Discurso durante a 126ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

A importância da melhor utilização e preservação do Aqüífero Guarani, maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo.

Autor
Flávio Arns (PT - Partido dos Trabalhadores/PR)
Nome completo: Flávio José Arns
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • A importância da melhor utilização e preservação do Aqüífero Guarani, maior manancial de água doce subterrânea transfronteiriço do mundo.
Publicação
Publicação no DSF de 16/08/2007 - Página 27607
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • IMPORTANCIA, DESENVOLVIMENTO, BRASIL, CIENCIA E TECNOLOGIA, ELOGIO, PESQUISA, AGUAS SUBTERRANEAS, AREA, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS), ESTADO DE GOIAS (GO), ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESTADO DO PARANA (PR), ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA, PARAGUAI, URUGUAI, DEFESA, DIVULGAÇÃO, POPULAÇÃO, SUPERIORIDADE, RESERVATORIO, RECURSOS HIDRICOS, CAPACIDADE, ABASTECIMENTO, IRRIGAÇÃO, AGRICULTURA, NECESSIDADE, PRESERVAÇÃO, POLUIÇÃO, SUBSOLO, CONTROLE, DEPOSITO, LIXO, DESCARGA, ESGOTO, EXTRAÇÃO, MINERIO, UTILIZAÇÃO, AGROTOXICO, ATENÇÃO, DESEQUILIBRIO, EXCESSO, RETIRADA, AGUA.
  • IMPORTANCIA, UTILIZAÇÃO, AGUAS SUBTERRANEAS, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), PAIS ESTRANGEIRO, URUGUAI, TURISMO, VALOR TERAPEUTICO, REGISTRO, DADOS, EXPLORAÇÃO, ABASTECIMENTO DE AGUA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESTADO DO PARANA (PR).
  • DETALHAMENTO, PROJETO, PROTEÇÃO, MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, AGUAS SUBTERRANEAS, PARCERIA, BRASIL, ESTADOS MEMBROS, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), PARTICIPAÇÃO, UNIVERSIDADE, ESPECIFICAÇÃO, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANA (UFPR), APRESENTAÇÃO, PROPOSTA, BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO (BID), ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA), OCORRENCIA, LICITAÇÃO, AMBITO INTERNACIONAL, EMPRESA, GESTÃO, ANUNCIO, TRABALHO, BUSCA, LEGISLAÇÃO, PARTILHA.
  • IMPORTANCIA, COLABORAÇÃO, PARLAMENTO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL), ENTENDIMENTO, ACORDO INTERNACIONAL, INTEGRAÇÃO, LEGISLAÇÃO, MEIO AMBIENTE, ESTADOS MEMBROS, DEFESA, AMPLIAÇÃO, DEBATE, SOCIEDADE CIVIL, APROVEITAMENTO, PROJETO, COORDENAÇÃO, ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA), ESTUDO, UNIVERSIDADE, ESFORÇO, INCLUSÃO, COMISSÃO, CIENCIA E TECNOLOGIA, SENADO.

            O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero só mudar um pouco o tema que vem sendo abordado para destacar uma linha de pesquisa que vem sendo desenvolvida no Brasil e que é, na minha opinião e na opinião de muitos cientistas, fundamental para o desenvolvimento e para a conservação do meio ambiente.

            Nessa linha da ciência e da tecnologia, o avanço do Brasil vem sendo reconhecido também pelos meios de comunicação. O Brasil tem pouco ainda - se não me engano, está na 15ª posição mundial, com quase 2% das patentes desenvolvidas no mundo, na frente de muitos países desenvolvidos.

            Ao mesmo tempo, a Subcomissão de Ciência e Tecnologia discute todos esses aspectos no nosso País, mas temos de avançar bastante ainda para não ficarmos dependentes da tecnologia e do conhecimento.

            No entanto, destaco - sou professor licenciado da Universidade Federal do Paraná - o grande trabalho que vem sendo feito em relação ao Aqüífero Guarani.

            O Aqüífero Guarani é uma das maiores riquezas naturais de nosso País, como também o é dos países nossos vizinhos do Cone Sul: Paraguai, Uruguai e Argentina.

            Boa parte da população desses países - inclusive muitas das 30 milhões de pessoas que o tem sob seus pés - ignora o que venha a ser o Aqüífero Guarani.

