Pronunciamento de Heráclito Fortes em 15/08/2007
Discurso durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Críticas a campanha publicitária do Banco do Brasil, intitulada "Decida pelo 3. E conte com o banco que é todo seu", veiculada na imprensa.
- Autor
- Heráclito Fortes (DEM - Democratas/PI)
- Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
REFORMA POLITICA.
BANCOS.:
- Críticas a campanha publicitária do Banco do Brasil, intitulada "Decida pelo 3. E conte com o banco que é todo seu", veiculada na imprensa.
- Aparteantes
- Edison Lobão, Eduardo Suplicy, Jarbas Vasconcelos, Sibá Machado, Tasso Jereissati.
- Publicação
- Publicação no DSF de 16/08/2007 - Página 27583
- Assunto
- Outros > REFORMA POLITICA. BANCOS.
- Indexação
-
- COMENTARIO, CAMPANHA, PUBLICIDADE, BANCO DO BRASIL, DEFESA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, SUSPEIÇÃO, TENTATIVA, INICIO, DEBATE, RENOVAÇÃO, MANDATO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, APREENSÃO, ORADOR, PROPOSTA, BANCADA, GOVERNO, ASSEMBLEIA CONSTITUINTE, EXCLUSIVIDADE, DEFINIÇÃO, REFORMA POLITICA, RISCOS, AUTORITARISMO.
- CRITICA, BANCO DO BRASIL, INCOMPETENCIA, PUBLICIDADE, FALTA, CRITERIOS, ESCOLHA, DIRETOR, MARKETING, ANUNCIO, PEDIDO, CONSELHO, SETOR, SUSPENSÃO, CAMPANHA, PROTESTO, GASTOS PUBLICOS, GESTÃO, BANCO OFICIAL, PREJUIZO, SEMESTRE.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, meu caro Sibá Machado, meu pai, funcionário público lá no Piauí, não tinha dinheiro para colocar em banco; colocou os filhos. Eu tenho três irmãos que eram funcionários do Banco do Brasil: dois morreram e um está vivo. Essa ligação faz com que eu esteja sempre a par dos fatos que ocorrem dentro daquela tradicional instituição bancária. Na legislatura passada, nós discutimos aqui vários desacertos do Banco do Brasil.
Voltando aos dias de hoje, há cerca de 15 dias, fui alertado por um funcionário do banco que uma campanha institucional, que seria lançada com grande destaque pelo Brasil, tinha um objetivo subliminar: começar a discutir e a fomentar a possibilidade de o Presidente Lula disputar um terceiro mandato. Confesso-lhe que, num primeiro momento, achei aquilo absurdo, baseado no que os próprios colegas de V. Exª dizem com relação à perpetuação da reeleição, aliás copiando o modelo de país vizinho, que está muito na moda. Mas depois comecei a ouvir vozes discordantes dentro do próprio Partido, onde há os que defendem, os que são contra e os que de maneira sofisticada, Senador Jarbas, começam a pregar uma Constituinte exclusiva, rápida e objetiva, cujo tema seria a reforma política.
Na quinta-feira, fui alertado para prestar atenção à campanha, que se iniciou colocando nas ruas das principais cidades do Brasil o número 3, que nada significava. No fim de semana, a charada foi, finalmente, esclarecida: o Banco do Brasil, numa campanha de R$10 milhões, estampou nas revistas e na televisão brasileira, incluindo jornais, essa campanha sem objetividade e sem nenhuma clareza: “Decida pelo 3. E conte com o banco que é todo seu”. Senador Jonas Pinheiro, embaixo consta: “Banco do Brasil, o banco da sustentabilidade”.
A mediocridade da campanha, se realmente não tem objetivo duplo, é de envergonhar qualquer um. Começa dizendo: “Decidir pelo 3 é tomar, pelo menos, três atitudes por dia pensando na sustentabilidade. Pode ser apagar a luz, fechar a torneira e ensinar alguém. Pode ser plantar uma árvore, catar uma latinha no chão e agir com ética”.
