Discurso durante a 136ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Elogios à atuação do Supremo Tribunal Federal no julgamento da denúncia do mensalão.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. JUDICIARIO.:
  • Elogios à atuação do Supremo Tribunal Federal no julgamento da denúncia do mensalão.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, José Sarney.
Publicação
Publicação no DSF de 29/08/2007 - Página 28939
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. JUDICIARIO.
Indexação
  • ELOGIO, DEFESA, LIDER, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • ELOGIO, ENTREVISTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PUBLICAÇÃO, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), OPOSIÇÃO, RENOVAÇÃO, REELEIÇÃO, AUSENCIA, AVALIAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA.
  • SAUDAÇÃO, DEMOCRACIA, INDEPENDENCIA, DECISÃO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), ACOLHIMENTO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, MESADA, CONGRESSISTA, MEMBROS, GOVERNO, ELOGIO, RESPONSABILIDADE, PROCURADOR GERAL DA REPUBLICA, COMENTARIO, CRESCIMENTO, AUDIENCIA, EMISSORA, TELEVISÃO, JUDICIARIO, INTERESSE, OPINIÃO PUBLICA, IMPORTANCIA, HISTORIA, BRASIL, IMPARCIALIDADE, LUTA, COMBATE, IMPUNIDADE.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEMORA, DEMISSÃO, MEMBROS, GOVERNO, CORRUPÇÃO.
  • COMENTARIO, SUPERIORIDADE, AUDIENCIA, EMISSORA, TELEVISÃO, SENADO, EVOLUÇÃO, DEMOCRACIA.
  • SUGESTÃO, PRESIDENTE, SENADO, LICENCIAMENTO, PERIODO, DECISÃO, CONSELHO, ETICA.
  • REITERAÇÃO, ELOGIO, ELLEN GRACIE NORTHFLEET, PRESIDENTE, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), DIFICULDADE, DECISÃO, ACOLHIMENTO, DENUNCIA, SUPERIORIDADE, NUMERO, ACUSADO.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, em primeiro lugar, meus cumprimentos à Senadora Líder do PT. Eu gosto de Parlamentar de coragem! Falar quando as coisas estão fáceis, qualquer um fala; agora, falar depois da paulada que teve aqui em cima do Governo - e V. Exª, aqui, depois de toda a imprensa fazer o que fez - , eu acho que V. Exª merece respeito. Ser a favor na hora de receber e ser contra quando as coisas são difíceis é muito fácil. V. Exª merece o respeito. E eu a felicito. Menos entrar em detalhes no conteúdo do que V. Exª falou, mas pela capacidade de dizer o que disse.

            Também gostei da entrevista do Lula, publicada, no domingo, pelo O Estado de S. Paulo. O Senador Eduardo Suplicy, realmente, falou e bem. O Presidente, deixou muito claras algumas posições, que considero importantes, e deixou muito específicas algumas questões como a de que ele estaria buscando a terceira reeleição etc, que achei até muito competente. O jornalista, que é de categoria, quis buscar uma declaração, no meio dessa questão de reeleição ou não-reeleição do Lula, que ele dissesse algo, por exemplo, contra o Presidente da Venezuela, que está buscando mais reeleição. Aí, o Presidente Lula disse-lhe: “Olha, eu estou lhe dizendo, claro que sou contra uma terceira eleição. Nós sabemos o que você quer que eu diga, e eu sei o que você quer que eu diga, mas eu não vou dizê-lo. Apenas estou dizendo que nós, no Brasil, somos contrários a isso.” Claro que o Lula não queria se meter no governo da Venezuela e dizer que o presidente está fazendo um absurdo etc.

