Discurso durante a 129ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem a Maçonaria Brasileira, pelo transcurso do Dia do Maçom.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a Maçonaria Brasileira, pelo transcurso do Dia do Maçom.
Publicação
Publicação no DSF de 21/08/2007 - Página 27951
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, MEMBROS, MAÇONARIA, PRESENÇA, SESSÃO ESPECIAL, SENADO, HOMENAGEM.
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, SOLENIDADE, HOMENAGEM, ENTREGA, ELLEN GRACIE NORTHFLEET, MINISTRO, PRESIDENTE, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), COMENDA, MAÇONARIA.
  • LEITURA, TRECHO, DISCURSO, PRESIDENTE, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), SOLENIDADE, RECEBIMENTO, COMENDA, RECONHECIMENTO, IMPORTANCIA, HISTORIA, ATUAÇÃO, MAÇONARIA, LUTA, MELHORIA, PROGRESSO, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, DEFESA, INDEPENDENCIA, ABOLIÇÃO, ESCRAVATURA.
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, TRABALHO, MULHER, MAÇONARIA, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, SOLIDARIEDADE, ASSISTENCIA, POPULAÇÃO CARENTE, HOMENAGEM, UNIDADE ADMINISTRATIVA, MUNICIPIO, ESTADO DE RORAIMA (RR).
  • ESCLARECIMENTOS, POSIÇÃO, MAÇONARIA, TOLERANCIA, DIVERSIDADE, RELIGIÃO, PROIBIÇÃO, ENTRADA, PESSOAS, AUSENCIA, CRENÇA RELIGIOSA, IMPORTANCIA, TRABALHO, APERFEIÇOAMENTO, MORAL, MEMBROS, VALORIZAÇÃO, FORTIFICAÇÃO, FAMILIA, VIABILIDADE, AMPLIAÇÃO, BEM ESTAR SOCIAL, MUNDO, BRASIL.
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, DEPUTADO FEDERAL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), MAÇONARIA, EFICACIA, TRABALHO, UNIDADE ADMINISTRATIVA, MUNICIPIO, SOROCABA (SP).
  • CONCLAMAÇÃO, MEMBROS, MAÇONARIA, EMPENHO, UNIÃO, AMPLIAÇÃO, DIFUSÃO, CONHECIMENTO, ENSINO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO.
  • TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DOCUMENTO, ENTIDADE, VINCULAÇÃO, MAÇONARIA.

            O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (Bloco/PTB - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, nosso querido irmão Efraim, é uma coincidência muito feliz que esta sessão seja presidida também por um maçom. Quero saudar de maneira especial o soberano Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, meu querido irmão Laelso Rodrigues, que, hoje, na condição de Grão-Mestre do Grande Oriente, participa, da última reunião que este Senado vem fazendo todo ano de homenagem à Maçonaria - e ele participou de todas. Quero cumprimentar também o nosso Grão-Mestre Adjunto que se encontra aqui presente, Irmão Marco; o Grão Mestre do Distrito Federal, Irmão Jafé Torres. Aliás, antes deles, cumprimento o nosso secretário da Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil, que representa, portanto, as grandes lojas. Está presente também o Grão Mestre da Grande Loja de Brasília. Talvez não tenha chegado a tempo, mas vinha o representante da Comab, entidade que representa os Grandes Orientes Independentes. E também, com muito carinho, cumprimento o Grande Mestre da Ordem DeMolay aqui presente e que se faz acompanhar de vários sobrinhos da Ordem DeMolay, que estão usando bonitas vestes pretas com talas vermelhas - digo isso para esclarecer aos telespectadores da TV Senado o porquê da presença deles aqui, o que no meu pronunciamento vou explicar melhor.

