Discurso durante a 134ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Relato de visita realizada por S.Exa. ao Estado do Ceará. Defesa da revolução pela educação no País.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Relato de visita realizada por S.Exa. ao Estado do Ceará. Defesa da revolução pela educação no País.
Aparteantes
Mão Santa, Rosalba Ciarlini, Tião Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 28/08/2007 - Página 28650
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, VIAGEM, ORADOR, ESTADO DO CEARA (CE), DEFESA, RELEVANCIA, EDUCAÇÃO, TRANSFORMAÇÃO, BRASIL.
  • ANALISE, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, CONCEITO, PALAVRA, CRESCIMENTO, IMPORTANCIA, BUSCA, CARATER PERMANENTE, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS, PRIORIDADE, EDUCAÇÃO, GARANTIA, EFICACIA, TRANSFORMAÇÃO, PAIS.
  • DEFESA, IMPORTANCIA, EMPENHO, SENADO, DEBATE, TRANSFORMAÇÃO, CRESCIMENTO, BRASIL.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nessa quinta e sexta-feira, dei continuidade à campanha que venho fazendo pelo Brasil pela educação já, Senador Alvaro Dias.

            Dessa vez, estive no interior do Ceará, no Cariri - Juazeiro, Crato e Barbalha -, visitando aquela região, parando nas cidades no longo caminho de mais de 600Km até Fortaleza, ouvindo, falando, e defendendo a necessidade de o Brasil fazer a revolução pela educação.

            Eu até pensaria em vir aqui falar sobre isso, mas vim falar sobre uma expressão que escutei durante as andanças, de um Deputado Estadual do PDT local, chamado Ferreira Aragão.

            Senadora Rosalba Ciarlini, em um evento em que recebemos um grande número de novos filiados no PDT, esse Deputado Ferreira Aragão, que é um grande locutor cearense, disse que não queremos apenas crescer, nós queremos ser grandes. Na hora, lembrei-me como isso se aplica ao Brasil inteiro.

            E hoje, aproveitando que a próxima semana é a Semana da Pátria, vou falar sobre como o Brasil está carente de ser um país grande, de como o Brasil se acostumou tanto a ser um país que cresce, que se esqueceu de ficar grande.

            Crescer, por exemplo, é aumentar a renda nacional, mas ficar grande é distribuí-la. O Brasil se lembrou, nesses longos 185 anos de independência, de ficar crescendo, e esqueceu de ficar grande. Nós não falamos em um Brasil grande, concentramo-nos apenas na idéia de ser um país que cresce. Crescer é aumentar o número de cadeias. Um país que cresce aumenta o número de cadeias, mas ficar grande é não precisar de cadeias. O País se esqueceu de ficar grande.

            Crescer é aumentar a população, claro. Quanto mais menino, mais este País cresce. Ficar grande é esses meninos e meninas estarem na escola, nenhum na rua, e as escolas serem todas com a mesma qualidade, seja para rico, seja para pobre, seja em uma cidade pequena ou em uma cidade grande.

            O Brasil, nesses 185 anos de independência, tem esquecido de procurar sua grandeza, tem esquecido de procurar ser um país grande. Crescer é o Brasil, de repente, conseguir ter mais automóveis nas ruas. Isso é crescer. Ficar grande é esses automóveis poderem fluir sem engarrafamentos. O Brasil cresceu, não ficou grande. Crescer é derrubar árvores, porque cada árvore derrubada, maior o Produto Interno Bruto; ficar grande é ser capaz de derrubar uma árvore plantando outra ou duas ou três. Crescer é transformar árvore em madeira; ficar grande é proteger a natureza deste País. E o Brasil tem esquecido de ficar grande, o Brasil tem se concentrado em crescer, por isso a destruição sistemática de nossas florestas, como sinal de crescimento, e, ao mesmo tempo, de ficar pequeno. Nós crescemos ficando pequenos, como o contrário, o antônimo da grandeza.

            Concedo um aparte à Senadora Rosalba Ciarlini.

