Discurso durante a 134ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Esclarecimentos sobre o posicionamento de S.Exa. no Conselho de Ética. A importância da entrevista concedida ontem pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jornal O Estado de S.Paulo.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Esclarecimentos sobre o posicionamento de S.Exa. no Conselho de Ética. A importância da entrevista concedida ontem pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jornal O Estado de S.Paulo.
Aparteantes
Heráclito Fortes, Sergio Guerra.
Publicação
Publicação no DSF de 28/08/2007 - Página 28664
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REITERAÇÃO, ESCLARECIMENTOS, EXPECTATIVA, CONHECIMENTO, DEPOIMENTO, RENAN CALHEIROS, PRESIDENTE, SENADO, COMISSÃO DE ETICA, ANALISE, DOCUMENTO, POSTERIORIDADE, MANIFESTAÇÃO, POSIÇÃO, ORADOR, DESMENTIDO, PUBLICAÇÃO, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • IMPORTANCIA, ENTREVISTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CONFIRMAÇÃO, AUSENCIA, ADMISSÃO, INICIATIVA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), VIABILIDADE, REELEIÇÃO, ALEGAÇÕES, RELEVANCIA, EXIGENCIA, TRANSFERENCIA, PODER, EXERCICIO, DEMOCRACIA.
  • CONFIRMAÇÃO, AUSENCIA, INICIATIVA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DEFESA, AMPLIAÇÃO, MANDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COINCIDENCIA, CONVICÇÃO, ORADOR, POSSIBILIDADE, FALTA, LIMITAÇÃO, REELEIÇÃO, PREJUIZO, APERFEIÇOAMENTO, DEMOCRACIA, PAIS.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, em primeiro lugar, quero fazer um esclarecimento.

            Nesses últimos dias, inúmeros jornalistas perguntaram-me, já que sou membro do Conselho de Ética, sobre a decisão que eu e outros Senadores tomamos a respeito da representação relativa ao Presidente do Senado, Senador Renan Calheiros.

            Quero apenas esclarecer, reiterando mais uma vez, que estou analisando com responsabilidade todos os dados da questão. Tenho recomendado ao Presidente Renan Calheiros que compareça pessoalmente perante o Conselho de Ética, e ele próprio me disse que fará isso.

            Quando, na semana passada, foi anunciado que o Senador Renan Calheiros compareceria à Comissão de Inquérito para ser ouvido pelos três relatores - Senador Renato Casagrande, Senadora Marisa Serrano e Senador Almeida Lima -, em sessão que seria presidida pelo Senador Leomar Quintanilha, eu consultei o Senador Renato Casagrande e o Senador Quintanilha sobre a possibilidade de ouvi-lo também. Perguntei ao Senador Renan Calheiros, inclusive, se ele teria alguma objeção quanto a isso. Ele disse que não e, então, eu me dispus a ir.

            Naquela tarde de quinta-feira, porém, atendi ao apelo, transmitido à Líder Ideli Salvatti pelo Senador Leomar Quintanilha, de que, naquela ocasião, deveriam apenas os três relatores estar presentes, uma vez que era um procedimento da Comissão de Inquérito, atendendo a solicitação de aguardar oportunidade posterior em que o Senador Renan Calheiros se apresentasse ao Conselho de Ética. Respeitei aquela solicitação, Presidente Mão Santa, na expectativa de que os membros do Conselho de Ética questionariam o Presidente Renan Calheiros sobre toda e qualquer dúvida que porventura surgisse. 

            Como foi publicado ontem no jornal O Globo que eu já teria tomado minha decisão, que estaria na lista dos que iriam votar pela cassação do Senador Renan Calheiros, quero aqui fazer um esclarecimento: eu não tomei decisão, eu não conversei com qualquer pessoa informando que teria tomado qualquer decisão. Portanto, Senador Mão Santa, a minha posição pessoal é a de estar analisando todas as informações que estão sendo levantadas.

            Expressei, e aqui reitero, que gostaria de ouvir o Senador Renan Calheiros antes de tomar qualquer decisão, inclusive sobre os diversos aspectos levantados pela Senadora Marisa Serrano e pelo Senador Renato Casagrande em suas entrevistas - disseram que há um aspecto que consideram relevante, no que concordo com S. Exªs, que seria o fato de o Senador Renan Calheiros ter dito que, por questões pessoais, de foro íntimo ou de discrição, preferiu não declarar um tipo de empréstimo e eventual rendimento ou forma de fazer pagamento.