            Mas, Sr. Presidente, estou aqui com orgulho do nosso Supremo Tribunal! Não pela decisão em si, mas pela decisão. Para a gente que fala e fala que o Supremo, ao longo do tempo, não decide, que o tempo passa - e dizíamos aqui que, lá atrás, a gente argumentava que a responsabilidade era do Congresso Nacional, porque o Procurador da República decidia, mandava para o Supremo, mas, tinha de pedir licença aos Presidentes do Senado e da Câmara, ouvia as duas Casas, mas elas nunca respondiam nem “sim”, concedendo a licença, nem “não”, negando a licença; ficava na gaveta. Quando se emendou a Constituição e se determinou que não precisava mais ir ao Congresso - nem Câmara nem Senado -, que o Procurador mandaria direto para o Congresso, e o Congresso decidiria, o que aconteceu? Primeiro, o Procurador, no tempo do nosso querido ex-Presidente Fernando Henrique, na verdade, não era um Procurador mas sim um arquivador, que, durante todo o governo, praticamente não fez nada. Mas, neste Governo atual, tem esse mérito tanto para o Procurador-Geral no primeiro Governo como no atual, ou seja, colocar homens de responsabilidade, os Procuradores entraram com as denúncias: ou eles arquivavam, ou entravam com a denúncia. E aí passou a ficar no Supremo Tribunal. E se criou esse estágio de ansiedade, de dúvida e de interrogação.

            Vamos dizer, com toda a franqueza, sabemos que a estrutura do Supremo Tribunal Federal é difícil para uma responsabilidade dessa intensidade, tais como decidir questões criminais. É complexo. Quanto aos processos que lá estão, eu não sabia como eles iriam se sair. Eu os cobrava, mas, com toda a sinceridade, eu não sabia como eles iriam julgar 40 casos. E, olha, decidiram com muita competência! Decidiram com seriedade, com responsabilidade!

            O Relator foi muito competente na hora de dividir o nome das pessoas, a espécie de crime, para depois fazer o debate. Deixaram muito claro que uma coisa era aceitar a denúncia para abrir o processo, outra coisa era decidir, em caráter de culpar ou não culpar, e nesse contexto é que o processo foi.

            Olha, alguém disse aqui - penso que foi o Senador Eduardo Suplicy em um aparte - que a TV Justiça teve recordes de audiência ao longo de sua história. Realmente, o Brasil se pousou na TV Justiça - eu inclusive -, e vi que a decisão foi da maior competência e da maior seriedade.

            A decisão, por unanimidade, com relação ao Deputado José Dirceu também foi importante. Volto a repetir: não foi uma decisão de condenação; foi uma decisão - e eu votaria tranqüilamente com o Ministro do Supremo - de aceitar a denúncia, para agora se fazer a apuração e depois ter a decisão final.

            Foi o dia, na minha opinião, mais importante da história do Supremo!

            Vamos analisar o seguinte: dos que votaram, seis foram indicados pelo Presidente Lula - seis foram indicados pelo Presidente Lula! -; e os seis votaram a favor de aceitar a denúncia. Isto tem mérito, na minha opinião, com todo o respeito, para o Congresso, para os seis e para o Presidente Lula, que, pelo que sei e pelo que vi, não tomei conhecimento de nenhuma ação, nenhuma atividade do Governo Federal querendo intervir - o que não me passa pela cabeça - no Supremo Tribunal. Então, somou também para o Presidente Lula. Não é o problema de um Congresso de um país em que a maioria é contra o governo que entrou. Não!

            Acho que, de certa forma, os seis devem ser simpáticos ao Presidente Lula. Mas, na hora de votar, votaram com a consciência de Ministros do Supremo e votaram como achavam que deveriam votar. 

            Foi bonito de ver a condução, o Relator com sua competência; e cá entre nós, com muita alegria e orgulho, digo à Ministra Ellen Gracie, que fez a sua carreira política e judiciária no Rio Grande do Sul, como Presidente do Supremo: foi o dia mais bonito que vi. Parecia até que o Brasil era um País dos mais modernos e dos mais justos da história, porque os votos foram de seriedade, a análise foi de seriedade. Creio que, ontem, o Brasil viveu um dia importante.