            É importante que seja conhecida pela população dos quatro países a existência de um dos maiores reservatórios de água subterrânea de todo o mundo, que se estende por sob uma área de quase 1,2 milhão de quilômetros quadrados. Dessa área total, cerca de 70% se encontram em território brasileiro, distribuída pelos Estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

            A capacidade de produção de um único poço perfurado nesse aqüífero pode produzir uma vazão da ordem de 700 mil litros/hora. Algumas cidades, a exemplo de Ribeirão Preto - SP, cuja população é de aproximadamente 560 mil habitantes, são abastecidas unicamente por esse recurso subterrâneo.

            Existem, por outro lado, várias regiões dos quatro países onde a água do Guarani apresenta teores elevados de sais, sendo, nesses casos, necessária a sua diluição com águas superficiais, quando ela for destinada ao abastecimento público.

            A temperatura da água, Sr. Presidente, chega a atingir até 60 graus e pode ser utilizada na implantação de vários empreendimentos, tais como no turismo termal e terapêutico e na agroindústria. Isso pode propiciar o desenvolvimento socioeconômico de várias regiões onde ele ocorre.

            A Unesco já divulgou que cerca de 70% da água doce do mundo são destinados à irrigação para a produção de alimentos. As águas armazenadas no Aqüífero Guarani, mesmo quando se faz necessário diluí-las com águas de superfície, também podem ser utilizadas na irrigação, para o aumento da produtividade agrícola ou até mesmo para evitar as perdas de safra por falta de chuvas, tal como ocorreu com a soja e com o milho na Região Sul do Brasil nos anos de 2004 e 2005. Os respectivos prejuízos financeiros diretos no período citado ultrapassaram a cifra de R$12 bilhões. A água - e não pode ser visto de outra forma - é o mais importante insumo para a produção de alimentos.

            Vale esclarecer que essa reserva de água não forma uma espécie de gigantesco lago subterrâneo, mas, em sua maior parte, empapa o subsolo, acumulando-se nos poros das rochas ou entre seus grãos ou fissuras.

            Sabemos, Sr. Presidente, da importância e da escassez cada vez maior das reservas de água doce própria ao consumo humano, sem esquecer a sua imprescindível necessidade para a agricultura. Neste século, para o qual se prevê até a possibilidade de guerras em disputa pelos mananciais do líquido da vida, torna-se evidente que devemos cuidar muito bem dessa imensa e preciosa reserva natural de água. Ao contrário dos rios, onde as águas estão sempre levando os elementos poluentes, a poluição das águas subterrâneas é difícil até de ser avaliada - que dizer da sua recuperação, que é dispendiosa e de longa duração quando não se mostra impraticável?

            São diversas as possibilidades de poluição do Aqüífero Guarani, principalmente nas áreas onde ele aflora, na superfície do terreno, quando consideramos que ele se situa sob algumas regiões de denso povoamento ou de prática intensiva da agricultura.

            É necessária uma atenção especial com essas áreas de recarga, que são aquelas por onde a água se infiltra para chegar ao subterrâneo. Impõe-se o controle dos lixões e da descarga dos esgotos, da extração de minérios e do uso de agrotóxicos. A Embrapa Meio Ambiente é um dos órgãos brasileiros que se têm dedicado a essa questão, defendendo a adoção de um amplo ordenamento agroambiental para a área do aqüífero.

            Outro risco que corre o Aqüífero Guarani é o da superexploração, que pode levar a uma série de desequilíbrios no seu funcionamento natural. É importante frisar que a água do aqüífero deve ser explorada, sem dúvida, mas deve sê-lo em um nível sustentável, a ser determinado para cada região ou local.

            Já temos exemplo de sua suscetibilidade na região do Centro e do Oeste dos Estados de Santa Catarina (Piratuba) e do Paraná (Foz do Iguaçu e Iretama), onde o seu uso é destinado a fins turísticos e terapêuticos.

            Essa prática, a do aproveitamento das águas quentes para o turismo, existe no Uruguai desde a década de sessenta, rendendo àquela região em torno de cento e vinte milhões de dólares ao ano.

            A título de exemplo, no interior do Estado de São Paulo, a exploração do Aqüífero Guarani já é essencial para o abastecimento de água de 65% da sua zona urbana e, no Estado do Paraná, já existem cerca de quarenta sedes municipais de pequeno e médio portes sendo abastecidas com as águas do Guarani.

