Discurso durante a 134ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações a respeito do trabalho das santas casas de misericórdia.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SAUDE. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. :
  • Considerações a respeito do trabalho das santas casas de misericórdia.
Aparteantes
Alvaro Dias.
Publicação
Publicação no DSF de 28/08/2007 - Página 28653
Assunto
Outros > SAUDE. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • DEFESA, IMPORTANCIA, TRABALHO, SANTA CASA DE MISERICORDIA, PAIS, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI).
  • QUESTIONAMENTO, OMISSÃO, GOVERNO FEDERAL, SOLUÇÃO, PROBLEMA, SAUDE PUBLICA, PAIS, CRITICA, VETO (VET), PRESIDENTE DA REPUBLICA, AUMENTO, REAJUSTE, APOSENTADO.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Alvaro Dias, cumprimento V. Exª, que preside esta sessão de segunda-feira, 27 de agosto; as Srªs Senadoras e os Srs. Senadores presentes; as brasileiras e os brasileiros aqui presentes e os que nos acompanham pelo sistema de comunicação do Senado.

            Senador Eduardo Suplicy, atentai bem! Este é um dos melhores Senados em 183 anos: nunca dantes se reuniu às segundas-feiras. E aqui nós estamos.

            Suplicy, V. Exª é administrador e economista, não é? Não é, Suplicy? Sei que é Senador do PT.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Sou bacharel em Administração de Empresas e tenho doutorado em Economia.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois eu sou médico. Quis Deus estivesse aqui Rosalba Ciarlini, essa encantadora médica, líder da cidade heróica de Mossoró, do bravo povo de Mossoró, um dos primeiros a libertar os escravos no Brasil! Mas nós, médicos, Drª Rosalba Ciarlini, damos valor à etiologia, à origem.

            Ô Luiz Inácio, as vaias têm de ter uma origem, têm de ter uma origem. A origem é isto aqui. Olha para cá, ô Alvaro Dias! V. Exª, que governou tão bem o Paraná, sabe que a gente tem certos compromissos com o povo. Norberto Bobbio, o maior Senador contemporâneo da Itália, disse que o mínimo que se tem de exigir de um governo é segurança. V. Exª viu no Paraná aquele atentado contra uma jovem.

            Cheguei agora, Suplicy, de Buenos Aires. Ô Luiz Inácio, isto aqui não é civilização, não! É barbárie. Tomei um banho para vir para cá. O avião saia às cinco horas da manhã. Como a gente tem de chegar duas horas antes, peguei Adalgisinha e saí por aí, andando na Calle Corrientes, a rua que não dorme. Fiquei até às três horas da manhã para ir para o aeroporto, porque, se fosse dormir, não ia conseguir acordar. Lá não há negócio de bala perdida e de bandido, não! O que há de brasileiro lá, Suplicy, e de brasileira: “Ah, é o Mão Santa! Você é o Mão Santa?”. Todo mundo tem medo de andar nas ruas do Rio de Janeiro, nas ruas de São Paulo - nas de Teresina nem se fala, e era uma cidade pacata.

            Rosalba, foi uma epidemia, uma gripe espanhola, uma Aids: irradiou no Brasil todo essa violência.

            Educação, como Cristovam Buarque falou, é fundamental. Governo precisa dar segurança, educação e saúde. O resto vem atrás. Faço minhas as palavras do Professor Cristovam Buarque. E saúde? Vou falar aqui: essa foi a causa da vaia que Luiz Inácio pegou. Não adianta! No Estado da Guanabara, a segurança está aí: mata-se mais lá do que no Iraque! O nome da favela do Alemão foi bem colocado: o lugar lembra aquelas guerras do Hitler, pois é morte todo dia. Pode pegar o jornal e comparar a situação com a do Iraque. Está empatando, viu, Cristovam Buarque? Então, esta é uma causa: a educação, de que V. Exª falou.