            Digo com toda a sinceridade: eu não tiraria a interpretação de vir aqui e dizer que ontem - eu não acho - foi o dia da derrota do Lula. Não. Acho que não devemos levar por aí. Foi o dia de somar para o Brasil inteiro! Todos ganharam! Ontem, todos ganharam, assim como o Supremo, quando votou na imparcialidade daquilo que deveria ser feito. Eu recebo desta maneira. Há momentos para tudo na vida: momentos para se fazer oposição, momentos para se desmoralizar, momentos para se bater e momentos para se consagrar em conjunto.

            Hoje, todos nós estamos felizes, porque o Judiciário viveu uma das páginas que muitas vezes já a vivemos no Congresso: as boas e as ruins. Ontem foi o dia de o Supremo Tribunal Federal viver um grande momento. E o Brasil inteiro reconhece isso, o Brasil que defende a luta para se acabar com a impunidade, os que defendem a luta para ter uma Justiça mais justa, mais feliz na história deste País, ontem foi um grande dia.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, creio isso que serve para todos. Não acredito - com toda sinceridade, até hoje não consegui me convencer - que o Presidente Lula não seja um homem de respeito, um homem que não quer fazer um grande Governo. Sinceramente, eu não me compenetro disto. Digo, com toda a sinceridade, de que falta ao Lula, na minha opinião, rapidez nas decisões. Para o Lula demitir alguém do seu Governo, para ele - parece-me - ser como cometer um homicídio. Só se demite quando a coisa é. E Presidente não é isso. Um dirigente tem de ter a capacidade de tomar posição na hora. Se ele tivesse demitido lá no início - já disse isto, aqui está o Senador Eduardo Suplicy -, quando o Waldomiro apareceu na televisão recendo dinheiro e o colocando no bolso, se ele o tivesse demitido naquela hora, se o tivesse colocado para fora, se ele tivesse permitido a instalação da CPI naquele momento, no início, seria o primeiro ato que teria aparecido, a coisa teria sido diferente. Fomos criar a CPI após um ano e seis meses. Aí, já não era uma CPI; eram seis CPIs. Se ele, no mínimo, tivesse demitido o Waldomiro, se ele o tivesse posto para fora, e todo o mundo entendesse que o seu Governo era assim, a coisa teria sido diferente.

            Mas ele terminou tomando posição. Eu, por exemplo, com toda a sinceridade, acho que a Chefe da Casa Civil de hoje é uma mulher que merece respeito. Vejo a sua ação, a sua atuação, a sua maneira de agir bem diferente da do Chefe do Governo anterior. No Governo anterior - reparem, eu não quero nem discutir - mas tudo o que se fala que aconteceu passou pela Casa Civil. Inclusive se dizia da ligação do homem, do chefão que buscava e distribuía o dinheiro era feito no gabinete da Casa Civil. Nunca surgiu uma notícia desse tipo com a nova Chefe da Casa Civil, que demonstra que quando se quer se faz.

            Mas quero felicitar a Ministra Ellen Gracie. Na figura de S. Exª, felicito todo o Supremo Tribunal Federal. E digo que é um dia de festa. Não um dia de festa no sentido de se vangloriar porque alguns foram denunciados, que a denúncia foi aceita, ou coisa que o valha. É um dia de festa porque, hoje, depois de muito tempo, o brasileiro respira uma sensação de que há possibilidade de se fazer justiça neste País, de que há possibilidade de se terminar com a impunidade neste País, de que há possibilidade. O Congresso fez o seu papel na CPI, com erros, acertos, equívocos, mas fez o seu papel. E a denúncia levou ao Procurador que, com excepcional capacidade, exerceu o seu papel. Agora, o Supremo Tribunal Federal, na sua responsabilidade, cumpriu a sua missão.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite V. Exª um aparte, Senador Pedro Simon?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não, Senador Eduardo Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Pedro Simon, V. Exª trouxe dois assuntos de grande importância. Gostaria de comentar ambos. O primeiro, quando comentou as declarações do Presidente Lula ao jornal O Estado de São Paulo, e suas repercussões, relacionadas ao...

