Discurso durante a 146ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Saudação aos Estados do Pará, do Piauí e do Rio de Janeiro.

Autor
Paulo Duque (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RJ)
Nome completo: Paulo Hermínio Duque Costa
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Saudação aos Estados do Pará, do Piauí e do Rio de Janeiro.
Aparteantes
Marcelo Crivella.
Publicação
Publicação no DSF de 31/08/2007 - Página 29737
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, ESTADO DO PARA (PA), ESTADO DO PIAUI (PI), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), COMPARAÇÃO, EXTENSÃO, TERRITORIO, QUANTIDADE, MUNICIPIOS, DIVERSIDADE, CULTURA, POPULAÇÃO.
  • COMENTARIO, HISTORIA, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente, por essas referências.

            Hoje, sem apressar o orador que ocupava a tribuna agora, ou antes, prestei a maior atenção aos discursos anteriores. Agora, falando para este grande e belíssimo plenário, vou falar um pouco a respeito do Pará e um pouco a respeito do Piauí, Estados pelos quais, embora conheça muito pouco, tenho uma tremenda simpatia. O Pará lá em cima; o Piauí logo ali.

            Fiz um levantamento e vi que o Estado do Pará possui 105 municípios, e o Piauí, 118. Fiquei imaginando que, se o Governador de um ou de outro Estado tivesse de gastar um dia para ir a cada cidade, gastaria quase meio ano para visitar todas as cidades do Pará ou do Piauí. E, como as distâncias são grandes, é necessário utilizar transportes mais diversificados, como deve ser no interior. O Piauí tem 250.000 m², e o Pará 1.248.000 m². Não deve ser fácil!

            Venho de uma cidade que foi capital do Estado da Guanabara e tenho um desejo enorme de servir àquele Estado, que, em 1954, sofreu o impacto de uma fusão. Veja V. Exª, Presidente Francisco de Assis: fundiram um Estado com 1.100 m², que é a Guanabara, com outro de 43.000 m². Imagine V. Exª que confusão incrível essa, mas era o mínimo que podíamos fazer.

            Hoje, somos o terceiro Estado, em termos de população - São Paulo, Minas Gerais e o novo Estado do Rio de Janeiro -, quase o segundo. Temos um número de municípios muito pequeno: 70. Guanabara tinha apenas um município. E, mesmo assim, apresentamos o segundo Produto Interno Bruto em matéria de recursos, de riqueza.

            Contudo, Sr. Presidente, aquela cidade, a antiga Guanabara, a feliz Guanabara, foi governada por três estadistas: Carlos Lacerda, Negrão de Lima e Chagas Freitas. Essa foi a nossa sorte. Estávamos preparados para qualquer eventualidade, inclusive a fusão dos dois Estados.

            Nossos problemas, seguramente, são muito diferentes dos problemas do Pará e do grande Estado do Piauí. Muito diferentes. As distâncias são muito próximas, a capital tem quase 800 favelas, Sr. Presidente. Isso não é brincadeira.

            Em certa ocasião, fui ao Estado de Alagoas, e, ao desembarcar no aeroporto de Maceió, indaguei ao motorista: “Quantas favelas há aqui em Maceió?”. Maceió é uma capital mais ou menos do tamanho do Rio de Janeiro. O motorista respondeu: “Não, aqui, não há favela, não. Em Maceió, havia só uma, mas foi removida há pouco tempo”. Aí comecei a pensar nas nossas, na cidade do Rio de Janeiro. Não sei se Belém possui muitas favelas, como a minha cidade, o meu Estado. Não sei. Só estive lá uma vez.

            Posso assegurar a V. Exªs que o Rio, com tudo isso, é uma cidade feliz, abriga um povo alegre, acolhedor, cordial. Não vejo outro lugar no mundo capaz de fazer o carnaval, capaz de fazer aquele final de ano festivo, a que V. Exª, certamente, já assistiu. É um povo diferente, é um Estado diferente, tudo é diferente.