            Eu me lembro, ô Luiz Inácio, de Carlos Frederico Werneck de Lacerda. O Sibá disse que queria um livro de Carlos Lacerda. O Sibá está estudando. Mas algo me encantou na época de Carlos Lacerda. Vivi no Rio, estudei lá nessa época, e ficou algo na minha mente em relação a Lacerda - sei que há as obras físicas, como o Aterro do Flamengo, o Túnel Rebouças, a Adutora do Guandu -, que é a lembrança do que eu via quando andava de ônibus: “Há vaga”, “Há vaga”, “Há vaga”, “Há vaga”, “Há vaga”. Eu pensava: “Que diabo é esse negócio?”. Aí entendi: havia vaga em todas as escolas. Ô Luiz Inácio, na época de Carlos Werneck Lacerda, víamos: “Há vaga”. Você ia lá, e havia vaga. O governo se virava, contratava professor e garantia a vaga. É por isso que o Sibá está querendo livro do Carlos Lacerda! Não está pedindo livro nenhum desses aloprados do PT para ler. Pediu-me, e vou dar-lhe o livro do Carlos Lacerda. Viu, Cristovam? Sibá, lá do Piauí, pediu-me um livro do Lacerda. Essa é uma coisa boa.

            E quanto à saúde? O jornal O Globo noticia que auditoria reprovou Santa Casa. O Ministério da Saúde descobriu o sumiço de R$471 mil. Está aqui. Agora, quem vai falar de saúde sou eu! Ô Cristovam, olhe para cá! V. Exª é o defensor da educação; e eu, o da Saúde aqui.

            Ô Cristovam, quantos anos V. Exª tem como professor? Diz aí! A gente não pode perguntar idade de mulher. Se fosse a Rosalba...

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Quarenta anos.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Quarenta anos? Pois vou fazer 41 anos de Medicina. Estamos ganhando.

            Mas olhe aqui. Há um bocado de coisas: “Santa Casa sob suspeita”. Essa é uma publicação do jornal O Globo.

            Senador Alvaro Dias, no seu Estado, há Santa Casa?

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Sim.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Em Pernambuco, há Santa Casa, ô Cristovam? Lá no Piauí, na minha cidade de Parnaíba, há Santa Casa. Vou fazer a defesa da Santa Casa aqui.

            Está escrito: “Santa Casa sob suspeita”. É muito forte! Sei o que é Santa Casa, ô Cristovam, ô Luiz Inácio! Ô Ministro Temporão, sou mais velho do que V. Exª em Medicina, tenho mais quilômetros bem rodados. A pior desgraça é a gente querer subir... Quem tem bastante luz não precisa diminuir os outros para poder brilhar.

            Diz-se: “Santa Casa sob suspeita”. A Santa Casa não tem nada de suspeito. A Santa Casa é uma instituição, ô Rosalba, que apareceu em Portugal, com o apoio da Rainha D. Leonor - seu confessor pediu, e isso começou lá. No Brasil, foi o Padre Anchieta. Ô Suplicy, antes do Luiz Inácio, houve três Governadores-Gerais: Tomé de Souza, Duarte da Costa e Men de Sá. Antes do Luiz Inácio, foi Duarte da Costa que criou a Santa Casa. Veio um navio, ô Cristovam, e trouxe uma peste com os marinheiros, e a peste invadiu o Rio. Então, o Padre Anchieta os acolheu em cabanas de palha. Daí nasceu a idéia da Santa Casa. Isso aconteceu em 1582. Essa instituição foi criada para atender aos pobres. Os primeiros a serem atendidos foram os navegantes que vieram em um navio. Era uma epidemia. Padre Anchieta, junto com nosso segundo Governador-Geral, Duarte da Costa, criou a Santa Casa. Então, desde aí, elas se espalharam. Na minha cidade, Parnaíba, há uma Santa Casa.

            Olha, Suplicy, sei que V. Exª tem um bocado de títulos, mas eu também os tenho. Ganhei um bocado deles. Fui prefeito. Mas, Cristovam, na minha pasta, levo um só: quando a Santa Casa da minha cidade fez cem anos - eu era Governador do Piauí -, mais ou menos em 1995, eles me deram uma medalha pelo centenário. Aquela eu a carreguei, porque trabalhei durante trinta anos numa Santa Casa.