            Então, é necessário que nós, à luz da legislação sobre como deve ser feita a declaração de rendimentos, de bens e de empréstimos à Receita Federal, peçamos um esclarecimento mais completo para que tenhamos meios de fazer um julgamento justo. O que sempre aqui coloquei foi a importância de assegurarmos ao representado, o Senador Renan Calheiros, direito de defesa o mais completo possível. Esse é o esclarecimento que desejava fazer. Estarei, nesta semana, estudando todos os atos para que, na reunião do Conselho de Ética, possamos examinar bem a questão.

            Mas, Sr. Presidente, venho a tribuna hoje para ressaltar a importância, a relevância da entrevista que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu ontem ao jornal O Estado de S. Paulo. Há dez dias aproximadamente, o Senador Heráclito Fortes subiu à tribuna do Senado para dizer que a campanha publicitária do Banco do Brasil indicando o número 3 teria por propósito subliminar a reeleição do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eu então esclareci ao Senador Heráclito Fortes, ao Senador Jarbas Vasconcelos e ao Senador Tasso Jereissati - todos usaram da palavra para falar sobre o tema naquela tarde - que o Presidente da República havia reiterado, no início deste ano, quando tive a honra de recebê-lo para jantar em minha residência com dez senadores do Partido dos Trabalhadores, que considerava inadequada para o aperfeiçoamento da democracia a possibilidade de nova reeleição e que ele, de maneira alguma, iria admitir que o Partido dos Trabalhadores viesse a apoiar uma nova reeleição.

            No dia seguinte, o Diretor de Marketing do Banco do Brasil me fez uma visita - até agradeceu as palavras que eu pronunciara -, e perguntou-me a respeito da campanha. Eu lhe disse que achava oportuno que o Presidente reiterasse o que já havia dito, inclusive numa entrevista em café da manhã com jornalistas.

            O Presidente concedeu entrevista de quatro páginas ao jornal O Estado de S. Paulo, aos jornalistas Tânia Monteiro, Vera Rosa, Rui Nogueira e Ricardo Gandour. Foi uma conversa que certamente durou mais de duas horas, uma conversa em que o Presidente mostrou muito bom humor e muita vontade e na qual os jornalistas fizeram perguntas muito relevantes. Essa entrevista, que teve grande repercussão, teve como manchete: “Nem se o povo pedir serei candidato em 2010”.

            Vou lhe conceder aparte em instantes, Senador Heráclito Fortes, porque V. Exª tanto tratou deste assunto, mas antes gostaria de aqui registrar as palavras do Presidente, sobretudo quanto à reeleição, para mostrar com clareza que o Presidente não considera, não admite qualquer iniciativa nesse sentido, inclusive por parte de nosso partido.

            Reproduzo aqui as palavras do Presidente Lula dadas em resposta à pergunta sobre quais serão as conseqüências das decisões do Congresso do PT, que se realizará neste final de semana próximo. A respeito da sucessão, ele disse:

            Seria prudente que nós aprendêssemos algumas lições que a vida ensina. Muitas vezes, a disputa se dá por interesse pessoal de um indivíduo, que quer marcar posição sendo candidato a alguma coisa. Se ele tem sucesso, ótimo. Se ele não tem, todos ficam com o prejuízo de uma derrota eleitoral. Tenho ponderado aos presidentes dos partidos da base que seria importante que eles conversassem e começassem a mapear a possibilidade de alianças políticas nas prefeituras das capitais e das cidades mais importantes do País. Se as direções não conversam antecipadamente, permitem que o jogo eleitoral e o interesse eminentemente municipal determinem a política local e o conflito nacional. Onde é possível construir aliança política para disputar, por exemplo, 2008? Onde é possível ter candidaturas próprias? Esse gesto pode facilitar a candidatura em 2010.

            [...]

            Para quem tem uma base heterogênea, como nós temos - e qualquer presidente constrói uma base heterogênea por causa da realidade política brasileira -, vocês perguntam como é possível construir uma unidade para escolher um candidato para enfrentar os adversários em 2010. Obviamente que eu não penso nisso fora de hora, só vou pensar nisso no momento certo. Não é uma eleição pequena. É uma eleição que envolve uma candidatura a presidente e vice, candidaturas de 27 governadores, de 54 senadores. 

            Um ponto importante, relacionado, foi quando ele mencionou a questão da sucessão, pois aqui registro as suas palavras:

            Não acredito na palavra insubstituível. Não existe ninguém que não seja substituível, ou que seja imprescindível. Quando um dirigente político começa a pensar que é imprescindível, que ele é insubstituível, começa a nascer um ditadorzinho. Acho que eu só cheguei à Presidência da República por conta da democracia deste País. Foi a democracia que permitiu que um operário metalúrgico, utilizando todos os instrumentos democráticos e vivendo as adversidades, chegasse à Presidência. Então, eu tenho de valorizar isso. Um dia eu acreditei que era possível chegar à Presidência pelo voto. E não eram poucos os estudiosos que me diziam que seria impossível, pelo voto, chegar lá.