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª trouxe... Tomei conhecimento com o pronunciamento de V. Exª.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Relacionadas ao Presidente Hugo Chávez, que efeito teria tido. Eu me interessei especialmente por essa particularidade e resolvi examinar se os jornais principais da Venezuela trouxeram a entrevista do Presidente Lula. E aqui informo a V. Exª e ao Senado que sim. Por exemplo, o El Universal, no próprio domingo, dia 26, publica: “Lula diz que oito anos de Governo são suficientes; porém, não julga Hugo Chávez”. Ali está transcrito o trecho tão importante para o relacionamento que V. Exª aqui colocou: “Não creio na palavra insubstituível, não existe ninguém que não seja substituível ou que seja imprescindível; quando um dirigente político começa a pensar que é imprescindível, que é insubstituível, começa a nascer um ‘ditadorzinho’” - aqui está escrito em Espanhol, estou colocando em Português. “O governante, entretanto, preferiu não comentar o projeto de reforma constitucional de Chávez, que permite reeleições por tempo indefinido para o chefe de estado na Venezuela. Não julgo o comportamento de outros países”, afirmou Lula, ao ser interrogado se Chávez seria um ditador. “Chávez está propondo uma reforma da constituição. Se tem a maioria para fazê-lo, eu não peço, porque sou adepto da alternância de poder”, afirmou o Presidente Lula. E creio que oito anos são suficientes para fazer aquilo que creio ser possível se fazer. Outro virá, e fará mais.” A observação de Lula, certamente, de alguma maneira, chegou à Venezuela, e permitirá até uma reflexão para o povo venezuelano, acredito que para o próprio Presidente Hugo Chávez. Quem sabe, ele possa ter o conhecimento de como, por exemplo, o Presidente Nelson Mandela, certo dia, disse aos que sugeriam a ele para ser novamente candidato, e ele disse: “Tenho observado o que tem ocorrido com os que querem permanecer no poder por tanto tempo. Eles acabam se desgastando. Prefiro concluir meu mandato com o povo querendo que eu muito continue”. Assim, decidiu não ser mais, e até hoje se constitui em um Chefe de Estado na África que a toda hora é chamado para contribuir na resolução de problemas maiores de seu próprio país e dos demais países da África. O Presidente Hugo Chávez pode se reportar também a isso na reflexão, claro que respeitando o que eles lá decidirem. É muito importante o registro de V. Exª, cumprimentando o Supremo Tribunal Federal pela maneira aberta e transparente como agiu. É um passo extraordinário da democracia. O Senado Federal deu um passo importantíssimo ao fazer com que a TV Senado transmitisse nossas sessões, com repercussão, e V. Exª sabe disso.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Começou com o Senador José Sarney, e foi uma grande realização.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Com o Presidente José Sarney. E isso teve uma repercussão extraordinária.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - E ontem, pela primeira vez, vimos que na Justiça também. Quer dizer, não estávamos levando muito assim, etc. e tal, mas quando eu vi a insistência das pessoas em assistir à TV Justiça, eu vi como foi importante a realização do julgamento.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Exato. Eu próprio, Senador Pedro Simon, nunca havia assistido com tamanho interesse à TV Justiça quanto nos últimos dias, porque está havendo ali momentos da maior relevância, importantíssimos, inclusive o debate havido sobre o episódio do fotógrafo do jornal O Globo, que flagrou aquela cena na tela do computador, de um diálogo entre dois Ministros, e que causou um grande debate se seria ou não invasão de privacidade. Isso acabou proporcionando um artigo muito interessante do Ministro Joaquim Barbosa no jornal Folha de S.Paulo sobre como poderá o Supremo Tribunal Federal se aperfeiçoar a partir daquele episódio. A palavra de V. Exª é muito importante, sobretudo porque assegura o funcionamento de uma das principais instituições da democracia, o Poder Judiciário, agindo de maneira aberta, transparente, e se assegurando em relação àqueles que são denunciados. Sim, companheiros do meu Partido. Eu sofro com isso, por meus companheiros, mas penso que estamos aprendendo as lições. Deveremos nós, inclusive os Ministros e o Presidente Lula, todos nós, Senadores do PT, estar muito mais atentos, pois qualquer atitude, mesmo que resulte em um indício de procedimento inadequado, poderá se transformar em objeto de eventual julgamento, como o que enfrentam meus companheiros de Partido que hoje estão na berlinda. É importante o registro de V. Exª.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço o aparte de V. Exª. Sou fã de V. Exª. V. Exª é um Senador excepcional. V. Exª, quando Fernando Henrique era Presidente, quando o Senador Sarney era Presidente, é daqueles que critica, e critica duro, mas é daqueles que, em primeiro lugar, nunca atinge a dignidade da pessoa; e, em segundo lugar, busca fazer por aceitar. O mesmo estilo de discurso que V. Exª fazia criticando o Governo anterior está fazendo agora, com mais cuidado, com mais preocupação, mas V. Exª não abriu mão das suas idéias. Isso é muito importante. Infelizmente, a pessoa muda quando está no Governo ou quando está na Oposição. A única pessoa que não mudou, e é excepcional, é o atual Líder do Governo. Ele está usando o mesmo discurso que fazia quando era Líder do Governo anterior. Ele se manteve firme; os governos que vieram para ele. Quer dizer, o Governo Fernando Henrique se adaptou ao Senador Romero Jucá, e o Senador Romero Jucá tinha aquela linguagem. Ele, agora, que é Líder do Governo Lula, não precisa mudar nada; está usando o mesmo discurso. Quer dizer, porque o Governo é igual.