            Mas, Cristovam, sei a história de muito antes, não a que estou contando aqui de Duarte da Costa, de Anchieta, da Rainha de Portugal, D. Leonor.

            Rosalba, meu avô deu o primeiro aparelho de Raios X. Ele tinha um filho médico, que depois foi prefeito, e hospedou Getúlio Vargas. Era João Orlando. Ele era médico dessa Santa Casa. Depois, Cristovam, meu pai foi tesoureiro de uma Santa Casa, Joaz Rabelo de Souza.

            Aprenda Temporão! Sei que V. Exª é sanitarista, mas sou médico de hospital. Como funcionava a Santa Casa, Rosalba?

            Eu morava na Avenida Presidente Vargas, eu era menino. Naquele tempo, Cristovam, a família toda almoçava junto - o chefe da família, o pai, a mãe. Com V. Exª não foi assim, não, Rosalba? Tínhamos essa tradição. Eu fui educado assim. Na hora do almoço, estavam ali para impor a moral, tínhamos de cumprir horários. Batiam palmas, e a doméstica chegava e dizia: “Seu Joaz, estão chamando lá na porta”. Meu pai se levantava e vinha com um dinheiro bom. Aproveitava a hora do almoço para dar dinheiro para a Santa Casa. Nasci em 1942 e vi meu pai fazer isso. Minha mãe - não sou mão santa, mas sou filho de mãe santa, a terceira franciscana - fazia as quermesses para ajudar a Santa Casa. Vendi muito bingo!

            Ô, Luiz Inácio, não deixe acontecer uma indignidade desta: Santa Casa sob suspeita. Tanto aloprado suspeito, e é logo a Santa Casa que a auditoria reprova! Santa Casa sob suspeita - essa é uma indecência. Como diz Boris Casoy: isso é uma vergonha!

            A Santa Casa era assim. Ô Cristovam Buarque, eu vendia bingo nas quermesses. Meu pai era tesoureiro. Ainda tenho essa lembrança. E um ricaço daquele ganhava o bingo e o devolvia para a Santa Casa. O povo dava dinheiro. E por que o povo dava dinheiro? Porque não havia tantos impostos, Luiz Inácio! Agora, são 76 impostos. Qual é o brasileiro ou a brasileira que pode dar dinheiro para a Santa Casa?

            Elas não têm de estar sob suspeita, pois têm de sobreviver a esse estado caótico de dificuldades. Elas merecem, isto sim, respeito e homenagens.

            Ô Cristovam, preste atenção! Minha mãe, escritora, tem um livro: A Vida, um Hino de Amor, pela Editora Vozes. Lembro-me de que ela escreveu uma carta para a Miss Brasil Emília Correia Lima, do Ceará, linda - eu ainda era garoto -, para fazer uma festa em benefício da Santa Casa. A misse ficou hospedada lá em casa; é uma mulher bonita, empata com a Adalgiza. É interessante como todo mundo cooperava. Minha mãe e meu pai vendiam, e a cidade toda comprava mesas, para ajudar a Santa Casa. Essa misse tinha um noivo, largou o noivo e arrumou um casamento - naquele tempo, a estrada de ferro era dirigida pelos militares e funcionava; era Major César Cals - com um rapaz bonitão, de espada, que parecia o Alvaro Dias. Ele tomou a misse do noivo, e ainda estão casados até hoje. Ou seja, a misse foi fazer uma caridade e arrumou um casamento. E morou em Ipanema por muito tempo; todos os dias, quando eu ia para a aula, passava pela casa dela e a via molhando a grama. Eu ia e voltava. Ô misse bonita!

            Estou dizendo que todos ajudavam a Santa Casa. Entenderam? Todo mundo dava dinheiro. Meu avô deu um aparelho de Raios X. Hoje isso não é possível, pois todo mundo está sacrificado pelos 76 impostos. Qual o brasileiro ou a brasileira que vai à Santa Casa dar um dinheirinho hoje? É isso.

