Discurso durante a 122ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do pintor e artista plástico José Inácio, natural de Arauá e da professora e escritora Ofenísia Soares Freire, natural de Estância, (SE).

Autor
Antonio Carlos Valadares (PSB - Partido Socialista Brasileiro/SE)
Nome completo: Antonio Carlos Valadares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do pintor e artista plástico José Inácio, natural de Arauá e da professora e escritora Ofenísia Soares Freire, natural de Estância, (SE).
Publicação
Publicação no DSF de 10/08/2007 - Página 27012
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, PINTOR, ARTISTA, ARTES PLASTICAS, PROFESSOR, ESCRITOR, ESTADO DE SERGIPE (SE).

            O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (Bloco/PSB - SE. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, como anunciado por V. Exª, esses dois requerimentos visam a prestar uma homenagem a duas grandes personalidades do Estado de Sergipe: a escritora e professora inesquecível, Ofenísia Soares Freire, e o pintor e artista plástico José Inácio.

            A professora e escritora Ofenísia Soares Freire faleceu no dia 24 de julho aos 93 anos de idade.

            Trata-se de uma intelectual reconhecida pela sociedade sergipana e uma mestra que marcou o ensino de muitas gerações em Sergipe, tendo marcado também a minha carreira como estudante, pois, no Colégio Atheneu Sergipense, recebi os ensinamentos inesquecíveis e bem fundamentados da Professora Ofenísia Soares Freire.

            A escritora e professora Ofenísia ocupava a cadeira número 16 da Academia Sergipana de Letras. A sua grande marca como escritora é a publicação do livro Presença Feminina em Os Lusíadas, mas sua atuação nas letras também passa por uma atividade no jornalismo, pois, ainda no tempo da juventude, ela escreveu nos jornais de Estância A Razão e a Voz do Povo, com o pseudônimo de LP.

            Em Aracaju, escreveu na Gazeta de Sergipe por muitos anos e assinou a coluna a Arte da Gramática, além de ter publicado inúmeras crônicas.

            A professora Ofenísia ensinava as disciplinas de Língua e Literatura Portuguesa, Teoria Literária, Língua e Literatura Brasileira. Ensinou no Colégio Estadual Atheneu Sergipense, no Colégio Tobias Barreto e no Colégio Jackson de Figueiredo, até o seu filho Ivan ter-lhe prestado homenagem dando o seu nome ao colégio e curso de pré-vestibular de propriedade da família Soares Freire.

            A professora Ofenísia foi integrante do Conselho Estadual de Educação, ocupou cargo público na Secretária Municipal de Cultura de Aracaju e foi professora-revisora de textos da Universidade Federal de Sergipe.

            Foi militante política filiada ao Partido Comunista Brasileiro, o PCB.

            Em 1947, emprestou seu nome às chapas de deputado estadual e também de deputado federal. Quando o PCB foi posto na clandestinidade, Ofenísia voltou-se ao magistério, mas isso não impediu que, em 1964, ela fosse novamente atingida pela repressão, quando teve cassado o seu mandato no Conselho Estadual de Educação e foi afastada da escola pública Atheneu.

            No passado recente, o historiador sergipano Luiz Antonio Barreto fez uma brilhante e emocionada homenagem à professora e escritora Ofenísia. Reproduzo, aqui, parte desta homenagem:

Há uma unanimidade crítica tanto sobre a biografia da professora, considerada “a Mestra de Todos Nós”, como sobre o seu livro A Presença feminina em Os Lusíadas, pois o livro é uma demonstração de erudição e de talento interpretativo, ampliando, com qualidade, as coleções camonianas em língua portuguesa. No seu livro, a professora se mostra por inteiro, dominando a cátedra, demonstrando o lastro de conhecimentos com o qual enfrentou, anos seguidos, turmas inteiras de jovens. Com o seu livro, Ofenísia Freire transpõe, de forma inequívoca, os limites do magistério, que estão sempre sujeitos a currículos e parâmetros, passando a gozar do reconhecimento como escritora, ensaísta, interpretando um texto do século XVI e tirando dele novas lições, especialmente ligadas à mulher. Mais do que compor e enriquecer a bibliografia de autores sergipanos, o livro de Ofenísia Soares Freire contribui para alargar a crítica em torno da grande obra do vate português.

            Sr. Presidente, ao fazer esta homenagem à grande professora Ofenísia Soares Freire, professora de tantas gerações no Estado de Sergipe, não poderia deixar de homenagear também o grande artista plástico sergipano José Inácio, natural de Arauá.

            No último dia 1º de agosto faleceu, aos 96 anos, o pintor e artista plástico sergipano José Inácio, considerado um dos maiores pintores do Estado de Sergipe, pois transformava cor em vida, sempre de maneira bastante humorada.

            Os artistas sergipanos costumam atribuir duas características ao estilo de José Inácio: a religiosidade demonstrada em suas telas e a presença das bananeiras; ambas marcadas pelo uso das cores primárias, tanto que a religiosidade não se traduzia através do modo convencional, já que, por exemplo, o Cristo por ele pintado era bastante colorido.

            José Inácio, nome de batismo, como eu disse, nasceu em Arauá, em 1911. Estudou na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro. E contam os amigos que ele abandonou a bolsa de estudos e retornou andando para a capital sergipana; refletindo o seu jeito simples de viver com o intuito de pintar o que gostava, da forma que amava.

            Pode-se ler no álbum com as principais obras de José Inácio, que foi produzido pelo Banco do Estado de Sergipe, que ele nunca deixou morrer a criança que existia nele. Sua grande marca era, sem dúvida, o desprendimento das coisas materiais e a bondade.

            Ele era uma pessoa que não se submetia a nenhum tipo de regra e um artista que não pode ser enquadrado em nenhuma escola.

            De fato, o seu filho Caã, também artista plástico, diz que José Inácio viveu para a arte e da arte. É por isso que o corpo físico de José Inácio faleceu, mas sua arte e cores permanecem vivas na cultura sergipana.

            Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/08/2007 - Página 27012