            Pois não, Senador José Sarney.

            O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - Senador Pedro Simon, V. Exª não estava aqui pela manhã, quando realizamos a sessão comemorando os 10 anos do ILB...

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Mais uma obra de V. Exª.

            O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - (...) da Unilegis, do Interlegis. Na oportunidade, tive de dizer, fazendo justiça, que foi V. Exª o inspirador de todas as reformas que iniciamos àquele tempo, pela sua pregação constante em favor de mudanças dentro do processo até então utilizado em nossas sessões e nossos trabalhos. Tive a oportunidade de fazer essa justiça, que agora tenho renovada, pois V. Exª foi o grande João Batista, o pregador da necessidade das reformas que culminaram na TV Senado e em todos os órgãos de comunicação do Estado.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª não pode dizer isso, porque, se disser que sou João Batista, vou ter que dizer que V. Exª foi o Jesus Cristo, pois V. Exª foi quem fez e realizou a grande obra que eu reconheço. A TV Senado e o Instituto criado por V. Exª, assim como o Jornal do Senado, mudaram a realidade deste Congresso. É uma outra realidade.

            O Sr. José Sarney (PMDB - AP) - Mas foi inspirado nas idéias de V. Exª.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado.

            Andando pelo interior, vejo que, hoje, em vez de ficarem sabendo o que o Congresso ou o Senado fizeram por três linhas do Jornal Nacional ou pelos jornais das outras televisões, as pessoas acompanham ao vivo. Hoje, as pessoas acompanham tudo ao vivo, como acompanharam as reuniões de ontem e de anteontem e estão acompanhando a reunião de hoje do Supremo Tribunal Federal. Isso começou com V. Exª, criando a TV Senado. O interessante é que V. Exª encontrou unanimidade. Muita gente não entendeu. “Onde vai terminar isso? Transmitir uma sessão do Senado Federal? Em primeiro lugar, é insosso, ninguém vai assistir isso”. Pois digo a V. Exª: é impressionante a audiência da TV Senado. É impressionante! Aonde vou, a qualquer cidade que eu vá, perguntam por que fiz aquele discurso, falam do Senador fulano de tal, do Senador Suplicy, que é muito badalado, e do Senador Mão Santa, que todo mundo comenta: “Como ele é? Ele é assim mesmo?” Ele é assim mesmo. Meus cumprimentos a V. Exª.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite fazer uma sugestão, a propósito?