            Santa Casa sob suspeita?! Os suspeitos estão no Supremo Tribunal Federal, os aloprados.

            As Santas Casas começaram com o Padre Anchieta. Atire, Luiz Inácio, a primeira pedra quem não precisou de uma Santa Casa! Eu era menino e era danado. Eu era metido a goleiro, quebrei um braço e, depois, ainda quebrei o outro. Fui à Santa Casa e fui atendido pelo Dr. Candido e pelo Dr. Mariano. Meus filhos nasceram lá. Atire a primeira pedra quem não necessitou de uma Santa Casa! Quer uma, Senador Cristovam Buarque? Minha filha, Daniela, hoje, está fazendo estágio em Dermatologia com o Prof. Azulay.

            Santa Casa é essa instituição sagrada. Fiz residência com o Prof. Mariano de Andrade no Hospital dos Servidores do Estado. Ele tinha uma enfermaria na Santa Casa, e trabalhei lá. Mas por que antes funcionava, Senador Cristovam Buarque? O Ministro Temporão não sabe; e Luiz Inácio, muito menos. Eu sei. E é por isso que o Senado está aqui para ensinar.

            Os militares fizeram coisas boas: o Funrural, por exemplo. Ô Senador Cristovam Buarque, o trabalhador não tinha atendimento, mas o João Batista Figueiredo criou isso - ou foi Emílio Garrastazu Médici? Todo trabalhador rural era atendido nesses hospitais filantrópicos, principalmente nas Santas Casas, que tinham, então, uma verba fixa. E nós, que ganhávamos bem - porque a tabela do SUS não era imoral, não era indecente, não era indigna; a consulta não custava apenas R$2,50, como hoje, e a anestesia não era apenas R$9,00 -, abdicávamos do dinheiro do Funrural para a manutenção das Santas Casas.

            Atendíamos o trabalhador rural sem cobrar. Então, elas tinham aquela renda fixa. Entendeu como funcionava? Mas isso acabou. E a Santa Casa não pára, é toda hora, vão ver as filas.Pitanguy, aquela mão santa. Ivo Pitanguy pode faltar a tudo, mas, às sextas-feiras, gratuitamente, opera na Santa Casa. Imagine só quantas cirurgias plásticas Pitanguy fez? Ele está fazendo 80 anos. Eu o conheço, é um cara bacana, andei com ele. Quantas cirurgias plásticas gratuitas Pitanguy já fez numa Santa Casa? Toda sexta-feira ele opera, nunca faltou a nenhuma, é sagrado. Ele ganha o dinheiro dele, mas às sextas-feiras ele vai lá e opera. Então, as Santas Casas são mantidas assim.

            Quero dizer ao Luiz Inácio que ele tem que se ter sensibilidade política e responsabilidade administrativa. Do jeito que estão essas tabelas do SUS, Vossa Excelência pode buscar o Peter Drucker, pode buscar aquele administrador maior da GE, Jack Welch, que não vão dar jeito. Dois e cinqüenta uma consulta, nove reais uma anestesia; a energia é a mais cara do mundo; a água é a mais cara do mundo; há as obrigações trabalhistas.

            Então, quero aqui prestar a minha solidariedade aos que fazem a Santa Casa. E o Senador Sérgio Cabral, homem de bem, que só votava comigo, do PMDB, ele não ficou doido. Ele pediu uma administração tríplice: municipal, estadual e federal, mas não começando assim. O que o Ministério da Saúde descobriu? Eu sei o que é isso. Temporão, aprenda!

            Em 1982, eu tinha acabado o meu mandato de Deputado Estadual e perdi a eleição para Prefeito. Só não perdi a vergonha e a dignidade, Cristovam. Isso na Santa Casa de Parnaíba, no Piauí. Olha, Alvaro Dias, como este Governo é injusto, daí o porquê das vaias para o Luiz Inácio. Quantos e quantos foram atendidos no Rio de Janeiro pela Santa Casa?

