Discurso durante a 147ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem à Rede Amazônica de Televisão, pela comemoração dos 35 anos de atividades. Alerta para a necessidade de melhorar as condições de higiene na extração da polpa do açaí, para evitar a doença de chagas.

Autor
Augusto Botelho (PT - Partido dos Trabalhadores/RR)
Nome completo: Augusto Affonso Botelho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. SAUDE.:
  • Homenagem à Rede Amazônica de Televisão, pela comemoração dos 35 anos de atividades. Alerta para a necessidade de melhorar as condições de higiene na extração da polpa do açaí, para evitar a doença de chagas.
Publicação
Publicação no DSF de 01/09/2007 - Página 29806
Assunto
Outros > HOMENAGEM. SAUDE.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, REGIÃO AMAZONICA, ELOGIO, ATUAÇÃO, DIRIGENTE, EMPENHO, FUNCIONARIOS, REDE DE TELECOMUNICAÇÕES, SEDE, ESTADO DO AMAZONAS (AM), DISTRITO FEDERAL (DF), DEMONSTRAÇÃO, QUALIDADE, INFORMAÇÃO, BENEFICIO, POPULAÇÃO, REGIÃO NORTE.
  • APREENSÃO, QUANTIDADE, VITIMA, DOENÇA DE CHAGAS, REGIÃO NORTE, MOTIVO, CONTAMINAÇÃO, INSETO, TRANSMISSOR, DOENÇA, FRUTA, AÇAIZEIRO.
  • REGISTRO, ESTUDO, INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZONIA (INPA), DEMONSTRAÇÃO, ORIGEM, CONTAMINAÇÃO, FALTA, HIGIENE, PREPARAÇÃO, CONSUMO, FRUTA, COMENTARIO, VIGILANCIA SANITARIA, REALIZAÇÃO, FISCALIZAÇÃO, ORIENTAÇÃO, ATENÇÃO, MANUSEIO, PRODUTO.
  • COMENTARIO, ESTUDO, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), DEMONSTRAÇÃO, SUPERIORIDADE, POPULAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, CONTAMINAÇÃO, DOENÇA DE CHAGAS, APREENSÃO, POSSIBILIDADE, EXPANSÃO, DOENÇA, NECESSIDADE, APURAÇÃO, PROCEDENCIA, FRUTA, PREVENÇÃO, EPIDEMIA.

            O SR. AUGUSTO BOTELHO (Bloco/PT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Mão Santa, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, quando fiz um aparte ao Senador Geraldo Mesquita, omiti um acontecimento importante que ocorrerá no dia 1º na Amazônia. E hoje quero começar minha fala prestando uma homenagem à Rede Amazônica de Televisão, pelo seu 35º aniversário, que será completado amanhã.

            Há 35 anos, a Rede Amazônica, que é a maior empresa de comunicação da Região Norte, desenvolve importante trabalho na minha região, principalmente no que diz respeito à responsabilidade social.

            A Rede Amazônica é um exemplo prático de empreendedorismo bem-sucedido que beneficia toda a comunidade da Região Norte.

            Quero fazer uma homenagem especial ao jornalista Dr. Phelippe Daou, presidente da Rede Amazônica, pelos relevantes serviços prestados e pela visão humanística do diretor presidente, que não mede esforços, particularmente na defesa de questões sociais.

            Quando cheguei a Roraima para trabalhar, dois anos depois de formado - fui para lá em 1974 -, começaram a aparecer as primeiras imagens captadas de televisão local, em preto e branco. Era a Rede Amazônica, do Dr. Phelippe Daou. Logo após, começou a programação normal, que se transmite até hoje. Diga-se, também, que os repórteres e os trabalhadores da Rede Amazônica de Televisão, atualmente, são todos formados dentro das suas estruturas, pessoas treinadas por eles, que passaram conhecimento a outros, e a juventude toda trabalha na Rede Amazônica, principalmente oriunda das nossas universidades, tanto do Amazonas quanto de Roraima.