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Permito, porque o Presidente Renan me disse: “Pode deixar o Suplicy falar à vontade, porque vou descontar do seu tempo”.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Vou aproveitar, Senador Pedro Simon, para fazer uma sugestão a V. Exª, ao Plenário e ao Senador Renan Calheiros sobre um momento que, todos sabemos, será de extraordinária importância e que despertará um enorme interesse da população brasileira em acompanhar. Refiro-me ao que vai ocorrer, na quinta-feira, na reunião do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. A sugestão que formulo, acredito, poderá ser objeto de análise de V. Exª. Obviamente, será objeto de grande interesse o parecer dos Relatores. É possível. V. Exª sabe que tenho feito recomendação ao Senador Renan Calheiros. Inclusive, estou aceitando o convite feito por S. Exª para conversar e ter esclarecidas quaisquer dúvidas. Por mais que tenhamos esclarecimentos, não há nada melhor que um diálogo de S. Exª com os Membros do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar na reunião da próxima quinta-feira, no momento da leitura dos relatórios. Isso deverá ser acompanhado por todos. Certamente, na medida em que a avaliação que tivermos de fazer de todo o caso for objeto do conhecimento da população brasileira, nas suas razões de profundidade, ela poderá ser muito mais bem compreendida, se tivermos a transparência do processo, com a transmissão pela TV Senado. Muitos nos estão perguntando se a reunião será aberta ou fechada ao público. Por que não serem inteiramente abertos o diálogo, a decisão? Sinceramente, digo a V. Exª, como transmiti às pessoas que me perguntaram, que ainda não tomei minha decisão e que quero tomá-la à luz dos mais completos esclarecimentos, tendo lido os relatórios que ainda não conhecemos e que nos serão apresentados pelos Relatores. Lembrei-me disso a partir do elogio feito por V. Exª a respeito de quão importante é o instrumento de transparência que é a TV Senado.

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Este é o Senador Suplicy. Ele é o que é. Ninguém o muda.

            A respeito disso há um fato que é muito conhecido. Dizem que, no final da campanha do Presidente Lula, na primeira eleição, Sua Excelência reuniu um grupo muito fechado do PT. Era uma discussão muito séria, sobre uma decisão a tomar. Essa decisão influenciaria muito o andamento da campanha e a vitória. Então, as pessoas eram convocadas, de forma selecionada, para um lugar afastado do Senado, da Câmara, para discutirem o que fazer. Chegaram ao Senador Eduardo Suplicy e o convocaram. Aí disseram: "Olha, mas há uma coisa: você não pode falar nada para a sua mulher, para ninguém. É uma coisa que você tem de guardar. É segredo absoluto". Falaram, falaram. Daqui a pouco, S. Exª foi até lá e lhes disse: "Se não posso falar nada para ninguém, não vou. Então, já não me incluo. Não vou, porque depois não sei se me controlo; daqui a pouco...”

(Interrupção de som.)

            O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Realmente, V. Exª tem essa qualidade. V. Exª diz as coisas. Respondo a V. Exª: não gostaria de tocar nesse assunto, porque não é o momento, mas, se eu fosse o Presidente do Senado, meu querido amigo Renan, ainda hoje me licenciaria. Ainda é tempo, Presidente. Ainda é tempo! Nunca vivi um momento como o que está vivendo o Senador Renan. Muitas vezes, entramos numa linha. O Senador Renan botou na cabeça que, caso se licenciasse da Presidência do Senado, estaria rendendo-se, curvando-se à pressão que há em roda dele. Acho que não. Se ele houvesse se afastado da Presidência do Senado, teríamos até condições de fazer uma defesa, mas ele fica nessa posição.

            Sabemos que ele é uma pessoa que está agindo com a imparcialidade e com a seriedade que lhe são próprias. Mas fica a imagem: “Não, ele está lá, porque está pondo a máquina a favor dele”. Não vejo máquina, não vejo nada. Digo, com a maior sinceridade, que nunca recebi nenhum tipo de pressão, nenhuma coisa, e vejo a coisa andando normalmente.