            A Srª Rosalba Ciarlini (DEM - RN) - Senador Cristovam Buarque, mais uma vez, parabenizo V. Exª por nos trazer o assunto para reflexão, partindo de uma frase que ouviu no meio do povo, mas que mostra o retrato do País. O que eu entendo de todas as colocações que V. Exª nos traz sobre o crescimento do Brasil é que só conseguiremos ser um país grande quando fizermos a revolução pela educação. Somente a educação, em todos os aspectos - saúde, bem-estar, moradia, logística, economia -, fará com que possamos crescer e ser grandes. Acreditando nessa luta, que sei que é de V. Exª e de tantos brasileiros, é que temos que dar prioridade a investimentos e ações maiores na educação como um todo, desde os pequenininhos até a universidade forte, capaz de fazer com que todos sejam grandes, fazendo o Brasil engrandecer.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Agradeço, Senadora Rosalba Ciarlini, e aproveito para cumprimentar o Senador Tião Viana.

            Gostaria de agarrar este ponto, entre as comparações que tenho feito: uma criança cresce pelo simples processo natural da biologia, mas fica grande pelo processo da educação na escola. É isso que estamos esquecendo em relação ao Brasil. Nossas cidades cresceram, mas o Brasil não ficou grande com essas cidades, porque, para que ficasse grande, e não apenas crescendo, seria preciso que essas cidades, com populações maiores, não tivessem violência, não tivessem poluição, não tivessem a desorganização das famílias, que tivemos no Brasil, para sermos um país que cresce, esquecendo de ser um país que quer ser grande.

            Estamos levando isso aos nossos Partidos. A maior parte dos nossos Partidos estão crescendo, mas não estão ficando grandes. Para um partido crescer, basta aumentar o número de filiados, nada mais; mas, para ficar grande, é preciso, em primeiro lugar, que esse maior número de filiados tenha uma causa comum que os unifique, tenha uma bandeira de luta para levar adiante. E essa bandeira de luta, para que o partido seja grande, tem que ser um país grande.

            Hoje, quantos de nossos Partidos têm em seus estatutos, explicita ou implicitamente, a idéia de que o objetivo, o papel do partido é fazer o Brasil ser grande? Talvez nenhum tenha esse objetivo de o País ser grande. O objetivo tem sido, no máximo, de fazer o País crescer. E a melhor prova disso são os recentes programas do Governo Federal, que vem, sistematicamente, apresentando programas de aceleração do crescimento. Não vi um único programa do Governo Lula que fale em transformar este País em um grande país, e não em um país que cresce.

            Até porque crescer é aumentar o número de famílias com o Bolsa-Família; ficar grande é o País não precisar dar Bolsa-Família a nenhuma de suas famílias, porque elas próprias seriam capazes de produzir o que é necessário para o seu sustento.

            O Brasil cresce, o Brasil não fica grande. Mas talvez o mais grave de tudo isso seja que a maior parte de nós não percebe a diferença entre crescer e ficar grande num país. A gente até consegue perceber com as crianças da gente, ao vê-las crescer biologicamente, tentando engrandecê-las intelectualmente. E o Brasil? Por que a gente não percebe que crescer não é ficar grande do ponto de vista nacional? Por que a gente não percebe, Senador Tião Viana, que às vezes crescer é ficar menor do ponto de vista da grandeza, como neste caso do aumento do número de famílias com Bolsa-Família, que é um crescimento positivo do ponto de vista da assistência, positivo do ponto de vista da generosidade, sem dúvida alguma, mas é a diminuição da grandeza de um país que precisa ter, em cada quatro, uma pessoa recebendo essa ajuda?

            Não há o que comemorar. É como comemorar, ao se dar uma ajuda. Os textos religiosos em geral proíbem fazer divulgação e publicidade daquilo que se doa. A generosidade não pode ser um instrumento de publicidade, até porque, ao existir, demonstra uma fraqueza social da necessidade dela, da generosidade.

            E, se falo do ponto de vista do Poder Executivo, no sentido de que se vê apenas crescimento, sem se ver a grandeza, quero dizer que aqui não é diferente. Não é diferente aqui. Este Congresso, nos 185 anos de história, que vamos comemorar na próxima semana, tem crescido muito.