            Quero cumprimentar os Grão-Mestres Estaduais que estão presentes: o do Distrito Federal, irmão Jafé Torres; o nosso irmão José de Jesus, do Grande Oriente do Maranhão; Waldemar Coelho, do Grande Oriente do Pará; Alan Divino, Grão Mestre do Tocantins; Valdim Pereira, delegado - o nosso Amapá ainda não tem um Grande Oriente estadual, mas terá muito em breve. Quero abraçar os irmãos do Amapá por intermédio dele e de um grande irmão que tenho lá, que foi meu colega de turma em Medicina, que é o Irmão Raimundo Lopes; o Irmão Júlio Jardim, Grão-Mestre do Mato Grosso; o Irmão Euclides Sampaio, do nosso querido Estado de Rondônia; o nosso Irmão Mário Juarez de Oliveira, do Grande Oriente do Rio Grande do Sul; o meu querido Irmão do meu Estado de Roraima, Grão-Mestre do Grande Oriente do Estado de Roraima, João Batista Carvalho; o Irmão Cecílio Andrade Oliveira, Grão-Mestre do Grande Oriente do Espírito Santo; o Irmão Aderaldo Pereira de Oliveira, do Grande Oriente da Paraíba; o Irmão Eduardo Teixeira de Rezende, do Grande Oriente de Minas Gerais; Marcos Luiz da Costa Cabral, representando o Grão-Mestre de Pernambuco. Eu já havia mencionado o Irmão Edelcides, mas vou aqui com muito prazer lembrar que ele é o Grão-Mestre da Grande Loja Maçônica de Brasília.

            E quero aqui fazer também um importante registro. Meu pai era das Grandes Lojas. Sou do Grande Oriente, mas meu pai era das Grandes Lojas e isso mostra o quanto somos a mesma coisa.

            Irmão Nathaniel Carneiro Neto, Secretário-Geral da CMSB; irmão Luiz Eduardo de Almeida, que já mencionei, que é o Grande Mestre do Conselho da Ordem DeMolay para o Brasil.

            Honra-nos com sua presença aqui um amigo, Irmão Franklin da Costa, que é Mestre da AMORC - Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis, que comunga conosco, maçons, dos ideais de busca da perfeição permanente. O Irmão Adelson Ferreira representa o delegado do Estado do Acre, que, não podendo estar presente, o designou para representá-lo nesta sessão. E quero aqui também saudar de maneira muito especial uma pessoa. Nós maçons temos uma preocupação muito grande com as mulheres, mais especialmente com as viúvas, e aqui se encontra a viúva de um colega, o Senador e Irmão Nelson Carneiro, a cunhada Carmem Casagrande Carneiro, que está ali no plenário nos honrando com sua presença. (Palmas.)

            Também quero registrar, com muita honra, cumprimentando todos os veneráveis aqui presentes por intermédio dele, a presença do Irmão venerável Ivo Brasil, da minha Loja, que completou 36 anos de existência e da qual eu tive a honra de ser por duas vezes venerável. Ele veio lá do extremo norte nos dar o prazer de estar hoje aqui depois das festividades de ontem. Também não quero deixar de registrar a presença do Irmão Presidente da Soberana Assembléia Federal Legislativa do Grande Oriente do Brasil, que se encontra aqui à frente ao lado do Irmão Marcos. E, para cumprimentar todas as mulheres aqui presentes e as que nos ouvem pela Rádio Senado e nos assistem pela TV Senado, cumprimento minha esposa, que está ali na primeira fila e que foi a responsável por eu ser maçom. (Palmas.)

            Nós sabemos, mas as pessoas que não são maçons não sabem, que nós só podemos ser maçons se a mulher concordar. O item número um para entrar na Maçonaria é que a mulher concorde. Por quê? Porque nós, maçons, queremos que haja harmonia na família sempre. Então, por mais requisitos que uma pessoa tenha para ser maçom, se a mulher não quiser, ele não entra, porque nós não vamos ser fator de discórdia na família.

