACM, então Presidente desta Casa, Presidente do Congresso Nacional. Ele marcou comigo às quatro horas da tarde, e eu fiquei ali esperando. Ele me atendeu às nove horas da noite, em pé e mandando-me falar rápido. Eu disse: “Ó Senador, eu sou de Itapetinga. Eu sou da Bahia também”. Ele me perguntou: “E qual é a diferença?” Eu lhe disse: “Minha mãe sempre votou no senhor”. Ele replicou: “Mas, naquele seu Município, eu quase nunca ganhei”. Refutei: “Mas isso não invalida o voto da minha mãe”. Perguntou-me: “É de Itapetinga você?” Respondi: “Sim, senhor”. Ele me disse: “Então, vou-lhe contar uma história de Itapetinga que você não sabe”.

Os Deputados estavam em volta dele, não sei se o Paulo se lembra de que estava lá com ele - o Paulo Magalhães ali. Aliás, acho que vocês todos tinham que falar hoje - você, ACM Neto. Esse negócio de burocracia em sessão solene não existe. Quando vou à Câmara em sessão solene e é alguma coisa do meu Estado, fico ali sentado e, quando alguém termina de falar, eu vou ao microfone e digo: “Ô Sr. Presidente, se eu pudesse falar, eu ia falar; como aqui não pode, é vedado, Senador não fala, quero abraçar as pessoas homenageadas”. E eu me sento de novo.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - O Senador ACM Júnior vai falar. Há pouco perguntei se o Senador, se o Deputado ACM Neto gostaria de falar.

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - O senhor está profetizando que ele vai ser Senador?

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Senador é o pai.

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - É o caminho natural.

E ele passou a me contar uma história: “Pergunte a sua mãe que ela vai lhe contar; você é muito novo e não sabe da história. Uma vez, quase ganhei a eleição no seu Município. Minha Arena forte. Apareceu uma miséria de um menino de 13 anos de idade. Colocaram esse menino no palanque do adversário, e esse menino virou a eleição. Chegou de tal forma que não podia fazer dois comícios no mesmo dia. Eles entregavam tudo o que estava acontecendo para o menino, e o menino falava tudo de noite. O menino ganhou a eleição para um tal advogado e fiquei impressionado com a mente dele: Evandro Andrade”.

E perguntou: “Mas o que você quer mesmo?” Respondi: “Eu queria entrar na CPI do Narcotráfico, queria uma vaga. O senhor arrume para mim? Peça a Inocêncio, porque ele não quer me colocar”. Ele disse: “Eu não posso fazer nada, não.

Lá quem manda são eles. Eu só resolvo aqui”. Eu falei: “Então, tá bom. Obrigado pela educação do senhor. Mas eu quero dizer uma coisa ao senhor. Eu não posso perguntar isso para a minha mãe, porque ela já morreu, com 57 anos de idade. Mas eu quero dizer para o senhor que o menino sou eu”. Ele replicou: “Eu estava te reconhecendo. Você não falou num comício em Feira de Santana, em uma campanha de Deputado, do meu lado?” Respondi: “Falei”. Ele disse: “Você se lembra do que eu falei?” Eu disse: “Nunca me esqueci”. Ele: “O que eu falei aquele dia, quando você terminou?”. Eu: “O senhor me abraçou e me mandou ir em frente, porque o Brasil precisava de homens que tivessem a visão que eu tinha quando era menino.” E ele ficou me olhando e falou: “Eu vou falar com o Inocêncio. Eu vou te ajudar”.

E no outro dia realmente o Inocêncio me chamou e disse que ele havia pedido para me dar uma vaga, mas falou para mim que não podia dar. Aquele jeito do Inocêncio, com o dedo no rosto: “Que...que eu não posso...Que...que o Senador já... já falou...Mas que que eu não posso” e tal. Eu agradeci. E fiquei feliz que o Senador falou.

No outro dia, por causa de CPI de Judiciário, Senador Valadares, eu leio no jornal a briga. O Ministro Almir Pazzianoto, do Trabalho, enfrentando ele, porque ele estava batendo no TRT, de Lalau. Só que ele não agüentou a briga, pois era desigual mesmo. Era uma carreta contra um fusca. E ele tocou na memória de Luís Eduardo. Eu li aquilo e fiquei muito triste, porque eu lhe tinha admiração. Eu era Vereador em Cachoeiro do Itapemirim e ouvia falar do respeito que todo o Congresso Nacional tinha pelo Luís Eduardo.

Aliás, quero lembrar ao Senador Arthur Virgílio, que contou daquela última sessão dele, quando todos os Parlamentares o elogiaram, que o Parlamentar que o fez chorar foi o Deputado Fernando Gabeira. Ele havia se pronunciado em favor de Gabeira contra uma negativa dos Estados Unidos de deixá-lo naquele país. E Gabeira disse assim - eu me lembro muito bem: “Eu sempre ouvi dizer, e essa é a verdade da história, que o filho sempre se parece com o pai, mas eu passei a admirar o senhor, porque, a cada dia que passa, o senhor está ficando cada vez mais parecido com seu filho”. E ele começou a chorar. Essa foi a passagem que o Senador Arthur Virgílio contou, sem se lembrar de quem era o Parlamentar.