Essa parte de agir com ética, dentro da propaganda subliminar, é exatamente para justificar que a intenção não é partidária, porque ética é uma palavra não muito comum na base desse Partido que hoje governa o País.
“Apenas três”, conclui. E por que não quatro?, pergunto. E por que não cinco? E por que não seis?
Ora, num dia de 24 horas, fazer apenas três boas ações pela manhã induz à ociosidade ou, então, fixa a pessoa no três, que é o início de uma campanha para lembrar a possibilidade - atentem para isto, Srªs e Srs. Senadores -, de se rasgar a Constituição brasileira.
Em suma, começa-se a especular, neste País, a tentativa de um golpe. O Banco do Brasil é useiro e vezeiro em campanhas inócuas que descaracterizam aquela instituição. No ano passado, gastou-se uma fortuna numa campanha em que se mudava o nome do Banco - num lugar era José, no outro era Antonio, no outro era Luiz. A grita foi tão grande que foi preciso o Banco do Brasil rever aquela campanha.
Senador Jarbas Vasconcelos, eu vou entrar com um pedido no Conar para que o órgão suspenda essa campanha, porque ela, de duas, uma: é uma campanha subliminar ou é uma campanha de uma imbecilidade e de uma falta de objetividade para um banco do porte do Banco do Brasil, que merecem punição os autores. O Diretor da área de marketing, Sr. Cafarelli, é de origem conhecida, de um grupo conhecido no Banco do Brasil: pertence aos aloprados, colega do Mexerica. Tem ligações que o Banco inteiro sabe. Tiraram aquele outro da gravatinha borboleta, que se desentendeu com o Gushiken, e o substituíram por outro da mesma escola, o que é um crime.
Hoje pela manhã, recebi um telefonema do Sr. Lima Neto, Presidente do Banco, homem cortês, educado, que usou alguns argumentos. Eu apenas chamei-lhe a atenção, dizendo que ele poderia estar caindo na mesma esparrela em que o ex-Presidente Rossano Maranhão caiu: ser patrulhado e ter as suas ações cerceadas por esse grupo que assumiu de maneira pouco clara as ações do Banco do Brasil.
Quando nós aqui, desta tribuna, denunciamos que o Sr. Mexerica estava bisbilhotando contas bancárias de políticos brasileiros, duas vozes vieram aqui e desmentiram. Um mês depois, ficou provado. Afastaram o Mexerica, mas colocaram o Mexerica dois, o três no mesmo local. Quando estourou o caso dos aloprados, viu-se que a mesma estrutura de espionagem e de mexericagem nas contas dos correntistas daquele banco estavam sendo feitas e deu naquele escândalo de Mato Grosso com a prisão de alguns aloprados no hotel de São Paulo.
Não tenho nenhuma dúvida de que o Sr. Lima Neto é um homem bem intencionado, mas tenho convicção de que está mal informado sobre o que se passa nos bastidores desse banco.
A campanha é cara, Senador Augusto Botelho. E hoje recebi do Relações Públicas do Banco esta peça fantástica, com fita cassete, livros - campanha, Senador Jarbas, de desperdício -, e esta camiseta. Veja bem, não tem logotipo, não tem logomarca, não tem nada do Banco do Brasil, apenas o número três.
É estranho e é ilegal, porque não identifica aqui, em local algum, a origem de quem pagou e o porquê dessa campanha.
Estou chamando a atenção para este fato, Senador Efraim Morais, para que o Brasil acorde e fique atento aos gastos que estão sendo feitos com dinheiro público. E isso ocorre no momento em que o Banco do Brasil teve uma queda de lucratividade pouco vista na história. E aí, Senador Tasso Jereissati, não sei se V. Exª observou, houve um prejuízo, nesse semestre, de R$10 milhões. Esse dinheiro foi exatamente para pagar as tontices dos aloprados no Banco Popular, que V. Exª e o Senador Arthur Virgílio, há dois anos, denunciaram e que, por conta daquilo, abriu-se a ponta do iceberg dos gastos indiscriminados com cartão corporativo. Todos desmentem e, em seguida, os fatos mostram com que gravidade manipulam-se recursos públicos.