            Registro também a presença da minha cunhada, irmã da minha esposa, que é Presidente da Fraternidade Feminina Cruzeiro do Sul, lá em Roraima, por deferência do nosso Grão-Mestre, D. Jussara, e do meu neto, que está ali no meio dos DeMolays tentando aprender um pouquinho para daqui a pouco ser DeMolay.

            Faço esse registro com muito carinho, porque sou filho de maçom, sou maçom e meu filho é maçom. O único tempo do qual me arrependo na minha vida é o tempo que passei em dúvida se seria ou não maçom. Como filho de maçom e batizado na Maçonaria, ou seja, como lowton, eu poderia ter ingressado muito cedo na Ordem, mas, na época do catecismo, a irmãzinha, na sua inocência talvez, mostrou-me um folder que até hoje não saiu da minha mente. Era a imagem do inferno, com labaredas, um caldeirão onde as pessoas estavam penando. Dizia que havia muitas formas de ir para o inferno: uma delas era cometendo o mal e outra era sendo maçom. Aqueles que eram maçons já estavam excomungados e iriam diretamente para o inferno. Ora, para mim, que tinha em torno de 10 ou 11 anos, foi um choque muito violento. Eu tinha na figura do meu pai, como todo filho tem, o meu ídolo, meu exemplo, a pessoa que eu mais amava. Saber que ele já estava condenado a ir para o inferno, para mim, foi um drama que me perseguiu durante muito tempo. Eu procurava esclarecimentos com ele e ele dizia: “No tempo devido, você vai saber que não é nada disso”. Mas isso me perseguiu até o início da idade adulta. Li tudo o que pude ler sobre Maçonaria. Dizemos, na Maçonaria, que as pessoas que lêem muito sobre Maçonaria, que se informam muito sobre Maçonaria, aprendem muito sobre Maçonaria sem ser maçons são “goteiras”. Então, eu acho que fui o maior “goteira” deste Brasil, porque li tudo que podia ler sobre Maçonaria, tudo, escrito por maçons. Aliás, quem tiver curiosidade é só ir a qualquer boa livraria que vai encontrar bons livros sobre Maçonaria escritos por maçons e por não maçons.

            Quando fui finalmente iniciado, quando voltei para casa, minha mulher estava acordada e perguntou: “E aí?” E eu disse para ela: “Estou arrependido”. Ela disse: “Isso é o que eu temia, porque o meu pai e o meu avô também são maçons e não freqüentam mais a Maçonaria”. Só que ela não sabia que ambos eram remidos e que, portanto, não tinham mais a obrigação de freqüentar. Eu disse: “Não, mas eu me arrependi do tempo que passei em dúvida para ser maçom”. E, a partir daí, realmente nunca mais me afastei na Maçonaria. Tive a honra de ser venerável, como disse, duas vezes, da minha Loja; fui Deputado Federal maçônico; e sempre tive, na minha vida pública, a conduta de enaltecer a Maçonaria, de divulgar a Maçonaria e de convencer as pessoas que estão perto de mim a se tornarem maçons.

            Nesse afã, digamos assim, desde 2001, por requerimento meu, e com o apoio de nobres Colegas Senadores, o Senado tem prestado essa homenagem à Maçonaria. Só não a fizemos - de 2001 para cá -, no ano passado, em 2006, porque era um ano eleitoral, e não quis misturar uma coisa com a outra, embora tenha feito aqui um pronunciamento, registrando a data.

            Já citei aqui a importância da mulher na Maçonaria, mas apenas eu dizer isso talvez, digamos assim, soasse como um elogio não muito verdadeiro. O exemplo de ter uma mulher que me acompanha, inclusive de maneira muito firme, nas minhas atividades maçônicas, é uma prova inconteste do que o que eu digo, realmente, corresponde à realidade.

            Tive a oportunidade, no dia 16, de participar de uma bonita solenidade, que marcou a abertura do encontro de todos os Grão-Mestres estaduais do Grande Oriente do Brasil, comandada pelo nosso Grão-Mestre, que homenageou a Ministra Ellen Gracie com a maior comenda que a Maçonaria concede às pessoas não maçons.