Eu tinha tanta admiração pelo Luís Eduardo, sem conhecê-lo, que, ao abrir aquele jornal, fui pedir ao Líder do meu Partido que me desse dez minutos do Partido para que eu pudesse defender a memória de Luís Eduardo. Eu estava ofendido! Acho que não se toca nem em filho vivo quanto mais em filho morto! Eu não tinha ligação nenhuma com a família, eu não conhecia Luís Eduardo. Eu só sabia que ele tinha unanimidade de relacionamento no Congresso Nacional. O Líder do Partido me falou: “Rapaz, você somente tem seis meses que está aqui. Quer falar todo dia?” Eu disse a ele sobre o que eu iria falar. Ele me disse: “Não, quem vai falar sou eu. Dudu era meu amigo. Está aqui o meu discurso”. Ele o chamava de Dudu. Eu falei: “Que pena. Você defender a memória dele é feio - não é tão feio, mas mais bonito sou eu, que nem o conhecia. Você, não. Era amigo. Eu nem o conhecia. Deixe-me defendê-lo”.

Lembro-me, Senador César Borges, de que era uma quarta-feira, plenário cheio, e eu fiz um discurso defendendo a memória de Luís Eduardo. Vou até pedir para resgatar esse discurso na Câmara. Discurso de pai. Eu me assustei, porque, quando terminei o meu discurso, Senador Inácio Arruda, meu colega Deputado Federal - V. Exª se lembra - aparteado que fui pelos Deputados Federais, fui aplaudido de pé pela Câmara dos Deputados ao defender a memória de Luís Eduardo.

Quando eu desci da tribuna, o Deputado Inocêncio Oliveira se aproximou de mim e disse: “Que...que o PFL vai te dar uma vaga”. Perguntei: “Onde?” E ele: “Na CPI. E...e tem mais, a Presidência é...é do PFL e que...que você vai ser o Presidente”. Então Luís Eduardo me pôs na Presidência da CPI do Narcotráfico.

São dois momentos importantíssimos na minha vida. Meu primeiro discurso foi olhando para o ACM repetindo a minha história que ele contou para mim. Para que o Plenário pudesse entender o que eu estava contando, eu não contei a minha história. Eu disse: “Eu vou contar uma história que o Senador Antonio Carlos me contou.” Eu, filho da faxineira, filho de Dada, cheguei a esta Casa. E ele contou a história de um menino de 13 anos, de Itapetinga, nascido em Macarani.

E hoje, nesta sessão que lhe rende homenagens. É verdade que nós queríamos é tê-lo aqui. Não tão-somente a sua família mas também aqueles que o admiravam.

ACM era o Flamengo. Quem gosta gosta à vera. Quem não gostava, paciência! O Flamengo é assim. O Flamengo é grande maioria, e o Senador ACM conviveu com essa maioria. Quando ACM falava de pobre, falava, de fato, com o coração.

Foi embora ACM, mas o nome dele está escrito. Se em nada estivesse escrito, estaria escrito no Fundo de Combate à Pobreza. E essa relação dele, de forma tão contundente e significativa, com os pobres da Bahia, sem dúvida alguma, imagino que tenha sido a sua maior marca.

Em cada Estado, imagino que até naqueles em que não lhe rendiam homenagem nem admiração, já ouvi de muitas pessoas: “Gostaria de que houvesse, no meu Estado, um político como ACM, que tudo é a Bahia, tudo é a Bahia, absolutamente tudo é a Bahia”.

Senador Renan Calheiros, o Senador Arthur Virgílio, por exemplo, na tribuna, cresce num momento de emoção. Num momento de emoção, a mim fogem as palavras. Eu não sei realmente lidar com elas num momento tão emocional e tão significativo como este, que vou levar de forma tão afetiva no meu currículo, na minha vida, na minha história.

Há dois momentos significativos para mim: a minha posse e este momento do passamento do Senador Antonio Carlos.

No ano passado, sofri um ataque infernal contra a minha vida. Lembro-me de que, entrando na CCJ, ele não havia chegado, eu assinei e saía. Quando saía, ele vinha vindo. Pôs a mão debaixo do meu queixo, levantou a minha cabeça e falou: Levante a cabeça, porque se este País tem 10 homens honestos, você é um deles.

Depois de tudo o que ouvi no tempo em que estive no plenário e no tempo que estava no meu gabinete, assistindo pela televisão, de todos os que por esta tribuna passaram, com seus relatos mais significativos de amizades de 30, 40 e 50 anos, de amizades novas e velhas, cada um com uma história para contar, eu fico dizendo a mim mesmo: de todos os que falaram eu era o único que não podia faltar. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/08/2007 - Página 26948