            A SRª. PRESIDENTE (Rosalba Ciarlini. DEM - RN) - Senador Mão Santa, eu gostaria de...

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Gostaria não, a senhora está sensibilizada e, com a bondade e a generosidade do seu coração, do povo de Mossoró, que libertou os escravos, vai me permitir libertar os médicos hoje, que são os escravos dessa situação e estão desgastados. Só para terminar...

            A SRª PRESIDENTE (Rosalba Ciarlini. DEM - RN) - Vou lhe conceder mais alguns minutos para que V. Exª possa concluir o seu pensamento. Entendo a importância desse tema para o nosso Brasil e para a população brasileira, pois as Santas Casas, realmente, prestam um grande serviço à Nação. Por isso, V. Exª as defende com tanta força, o que nos coloca com mais disposição para estar ao seu lado nessa luta.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Deus escreve certo por linhas tortas: Ele colocou nessa Presidência a senhora, que é médica. Sei que vou poder usar o tempo que eu quiser.

            Vamos dizer, Cristovam: um quadro vale por dez palavras. Suplicy, preste atenção! Em 1982, houve um fato como esse na Santa Casa de Parnaíba. Chegou um auditor metido, e eu tinha acabado meu mandato de Deputado estadual, tinha disputado eleições para prefeito e tinha perdido e salvei a Santa Casa do descredenciamento. Não tinha nada a ver. Interessante. Um dos dirigentes é hoje é prefeito, Dr. Robert Freitas, de família boa, primo de Freitas Neto, que foi Senador.

            Então, eles iam descredenciar. Sabe por que, Cristovam Buarque? Chega um auditor, que tem que ter o espírito da lei, e suspeita. Atentai bem!! Então, eu seria suspeito.

            Veja Suplicy, Temporão aprenda, Luiz Inácio - Suplicy é um homem de bem, tem vergonha do PT -, iam descredenciar! Fui à reunião e disse: olha, eu fui dez dias antes convidado pelos hospitais particulares a preencher as guias das operações que faria. Dez dias antes nos hospitais particulares em que eu operava, dez dias antes! E, na Santa Casa, que não tem dono, que não tem interesses comerciais, que não é casa de negócio, que não é casa de bandido, o auditor chegou às seis horas da manhã, bateu, a mocinha abriu, e ele entrou. Então, olhando a papelada das cirurgias, ele viu que não tinha a ficha do anestesista, disse que eram cirurgias fantasmas e ia descredenciar.

            Sabe por que não tinha?! O anestesista, daquele jeito, fazia por excesso, mandava o cara para lá. No hospital não tinha papel, o hospital estava com tanta dificuldade - tem dificuldade mesmo, pois é um hospital que só faz atender os pobres.

            Aqui tenho o número de leitos e de quartos particulares. Veja só. O hospital com 22 enfermarias, são 162 leitos, e 49 quartos. Esses são os particulares, Senador Cristovam Buarque. São 162 leitos de enfermaria, da Previdência, ou de graça, indigente. Então não dá para sustentar.

            Sei que não tinha papel do anestesista. O hospital não tinha dinheiro nem para comprar os impressos. Eu achava estranho que os hospitais privados tinham me chamado para preencher todas as papeletas, e a Santa Casa, tomada de supetão, sofreu esse desgaste. Ela não tem interesse comercial; é filantrópica.

            Eu queria conceder um aparte ao Senador Alvaro Dias, que foi Governador de Estado, e lá existe uma Santa Casa.