            Ouvi atentamente o pronunciamento da Ministra Ellen Gracie. Quero tomar emprestado aqui alguns tópicos do discurso dela para dizer como realmente ela teve a capacidade de sintonizar esse pensamento da Maçonaria. Ela disse assim:

Comove-me particularmente [a homenagem que ela estava recebendo] pelo fato de que meu avô paterno, patriarca irrepreensível, que legou princípios de absoluta correção ética a uma numerosa descendência, era maçom. Participar desta cerimônia [daquela cerimônia] corresponde, por isso, além do convívio agradável com os integrantes desta loja, oportunidade de homenagear-lhe a memória. Mas devo confessar-lhes [atentem bem as mulheres a este detalhe] que tinha para com a Maçonaria uma antiga desconfiança e quase um desgosto, em razão do fato de seus círculos repelirem as mulheres.

            Muitas mulheres têm a sensação de que a Maçonaria as repele, porque mantemos uma tradição de fazer reuniões a portas fechadas das quais elas não participam. Mas essa é apenas uma tradição que remonta às origens da Maçonaria, quando éramos muito perseguidos por várias coisas, entre elas os reis, a Igreja e todos os poderosos da época, porque nossos antepassados, que adquiriram conhecimentos filosóficos e científicos, lutavam contra as tiranias que estavam associadas a Governo - leia-se reis e Igreja -, e os homens iam para essas lutas, e não as mulheres. Mais atrás, a origem da Maçonaria está na construção dos templos. Os pedreiros foram os maçons originais e, portanto, não havia mulheres trabalhando.

            Se hoje ainda mantemos isso, é apenas em homenagem a essa tradição, porque não há nada de secreto que tratamos ali dentro que não possa ser conhecido. Tratamos do dia-a-dia das famílias, do país, do Estado. Os segredos que temos - e os temos - são os nossos sinais e as nossas formas de identificação no mundo. Esses, sim, são segredos, mas não conspiram contra ninguém e, ao contrário, falam em favor da solidariedade e da irmandade que deve haver entre todos.

            Continua a Ministra:

Foi, portanto, com satisfação, cativada pela mudança de parâmetros que o gesto da fraternidade feminina representa, a Maçonaria, como a sociedade em geral verifico, está em vias de superar as idéias excludentes que privaram metade da população de participar mais ativamente da condução dos destinos nacionais.

São essas as motivações pessoais. Outras há, e muito elevadas, para que seja grande o meu regozijo em participar dessa solenidade. No Brasil, a história da Maçonaria se confunde com a história das lutas pelos melhores ideais, como a causa da independência e a campanha abolicionista. Não só a independência, mas algumas das mais nobres campanhas pelo progresso desse País e sua inserção no conserto das nações civilizadas e democráticas. Assim, foi do maçom Joaquim Nabuco a iniciativa da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão; foi o Ministério Liberal, presidido pelo maçom José Antônio Saraiva, que conseguiu a aprovação da Lei dos Sexagenários. Entre os abolicionistas mais fervorosos contam-se Rui Barbosa, que ali está como patrono do Senado; José do Patrocínio e Castro Alves, todos maçons.

            Aliás, foi de Rui a iniciativa pela qual todos os maçons brasileiros libertaram seus escravos três anos antes da Lei do Ventre Livre.

            Vejam bem: a Maçonaria impôs aos seus membros que libertassem seus escravos três anos antes do advento da Lei do Ventre Livre, que determinava a libertação dos escravos nascidos a partir daquela data em diante. Quer dizer, aquelas crianças que nascessem a partir daquele momento não seriam mais escravas. A Maçonaria aderiu à libertação dos escravos três anos antes dessa primeira iniciativa abolicionista.

