Discurso durante a 132ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro sobre o Movimento "Acorda, Pará!, Sarah já!". Protesto contra o sistema público de saúde em todo o País.

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Registro sobre o Movimento "Acorda, Pará!, Sarah já!". Protesto contra o sistema público de saúde em todo o País.
Aparteantes
César Borges.
Publicação
Publicação no DSF de 24/08/2007 - Página 28495
Assunto
Outros > SAUDE. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • ELOGIO, MOBILIZAÇÃO, ESTADO DO PARA (PA), AGILIZAÇÃO, FUNCIONAMENTO, HOSPITAL, CAPITAL DE ESTADO, REDE NACIONAL DE HOSPITAIS DA MEDICINA DO APARELHO LOCOMOTOR, INFORMAÇÃO, PROXIMIDADE, DATA, INICIO, ATIVIDADE.
  • GRAVIDADE, ABANDONO, SAUDE PUBLICA, BRASIL, PRECARIEDADE, ASSISTENCIA MEDICO-HOSPITALAR, GREVE, MEDICO, ESTADOS, CRITICA, NEGLIGENCIA, GOVERNO FEDERAL, MINISTRO DE ESTADO, DESVIO, RECURSOS, ARRECADAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO PROVISORIA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA (CPMF), DESCUMPRIMENTO, OBJETIVO, CRIAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO.
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, ESTADO DO PARA (PA), DADOS, SUPERIORIDADE, OCORRENCIA, HOMICIDIO, CAPITAL DE ESTADO, CRESCIMENTO, VIOLENCIA, GRAVIDADE, CRISE, PAIS.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, inicialmente gostaria, com muita satisfação, de parabenizar o movimento “Acorda, Pará! Sarah já!”, do meu Estado, que muito lutou para que pudesse ver concretizado um sonho dos paraenses: o funcionamento do Hospital Sarah Kubitschek na capital Belém.

            Senador César Borges, V. Exª, com certeza, já ouviu o Senador Mário Couto, várias vezes, falar neste assunto. Parece - oxalá, tomara - ser verdade! Parece que o hospital vai começar a funcionar no mês de novembro. Essas são as informações que temos.

            Aqui quero deixar, então, os meus parabéns à Assembléia Legislativa do Estado do Pará, à Câmara Municipal de Belém, aos Senadores que aqui estiveram, por várias vezes, solicitando ao Governo Federal que instalasse os equipamentos necessários para aquele hospital funcionar. Cinco anos parado! Cinco anos! Olhem o desprezo do Governo Federal com a saúde neste País! É lamentável!

            Se fosse somente a Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação, o problema estaria resolvido, mas é o Brasil inteiro que sofre o desprezo na área da saúde. O caos não é só aéreo, Senador César Borges! O caos está na saúde; o caos está nas estradas brasileiras.

            Quantos morrem, Senador? Quantos morrem? Se formos somar os que morrem por crime neste País, que morrem por causa da violência, àqueles que tombam nas estradas brasileiras, bem como àqueles que não são atendidos nos hospitais, veremos como está o nosso País. Eis, a saúde pública no nosso País!

            Já se mostrou na televisão crianças morrerem por falta de atendimento médico! São crianças que morreram por falta de atendimento médico! Felizes são aqueles que conseguem uma ficha nas filas dos hospitais para serem atendidos neste País hoje! Felizes são os brasileiros que levantam às três horas da manhã para entrar numa fila e conseguir uma ficha para ser atendido por um médico neste País hoje! Felizes são eles, Senador Marco Maciel! E muitos não conseguem ser atendidos. Greve dos médicos em mais de um Estado neste País. Abandono geral da saúde neste País. Nós não podemos ficar mais calados. É o abandono geral.

            E, pasmem Srªs e Srs. Senadoras, o Presidente Lula, ao empossar o atual Ministro da Saúde no dia 23 de maio passado, ainda diz que os seus Ministros são os verdadeiros heróis. Ô Presidente Lula, de vez em quando Vossa Excelência fala umas frases sobre as quais precisamos meditar. Presidente, os heróis de verdade são os brasileiros que estão fugindo das balas perdidas nas nossas cidades. Esses são os heróis. Heróis são aqueles que conseguem ser atendidos nos hospitais brasileiros, Presidente Lula. Esses são os verdadeiros heróis. Heróis, Senador César Borges, são os paraenses que vivem a pedir ao Presidente da República que melhore o índice de violência na capital do Pará - e vou mostrar os jornais paraenses. Esses são os heróis que se salvam dos bandidos. Heróis são os militares mal remunerados, a Polícia Civil mal remunerada, cujos policiais, muitas vezes, correm de bandido para não serem mortos. Esses são os verdadeiros heróis.