O banco da sustentabilidade. Sustentou campanha de aloprado, shows realizados em churrascaria de Brasília e por aí afora. Estou alertando o País para este fato. Já começa haver um desmentido ilógico por parte de diretores do banco. Mas, Senador Tasso Jereissati, não há justificativa para que um banco do porte do nosso querido BB gaste a fortuna que está gastando em uma campanha sem pé e sem cabeça.
Concedo, com muito prazer, um aparte ao Senador Tasso Jereissati.
O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Senador Heráclito Fortes, preocupa-me muito o que está acontecendo nestes dias em nosso País. Algumas coisas que pensei que não veria acontecer novamente neste País começam a acontecer, trazendo enormes preocupações para todos nós. Essa propaganda - não sei se V. Exª já leu todo o texto da propaganda...
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Li.
O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Gostaria de pedir a V. Exª que lesse o trecho final.
Senador Arthur Virgílio, se o Presidente permitir, peço autorização para que o Senador Heráclito Fortes leia o trecho final da propaganda, que está nas revistas Veja, Época e IstoÉ desta semana.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - O último parágrafo?
O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - O último parágrafo.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - “Em todo lugar que você vir este número, saiba que ali existe uma maneira de cuidar do meio ambiente, das pessoas e do país”.
O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - E do País. Propaganda do Banco do Brasil. Se V. Exª prestou atenção, há o número três. Pode mostrar a propaganda, Senador Heráclito Fortes? Três. Em toda a cidade de Brasília hoje, por onde se passa, há outdoors com a inscrição do número três e camisetas espalhadas com o número três. A propaganda do Banco do Brasil, que está em todas as revistas, tem o slogan, embaixo, de “Banco da sustentabilidade”. Sem querer abusar, Senador Heráclito Fortes, repita o trecho final.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - “Em todo lugar que você vir este número, saiba que ali existe uma maneira de cuidar do meio ambiente, das pessoas e do país”.
O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Nós sabemos muito bem que não é o que o Banco do Brasil faz. Não cuida das pessoas, nem do meio ambiente, nem do País. É um absurdo, uma propaganda praticamente de cunho subliminar, com recursos públicos, digna da história dos países mais...
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Parece que vamos ter uma resposta. O Senador Sibá Machado está sendo informado aqui. Espero que S. Exª desvende a questão.
O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Não tem quem entenda, Senador Sibá Machado. Fiz um teste, Senador Sibá Machado, para saber se alguém entende esse três e sua ligação com os produtos e serviços que o Banco do Brasil vende. Até agora não encontrei uma pessoa que conseguisse entender essa ligação.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me concede um aparte? Quando o Senador Tasso Jereissati tiver terminado, gostaria de fazer um aparte.
O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Ao lado disso, vemos o apagão aéreo que causou todas essas infelicidades. Tenho sempre dito que se trata apenas da ponta do iceberg do apagão da administração pública, como o apagão da Petrobras. Todas as empresas petrolíferas do mundo aumentaram o lucro tremendamente, mas a Petrobras teve uma queda violenta de seus lucros. No Banco do Brasil aconteceu a mesma coisa. Ou seja, estão tentando encobrir a tremenda bagunça que se instalou na máquina pública brasileira, nos serviços públicos brasileiros, por meio de uma propaganda de tendência totalmente totalitária, e usando recursos públicos. Parabéns, Senador Heráclito, por essa advertência. Precisamos observar, sob o ponto de vista legal, o que pode e deve ser feito em relação à questão.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Poderia ser feita uma representação ao Conar.