Ainda [palavras da Ministra] lojas maçônicas se fundaram no Brasil a partir de 1802, sendo Manoel Arruda Câmara, médico e um dos mais notáveis botânicos do séc XVIII, o iniciador do movimento. As idéias que trazia de sua temporada de estudos em Montpellier influenciaram a Revolução de 1817, o ideário maçônico no Brasil e a ação de seus integrantes, que assumiu cunho liberal e nacionalista, ainda que presentes as duas vertentes da instituição.

Uma vez obtida a Independência como manutenção do Regime Monárquico, ambas as correntes maçônicas se reconciliaram, passando a serem dirigidas pelo mesmo arconte, o próprio Imperador D. Pedro I.

         Vejam bem: o primeiro Imperador do Brasil, portanto aquele que promoveu a Independência, foi exatamente um maçom.

            Importante dizer também que foi no dia 20 de agosto que Gonçalves Ledo fez um brilhante pronunciamento numa loja maçônica, concitando os Irmãos todos a se engajarem de uma maneira muito firme pela Independência. Na verdade, a Fundação Grande Oriente do Brasil teve como escopo e meta principal trabalhar pela independência do País.

            Há uma coisa que muita gente ainda hoje, lamentavelmente, se pergunta, além de indagar por que as mulheres não ingressam na Maçonaria, o que não é verdade. As mulheres participam, sim.

            O trabalho da Fraternidade Feminina Cruzeiro do Sul, por exemplo, que também se reuniu agora num grande encontro nacional, diria que é um trabalho mais maçônico do que o de muitos maçons, porque é um trabalho que visa exatamente a prestar solidariedade e assistência àqueles mais necessitados, mais excluídos, aqueles que, enfim, têm padecimentos de qualquer ordem: físico, financeiro ou familiar, a Fraternidade Feminina faz um trabalho maravilhoso em todas as lojas do Brasil.

            Outra coisa ainda hoje questionada: por que a Igreja Católica e algumas outras Igrejas, condenam a Maçonaria? Na Igreja Católica, o Papa João XXIII publicou uma Encíclica em que pediu perdão aos maçons pelo que foi feito no passado contra os maçons. Ainda existem setores da Igreja Católica que fazem esse tipo de propaganda negativa contra a Ordem, como também outras Igrejas evangélicas.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o certo é que tudo começou lá atrás, numa briga pelo poder. A Maçonaria foi a responsável pela Revolução Francesa. Antes, foi a responsável pelo desmonte do sistema monárquico na Inglaterra instituindo o Parlamento, portanto, tirando o poder do rei. Tudo isso, evidentemente - a perda de poder por parte dos reis e da Igreja -, significou muitos problemas. No caso específico da Igreja Católica, a própria perda pela Santa Sé, quer dizer, pela Igreja Católica, do domínio sobre parcela considerável do território italiano - são palavras da Ministra -, reduzindo o poder temporal da Igreja Católica apenas à Cidade do Vaticano. Eu digo apenas, porque, em relação ao que ela tinha, ficou pequeno, mas, se analisarmos: qual a igreja que tem uma espécie de País e que tem o reconhecimento de que é um Estado? Somente a Igreja Católica. É por isso que veio principalmente da Itália esse certo ranço contra a Maçonaria. No entanto, a Maçonaria teve, entre seus membros, muitos padres e muitos bispos.

            Só houve problema quando a Maçonaria mandou rezar uma missa em comemoração à Lei do Ventre Livre. O padre que a rezou era um maçom. Ele foi advertido pelo bispo de que tinha de abjurar a Maçonaria e não rezar mais missas. Esse padre se negou, e aí começou todo um problema, com a adesão do Bispo da Bahia, do Bispo do Pará, terminando pela famosa Questão dos Bispos. Foi preciso que Dom Pedro II, arbitrando o problema, mandasse a questão para o Supremo Tribunal Federal, à época. O Tribunal arbitrou contra os Bispos, condenando-os, inclusive.