            E o ex-Ministro José Dirceu? Esse é um herói, Presidente. Presidente Lula; esse é um herói! Os companheiros petistas também são heróis, pois praticaram tanta corrupção neste País, Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias, e ainda estão rindo da cara de cada um de nós porque estão livres, estão soltos; esses são os verdadeiros heróis nacionais. E a Ministra Marta Suplicy - esta é uma heroína, Presidente Lula -, que vai à televisão, depois da morte de 154 brasileiros, goza da cara dos brasileiros, mexe com a família daqueles que estão chorando e sofrendo a morte de 154 pessoas e, antes mesmo do segundo acidente acontecer, a heroína do Presidente Lula vai à televisão e diz: “Relaxem e gozem”. Essa é uma heroína, Presidente Lula!

            Não são os seus Ministros que são heróis, Presidente Lula. A saúde pública está mal neste País. Em quatro anos e meio, Presidente Lula, Vossa Excelência não conseguiu melhorá-la; e não só a saúde, lógico, pois o caos está instalado neste País.

            E o Presidente ainda quer, Senador Alvaro Dias, que se renove a CPMF. O que o Presidente Lula fez com o dinheiro da CPMF na área da saúde? Diga-me, Sr. Presidente, Senador Alvaro Dias. Nada, absolutamente nada! Garanto-lhe que, se houvesse um contrato sério com a população brasileira, se lhe dissessem assim: vamos pagar esse imposto - porque a população está pagando, sai do bolso do povo brasileiro, que está cansado - e, com isso, vamos melhorar a saúde, a educação e a segurança deste País. Se se falasse seriamente, garanto a V. Exªs que a população concordaria.

            Mas a população está descrente, pois paga a CPMF para ver a melhoria na saúde e não vê; ao contrário, vê a saúde piorando a cada dia. Esse imposto veio exatamente para melhorar a saúde brasileira, e o que se vê é a saúde piorar neste País, é o desmantelo do atendimento à população brasileira. E, se formos ao interior, a coisa é muito mais complicada e muito pior, pois a maioria das unidades de saúde não têm médico, nem ao menos um. No meu Estado é assim; no interior do meu Estado ainda é assim.

            Creiam, Srªs e Srs. Senadores: quando se vai aos Municípios são raríssimas as cidades que têm médicos. Pediatras? Nem falem nisso. Se existe um clínico, já é sorte, muita sorte; as outras especializações, nem falar! O interiorano tem que andar, às vezes, um dia ou dois para chegar à capital, enfrentar uma fila de madrugada para tentar conseguir um cartão a fim de que o médico possa atendê-lo.

            Este é o Brasil de hoje, que paga a CPMF para melhorar a saúde brasileira. E o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda diz que os Ministros são os verdadeiros heróis.

            Senador César Borges, Srs. Senadores, vejam este jornal; vejam como está não só a saúde deste Brasil. Meu caro Senador Marco Maciel, V. Exª, que tem uma grande experiência no Executivo, deve estar aí com um sentimento de dor ao me ouvir dizer tudo isto, pois tenho certeza de que V. Exª se preocupava muito, como até hoje se preocupa, com as coisas deste País, especialmente com a inteligência singular que tem.

            Mas a situação está terrível! A condição do nosso País está cada vez pior! Quando é que o Presidente Lula vai melhorar a saúde brasileira, meu Deus do céu? Quando é que o Presidente Lula vai melhorar as condições das estradas brasileiras, que derrubam, derrubam e derrubam os nossos irmãos brasileiros? Quando? Cadê aquele assessor que fez aqueles gestos obscenos quando o avião caiu? Onde ele está? Onde está aquele cara que a Globo filmou? Cadê ele? Ele nem sequer foi punido, Srs. Senadores. Onde é que nós estamos?