            Confesso que não fui olhar quantos eram os Parlamentares em 1824. Não lembro, mas eram muito menos do que hoje. Nós crescemos. Será que ficamos maiores? Será que aumentou a grandeza do Congresso nesses 125 anos? Esqueçamos o primeiro período do Império, falemos no momento da República, comparemos o Congresso do período republicano com o de hoje, e não há dúvida de que crescemos em número, mas diminuímos em grandeza. Ofuscamo-nos e, ao fazê-lo, diminuímos nossa grandeza, como acontece com as estrelas.

            Nós crescemos, mas não ficamos grandes. É sobre esse assunto, Senador Tião, que, depois do aparte que V. Exª pediu, quero falar. O que fazer, para que nós, o Congresso - e não vou falar do Governo -, possamos ser grandes também, em vez de apenas maiores no número de Parlamentares?

            Passo a palavra ao Senador Tião Viana.

            O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Senador Cristovam Buarque, é sempre muito bom ouvi-lo. V. Exª vem à tribuna e sempre apresenta uma chuva de paradigmas, para que se possa pensar, refletir, assumir desafios, ter uma visão de Estado-Nação de fato. Creio que é uma enorme contribuição que V. Exª dá à democracia, à consciência política que temos de ter, associada à responsabilidade. Estou chegando de uma missão belíssima no meio da Floresta Amazônica, viajando 16 horas; oito horas dentro de um barquinho, subindo um rio, para visitar uma comunidade do povo indígena iauanauá. É um povo em que vemos, de maneira extraordinária, esse sentimento do que é ser grande, que V. Exª menciona aqui.

            Eles foram sufocados por um processo de aniquilamento da cultura em razão de uma ação missionária de um segmento de uma igreja que queria que eles não tivessem outras crenças, que não a formal, da nossa visão ocidental; que não queria outros comportamentos familiares, que não os nossos. Isso perdurou 30 anos. Eles começaram a reagir, perceberam que aquilo não fazia bem à história de uma memória de mais de 630 anos ali, conseguiram evoluir em organização, resgataram a vida cultural. Hoje, eles têm um festival anual, e vamos visitá-los sempre. Reúnem-se todos da comunidade. E veja V. Exª, no meio da floresta amazônica, em uma tribo indígena, a energia solar está sendo utilizada, inclusive para a conservação de alimentos. O trabalho comunitário é feito de maneira exemplar: não há violência, nem assassinatos; não há agressões, e a cultura está sendo resgatada. Há uma escola, que o seu amigo, o ex-Governador Jorge Viana, estabeleceu como estadual-indígena, em que, até a quarta série do ensino fundamental, eles falam a língua iauanauá, e não a nossa língua tradicional; somente a partir do quinto ano do ensino fundamental é que eles têm a compreensão da nossa cultura. Já há jovens, saindo de lá, para fazer Medicina na Índia, para trazer conhecimento, não para excluir o saber tradicional - a nossa visão médica -, mas para associá-lo à deles. Dizem que nunca perderam um caso de picada de cobra com a medicina natural que têm. Então, há uma relação fantástica. O desafio deles é preservar a cultura e as tradições, sem abrir mão do conhecimento. Penso que é uma visão de grandeza. Quando se olha a evolução da Índia, como V. Exª diz, o que fazer? A Índia, desde Nehru, em 1949, entendeu que o Instituto de Tecnologia da Índia deveria formar grandes pensadores. Hoje, é um país que tem um tesouro chamado conhecimento. A China, ao lado, próxima, vende serviço barato, mas se preocupa, nessa venda de serviço barato, em construir seu conhecimento. A Coréia do Sul dá passos extraordinários, investindo na educação. O Brasil tem todas as potencialidades, para apontar horizontes e dizer “vou avançar”, nessa linha do que V. Exª acha que é ser grande, de uma visão mais realista, mais bonita de desenvolvimento humano e social. Temos todas as oportunidades neste momento de democracia plena, quando os Partidos que estão no poder têm sensibilidade social e memória do que é construir a muitas mãos um processo decisório e de não errar, sem deixar que a pequena vaidade se torne grande, mas olhando para a responsabilidade social com uma visão de Estado-Nação, que acho que o discurso de V. Exª aborda muito bem. Parece-me que os Partidos são muito pequenos nesta hora, diante dos desafios que, por exemplo, estão sendo colocados por V. Exª neste momento. Espero que cresçam. Espero que olhem além de dois palmos à frente.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Agradeço, Senador.