            Na verdade, a atitude deles foi de intolerância, que é o inverso do que pregamos na Maçonaria. Temos toda a tolerância com todas as religiões. Aliás, esse é um princípio básico. Chamamos Deus de “O Grande Arquiteto do Universo”, justamente para que todas as religiões possam se sentir à vontade para chamar Deus da forma que queiram chamar, Alá, Jeová, enfim, como cada religião O chame.

            A Maçonaria nada tem de religioso ou de anti-religioso. Ao contrário - e até certo ponto poderia parecer uma questão que mereceria reflexão -, há uma proibição de que pessoas que não possuam algum tipo de crença em um ser superior entrem na Maçonaria. Então, as religiões não podem reclamar de nós. Quem pode reclamar de nós são os ateus, porque esses não são aceitos na Maçonaria. Mas os religiosos, de modo geral, não podem reclamar da Maçonaria.

            Falei na Maçonaria do passado e aqui eu poderia me referir a todas as ações importantes da Maçonaria no Brasil, desde a vinda de Dom João VI - foi um ato da Maçonaria inglesa trazê-lo para cá quando Portugal estava sendo invadido por Portugal -; a própria ação de Dom Pedro I na Independência; a Abolição da Escravatura; a Proclamação da República, comandada por Deodoro da Fonseca, que foi um ilustre maçom. Então, na verdade, nós temos a ação da Maçonaria em todos os aspectos da História brasileira, como disse a Ministra. Ela se confunde mesmo com a História do Brasil. Portanto, somente isso já daria à Maçonaria um lugar de destaque, um lugar de referência na História brasileira.

            Mas a Maçonaria não ficou aí; ela continua trabalhando, e eu diria até que trabalhando muito em silêncio. Há um princípio que nós cultuamos com muita força, que é o de dar com uma mão sem que a outra perceba.

            E isso é muito bonito, quando se trata realmente de fazer uma obra de assistência sem humilhar a pessoa que a recebe. Porém, há outro conceito que precisa ser atualizado. Se somos uma instituição que está presente na sociedade e realizamos um trabalho, temos a obrigação social de prestar contas a essa sociedade. Precisamos dizer que, no Grande Oriente do Brasil, há creches e escolas e que fazemos várias ações. Além disso, devemos publicar um balanço social das nossas atividades, assim como das Grandes Lojas, dos Grandes Orientes Independentes.

            Portanto, é preciso que a sociedade moderna, que, digamos assim, é globalizada e tem informações, saiba o que fazemos. Isso será bom para a sociedade e para nós, porque mudaremos e estaremos mais inseridos na sociedade. Por isso, pergunto o que a Maçonaria de hoje pode fazer mais pelo Brasil além do importantíssimo trabalho, como o aperfeiçoamento moral de cada um dos seus membros, a valorização e fortificação das famílias dos maçons e o trabalho pelo soerguimento da humanidade, embora esse trabalho de soerguimento da humanidade deva beneficiar mais gente e ser mais amplo. Temos condições de fazer isso, mas precisamos ser mais atualizados.

            O Irmão Laelso avançou muito durante o seu mandato como Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, assim como sei que as Grandes Lojas e os Grandes Orientes Independentes fizeram, mas podemos fazer mais. Nunca devemos nos dar por satisfeitos com aquilo que já fizemos.

            Quando eu estudava Medicina, um professor meu disse que o médico - a classe médica - é como um boi: não sabe a força que tem. Quero transferir essa observação para os maçons, para a Maçonaria brasileira. Nós somos como bois: não sabemos realmente a força que temos. Nós poderemos usá-la - como sempre usamos - para o bem da humanidade e do País, que atravessa crises éticas e morais sérias. Precisamos infundir e difundir os nossos ideais.