            Sr. Presidente, a singularidade do Aqüífero Guarani, como uma imensa reserva de águas subterrâneas que se estende pelo subsolo de quatro países, exige uma abordagem também única. A troca de informações entre esses países, referentes ao conhecimento do aqüífero, e o diálogo voltado para práticas de utilização e de proteção de suas águas fazem-se indispensáveis.

            Uma importante iniciativa nesse sentido vem sendo conduzida pelo Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani, que reúne os governos dos quatro países interessados. O projeto conta com recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) e tem como agência executora internacional a Organização dos Estados Americanos (OEA).

            Lembremos que a primeira proposta de estudos integrados visando ao conhecimento do Aqüífero Guarani, nos seus diversos aspectos, surgiu de algumas universidades dos quatro países envolvidos, entre as quais se destacou, no Brasil, a Universidade Federal do Paraná.

            Em janeiro de 2000, a proposta de estruturação do projeto foi definida por acordo dos representantes dos quatro países reunidos em Foz do Iguaçu e apresentada ao Banco Mundial (BIRD) e à OEA.

            A partir de uma licitação internacional feita no ano de 2003, a execução do projeto ficou sob a responsabilidade de empresas de consultoria internacional, consorciadas com empresas nacionais, tendo a chancela do Governo Federal e, no caso do Brasil, também de instituições estaduais de cada um dos oito Estados onde ocorre o aqüífero.

            Espera-se para o próximo ano a apresentação do principal resultado do projeto, fruto de exaustivas pesquisas e debates: a proposta de um marco legal sobre a gestão compartilhada das águas do aqüífero.

            A forma como essa proposta será implementada pelos países participantes ainda está por se definir.

            Consideramos que Parlamento do Mercosul, do qual o Senador Eduardo Azeredo também é membro efetivo, seja o canal mais apropriado para que se alcance o imprescindível entendimento, possivelmente na forma de um acordo internacional, que estabeleceria um modelo único, a ser adotado, conforme os procedimentos de regra, pela legislação de cada um dos Estados nacionais.

            Esse processo já se encontra em andamento, mas em um ritmo talvez excessivamente lento. O Vice-Presidente do Parlamento do Mercosul, Deputado Dr. Rosinha, do PT do Paraná, considera como obstáculo para a aprovação de um acordo não apenas os interesses e as diferentes legislações sobre recursos hídricos dos quatro países, mas também a falta de um debate mais amplo sobre o Aqüífero Guarani no seio das respectivas sociedades.

            Por outro lado, não posso deixar de achar perfeitamente plausível e recomendável que o Parlamento do Mercosul aproveite os resultados do trabalho desenvolvido, com toda a seriedade e competência técnica, pelo Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani.

            Consideramos igualmente imprescindível que, a exemplo desse projeto coordenado pela OEA, os projetos desenvolvidos nas universidades dos quatro países tenham o mesmo grau de importância para o Parlamento do Mercosul. Esses projetos - é importante destacar - vêm sendo desenvolvidos sistematicamente com base na ciência hidrogeológica, sempre destacando a necessidade de proteção do aqüífero, no entendimento de seu funcionamento em termos de quantidade e de qualidade das águas armazenadas, bem como sem deixar de destacar a sua importância para o desenvolvimento socioeconômico das regiões onde o aqüífero ocorre.

            Sr. Presidente, é fundamental, sem dúvida, que tanto o Estado como a sociedade do Brasil, do Paraguai, da Argentina e do Uruguai, países fundadores do Mercosul, compreendam a necessidade da convergência de esforços para garantir, de modo prático, tecnicamente competente e efetivo, a melhor utilização e a preservação desse precioso tesouro líquido que a natureza dispôs sobre amplas porções de seus territórios.

            Gostaria, Sr. Presidente, de que este pronunciamento também fosse registrado nos Anais do Senado e de destacar que o Senado Federal, neste ano, criou a Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática - já tínhamos uma subcomissão permanente para tratar dos mesmos temas na Comissão de Educação nos anos passados - para que o Parlamento dê a sua contribuição para a área da Ciência e Tecnologia, o que significa também autonomia, soberania, independência, desenvolvimento econômico e social.

            O esforço que vem sendo feito em relação a este tema do Aqüífero Guarani, que é uma riqueza extraordinária que o Brasil possui, quer dizer, o estudo sobre o seu aproveitamento, a sua sustentação, suas reservas e sobre uma forma sustentável de sua abordagem, tudo isso mostra que o Brasil, com apoio também da sociedade e do Governo, está evoluindo nesta área da Ciência e Tecnologia, e temos de fazer com que essa evolução tenha reflexos no Orçamento também.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

            Agradeço a tolerância habitual de V. Exª e peço-lhe que também leve essa discussão para o Parlamento do Mercosul.