            Veja este jornal do meu Estado; veja como está o meu Estado, Senador César Borges. O jornal de maior circulação na capital paraense (O Liberal) revela: ocorrem dois assassinatos todos os dias na capital paraense. Se você abre o jornal, ele está repleto de crimes. Vejam aqui esta matéria: “Dona de casa reza contra a morte”. “Quando chega sexta-feira” - diz ela - “eu começo a orar, porque vai morrer alguém”. E todas as páginas retratam crimes na minha cidade. Se torcermos o jornal, vai já pingar sangue aqui. Onde estamos? Onde estamos? Num País chamado Brasil, Governado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

            O Sr. César Borges (DEM - BA) - Senador Mário Couto, V. Exª me permite um aparte?

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Pois não.

            O Sr. César Borges (DEM - BA) - Senador Mário Couto, pedi um aparte, primeiro, para me solidarizar com a sua indignação, com o seu veemente discurso, porque é muito difícil vermos o sofrimento da população que estamos representando. Clamamos todos os dias por uma mudança de rota, de rumo na aplicação dos recursos públicos. Lamentavelmente, o Governo prefere ficar sempre a tecer loas a si próprio, como nunca dantes neste País, a anunciar PACs e mais PACs, promessas e mais promessas, uma substituindo a outra, como se anúncios e promessas substituíssem a realidade. V. Exª fala da precariedade da saúde no seu Estado. Quero dizer que, lamentavelmente, no nosso Estado não é diferente. Na Bahia ocorre a mesma coisa. Temos agora um Governo do Partido dos Trabalhadores que desestruturou toda a saúde baiana. Hoje, a saúde baiana vive um apagão, um caos. Veja bem, O Estado de S. Paulo publicou: “A crise da saúde do Nordeste” - e o Nordeste é uma região composta por nove Estados. Senador Marco Maciel, o jornal afirma: “Problemas graves de gestão de serviços de saúde levaram as populações da Paraíba, Pernambuco e Alagoas a uma situação de calamidade pública”. Outro trecho: “Os pacientes de municípios do interior de Pernambuco, Paraíba e Alagoas percorrem centenas de quilômetros em busca de atendimento em hospitais regionais”. E afirma: “E o problema não é só falta de dinheiro, mas também de gestão eficaz”. V. Exª fala do Pará, mas cito aqui três Estados do Nordeste e quero protestar porque a Bahia também está nesta situação.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Com certeza.

            O Sr. César Borges (DEM - BA) - Poderia estar aqui o nome da Bahia. Agora, lamentavelmente, eu me recordo de que, há pouco tempo, o Presidente Lula disse que a saúde, no Brasil, estava próxima da perfeição...

(Interrupção do som.)

            O Sr. César Borges (DEM - BA) - Não sei se V. Exª se recorda do que disse o Presidente Lula. Não sei exatamente como esses auxiliares do Presidente Lula estão levando a realidade do País para ele. Quero me solidarizar com a sua indignação. Muito obrigado.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Senador César, e ainda querem renovar a CPMF! E essa dinheirama toda que eles receberam, durante todo esse tempo da CPMF, com a população pagando para melhorar a saúde deste País? Está um caos na Bahia, como está em Alagoas, no Pará, no Maranhão, no Piauí; está em todo lugar! É o desprezo total, o desprezo total pela saúde dos brasileiros.

            O Presidente, sim, prometeu e prometeu muito, mas quanta coisa ele prometeu que não cumpriu? Quanto? Não se pode mais acreditar, Senador!

            Desço já, Presidente, desta tribuna, só vou apresentar alguns dados aqui, Senador César Borges.

            Em 2006, na cidade de Belém, na área metropolitana da capital, morreram quatrocentas e poucas pessoas à bala...

(Interrupção do som.)

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Já vou encerrar, Sr. Presidente.

            Só nesse primeiro semestre, esse número já duplicou. A Governadora do Pará andou nos palanques prometendo acabar com a violência no Estado. Já se passaram sete meses da administração da Governadora e a situação piorou, duplicou. Não piorou um pouquinho, não; piorou muito, duplicou, em números reais, a violência. O Pará, hoje, é um caos: estradas abandonadas, saúde pública condenável, violência talvez das maiores do Brasil, e nenhuma providência é tomada.

            Por isso, Sr. Presidente, desço desta tribuna indignado com a situação da saúde, da segurança, do transporte aéreo. Enfim, este País precisa melhorar.

            Muito obrigado pela tolerância.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/08/2007 - Página 28495