Concedo um aparte ao Senador Eduardo Suplicy, com o maior prazer.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Heráclito Fortes, hoje, V. Exª me colocou numa situação em que vieram me perguntar o que aconteceu. Eu disse: “O Senador Heráclito Fortes, muitas vezes, trata-me com grande respeito, mas, se S. Exª começa a falar uma coisa que não condiz com o que é real, tenho de reagir”. Então, apenas como introdução, quero dizer que, como V. Exª mencionou que não acredito naquilo que falo - algo assim -, precisei reagir com veemência. V. Exª conhece minha história e sabe que as coisas que falo estão de acordo com as idéias pelas quais acredito e fui eleito. Não conhecia esse anúncio a que V. Exª se refere. Acho perfeitamente legítimo que todos nós, Senadores, como o Senador Tasso Jereissati e como V. Exª, venhamos a perguntar sobre isso à direção do Banco do Brasil. Eu me disponho a fazer isso e vou fazê-lo de pronto, porque não sei o que significa o “3”.
Mas algo eu sei e quero lhe falar sobre a hipótese que V. Exª aventou. A Bancada do Partido dos Trabalhadores no Senado Federal teve a oportunidade de jantar e conversar informalmente com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na minha residência - estávamos todos, exceto o Senador Augusto Botelho, porque teve um impedimento no seu Estado, não pôde vir naquela noite; estávamos os dez Senadores presentes - e, em determinado momento em se falou da possibilidade eventual de nova eleição do Presidente Lula, a reação dele foi, inicialmente, de brincar, dizendo que nós não sabíamos como é bom ser o governante desta Nação. Mas, em seguida, com muita firmeza, ele disse a todos nós que considera que o Partido dos Trabalhadores não pode e não deve, de forma alguma, estar aventando a hipótese de ele novamente ser eleito logo após esse mandato. Segundo ele, as palavras que recordo, isso seria contra o aperfeiçoamento da democracia no Brasil. E ele disse com firmeza, aí falando muito sério para todos nós Senadores, que, de maneira alguma, isso deve ser objeto de consideração pelo Partido dos Trabalhadores.
Portanto, quero dar a V. Exª o testemunho aqui do que ouvi do próprio Presidente, numa situação informal, em que ele expressou o seu sentimento. Em outras ocasiões, também li declarações do Presidente Lula, ao longo deste ano - o primeiro ano do seu novo mandato -, como em cafés da manhã para jornalistas, disse com muita firmeza que não há cogitação de se estar propondo um novo direito de reeleição, de se modificar a Constituição, para que possa haver essa hipótese. De forma que quero tranqüilizar V. Exª e o Senador Tasso Jereissati.
O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Permite-me V. Exª um aparte?
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - É o Senador Heráclito quem pode conceder.
O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - V. Exª me concede um aparte de trinta segundos?
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Senador Expedito Suplicy, ...
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Por favor, Senador Heráclito Fortes, agradeceria se V. Exª me tratasse com o respeito com que sempre o tenho tratado.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Estou chamando-o de um nome de Santo.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Mas o meu nome é Eduardo.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - O santo defensor das causas impossíveis. V. Exª está tornando-se aqui um Santo Expedito. É o defensor oficial das causas impossíveis deste Governo.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - O Santo Eduardo também é capaz de muitas coisas.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Senador Suplicy, o que significa este “3”, pago com o dinheiro do contribuinte, bancado pelo Banco do Brasil, sem nenhuma referência, sem a logomarca do Banco, sem nada?!
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Então vou explicar a V. Exª, de acordo com o responsável da criação dessa comunicação.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Quem foi?
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Criada pela Master Comunicação, uma nova campanha divulga os planos de sustentabilidade do Banco do Brasil. Após espalhar por seus edifícios, em todo o País, adesivos e cartazes que estampavam “3”, finalmente ...
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - V. Exª está lendo o folder para justificar.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) -... o Banco revela o mistério por trás da simbologia do número ao veicular um filme de três minutos que conta a história do planeta Terra e da humanidade, ressaltando as mudanças que marcaram ambos. O esforço de comunicação compreende, além do comercial e das ações de endomarketing e marketing viral, anúncios, spot de rádio e inserções na Internet.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Como é? Viral? Repita por favor.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - A idéia do número nasceu da Agenda 21, documento do Banco que reúne um conjunto de políticas e ações para reforçar o compromisso de direcionar sua atuação em sustentabilidade. O “3” vem de “2+1”, soma dos números presentes no nome do documento...