            V. Exª lembrou bem quando Dom João VI, acossado pelas guerras européias, veio para o Rio de Janeiro e abriu os portos às nações amigas, em 28 de janeiro de 1808. Se ele não tivesse vindo, se não tivéssemos mantido uma unidade de religião, se não tivéssemos tido um rio São Francisco, fator de integração nacional, aconteceria seguramente o que aconteceu com a América espanhola, que ficou divida em não sei quantos estados, países, 13, 14, 18, não sei bem, fazendo fronteiras com o Brasil e agora um pouco saliente em suas incursões políticas. Nós, brasileiros, mantivemos nossa unidade territorial. Se pegássemos toda a Europa Ocidental, se juntássemos os países que a compõem (Alemanha, Inglaterra, França, Espanha, Portugal, Suécia, Finlândia, Noruega), todos eles caberiam dentro do nosso País.

            Logo, somos um país diferente, com uma raça diferenciada. Vamos ao Pará - e quero falar muito do Pará hoje - e encontramos um tipo de gente. Um tipo bonito. Vamos ao Piauí e encontramos outro tipo físico de pessoas. Vamos ao Ceará e, sem demérito nenhum, é possível encontrar, de modo geral, pessoas com a cabeça um pouco maior. Houve até um Governador chamado Parsifal Barroso - não sei se V. Exª o conheceu, Sr. Presidente; não sei se o Senador Flexa Ribeiro o conheceu -, que criou um instituto...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Peço-lhe licença, para prorrogar a sessão por mais meia hora, para atender ao pronunciamento de V. Exª, algo que é regimental.

            Parsifal Barroso começou sua política em Sobral.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Sobral.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Chico do Monte era sogro dele. Depois ele foi Deputado Estadual, Deputado Federal, Governador, Senador e Ministro do Trabalho. Em seu livro, ele diz que três famas o político não deve ter: fama de rico, fama de conquistador e fama de valente.

            Continue o seu pronunciamento.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Tudo isso ele era. Conheci Parsifal Barroso nos velhos tempos, muito jovem ainda, e sei que ele chegou a criar um instituto especializado em estudar por que o cearense nascia com a cabeça um pouco grande. Sabia disso V. Exª? Esse instituto existe até hoje.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª leu José de Alencar?

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Li.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Seu romance mais bonito é Iracema.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Iracema, “a virgem dos lábios de mel”.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Ele retrata isto: Iracema desaparecia no final da tarde e à noite. Ela ia além da serra, para namorar um homem do Piauí.

            Nós somos descendentes dos tremembés, índios louros que habitavam o Delta.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Está vendo? Como o Brasil é bonito! E como a raça brasileira tem diversidade e também é bonita!

            O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PRB - RJ) - V. Exª me permite um aparte?

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Senador Marcelo Crivella, aquele que manda um aparte cheio de luminosidade, ouço V. Exª.