            O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Mão Santa, eu até tinha desistido, mas já que V. Exª, na sua generosidade, me permite o aparte... Esse assunto é para V. Exª mesmo, que tem autoridade, é professor nisso, médico que é. É chamado de Mão Santa, porque deve ter feito, sem dúvida nenhuma, coisas maravilhosas como médico. Então, pode falar sobre esse assunto como representante da sua gente. Há poucos dias vi na televisão uma imagem de Brasília que me chocou muito: havia uma fila enorme na porta de um hospital. Gente necessitada, desatendida e morrendo sem atendimento de urgência. Pensei: se aqui bem pertinho do Presidente da República, diante da face do Presidente da República, está acontecendo isso, imagine o que ocorre no interior do País. Fui para o meu Estado e vi que, no Sudoeste do Paraná, seis hospitais fecharam nos últimos anos; isso em apenas uma região. É claro que uma Santa Casa, que é uma instituição benemérita, tem de ser apoiada pelo Governo. Muito mais do que apoiada, a Santa Casa tem de ser valorizada, tem de ser protegida, tem de ser defendida, como V. Exª a defende, porque ela faz aquilo que caberia ao Governo fazer, ou seja, alivia um pouco as dificuldades do Governo, que, lamentavelmente, não tem tido a capacidade necessária para resolver esse gravíssimo problema de saúde pública no Brasil. O caos continua na saúde pública brasileira. V. Exª faz muito bem, com a autoridade que tem, ao vir a tribuna e defender essa instituição importantíssima que é a Santa Casa de Misericórdia.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço ao Senador Alvaro Dias, que governou tão bem seu Estado, o Paraná.

            Senadora Rosalba Ciarlini e Senador Cristovam Buarque, queria ver se o nosso Presidente Renan Calheiros é firme. Queria ver, porque outro dia o Senador pelo Piauí Heráclito Fortes teve uma grande inspiração. Nós trabalhamos e lutamos juntos, convencemos este Plenário e ganhamos. Ele pegou a Timemania, da loteria, que vem aí e vai dar um percentual aos times de futebol.

            Luiz Inácio, Vossa Excelência andou na Câmara dos Deputados e disse que ali havia 300 picaretas. É lá; aqui, não. Atentai bem!

            Nós aqui chegamos à conclusão de que aquele dinheirinho da Timemania, desses jogos lotéricos, devia ir para as Santas Casas.

(A Srª Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Não vai para os times de futebol? Nós votamos. Nós ganhamos, e Luiz Inácio vetou.

            Faz parte do jogo democrático o veto do Presidente da República voltar aqui e ser analisado. E esse veto nunca voltou.

            Presidente Renan, firme-se diante a Nação, trazendo amanhã o veto da Timemania, um dinheiro para a Santa Casa. É um veto do Luiz Inácio. Demos aos aposentados 16,7%. Ele vetou, e os pobres aposentados ganharam 3% a 4%. E os aloprados, 140% de aumento.

            Traga, Renan, amanhã para cá - firme-se diante desta Casa e da Nação -, o veto da Sudene. Nós criamos a Sudene. Antonio Carlos Magalhães morreu de trabalhar. Sudene, todos nós. A Sudene, no seu Pernambuco, Cristovam Buarque, no Recife, no Nordeste. Aí o Luiz Inácio vetou o oxigênio, o recurso da Sudene. Traga, Renan amanhã esse veto para discutirmos,para vermos quem é que fica contra os aposentados, contra a Santa Casa e contra a Sudene.

            Essas são as nossas palavras. Confiamos no Governador Sérgio Cabral. Li a reportagem, comprei O Globo, um grande jornal. "Santa Casa: o que o Ministério da Saúde descobriu?" Temporão, você vai descobrir que a Santa Casa merece respeito, merece aplauso, merece apoio. Falo por todas as instituições médicas deste País porque posso representá-las.

            Usamos desta tribuna para convocar a Subcomissão de Saúde, por seu Presidente, Papaléo Paes, para chamar todas as Santas Casas, pois quase todas estão em dificuldades. A de Porto Alegre é uma exceção.

            Têm um lado educativo. Formei-me em Fortaleza e assisti a aulas de Urologia, de Gastroenterologia, de Traumatologia na Santa Casa. Pelo Brasil afora elas funcionam também como hospital acessório de escola.

            Essas foram as nossas palavras. Atire a primeira pedra quem nunca precisou de uma Santa Casa de Misericórdia. Quero que o Ministro Temporão ajude a do Rio de Janeiro e a do Piauí, na minha cidade - Parnaíba.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/08/2007 - Página 28653