            De fato, essa tribo é grande na maneira como é. O Brasil cresceu, mas não ficou grande, como deveria. Eles têm uma cultura própria. Isso dá grandeza. A nossa cultura está diluindo-se, perdendo-se. Eles têm um patrimônio. É pequeno? É, mas é grande na dimensão da cultura. O nosso patrimônio está-se desfazendo, por exemplo, nos 82% das crianças que a gente não põe em escolas boas.

            Estamos perdendo grandeza, inclusive, ao dizermos, comemorando, que temos 95% a 98% de crianças na escola. Nada demonstra mais a pobreza deste País, do ponto de vista do pensamento, do que comemorar, falsamente e com mentira, 95% a 98% de crianças na escola, porque, na verdade, estar na escola é estar até o final do ensino médio com qualidade. Aí são só 18%, Senador. Completam o ensino médio 33%, metade sem qualidade. E nós comemoramos? Não há grandeza, quando se faz isso. Não temos grandeza neste momento, temos crescimento.

            Embora não se possa jogar a culpa em ninguém, é preciso jogar a culpa em todos nós. Não há da parte do Poder Executivo, do Legislativo e, não sei, do Judiciário - talvez não seja para isso - o sentimento da busca da grandeza. Existe a mediocridade, a modéstia da busca do crescimento, há mais de 100 anos.

            Fizemos a democracia, há 20 anos. Essa democracia não nos trouxe o gosto pela grandeza. Para falar francamente, nesse ponto de vista, o regime militar tinha mais do que nós na democracia. Mas, em compensação, que grandeza era aquela debaixo do autoritarismo, sob tortura? Uma grandeza falsa também.

            Pois bem, Sr. Presidente, não quero alongar-me muito no tempo. Quero tentar trazer para esta Casa, mais uma vez - repetindo insistentemente -, o que defendo: procuremos retomar aquilo a que a história nos obriga. Tentemos ser a Casa onde se constrói a grandeza do Brasil. Temos mais 15 anos até o segundo centenário da nossa independência.

            Por que não tentamos parar com a mediocridade do dia-a-dia, de uma agenda que, no máximo, se preocupa com o crescimento e, em geral, preocupa-se somente em tapar os buracos que o dia-a-dia está construindo na nossa sociedade, na nossa economia, na nossa cultura, na nossa história e na nossa política?

            Volto a insistir na proposta que fiz aqui, Senador Mão Santa, de que este Congresso deveria fazer o contrário do que faz. Durante dois ou três meses, deveríamos ficar aqui dentro desta sala refletindo sobre o futuro do Brasil. As nossas bases não se ressentiriam de deixarmos de ir para lá nos fins de semana por um tempo. Por que a gente não faz um anti-recesso?

            Cada um de nós, quando sai daqui na quinta-feira e vai para sua base, vai trabalhar individualmente. Não vamos malandrar, como dizem por aí. Mas o Senado não trabalha quando cada um de nós vai para um lugar, porque o Senado somos nós juntos aqui. O Senado não existe se estivermos cada um em um lugar diferente.

            Por que a gente não toma uma decisão de tentar engrandecer o Brasil dizendo: vamos ficar aqui juntos durante dois, três, quatro meses, antes que chegue 2008 com nova eleição? Nesses meses, vamos mudar a agenda, vamos colocar na mesa qual é a agenda da grandeza do Brasil, vamos colocar na mesa a agenda de como recuperar as Forças Armadas, que - todos sabemos - está desprezada pelo Poder Público.

            O País pode até crescer se pegar o dinheiro que vai para as Forças Armadas e contingenciá-lo, usando-o para pagar dívidas. Cresce, mas não se engrandece. O tamanho da grandeza diminui por não ter forças que defendam nossas fronteiras, que defendam nosso espaço aéreo, que defendam a própria consciência nacional de que há uma unidade chamada Brasil.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Professor Cristovam...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Mão Santa, um minuto.

            Por que não inserimos as Forças Armadas em nossa pauta? Por que não inserimos na pauta aquilo em que insisto e por que brigo: a revolução pela educação que este País precisa fazer e que não vai fazer com PACs.