            O Sr. Marcelo Crivella (Bloco/PRB - RJ) - Muito obrigado. Senador Paulo Duque, em nome do Estado do Rio de Janeiro, quero expressar e extravasar a satisfação que tenho de vê-lo ocupar a tribuna do Senado Federal. Esta Casa tem pessoas que vieram do mundo empresarial, que foram empresários de grande sucesso; outros foram Vereadores, Deputados, Governadores, Prefeitos. Talvez eu seja aquele que aqui chegou com menos méritos. Sou apenas um caminhante. Sou um templário que chega à porta de uma sinagoga. Se há um carioca e um fluminense que merecia estar ocupando esta tribuna, esse é V. Exª. V. Exª teve oito mandatos como Deputado Estadual, com a prática ilesa da democracia. Não há ninguém no Rio de Janeiro que levante a voz, para falar do líder político, do servidor do povo, do amigo de todos, cuja vida foi tecida no trabalho, na educação e na inflexível determinação de preservar os valores perenes da Pátria. Falo isso aqui de peito cheio. Eu era Diretor de Obras da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro, quando V. Exª esteve lá, visitando-me, orientando-me e ajudando-me, porque fui vítima de algumas armadilhas por parte de adversários. Aparteá-lo é apenas elogiá-lo. V. Exª foi consagrado para entrar nesta Casa. Muitos lutam pelo voto. V. Exª tem o voto de Deus. Foi Ele que lhe traçou os caminhos e o trouxe para cá, seu lugar. O povo, às vezes, soberanamente agindo, comete acertos e erros. O povo, reunido, uma vez gritou: crucifica, crucifica! E até hoje se arrepende do veredicto, no dia em que Afonso Arinos disse: o grande supremo mal se encontrou com o grande supremo bem. De tal maneira que a sua figura ilumina, pode ter certeza do que digo, os destinos deste País. V. Exª tem uma biografia digna e honrada, sendo para os mais jovens um exemplo. No Rio de Janeiro, um líder invulgar. E, quando o ouvimos falar, são coisas que nascem do coração; na alma, a vivência de quem viu tudo, de quem soube traçar seu caminho, distante das coisas erradas, das armadilhas, das paixões, dos ódios. Se, na vida pública, os agravos lhe foram arrogados, seu mandato de Senador é seguramente a redenção consagradora de tudo isso. Queria ter estado aqui ontem, para ouvir V. Exª falar de Juscelino, porque essa figura consular foi atacada. Não houve expedientes, dos mais torpes e aos mais vis, que não fossem usados por seus adversários. Mar de lama! Depois, V. Exª, no Governo de Lacerda, padrinho de casamento de minha mãe, foi o relator da CPI que apurou o crime no rio da Guarda. No Governo de Lacerda, talvez se Afonso Arinos nessa ocasião fosse Deputado de Oposição, teria feito discurso na contramão. Mas os homens vão e vêm, teorias, doutrinas permanecem, isso que disse a V. Exª, os homens de bem, a linha do caráter. Quis Deus dar-me essa grande lição de encontrar nesta Casa o meu amigo Deputado Paulo Duque, o brasileiro, o carioca honrado. Como disse aqui, o que me entusiasma é ver que o bem vence - muitas vezes, para pessoas cuja modéstia vinca a índole e a vocação, como é o caso de V. Exª, que, no seu Partido, tem todos os méritos, mas não se arvora em ser candidato de si próprio. Mas quis o destino, a força soberana do destino, movida pelo sopro de Deus, não dos homens, trazê-lo para o lugar de coroamento de sua vida pública e política. E o Estado do Rio de Janeiro o homenageia: seus pronunciamentos são lúcidos. E saibam todos que nos ouvem agora que o Senado tem, nesse representante do Rio, um homem capaz, honrado, dos maiores do seu tempo, para nosso orgulho e para minha alegria pessoal. Muito obrigado, Senador, por este aparte.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Veja, Sr. Presidente Francisco de Assis. Há pouco, falei “Senador Francisco de Assis”: a taquígrafa levou até um susto. Francisco de Assis, quem é? Notei que ela ficou meio surpresa:

             “Será que tem um novo Senador aí?” De repente, o plenário, que estava vazio, se enche em toda a sua plenitude. Tem os problemas do Pará. Antes, ouvimos sobre os problemas do Piauí. E, agora, vem uma voz suave, tranqüila, sábia - um engenheiro, com mais de quatro milhões de votos -, e enche o plenário, neste momento, com uma lição. É que estão tentando crucificar alguém numa das salas deste Senado, numa CPI louquíssima. Mas vem ele, com uma palavra serena, iluminar e traz uma dessas - o que vou dizer? - lembranças, como se fosse um presente de Natal para o orador que está na tribuna e que o conhece da Gávea, do serviço público e que jamais apresentou qualquer coisa aqui menos respeitosa. Jamais. Apresentou-se com uma votação excepcional. Enquanto eu tive um voto, ele teve mais de quatro milhões.

            Olha só! E ainda tem a gentileza de dizer que foi o voto de Deus. Olha só!

            Então, eu fiz bem. Esperei, pacientemente e com atenção, as palavras, as razões e os problemas do Pará por meio do nosso querido Senador Flexa Ribeiro. Como sempre, ouço V. Exª, com toda atenção, e, às vezes, por sorte, ouço o meu prezado amigo lá da Gávea, da Zona Sul, o engenheiro e grande líder e colonizador.