O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Agora, está explicado: 2+1. Poderia vir também de 1+2.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Parabéns!
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ... e enfatiza o objetivo da instituição financeira que é incentivar as pessoas tomarem ao menos três atitudes diárias pelo bem de todos. Esta aí.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Quais são as atitudes?
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) -.As três atitudes diárias que V. Exª, como Senador do Democratas, procura realizar pelo bem de todos.
Quais são as três que V. Exª realizou hoje pelo bem de todos? É esse o sentido.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Já fiz uma que vale por dez.
Agora imagina o Presidente de V. Exª só praticar três boas ações por dia. O que faz no resto do dia? Não faça isso, não
Não subestime o seu Presidente, que tem uma capacidade de trabalho invulgar. Não faça isso com o seu Presidente! Só três? E o resto do dia?
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Essa foi a explicação da Empresa.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Por isso que lhe digo com todo o carinho, V. Exª está se transformando no Santo Expedito do plenário, defensor de causas impossíveis. Estão lhe delegando, e quando digo que V. Exª defende sem convicção algumas questões, é porque sei que no fundo da sua alma....
(Interrupção do som.)
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Senador Jarbas Vasconcelos, com prazer.
O Sr. Jarbas Vasconcelos (PMDB - PE) - Senador, um Governo que cria a figura dos aloprados e com eles convive é capaz de tudo. Partindo dessa premissa, se realmente a figura do Presidente da República se envolve e permite uma campanha subliminar dessa natureza, o fato é gravíssimo, não só para o Poder Legislativo, mas também, na hipótese, para o Poder Judiciário. Segundo, Sr. Presidente e Senador Heráclito Fortes, veja o desperdício. Se o Banco do Brasil, que é o maior Banco do País, tem a campanha publicitária no valor de R$ 10 milhões e essa campanha publicitária, Tasso Jereissati, tem de ser explicada para se saber o que é, imaginem que desperdício. Um banco na intenção de captar recursos, de melhorar o seu balanço, de aumentar as suas potencialidades faz uma campanha milionária e essa campanha tem de ser explicada e, até agora, ninguém do Governo ou do PT aparece aqui para explicar. É uma situação de surrealismo que este País vive com o Governo Lula inacreditável, Senador Heráclito Fortes! De forma que quero dizer a V. Exª, trocando em miúdos, partindo de um Governo que convive com aloprados, tudo é possível. Em segundo lugar, quero ressaltar a questão, que aqui não foi ressaltada, do desperdício. O Banco joga fora, no lixo, pelo ralo, milhões de reais que pertencem ao povo brasileiro para uma campanha publicitária que ninguém sabe o que é, qual é o seu alcance, qual o seu objetivo. V. Exª está atrás disso e não consegue, e ninguém apareceu para explicar.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permita-me, Senador Heráclito Fortes. Eu gostaria apenas de dizer o seguinte: tendo em conta essa hipótese que V. Exªs e os demais Senadores estão colocando, eu próprio transmitirei ao Presidente do Banco do Brasil que esta publicidade está dando margem a uma interpretação que não condiz com o pensamento do Presidente da República, conforme ele próprio transmitiu a nós, Senadores do Partido dos Trabalhadores. Assim, recomendarei que seja substituída a presente publicidade.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - E devolvido aos cofres públicos o dinheiro gasto indevidamente, porque a impunidade, Senador Eduardo Suplicy, está exatamente nisto: um gasto que depois fica por isso mesmo. O Banco do Povo - está aí o balancete do Banco do Brasil - deu um prejuízo de R$10 milhões. Senador Sibá Machado, estou com o tempo exíguo, mas sei que V. Exª está anotando e já levantou o microfone de apartes, eu gostaria de ouvi-lo, com o maior prazer.