            Quero inclusive dirigir-me especialmente aos meus sobrinhos DeMolays. Aqui não estão presentes também jovens da Associação Paramaçônica Juvenil, do Grande Oriente do Brasil. Não estão presentes as jovens Filhas de Jó, outra instituição voltada para as filhas de maçons e não-maçons. Essas entidades são justamente ligadas à Maçonaria, e temos como objetivo transmitir-lhes exatamente esses nossos princípios, que não são segredo para ninguém. Devemos, ao contrário, divulgá-los muito.

            Então, quero registrar uma homenagem muito grande ao Irmão Laelso, um maçom de primeira linha, que tem um trabalho magnífico feito na sua Loja em Sorocaba e como Deputado Federal na soberana Assembléia Federal Legislativa. Como Grão-Mestre, cumpriu metade de um mandato, depois foi reeleito e cumpriu um mandato que termina no próximo ano. Quero, posteriormente, pedir que as anotações aqui feitas do seu currículo sejam transcritas como parte integrante do meu pronunciamento.

            Ao final, quero exortar os maçons do Brasil todo: que nós possamos fazer realmente um trabalho de união, de intensificação das nossas potencialidades, de difusão dos nossos ensinamentos por todos os meios.

            Sem nenhuma crítica à CNBB, que é uma instituição respeitável, mas, vejam bem, a CNBB é composta por respeitáveis senhores solteiros, grande parte deles estrangeiros. Portanto, são pessoas que não têm esposa, não têm filhos e nem netos e que, a toda hora, dão “pitecos” sobre os problemas nacionais e são ouvidos.

            Por que nós, que somos pessoas das mais diversas profissões, que temos famílias constituídas - bem constituídas -, que temos capilaridade na sociedade, não temos uma ação mais proativa, mais presente, inclusive e principalmente na política? Todos esses fatos narrados aqui foram o quê? Foram fatos políticos. Nós temos que estar inseridos na política, dizendo o que pensamos e pedindo e exigindo que as coisas sejam feitas de acordo com os nossos princípios.

            Quero, por fim, Sr. Presidente, pedir que sejam transcritos como parte integrante do meu pronunciamento três documentos: um sobre a Ordem DeMolay, outro sobre a Ação Paramaçônica Juvenil, e outro sobre a Ordem Internacional das Filhas de Jó, justamente como uma homenagem à juventude, para que os maçons de amanhã, mirando-se nos exemplos que têm, façam uma Maçonaria melhor, mais ativa e mais moderna. Vamos começá-la agora!

            Temos certeza de que tudo o que foi feito até aqui valeu muito a pena. Tudo o que foi feito até aqui foi muito importante, e temos como fazer muito mais.

            Citei a CNBB para dizer que a Igreja Católica, por exemplo, tem convênios pelos quais recebe dos cofres públicos - Federal, estaduais e municipais - quantias volumosas para prestar assistência. E presta, de fato, assistências muito importantes - a Pastoral da Criança é um exemplo muito importante. Mas nós temos, no nosso seio, um grupo imenso de médicos que, se bem mobilizados, poderiam fazer um trabalho muito maior que o da Pastoral da Criança.

            Termino cumprimentando os maçons aqui presentes, que lotam o plenário e até a tribuna de honra do Senado Federal, nesta tarde de segunda-feira, um dia atípico. Sei que muitos aqui, inclusive, estão se privando de estar em seus Estados comemorando o Dia do Maçom - hoje é o Dia do Maçom em todo o País.

            Agradeço, do fundo do coração, a muitos grão-mestres que me disseram que ficariam para prestigiar a sessão. Suas presenças realmente engrandeceram muito a homenagem.

            Vamos fazer a Maçonaria do Século XXI, porque a do Século XX já está feita.

            Muito obrigado. (Palmas.)

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MOZARILDO CAVALCANTI EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Regulamento Geral da Ação Paramaçônica Juvenil - APJ”;

“Ordem Internacional das Filhas de Jó”;

“Apostila DeMolay”.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/08/2007 - Página 27951