            Vamos desmistificar a palavra crescimento, que não significa grandeza e que significa, muitas vezes, apagamento, ofuscação, porque isso engana, Senador Eurípedes! Vamos trazer essa discussão para cá, porque a educação é uma questão federal. Não é uma questão municipal. É nesta Casa que vamos discutir a Federação. É nesta Casa que vamos discutir como fazer o Brasil grande, e não apenas o Brasil crescente. Vamos trazer para esta pauta todas as reformas de que este País precisa para ficar grande, e não essas “medidazinhas” que estão aí para fazer o Brasil crescer ilusoriamente! Vamos discutir aqui como fazer para que neste País não haja mais filas nas portas dos hospitais! Isso faria o País grande, mas a gente insiste em perder tempo na discussão de como tapar os buracos que surgem e, de vez em quando, iludir com a idéia de crescimento, crescimento que não engrandece e que, portanto, termina crescendo, mas diminuindo o Brasil como Nação, como potência, como projeto nacional.

            Se o Presidente permite, apesar de ter praticamente concluído o discurso, passo a palavra ao Senador Mão Santa, com muito prazer.

            O SR. PRESIDENTE (Alvaro Dias. PSDB - PR) - O Senador Mão Santa é o próximo orador. Se quiser, pode apartear já da tribuna principal.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Cristovam Buarque, V. Exª tem tornado este um dos melhores senados da história da República. O papel que V. Exª está exercendo como Presidente da Comissão de Educação é ímpar. Nas audiências públicas, chama verdadeiros devotados à educação para discutir o problema. V. Exª diz também que tudo é educação, no Ministério da Defesa. Nunca antes, na história deste Brasil, aqueles três instrumentos da defesa, a Marinha, a Aeronáutica e o Exército, estiveram tão sucateados. Aquilo não é apenas o número de tanques ou de submarinos que temos. “O essencial é invisível aos olhos”. É educação que eles deram a esta Pátria, como o Almirante Barroso, que disse que o Brasil espera que cada um cumpra seu dever. Com o próprio Exército, tivemos os ensinamentos de todos esses bravos militares e tivemos também o desenvolvimento do País. Há a escola de Engenharia de Agulhas Negras. O Piauí tem - tinha, tinha! - dois batalhões rodoviários que construíram as melhores estradas, os melhores açudes e as melhores pontes. Estão sucateados! Vimos o Almirante Júlio Soares, que seria o Ministro da Marinha no organograma do passado, dizer que, em 2025, a Marinha estará chegando ao fim, porque este Governo não comprou uma canoa.

            Esse Abadia, que apavorou todo mundo, entrou num veleiro no litoral do Ceará, ao lado do Piauí, em Camocim, de peito aberto. Mostra que nós não temos. A Aeronáutica foi o símbolo maior dos continuadores de Santos Dumont, de Eduardo Gomes, que disse que o preço da liberdade é a eterna vigilância - atentai bem para os ensinamentos de civismo dele. E o ITA, a maior escola de engenharia da América Latina, que fez...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - ...os precursores da Embraer. Esse é o perigo. Mas, sobretudo, foram eles que nos ensinavam. Fiz o CPOR, Centro de Preparação Oficial da Reserva, mas os tiros de guerra existentes ensinavam à nossa mocidade disciplina, hierarquia; enfim, ensinavam o que está no lema positivista da bandeira, Ordem e Progresso. Está tudo acabando. E V. Exª revive aqui Pedro Calmon, João Calmon e Darcy Ribeiro, mostrando este País como Rui Barbosa disse: só tem um caminho, a salvação, é a justiça. E Cristovam Buarque diz que só tem um caminho, uma salvação, a educação do Brasil.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito obrigado, Senador.

            Concluo, Sr. Presidente, dizendo que a única coisa que queria passar era a idéia de que crescer não é sinônimo de grandeza. Está na hora de nós, líderes deste País, sairmos um pouco dessa visão medíocre do crescimento apenas e descobrirmos como crescer...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - É importante para fechar, senão ficaria uma falsa impressão: descobrirmos como crescer e fazer do Brasil um país grande. Pena que essa expressão esteja tão esquecida e que a mediocridade geral, como nós, os líderes deste País, tratamos os destinos da Nação, nos faz acreditar que crescer é sinônimo de ser grande, quando, de fato, não o é.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/08/2007 - Página 28650