O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - V. Exª concluiu o seu pronunciamento, Senador Heráclito Fortes?
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Não, estou aguardando o aparte do Senador Sibá Machado, com o maior prazer, meu conterrâneo, meu amigo, um homem justo.
O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Heráclito Fortes, confesso a V. Exª que eu ainda não havia acompanhado a propaganda do Banco do Brasil. Trata-se de uma publicidade, sim, de uma estratégia de marketing destinada a provocar a nossa população para que dê sua parcela de contribuição ao tema do aquecimento global. Esse é o único e exclusivo objetivo do Banco do Brasil com relação a essa propaganda. Entendo que V. Exª compreenda dessa maneira, ou seja, que o número três pode ser utilizado para diversos outros objetivos, mas está fora de cogitação qualquer interesse do nosso Governo e, principalmente, do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Isso foi dito pelo Senador Eduardo Suplicy reiteradas vezes. Fui um dos que lhe fizeram essa pergunta, porque um Deputado do PT de São Paulo teria sugerido, numa reunião do Partido, que se fizesse um debate sobre a possibilidade de um terceiro mandato. O Presidente Lula foi enfático, duro e objetivo: “Não brinquemos com a democracia. Já tivemos momentos muito difíceis, no Brasil, e não vamos permitir que esse tipo de coisa aconteça entre nós.” Portanto, não cabe a nós sequer pensar numa possibilidade dessa natureza. Então, nesse caso, o número três, que parece uma coisa apócrifa, como foi explicado por um dos diretores do Banco do Brasil, trata-se apenas de uma estratégia de marketing.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Qual foi o diretor? V. Exª pode dizer o seu nome?
O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Posso perguntar, mas não memorizei seu nome. Posso verificar em seguida. Ele disse que é uma estratégia de marketing.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - É o Dr. Cafarelli?
O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Posso verificar.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Paulo Rogério Cafarelli é o responsável, é o que substitui.
O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Não posso dizer o nome porque o esqueci, mas posso dizê-lo para V. Exª daqui a pouco.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Como era o nome daquele diretor do banco que foi demitido?
O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Eu queria apenas concluir a explicação que ouvi do diretor do banco. Simplesmente, o número três é uma estratégia de marketing. Qualquer empresa pode levantar uma pergunta que gere curiosidade na população. A explicação é esta: queremos iniciar, no Brasil, uma campanha para que cada brasileiro tome três atitudes - no dia, na semana, no mês ou no ano - para colaborar com o não-aquecimento global. Essa é a única finalidade.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - V. Exª não perguntou por que não quatro ou cinco?
O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Escolheram o três e essa é uma opção da empresa que está fazendo o marketing do banco. Poderia ser o um ou o dois, mas escolheram o três. Isso não tem, absolutamente, relação com a preocupação de V. Exª, de que se estariam induzindo as pessoas a pensarem no terceiro mandato. A resposta sobre o mandato é esta, do Presidente Lula, e acredito que do interesse do nosso Partido: não há possibilidade alguma de discutirmos um terceiro mandato. Aliás, somos autores do projeto, cujo Relator é o Senador Tasso Jereissati, para se encerrar o instituto da reeleição ao segundo mandato. Essa é a nossa posição oficial.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Senador Sibá Machado, o Presidente Lula, em 2002, declarou, peremptoriamente, que não seria candidato. Estimulada foi a candidatura do meu querido “Expedito” Suplicy, que percorreu o Brasil inteiro como candidato.
Senador Eduardo Suplicy, é verdade ou não é?