            Respeito a posição do Senador Renan Calheiros, mas, como seu amigo, se eu pudesse influenciar, dir-lhe-ia: “Vá descansar. Deixe que se faça o trabalho sem a sua presença”.

            Quero dizer à Ministra Ellen Gracie: temos muito orgulho de V. Exª. Que bom que é uma mulher! Alguém sempre fica naquela interrogação: “Mas é uma mulher?” Pois pegou o caso mais difícil que chegou ao Supremo. É uma denúncia contra quarenta réus. Nunca ocorreu isso antes; não me lembro de um caso semelhante, anterior a esse. E o Supremo agiu com capacidade. A Presidente agiu com dignidade.

            Repito: vivemos ontem um dia muito importante. O Supremo somou. A imprensa insinuava: “É, mas há seis Ministros indicados por Lula!” E daí? Os seis Ministros votaram como pensavam que deveriam votar. Por isso, eu, que tenho vindo aqui me apresentando geralmente como crítico ao Governo, hoje elogio e ponho no céu o Supremo - a Ellen, o Relator e todos os Ministros. Mas creio que não é o momento, e o digo com muito respeito aos Líderes da Oposição, por quem tenho o maior carinho e com os quais estou identificando-me ao longo da existência.

            Estou me identificando com o PSDB e com os Democratas, como estava com o PT nos oito anos do Governo passado. Fiquei por oito anos ao lado do PT, aqui, batendo no Fernando Henrique, de quem eu era amigo. Quando fui Líder do Presidente Itamar Franco, o Ministro da Fazenda era Fernando Henrique Cardoso, o homem do Plano Real... Não foi o criador; o criador do Plano Real, desculpem-me, foi o Governo do Itamar Franco, em que Fernando Henrique era um, mas havia muito mais gente. Agora, ele era o grande responsável. Quando me convidou para ser Líder do seu Governo, estava disposto a aceitar, mas, quando ele começou a andar, não pude mais aceitar. Então, nesses oito anos, eu me identifiquei muito com o PT. Agora, estou mais com o PSDB e com os Democratas, porque eles pegaram os discursos... Vou pegar os discursos dos oito anos do PT - oito anos excepcionais e extraordinários do PT - no Governo de Fernando Henrique e os discursos do PSDB e dos Democratas agora, no Governo do PT. O PT é o PSDB de quatro anos atrás; o PSDB é o PT de quatro anos atrás!

            Temos de fazer um esforço no sentido de manter nossas idéias, quando mudarmos, e não fazer como o Líder, Senador Romero Jucá. Alguém está criticando o Líder, Senador Romero Jucá, mas não concordo. Espera um pouquinho, o Jucá está na posição dele. Pega os discursos dele de quando foi Líder do Fernando Henrique e pega os discursos dele agora em que é Líder do PT e veja se não está dizendo a mesma coisa. Ele está defendendo o Governo. Ele não mudou; o Governo mudou.

            Acho, com toda sinceridade, que temos condições. Ontem foi um dia nesse sentido, com esse significado. Ontem, foi o Supremo Tribunal Federal com que o Brasil sonha. Pode ser que sejamos o Congresso Nacional com que o Brasil sonha.

            Quanto ao Presidente Lula, a entrevista de que o Senador Eduardo Suplicy fala realmente foi muito significativa. Eu me emocionei com a entrevista do Presidente Lula. Olha, há coisas que nós temos que levar a sério. Por exemplo, a declaração que ele deu de que não é mais candidato não é negócio para se esquecer. Não tem como esquecer o que ele disse. O que ele disse, afirmou, reafirmou, está ali. Se amanhã ele aparecer com idéias diferentes, vai ter de se explicar. E ele foi de uma clarividência total. E se o povo pedir? Ele disse que não tem essa história de o povo pedir, disse que não é candidato e pronto.

            Obrigado, Sr. Presidente.

 

            O


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