            Mais adiante, ainda a respeito da sucessão presidencial, mencionou, quando perguntado a respeito, exatamente, se ele estaria fazendo alguma crítica ao Presidente Hugo Chávez. A pergunta dos jornalistas de O Estadão foi:

            No início da entrevista, o senhor disse que é pernicioso ter alguém que se considera insubstituível ou imprescindível, que isso gera ditadorzinhos. O presidente venezuelano Hugo Chávez está querendo reeleições por tempo indeterminado. Ele é um ditador?

            [O Presidente, então, respondeu:]

Eu não julgo comportamento de outros países. O Chávez está propondo uma mudança na Constituição. Se tiver maioria para fazer... Eu não peço (reeleições indefinidas), porque eu sou adepto da alternância de poder. Eu acho que oito anos é o suficiente para que eu faça aquilo que é possível fazer. Outro virá e fará mais.

A falta de alternância de poder atenta contra a democracia?

[Responde o Presidente Lula:]

            Eu sei o que você quer perguntar e você sabe o que eu quero responder. Eu sei, mas a minha resposta é objetiva: cada país determina a lógica de sua vida política interna. Eu reafirmo que a alternância de poder é uma exigência extraordinária para o exercício da democracia.

Então, o senhor repudia esses comentários que dizem que o senhor pensa na possibilidade de um terceiro mandato com essa convocação de uma Assembléia Constituinte para fazer a reforma política?

Repudio não [respondeu o Presidente]. Quem fala isso é mentiroso, tem má-fé, não só porque eu não acredito nisso, não quero isso, como sou contra isso.

Mesmo com uma feitiçaria política do povo pedindo na rua um terceiro mandato?

Não tem essa de o povo pedir [respondeu o Presidente Lula]. Meu mandato termina no dia 31 de dezembro de 2010. Agradeço ao povo brasileiro o carinho que teve comigo e passo a faixa a outro presidente da República no dia 1º de janeiro de 2011. E vou fazer o meu coelhinho assado, que faz uns cinco anos que eu não faço.

            Reitero que estou colocando esses pontos até numa atenção a V. Exª, Senador Heráclito Fortes, porque, naquele dia, naquela tarde, procurei transmitir a V. Exª e aos Senadores Tasso Jereissati e Jarbas Vasconcelos que eu tinha a convicção de que esse ponto de vista, aqui está claramente registrado e reiterado pelo Presidente, era de fato o seu ponto de vista.

            Senador Heráclito Fortes, ainda hoje telefonei para a Liderança do Partido dos Trabalhadores, para o Líder Luiz Sérgio, porque sei que aqui no Senado não há Senador algum cogitando a hipótese de apresentar proposta de emenda à Constituição que viabilize um terceiro mandato. Perguntei ao Líder Luiz Sérgio, na Câmara dos Deputados, se algum Deputado Federal do Partido dos Trabalhadores teria tido iniciativa nessa direção, e S. Exª me disse que não. Inclusive, pediu a sua assessoria que examinasse todas as propostas de emenda à Constituição. Não há proposta da parte do Partido dos Trabalhadores nessa direção. Existem apenas propostas, por exemplo, para se terminar com o direito à reeleição, assim como há aqui no Senado propostas para aumentar o mandato para seis anos, não se permitindo, em conseqüência, a reeleição de todos os que têm mandato. Não concordo com isso, assim como todos do PT.

            Portanto, informo a todos os Senadores que não há proposição nesse sentido. Informo ainda ao ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, com todo o respeito que tenho tido por ele ao longo de minha vida pública, que não é verdade a sua afirmação, contida na entrevista publicada hoje, como repercussão à entrevista do Presidente Lula, de que não é o povo que vai pedir; que é o PT que vai pedir.

            Não, o Partido dos Trabalhadores não vai pedir um terceiro mandato para o Presidente Lula. O Partido dos Trabalhadores vai considerar responsavelmente o apelo do Presidente Lula para conversarmos muito com todos os partidos da Base de Governo, com todos os segmentos da população a respeito de qual será o candidato do Partido dos Trabalhadores, que poderá ou não ser também o candidato dos demais partidos que sustentam o Governo do Presidente Lula; se, porventura, surgir um candidato que possa, em sendo de outro partido, até receber o apoio do Partido dos Trabalhadores. Isso tudo está inteiramente em aberto.