            Obrigado.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DO SR. SENADOR FLÁVIO ARNS.

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            O SR. FLÁVIO ARNS (Bloco/PT - PR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Aqüífero Guarani é uma das maiores riquezas naturais de nosso País, como também o é dos países nossos vizinhos do Cone Sul: Paraguai, Uruguai e Argentina.

            Boa parte da população desses países - inclusive muitas das 30 milhões de pessoas que o têm sob seus pés - ignora o que venha a ser o Aqüífero Guarani.

            É importante que seja conhecida pela população dos quatro países a existência de um dos maiores reservatórios de água subterrânea de todo o mundo, que se estende por sob uma área de quase 1 milhão e 200 mil km². Dessa área total, cerca de 70% se encontra em território brasileiro, distribuída pelos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

            A capacidade de produção de um único poço perfurado neste aqüífero pode produzir uma vazão da ordem de 700.000 Litros/hora. Algumas cidades, a exemplo de Ribeirão Preto-SP cuja população é de aproximadamente 560.000 habitantes, são abastecidas unicamente por este recurso subterrâneo.

            Existe, por outro lado, várias regiões dos quatro países onde a água do Guarani apresenta teores elevados de sais, sendo, nesses casos, necessária a sua diluição com águas superficiais quando ela é destinada ao abastecimento público.

            A temperatura da água chega a atingir até 60 graus e pode ser utilizada na implantação de vários empreendimentos, tais como no turismo termal e terapêutico e na agroindústria, e isto pode propiciar o desenvolvimento sócio-econômico de várias regiões onde ele ocorre.

            A UNESCO já divulgou que em torno de 70% da água doce do mundo é destinada a irrigação para a produção de alimentos. As águas armazenadas no Guarani, mesmo quando se faz necessária a sua diluição com as águas de superfície, também podem ser utilizadas na irrigação para o aumento da produtividade agrícola, ou até mesmo para evitar as perdas de safra por falta de chuvas, tal como ocorreu com a soja e com milho na região sul do Brasil, nos anos de 2004 e 2005. Os respectivos prejuízos financeiros DIRETOS, no período citado, ultrapassaram a cifra de R$ 12 milhões de reais. A água, e não pode ser visto de outra forma, é o mais importante insumo para a produção de alimentos.

            Vale esclarecer que essa reserva de água não forma uma espécie de gigantesco lago subterrâneo, mas em sua maior parte empapa o subsolo, acumulando-se nos poros das rochas ou entre seus grãos ou fissuras.

            Sabemos, Sr. Presidente, da importância e da escassez cada vez maior das reservas de água doce própria ao consumo humano, sem esquecer da sua imprescindível necessidade para a agricultura. Neste século, para o qual se prevê até a possibilidade de guerras em disputa pelos mananciais do líquido da vida, torna-se evidente que devemos cuidar muito bem dessa imensa e preciosa reserva natural de água. Ao contrário dos rios, onde as águas estão sempre levando os elementos poluentes, a poluição das águas subterrâneas é difícil até de ser avaliada - que dizer da sua recuperação, que é dispendiosa e de longa duração, quando não se mostra impraticável?

            São diversas as possibilidades de poluição do Aqüífero Guarani, principalmente nas áreas onde ele aflora na superfície do terreno quando consideramos que ele se situa sob algumas regiões de denso povoamento ou de prática intensiva da agricultura. É necessária uma atenção muito especial com essas áreas de recarga, que são aquelas por onde a água se infiltra para chegar ao subterrâneo. Impõe-se o controle dos lixões e da descarga dos esgotos, da extração de minérios e do uso de agrotóxicos. A Embrapa Meio Ambiente é um dos órgãos brasileiros que têm se dedicado a essa questão, defendendo a adoção de um amplo ordenamento agro-ambiental para a área do aqüífero.

            Outro risco que corre o Aqüífero Guarani é o da super-exploração, que pode levar a uma série de desequilíbrios no seu funcionamento natural. É importante frisar que a água do aqüífero deve ser explorada, sem dúvida, mas deve sê-lo em um nível sustentável, a ser determinado para cada diferente região ou local.

            Já temos exemplo da sua susceptibilidade na região do Centro e do Oeste dos Estados de Santa Catarina (Piratuba) e do Paraná (Foz do Iguaçu e Iretama), onde o seu uso é destinado para fins turísticos e terapêuticos.