            Eu também gostaria de fazer uma homenagem especial à equipe aqui de Brasília, comandada pelo Dr. Moreira, que sempre está disponível, sempre trabalhando aqui, sempre levando as notícias; não deixa passar nada da Amazônia, sem que os habitantes da nossa região, que são 22 milhões de pessoas, vejam o que acontece aqui nesta Casa.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a Rede Amazônica é um poderoso elo de integração da Região Norte e tem contribuído, ao longo dos anos, de forma efetiva com o Poder Público, apontando os problemas das cidades e dos Estados, fato que ajuda os governantes a dinamizarem a implementação das melhores soluções para todos eles.

            Mas o assunto que me trouxe aqui, inicialmente, é um problema que está começando a surgir na Amazônia. Nós já temos a malária, que é uma doença grave lá, e as hepatites. No ano passado, nós tivemos 500 mil casos de malária na Amazônia, mas está surgindo agora um problema, e quero aproveitar a tribuna para fazer um alerta: várias pessoas, principalmente na Região Norte, estão sendo contaminadas pela Doença de Chagas, que é uma doença nova para nós lá.

            Nós temos o barbeiro há muitos anos. Quando eu estava no segundo grau, foi uma equipe do projeto Rondon e identificou o barbeiro na região do Surumu e em vários locais no meu Estado, na região de campo. Não fizeram a pesquisa na mata. Mas hoje se sabe que há na mata e que, inclusive, ele se reproduz às vezes no cacho do açaí. É um alerta aos consumidores de açaí.

            A forma mais comum de se contagiar com a Doença de Chagas é ser picado pelo inseto barbeiro infectado pelo micróbio da doença, que é um protozoário. Porém, a imprensa tem noticiado que há vários casos de contágio do Mal de Chagas na Região Norte diretamente relacionados ao consumo de açaí. Todos nós lembramos aqueles casos que houve lá no Paraná pelo consumo de caldo-de-cana infectado pelas fezes do barbeiro. Por isso, nós temos que ter atenção, nós da Região Norte, principalmente pelo hábito freqüente de tomar suco de açaí.

            Segundo os pesquisadores do Inpa, os barbeiros estão fazendo ninho nos frutos de açaí, que são colhidos e levados para dentro de casa. O barbeiro lá na mata não tem o Trypanosoma cruzi, não tem o micróbio da doença. Mas, quando ele passa a conviver no interior da casa, se houver alguém que já tenha o micróbio - às vezes, a pessoa tem o Trypanosoma cruzi sem nem saber -, ele pica aquela pessoa e já faz a transmissão direta; se ele picar alguém, ele transmite a doença para aquela outra pessoa. O pior é que a transmissão da doença se faz por meio das fezes do barbeiro. Ele tem o hábito de, quando está chupando o sangue, defecar perto da ferida deixada no momento em que chupa o sangue. É assim que o micróbio penetra nas pessoas. Quando ele defeca no meio do açaí, se não se lavar bem a fruta, se não se fizer aquele aquecimento no açaí que todos costumam fazer - acho que estão abandonando esse hábito -, o micróbio passa a infectar a pessoa pela via digestiva, que não é a via normal de infecção do Trypanosoma cruzi. Isso é grave, porque, nessa infecção pela via digestiva, ele se torna mais agressivo, se reproduz com mais facilidade, e a doença se torna mais grave e fatal, se o médico não pensar em Trypanosomiasis cruzi, em Doença de Chagas, na hora em que está cuidando do paciente.

            Em Boa Vista, capital do meu Estado, nenhum caso foi identificado até hoje pela Vigilância Sanitária Municipal relacionado à ingestão de açaí. Mas a nossa Vigilância, em nível Municipal e Estadual, está atenta ao problema que tem ocorrido em outros Estados e tem fiscalizado as polpas de frutas comercializadas na cidade de Boa Vista. No último dia 28 de agosto, por exemplo, na Feira do Passarão, houve uma fiscalização. Na ação conjunta com o Ministério da Agricultura, os fiscais fizeram a coleta de cinco litros de polpas de maracujá e cinco de açaí e mandaram-nas para exame provavelmente no Inpa ou no Pará.

            De acordo com Eurico Sampaio, Chefe de Divisão de Normas Técnicas da Vigilância Sanitária, a fiscalização futuramente também acontecerá em outros estabelecimentos que vendem polpas de frutas. Por isso, alerto todos que trabalham com polpas de frutas para que sejam mais rigorosos no manuseio do açaí, principalmente porque o produto pode matar uma pessoa se não forem tomados os devidos cuidados.