Na última hora, o Lula resolveu ser candidato e foi um Deus nos acuda para tirar o Suplicy. O Suplicy queria a prévia e a história está aí para contar.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - O Partido dos Trabalhadores foi o primeiro, na história política do Brasil, a fazer uma prévia, realizada em 17 de março de 2002.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Reforça o meu argumento.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Lula recebeu, dos 172 mil que compareceram, 84,4% dos votos. Eu tive 15,6% dos votos. Resolvi apoiá-lo e continuo fazendo isso, mas o Presidente Lula, de maneira alguma, segundo o que ele nos transmitiu, quer que haja o direito de nova reeleição.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Eu estou só lembrando.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Conforme o Senador Sibá Machado relembrou, sou favorável a que venhamos a extinguir o direito de reeleição.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Eu estou-lhe dizendo isso porque, em política, só não muda quem se demite do direito de pensar. O Lula, naquele momento, pensou de um jeito e V. Exª entrou na campanha. Depois, enfrentou a prévia e ficou marcado pelo Lula e pela turma dele nos quatro anos, não foi Suplicy? Comeu o pão que o diabo amassou, aqui: maltratado, escurraçado, destituído da possibilidade de liderar seu partido, o qual, aliás, defende mais do que muitos.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Sempre defendi aquilo que me fez ser convidado a ingressar no PT e vou continuar a fazê-lo, ainda que V. Exª diga algo que não é correto, porque o que eu defendo aqui é exatamente o que penso.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Às vezes.
Concedo um aparte ao Senador Tasso Jereissati.
O Sr. Tasso Jereissati (PSDB - CE) - Corroborando o que V. Exª disse, das duas, uma: ou o Banco do Brasil está sendo dirigido de uma forma inteiramente incompetente, uma vez que, pelo seu balanço, é o único banco brasileiro cujo lucro diminuiu - aliás, é o único banco de seu porte em que isso aconteceu -, ou existe uma utilização despudorada da máquina do Banco do Brasil para fazer uma campanha subliminar, de cunho totalitário, em defesa do Governo. O próprio Senador Eduardo Suplicy, que é professor da Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas, foi incapaz de entender o significado dessa propaganda e qual era seu benefício para o Banco do Brasil. O Senador Sibá Machado, que não é professor da Fundação, mas, como demonstrou várias vezes, é uma pessoa de profunda sagacidade e inteligência, também não conseguiu perceber o que significava essa publicidade. Ambos precisaram ligar para o banco e perguntar isso. Então, das duas, uma: ou é muita incompetência, ou é um despudorado uso da máquina para fins políticos.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Sr. Presidente, encerrando, quero dizer que o banco saiu, num passe de mágica, daquela outra campanha bilionária do banco do José, do João, do Pedro, do Chico, para o banco da sustentabilidade. Para sustentar quem? Os aloprados? Para sustentar o quê? Essa máquina imposta pela patrulha ideológica, que bisbilhotou contas e deu no que deu, no episódio dos aloprados?
Estão brincando com a instituição chamada Banco do Brasil! Não há justificativa para a queda do seu lucro. É um absurdo! É a confiança na impunidade que está assolando este País, Sr. Presidente. O Governo deveria ter mais responsabilidade nas suas ações. O Governo deveria ter mais zelo pelo patrimônio público.
Esta camiseta, feita às custas do contribuinte brasileiro, traz o número três na sua frente e nenhuma indicação, Senador Edison Lobão, do Banco que a pagou.
Concedo um aparte, com o maior prazer, ao Senador Edison Lobão.
O Sr. Edison Lobão (DEM - MA) - Senador Heráclito Fortes, tenho muita dificuldade de, às vezes, discordar de V. Exª, seja porque V. Exª é meu amigo - um grande amigo, da minha estima pessoal -, seja por ser um dos Líderes mais importantes do meu Partido, mas acredito que o Banco do Brasil, essa instituição secular da qual todos nos orgulhamos, não se prestaria nunca a uma atitude dessa natureza: colocar-se a serviço de uma candidatura presidencial. Embora a direção do banco seja nomeada pelo Governo, o banco é do Brasil, é de todos os brasileiros. Digo a V. Exª que o meu apreço pelo Banco do Brasil é de tal modo extenso, que eu vou pessoalmente apurar essa situação. Se eu não me convencer de que o Banco está agindo de boa fé, eu ficarei solidário com V. Exª. Se não, eu pelo menos trarei algumas explicações a respeito do assunto.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Senador Edison Lobão, melhor aparte não poderia ter acontecido para este meu pronunciamento. E vou fechá-lo com a consciência tranqüila de que cumpri meu dever.