            Saiba V. Exª, atentai bem - desculpe aproveitar a lição de V. Exª, atentai bem - que ele foi, durante quase dez anos, colonizador ainda no Continente Africano, tão pobre, tão miserável, tão assaltado por doenças. Não hesitou em ir para lá - deixou um pouco o Brasil e foi atender aquela população com tantos ascendentes nossos que estavam lá há muito tempo, que vinham para cá para trabalhar. Até que um dia, a mão bondosa da Princesa Isabel - aprendemos isso -, em 13 de maio de 1888, quando a América espanhola ainda estava se dividindo toda... Nós mantivemos a raça mesma, a mesma religiosidade, a unidade nacional, de 8,5 milhões km². Só mesmo a raça que se forjou. Se vamos ao Sul, é um tipo de pessoa, mas sempre guerreira, sempre patriota. Se vamos à Bahia, é um tipo mais descansado, mais tranqüilo, tão tranqüilo quanto as músicas do Dorival Caymmi, não é? Conforme disse, no Norte, no Nordeste, o pessoal que agüenta aquela aridez. No Pará, um tipo diferente, alegre, que gosta de piada, gosta de rir, gosta de alegrar, gosta de ser cordial. Vamos ao Amazonas, é um tipo diferente. Vejam, no Rio, é aquele carnaval que V. Exª conhece. O Rio, com as 800 favelas felizes, eu diria, porque se tem de ser feliz para resistir àquilo, tem de ser feliz, tem de ser religioso, tem de acreditar em algo além das tempestades, das nuvens, das pedradas e das metralhas, como diz o verso do Cruz e Sousa, genial poeta negro, simbolista, dos maiores do mundo.

            De maneira que quero saudar todo o Estado do Pará, todo o Estado do Piauí e o Rio de Janeiro, na pessoa deste carioca, carioca de olho azul, carioca de formação de Zona Sul e que teve a coragem de ir colonizar o restante dos países africanos, tendo ficado lá durante quase 10 anos. Foi uma tarde feliz. Sobretudo, felicito-me por ter podido ocupar a tribuna hoje, nesta calmaria, nesta aparente tranqüilidade. O Senado não é só o plenário, mas muitas repartições.

            Despeço-me, Sr. Presidente, dizendo que Juscelino era quase santo. Tentaram tudo, em novembro de 1955, para não deixar que ele tomasse posse. No Hospital dos Servidores do Estado, onde V. Exª tanto trabalhou, estava internado o Presidente licenciado Café Filho, Vice-Presidente de Getúlio Vargas, que se havia suicidado. Estava ocupando a Presidência da República, no Palácio do Catete estava, Carlos Luz, Presidente da Câmara dos Deputados, muito ligado à Oposição, antigetulista, muito ligado ao Exército, um pouco menos à Marinha e menos ainda à Aeronáutica. Não queriam deixar Juscelino tomar posse, essa que é a verdade - ele, com suas trinta metas e a sua meta síntese, que era a construção de Brasília. Não queriam.

            Tudo já havia sido mais ou menos acertado. E a coincidência ou inabilidade faz com que ele deixe o Ministro Henrique Lott esperando durante mais de uma hora, uma hora e meia, para um despacho que tinha sido marcado por ele.

            Parece que estou misturando as coisas, mas não estou.

            Se o Governador do Pará estivesse aqui, Barata, do tempo de Getúlio... Mas está V. Exª que o substitui à altura, Senador Flexa Ribeiro. E tudo estava mais ou menos acertado, e Lott é demitido na hora. Ele diz: “Não posso ficar desautorizado.” O Coronel Jurandir de Bizarria Mamede cometeu um ato de indisciplina publicamente. “Não posso ficar desautorizado, apresento minha demissão.” Foi aceita na hora. E na sala ao lado já estava até um general prontinho para substituí-lo, mas era um General da reserva: Fiúza de Castro. Ele, então, entrou; cumprimentaram-se formal e educadamente: ele e seu substituto legal. “Pois não, quando é que quer tomar posse?” Aí o erro político fundamental. “Amanhã. Eu tomo posse amanhã às 3 horas”.

            O Ministro da Guerra fez a continência de praxe, foi para casa, era vizinho do General Odílio Denys. Aliás, Sr. Presidente, Senador Francisco de Assis, o filho do Odílio Denys é atualmente o Diretor-Geral da Santa Casa de Misericórdia, homem da maior respeitabilidade; Santa Casa que esteve nos jornais, ontem e anteontem, no Rio de Janeiro. Vou terminar essa história que é interessante, historicamente interessante.