            O resultado da análise de açaí está para chegar a Boa Vista. Então, será decidido o que fazer: se a situação continuará como está ou se haverá alguma mudança. Se houver contaminação, será preciso haver mudança no preparo do açaí.

            A minha preocupação, Srªs e Srs. Senadores, é que aconteça em Roraima e noutros Estados o que está ocorrendo atualmente no Pará: a infecção por Trypanosoma cruzi pela ingestão.

            O Pará está enfrentando um surto de Mal de Chagas, e a maioria dos casos está relacionada ao consumo de açaí. Neste ano, 36 pessoas já contraíram a doença naquele Estado, e uma pessoa morreu em Belém. De acordo com a Secretaria de Saúde do Pará, a doença não está sendo transmitida apenas pela picada do barbeiro, o inseto transmissor, mas principalmente pela via oral, quando as pessoas ingerem o açaí.

            O grande problema verificado no Pará é que o inseto que transmite o Mal de Chagas e também suas fezes têm sido triturados na hora de extrair a polpa. É fundamental que as pessoas que fazem polpa, os empresários e os comerciantes do açaí, melhorem as condições de higiene durante a manipulação do fruto. Os batedores de açaí da Região Norte devem higienizar melhor o açaí, mergulhando-o em água quente antes de extrair a polpa. Parte das indústrias felizmente já se comprometeu a pasteurizar o açaí para eliminar as bactérias e evitar doenças como o Mal de Chagas. Os batedores artesanais de açaí também devem preocupar-se com a higiene do produto que vendem.

            Em 2005, mais de 60 pessoas foram contaminadas pelo Trypanosoma cruzi, causador da Doença de Chagas, nos Estados do Amapá e de Santa Catarina, pelo consumo, respectivamente, do açaí e do caldo-de-cana. Infelizmente, já estamos vivenciando esse problema de 2005 novamente, dois anos depois. Atualmente, seis milhões de brasileiros estão infectados pela Doença de Chagas.

            Estima-se que a cada ano surjam 33 mil novos casos. Se não tivermos cuidado, as próprias pessoas que estão fazendo o açaí vão ser contaminadas também, porque o barbeiro, que se adapta dentro de casa, vive muito bem dentro das casas, vai picar as pessoas e elas também vão ficar doentes. É por isso que o cuidado é importante, para que essa doença não consiga se disseminar.

            A maior incidência da Doença de Chagas, infelizmente, está no norte do País. Quase meio por cento da população que vive na Amazônia é considerada contaminada pela doença, segundo a Universidade de Brasília.

            Na maioria das vezes, o quadro de infecção não leva à morte. Cerca de 70% das pessoas que têm o protozoário não chegam a ficar doentes. Elas têm o micróbio, mas não têm a doença, e, então, ficam transmitindo a doença sem sentir nada.

            Precisamos prevenir para impedir que esse mal se alastre, principalmente na Amazônia. Já basta o combate à malária. De cinco em cinco anos, conseguimos diminuir sua incidência, mas depois ela aumenta de novo, e estamos nesse ciclo já há quase 40 anos.

            Quero deixar este alerta para todos aqueles que gostam de tomar açaí: verifique a procedência da polpa que você consome e exija mais fiscalização e rigor na higiene daqueles que extraem a polpa de açaí na sua região. Cuidado, não vamos deixar mais uma doença chegar na Amazônia.

            A Amazônia é nossa, mas só vamos ser donos se estivermos dentro dela, se tivermos conhecimento da nossa fauna, da nossa flora e de toda a nossa biodiversidade, inclusive das nossas bactérias, Senador Mão Santa. As pessoas estão patenteando bactérias em outros Países, o que a nossa lei, infelizmente, não permite, e ficando “donas” de algumas bactérias. Lá deve haver bactérias sobre as quais ninguém sabe nada e que vão dar solução para problemas da humanidade, inclusive de saúde.

            Muito obrigado, Senador Mão Santa, pela tolerância de me ceder este tempo. Sei que o Piauí se sente orgulhoso de tê-lo como Senador.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/09/2007 - Página 29806