Discurso durante a 149ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com o posicionamento de algumas lideranças da Igreja Católica, no que diz respeito a política e a economia do País.

Autor
Gerson Camata (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/ES)
Nome completo: Gerson Camata
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA.:
  • Preocupação com o posicionamento de algumas lideranças da Igreja Católica, no que diz respeito a política e a economia do País.
Publicação
Publicação no DSF de 05/09/2007 - Página 30031
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA.
Indexação
  • ADVERTENCIA, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), POSIÇÃO, MEMBROS, IGREJA CATOLICA, ESPECIFICAÇÃO, SACERDOTE, UTILIZAÇÃO, CELEBRAÇÃO, CERIMONIA RELIGIOSA, MANIFESTAÇÃO, OPINIÃO, PLEBISCITO, ESTATIZAÇÃO, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD).
  • COMENTARIO, COMPETENCIA, AUTORIDADE, IGREJA CATOLICA, ESPECIFICAÇÃO, DOUTRINA, RELIGIÃO, NECESSIDADE, SACERDOTE, MANUTENÇÃO, NEUTRALIDADE, REFERENCIA, ECONOMIA, POLITICA, PAIS.
  • APREENSÃO, COMPORTAMENTO, SACERDOTE, INFLUENCIA, REDUÇÃO, QUANTIDADE, FILIAÇÃO, IGREJA CATOLICA, SOLICITAÇÃO, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), ANALISE, SITUAÇÃO.
  • COMENTARIO, POSIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DEFESA, ABORTO, DIVERGENCIA, PARECER, IGREJA CATOLICA, PRESERVAÇÃO, VIDA HUMANA.

            O SR. GERSON CAMATA (PMDB - ES. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Sr. Presidente.

            Srªs e Srs. Senadores, talvez, eu devesse dizer o que vou dizer aqui agora numa reunião da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Como nunca me convidaram para falar lá, terei de falar aqui, porque se trata de assunto de política. Como todos sabem, sou católico e me orgulho muito da minha fé cristã e católica, mas tenho andado preocupado com alguns rumos de algumas lideranças da Igreja Católica. São alguns setores da Igreja, não são todos. Se eu, como católico, preocupo-me, acredito que as autoridades episcopais e a CNBB também deveriam se preocupar.

            Por um dever de amizade, passei o último fim de semana na cidade de São Paulo e fui à missa, como sempre, ao domingo. Foi particularmente muito bonito o Evangelho que a Igreja Católica, em todo o mundo, escolheu para esse domingo. Trata-se daquela cena do Evangelho de São Lucas em que Jesus Cristo vai almoçar na casa de um amigo. Diz que os que se humilham serão exaltados e os que se exaltam serão humilhados e termina assim: “E disse também a quem o tinha convidado: quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos, pois estes poderiam também convidar-te, e isso já seria a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então, tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberas a recompensa na ressurreição dos justos”. Com um Evangelho tão bonito, eu esperava uma pregação também à altura - aliás, um Evangelho desse não precisava nem ser comentado, pois, por si, já se coloca na frente dos cristãos e de toda a humanidade -, mas aí o padre falou sobre o plebiscito para estatizar a Vale. O que tem a ver o Evangelho, tão bonito, com a privatização da Vale? Não consegui entender. E distribuíram um folheto na igreja.

            Certa vez, conversando com um bispo, eu lhe disse que, quando uma igreja fala de dogma, de religião, eles são os especialistas, os teólogos e os filósofos da Igreja, e nós, como comandados, temos de segui-los. Porém, ao falar de política e de economia - é até uma temeridade o que estou dizendo aqui -, deveria haver um assessor em economia ou em política para orientar os sacerdotes e os bispos, porque as perguntas que constam do plebiscito induzem a determinadas respostas.

            Por exemplo, esta é uma pergunta: “Você concorda com uma reforma da Previdência que retire todos os direitos dos trabalhadores?”. É claro que não concordo. “O Governo deve continuar priorizando o pagamento da dívida externa ou deve melhorar as condições de vida do povo brasileiro?”. É claro que o Governo deve melhorar as condições de vida do povo brasileiro. Quer dizer, são perguntas que induzem a uma resposta “sim” ou “não”. Não é um plebiscito legítimo. E vota-se até pela Internet, é um plebiscito moderno. São questões já decididas pela sociedade brasileira.

            Penso que aquilo não foi oportuno, principalmente num momento - e os bispos reconhecem - em que a Igreja Católica está perdendo inúmeros fiéis. Naquele domingo, quando o padre começou com essa questão, vários católicos se retiraram da igreja.

            A Igreja tem outras causas para se dedicar: vamos fazer os jovens voltarem à fé católica, vamos incendiar com a doutrina de Cristo, dentro das igrejas, a fé católica. Estamos perdendo fiéis - os bispos reconhecem - e perdendo horas com um debate árido e inútil em torno de questões políticas. Não entendo por que nós, católicos, somos levados pela nossa hierarquia a discutir isso. Se fosse um encontro convocado pelos bispos para a discussão da privatização da Vale, tudo bem, mas não se deve fazer isso na hora da missa, pedindo a um incauto, que foi ali rezar e pedir a ajuda de Deus, para entrar em um debate político árido, inócuo, inútil. Não consigo entender isso. Gostaria que a CNBB estudasse melhor economicamente esses problemas.

            No mesmo domingo, no Congresso Nacional do Partido dos Trabalhadores, o PT deu uma lancetada, uma punhalada na Igreja Católica. É verdade que a Igreja Católica transformou as sacristias do Brasil em diretório do PT, talvez até com algum mérito, com algum desejo de melhorar o Brasil. Mas o que aconteceu? Nesse dia, o PT apunhalou a Igreja Católica e disse que o Partido propugna pela implantação do aborto no Brasil, contra a doutrina dos nossos bispos. Em vez de terem uma palavra sobre o aborto - que é um problema também de religião -, eles trazem a discussão sobre a privatização da Vale do Rio Doce.

            Eu, humildemente, como católico, como cristão - não estou fazendo uma crítica, pois seria temerário fazê-la -, faço um apelo aos nossos bispos: meditem, reflitam, pensem! Há inúmeros católicos que gostariam de prestar assessoria aos nossos bispos e à nossa CNBB, para que assuntos com esses, inúteis, não turvem o enorme patrimônio religioso do qual nossos bispos são detentores e do qual não podem abrir mão dessa maneira, fazendo com que as pessoas caiam em debate tão árido, tão inútil e tão sem sentido nos dias de hoje.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/09/2007 - Página 30031