            Marcaram a posse para o dia seguinte. De noite, o Denys, que era vizinho do General Lott no Maracanã, já tinha começado a convocar todas as tropas e esquadrões, o Exército, o Brasil inteiro, e, no dia seguinte, pela madrugada, o grupo que estava no poder, tendo Carlos Luz à frente. Nada de pessoal contra. Nada de pessoal contra. Ele e o Ministério dele embarcaram no Cruzador Tamandaré, que já estava ancorado, aguardando os acontecimentos, comandado pelo Almirante Sylvio Heck; lá também se encontrava o Chefe da Esquadra Armada, o Almirante Pena Boto.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Ele serviu na minha cidade de Parnaíba como Capitão dos Portos. E fez curso de balística em Paris.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - De qualquer maneira, a Marinha sempre competente.

            Enfim, todo o grupo que queria dar o golpe embarcou no navio e foram para São Paulo, esperando a adesão de Jânio Quadros, que era Governador daquele Estado. Mas o Jânio queria saber disso? Queria, sim, terminar o seu governo e ser candidato à Presidente da República. Mas, na saída do Tamandaré - aí está o grande ato; e, por isso, sou fã incondicional desse navio -, que tinha um poderio de fogo enorme - 18 canhões de 130 milímetros, não sei quantas metralhadoras -, os fortes da Baía da Guanabara começaram a alvejar, tentar atingir o Tamandaré, que singrava impávido pela Baía. Bastava que o Tamandaré desviasse um pouco um daqueles canhões poderosos - talvez uns 20 ou 30 graus - para destruir o Forte de Copacabana, que era o mais hostil. Mas a Marinha não desviou, não apontou nenhum dos canhões, depois de baleado por 12 vezes. Uma bala daquela poderia ter explodido tudo, mas não o fez. Ele continuou impávido, impávido, impávido, saindo pela Baía da Guanabara, saindo pela Barra afora e indo para São Paulo. O Brigadeiro Eduardo Gomes já se encontrava lá com os seus aviões. Mas o Tamandaré teve que voltar porque não havia condições de combate. Voltaram. Aí é que entra o valor da classe política. Ancoraram o navio Tamandaré. Um Deputado Federal chamado Ovídio de Abreu, de Minas Gerais, dirigiu-se ao Tamandaré com carta-branca para negociar o desembarque dos que estavam abrigados ali - sem pena de prisão na hora, sem nada. E o acordo para que o Presidente deposto, Deputado Carlos Luz, que não tinha perdido o mandato, ainda era Deputado, viesse à Câmara dos Deputados, ao Palácio Tiradentes, e fizesse um discurso de despedida da classe política e do povo brasileiro. A classe política sábia conseguiu fazer isso. Depois dos canhões, depois das fortalezas, depois das viagens, depois das fugas, depois das deposições, estava lá, no Palácio Laranjeira. Quer dizer, o povo brasileiro é isto: não importa que tenham dois, três ou quatro Senadores, porque cada cadeira dessas representa Estados.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - E nessa dificuldade assumiu o Presidente do Senado, Senador Nereu Ramos, que, em 60 dias, garantiu a posse de Juscelino Kubitschek.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - Exatamente.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Tão séria era a posição que o Benedito Valadares foi ao Juscelino e pediu que desistisse. Saiu dizendo que Juscelino queria se fazer de Tiradentes com o pescoço alheio. Mas Juscelino enfrentou e fez esta beleza toda.

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - E se estamos aqui, hoje, é graças também ao Tamandaré, graças àquelas antigas gerações, que garantiram a posse de Juscelino. Por isso é que eu acho que cada momento atual tem muito a ver com o passado. Estou sempre falando no passado, que nos traz muitas lições no presente.

            Lamento cansar, talvez, os Senadores com esta minha longa exposição - é a primeira longa exposição que faço nesta Casa -, mas é que não acredito que estejamos em crise nenhuma; não vejo nenhum tipo de crise no Senado hoje. E porque repudio essa idéia, penso que podemos traçar rumos impávidos, tal como fez o Tamandaré.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/08/2007 - Página 29737