            Esta prática, a do aproveitamento das águas quentes para o turismo, existe no Uruguai desde a década de sessenta, rendendo àquela região em torno de cento e vinte milhões de dólares ao ano.

            A título de exemplo, no interior do Estado de São Paulo, a exploração do Aqüífero Guarani já é essencial para o abastecimento de água de 65% da sua zona urbana e no Estado do Paraná já existe cerca de 40 sedes municipais de pequeno e médio porte sendo abastecidas com as águas do Guarani.

            Sr. Presidente, a singularidade do Aqüífero Guarani, como uma imensa reserva de águas subterrâneas que se estende pelo subsolo de quatro países, exige uma abordagem também única. A troca de informações entre esses países, referentes ao conhecimento do aqüífero, e o diálogo voltado para práticas de utilização e de proteção de suas águas fazem-se indispensáveis.

            Uma importante iniciativa nesse sentido vem sendo conduzida pelo Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani, que reúne os governos dos quatro países interessados. O Projeto conta com recursos do Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF) e tem como agência executora internacional a Organização dos Estados Americanos (OEA).

            Lembremos que a primeira proposta de estudos integrados visando ao conhecimento do Aqüífero Guarani, nos seus diversos aspectos, surgiu de algumas universidades dos quatro países envolvidos, entre as quais se destacou, no Brasil, a Universidade Federal do Paraná.

            Em janeiro de 2000, a proposta de estruturação do projeto foi definida por acordo dos representantes dos quatro países reunidos em Foz do Iguaçu e apresentada ao Banco Mundial (BIRD) e a OEA.

            A partir de uma licitação internacional feita no ano de 2003, a execução do projeto ficou sob a responsabilidade de empresas de consultoria internacional, consorciadas com empresas nacionais, tendo a chancela do Governo Federal, e, no caso do Brasil, também de instituições estaduais de cada um dos oito Estados onde ocorre o aqüífero.

            Espera-se para o próximo ano a apresentação do principal resultado do projeto, fruto de exaustivas pesquisas e debates: a proposta de um marco legal sobre a gestão compartilhada das águas do aqüífero.

            A forma como essa proposta será implementada pelos países participantes ainda está por se definir. Consideramos que o Parlamento do Mercosul seja o canal mais apropriado para que se alcance o imprescindível entendimento, possivelmente na forma de um acordo internacional que estabeleceria um modelo único, a ser adotado, conforme os procedimentos de regra, pela legislação de cada um dos Estados nacionais.

            Esse processo já se encontra em andamento, mas em um ritmo talvez excessivamente lento. O Vice-Presidente do Parlamento do Mercosul, Deputado Dr. Rosinha, do PT do Paraná, considera como obstáculo para a aprovação de um acordo não apenas os interesses e as diferentes legislações sobre recursos hídricos dos quatro países, mas também a falta de um debate mais amplo sobre o Aqüífero Guarani no seio das respectivas sociedades.

            Por outro lado, não posso deixar de achar perfeitamente plausível e recomendável que o Parlamento do Mercosul aproveite os resultados do trabalho desenvolvido, com toda a seriedade e competência técnica, pelo Projeto de Proteção Ambiental e Desenvolvimento Sustentável do Sistema Aqüífero Guarani.

            Consideramos igualmente imprescindível que a exemplo deste projeto coordenado pela OEA com recursos oriundos do GEF/BIRD, os projetos desenvolvidos nas universidades dos quatro países tenham o mesmo grau de importância ao Parlamento do Mercosul. Esses projetos, é importante destacar, vem sendo desenvolvidos sistematicamente com base na ciência hidrogeológica, sempre destacando a necessidade de proteção do aqüífero, no entendimento de seu funcionamento em termos de quantidade e de qualidade das águas armazenadas, bem como sem deixar de destacar a sua importância para o desenvolvimento sócio-econômico das regiões onde o aqüífero ocorre.

            Sr. Presidente, é fundamental, sem dúvida, que tanto o Estado como a sociedade do Brasil, do Paraguai, da Argentina e do Uruguai, países fundadores do Mercosul, compreendam a necessidade da convergência de esforços para garantir, de modo prático, tecnicamente competente e efetivo, a melhor utilização e a preservação desse precioso tesouro líquido, que a natureza dispôs sob amplas porções de seus territórios. 

            Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/08/2007 - Página 27607