            Espero, com isso, esclarecer aqueles que avaliaram que poderia aquela campanha do 3 ter um outro significado. Não tem, então, o propósito de se cogitar um terceiro mandato para o Presidente Lula.

            Sabe V. Exª que nós, Senadores e Deputados do Partido dos Trabalhadores, vamos, sim, atender a esta recomendação do nosso Partido e que coincide com a minha convicção: a possibilidade de reeleição indefinida não contribuiria para o aperfeiçoamento de nossa democracia.

            Eu, com todo respeito ao Presidente Hugo Chávez, expresso aqui a minha opinião. Ao dizer que é saudável a possibilidade de reeleição ad infinitum parece estar dizendo a todos aqueles que, por exemplo, vivem em seu país que “não há possibilidade de haver outra pessoa melhor do que eu”, o que não me parece adequado.

            Ademais, sempre me lembro muito bem das lições de Alexis de Tocqueville, em A Democracia na América, quando diz, no capítulo sobre o direito de reeleição, tão didaticamente...

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Se V. Exª puder me conceder um aparte, eu estou aqui educadamente esperando.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Vou conceder.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Conceda o aparte para o Senador Heráclito - um minuto.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Vou conceder, mas se permite só relembrar...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª já ultrapassou 21 minutos.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Então, concedo o aparte ao Senador Heráclito Fortes.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Senador Suplicy, quando lhe chamei de Expedito, V. Exª se irritou, mas V. Exª vem aqui como defensor das causas impossíveis. V. Exª está querendo convencer o Brasil de uma campanha que tem o número 3 como carro-chefe, um três que não significa nada, em que as camisas distribuídas não têm a logomarca do Banco do Brasil, assim como as placas colocadas nas ruas, diferentemente das camisetas que os atletas patrocinados pelo Banco Brasil usam, nas quais aparecem de três a quatro logotipos. V. Exª não vai querer me convencer de que não há um movimento, de que não há um aparelho instalado, o que já vem de algum tempo, a serviço do seu Partido. Claro que é! Basta ver os escândalos que envolveram o Banco do Brasil por conta desse aparelhamento. A entrevista do Presidente Lula foi de um bom marqueteiro, mas de um péssimo Chefe de Estado. Dizer que não sabia do mensalão e que o mensalão não atinge a imagem do PT! Meu caro, um Chefe de Estado não pode fugir à realidade, por mais amigo que ele seja dos que se envolveram em algum episódio. V. Exª fez um discurso aqui, na quinta-feira, em que reconheceu o trabalho que Fernando Henrique fez para idealizar os programas sociais. O Presidente, em sua entrevista, disse que ele os criou. Portanto, foi uma entrevista de um marqueteiro e não de um Chefe de Estado. Em política, essa história de palavra empenhada não vale muito. O próprio Presidente o tranqüilizou, entre 1998 e 2002, dizendo que não era candidato à Presidência. V. Exª lançou sua candidatura e, depois, V. Exª teve de ir às prévias. V. Exª se lembra da prévia que houve para a candidatura à Presidência da República. Ele mudou de idéia, não mudou?

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Não. Vou relembrar a V. Exª que, em 2002, o Presidente, inúmeras vezes, disse que estava considerando se seria ou não candidato...

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Não. Tenho a entrevista dele e posso trazê-la amanhã para V. Exª. Ele disse que já tinha cumprido o papel dele e que não era mais candidato.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Não. Ele disse que estava considerando se iria ser ou não. E foi, então...

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Vou-lhe entregar, amanhã, os jornais da época para V. Exª comparar e avivar a memória.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Eu tenho boa memória.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - V. Exª teve até uma disputa com ele. Depois, ficou um ranço danado no PT contra V. Exª.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Essa argumentação...

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Disputei democraticamente com ele. Ele venceu, e daí eu o apoiei.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - V. Exª sabe que seu Partido está empenhado porque não tem nome, o seu Partido está empenhado porque tem nele a única liderança capaz de continuar no poder. Agora, tudo isso é um jogo de cena. E o que ele fez? Trouxe à baila o assunto “sucessão” para precipitá-lo. Até então, a sucessão, no Brasil, não estava sendo tratada como prioridade. A partir da entrevista do Presidente, veja V. Exª a repercussão nos jornais. Isso não é entrevista de quem quer ficar fora do jogo. Vamos e venhamos. E o tempo vai dizer quem tem razão.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Quero apenas lhe recordar o seguinte e V. Exª não tem a obrigação de saber: no ano de 2000, o Presidente Lula... No ano de 2000, lá por volta de agosto, salvo engano...

(Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Eduardo Suplicy, os Senadores Sérgio Guerra, Geraldo Mesquita Júnior, Heráclito Fortes e José Agripino aguardam pacientemente a sua conclusão. V. Exª foi muito brilhante ao defender o Presidente Luiz Inácio.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Pois bem, no ano de 2000, o Presidente Lula reuniu o Presidente do Partido, José Dirceu, que nos convidou. Estavam, pois, presentes José Genoíno, Tarso Genro, eu, Aloizio Mercadante e Cristovam Buarque. O Presidente então nos disse: "Gostaria que vocês soubessem que estou considerando ser ou não candidato à Presidência em 2002. É possível que eu não seja. Portanto, é importante que estejam preparados porque vocês são as cinco pessoas que, na minha avaliação, poderiam ser candidatos". Isso se Sua Excelência não o fosse.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Quem eram os cinco?

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Eram os presentes. Tarso Genro, Cristovam Buarque, José Genoíno, Aloizio Mercadante e eu. E estava presente o Presidente do Partido, José Dirceu, que nos convidou para aquele jantar. Foi, então, que Lula mencionou que poderia ou não ser candidato, que iria decidir ainda - decisão que veio a tomar no ano seguinte.

            Portanto, o Presidente nunca chegou a declarar que não seria candidato em 2002. Disse, inúmeras vezes, que estava cogitando e, finalmente, resolveu sê-lo.

            Sr. Presidente, vou respeitar o tempo que V. Exª me concedeu. Há outros aspectos importantes da entrevista do Presidente, uma entrevista de alta qualidade. Gostaria de externar algumas reflexões sobre a questão dos programas de transferência de renda e do Bolsa-Família, mas esses assuntos terei que tratar com maior profundidade e tempo ao longo desta semana ou ainda na tarde de hoje, para não prejudicar aqueles que estão inscritos.

            Muito obrigado.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª fez um pronunciamento de alta qualidade.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - O Senador Sérgio Guerra me pede um aparte.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Convidamos para usar da palavra o próximo orador inscrito, Senador Sérgio Guerra.

            O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Sr. Presidente, posso fazer um aparte ao Senador Eduardo Suplicy?

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª é o próximo orador inscrito.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - É claro que o Presidente Mão Santa vai permiti-lo.

            O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - Gostaria de proferir algumas palavras sobre a entrevista do Presidente Lula.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Pois não.

            O Sr. Sérgio Guerra (PSDB - PE) - O fato de o Presidente julgar inconveniente que o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso faça comentários e críticas ao seu Governo não me parece sensato. Homens públicos têm mais é que falar mesmo e, quando eles concordam, devem efetivamente dizer o que pensam e, quando discordam, também. Não é bom para o País que personalidades com a importância de Fernando Henrique Cardoso, do Presidente Lula e de outros tantos não falem. É preciso que eles falem e discordem, mesmo de sucessores eventuais. No mais, não me parece representar notícia o Presidente Lula afirmar que não deseja ser ditador e recomendar ao seu Partido que faça um esforço de união para disputar as eleições. Notícia seria o contrário, se o Presidente dissesse que cogitava ser candidato ao arrepio da lei e da tradição democrática do Brasil e do próprio Presidente da República. O Presidente da República foi candidato por várias vezes à Presidência da República, elegendo-se por duas vezes. Não me parece que a democracia tenha lhe feito mal. Enfim, não tem o menor sentido que, agora, governando o Brasil, tomasse um discurso contrário: “eu posso examinar uma terceira eleição, eu posso virar um subditador ou um ditador”. Neste momento, ditaduras estão se apresentando de forma mais ou menos sofisticadas. Por exemplo, o Presidente Chávez já não disfarça mais a ditadura. Se, no começo, havia um certo cuidado em não parecer ditador, agora já não há mais nenhum. Países que têm muita pobreza, de um lado, e, de outro lado, uma negativa distribuição de renda, são terreno fácil para o crescimento de padrões antidemocráticos e para a instalação, mesmo que conjuntural e parcial, de quadros ditatoriais. Então, eu, pessoalmente, apenas saúdo o Presidente Lula por afirmar o que afirmou: que não desejará nem desejaria nunca ser ditador em qualquer circunstância.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Que bom, Senador Sérgio Guerra, que possamos constatar o testemunho do Presidente Lula de quão importante é a democracia e que o processo sucessório se dará de acordo com o que está definido em nossa Constituição.

            De minha parte, se for votado o direito de reeleição aqui novamente, serei contrário, porque, desde a primeira vez, preferi que não houvesse o direito de reeleição. Penso ser mais saudável para a democracia seguir, inclusive, a opinião de Alexis Tocqueville nesse sentido.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/08/2007 - Página 28664