O Senador Edison Lobão é amigo pessoal do ex-Presidente do Banco do Brasil, Sr. Rossano Maranhão. Senador Edison Lobão, peço que V. Exª acompanhe bem esta observação. Por seu intermédio, conheci o Dr. Rossano, e passei a admirá-lo. Fiz uma queixa, aqui da tribuna, de que estavam bisbilhotando contas de Parlamentares, em um esquema instalado no 20º andar - não me lembro agora - do Banco do Brasil. Na sua presença, historiei ao Presidente do Banco do Brasil, que julgou difícil aquilo ser um fato. Dois meses depois, estoura a situação do “Sr. Mexerica”, no famoso caso do caseiro, e ficou comprovado que o Banco do Brasil, juntamente com funcionários da Caixa Econômica, bisbilhotaram, de maneira criminosa, a privacidade bancária de cidadãos brasileiros.
Mais adiante, há outro episódio envolvendo um substituto do “Sr. Mexerica”, na Diretoria do Banco do Brasil, e o mesmo caso ficou conhecido como o “caso dos aloprados”. O Sr. Rossano, homem de bem, cansou do que viu e da falta de força para dominar aquela estrutura, e pediu demissão. Não desacredite das palavras deste seu velho companheiro.
O Sr. Edison Lobão (DEM - MA) - Mas só acredito...
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - O que estou mostrando aqui, Senador Edison Lobão, acompanhe comigo...
O Sr. Edison Lobão (DEM - MA) - Mas espere um pouco. Eu não desacredito...
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Onde está o Banco do Brasil?
O Sr. Edison Lobão (DEM - MA) - V. Exª me permite só uma ligeira interrupção? Eu não desacredito nunca de V. Exª. Eu ponho em dúvida que o Banco esteja a serviço de uma causa que não seja nobre. No caso do Presidente Rossano, houve exatamente isso que V. Exª relata, mas o Presidente Rossano tomou todas as providências que pôde tomar...
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Evidente, e ficou indignado.
O Sr. Edison Lobão (DEM - MA) - Ficou indignado, puniu muita gente, ou seja,...
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Claro, eu fui testemunha. Tanto que, quando falaram no nome dele agora para a Infraero, eu disse: duvido que aceite.
O Sr. Edison Lobão (DEM - MA) - Pois é. Há uma orientação da direção superior do Banco do Brasil no sentido de que tudo ocorra dentro da lei, da ordem e da legalidade. Às vezes, nem sempre acontece.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Quero pedir um favor a V. Exª.
O Sr. Edison Lobão (DEM - MA) - Fá-lo-ei com todo prazer.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Não cabe em mim, mas, com certeza, cabe em V. Exª. Quando for ao Banco do Brasil, vá com ela por dentro da camisa do terno, e peça para mostrar onde é que está a logomarca do Banco do Brasil em toda esta camisa.
O Sr. Edison Lobão (DEM - MA) - Senador Heráclito Fortes, essa é uma camisa de elegantes. V. Exª não é um homem deselegante. Portanto, poderia também usá-la.
O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Ademais, é uma camisa com a cor de qual Partido? Do PSDB. É tipicamente uma cor tucana. Será que é para o terceiro mandato do Presidente Fernando Henrique Cardoso? É possível. Eu vou perguntar ao Presidente do Banco do Brasil.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Santo Expedito Suplicy, mais uma vez, V. Exª vai me permitir acender velas a seus pés. Eu nunca vi uma força tão grande para defender causas tão impossíveis como V. Exª.
O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - Para concluir, nobre Senador.
O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - Curvo-me, Senador Eduardo Suplicy, diante dessa volúpia de defender um Governo que não lhe dá a mínima bola.
Muito obrigado.