Discurso durante a 154ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Círio de Nazaré, denominado "Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira" pelo transcurso dos seus 240 anos.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Círio de Nazaré, denominado "Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira" pelo transcurso dos seus 240 anos.
Publicação
Publicação no DSF de 12/09/2007 - Página 30906
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, FESTA, CERIMONIA RELIGIOSA, IGREJA CATOLICA, MUNICIPIO, BELEM (PA), ESTADO DO PARA (PA), IMPORTANCIA, MANIFESTAÇÃO, TRADIÇÃO, CULTURA, CRENÇA RELIGIOSA, SAUDAÇÃO, SANTO PADROEIRO, REGIÃO AMAZONICA.
  • COMENTARIO, HISTORIA, INICIO, DETALHAMENTO, FESTA, TRADIÇÃO, ESTADO DO PARA (PA), AGRADECIMENTO, SACERDOTE, COORDENADOR, CERIMONIA RELIGIOSA, PRESENÇA, IMAGEM RELIGIOSA, SANTO PADROEIRO, PROTEÇÃO, SESSÃO, CONGRESSO NACIONAL.
  • IMPORTANCIA, REGISTRO, INSTITUTO DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL (IPHAN), FESTA, CONGREGAÇÃO, POPULAÇÃO, TURISTA, PATRIMONIO CULTURAL, BRASIL.
  • CONGRATULAÇÕES, COORDENADOR, ESTADO DO PARA (PA), VIABILIDADE, REALIZAÇÃO, EXPOSIÇÃO, SENADO, DIVULGAÇÃO, FESTA, TRADIÇÃO.

            O SR. FLEXA RIBEIRO (Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Presidente, Senador Renan Calheiros; Excelência Reverendíssima Dom Orani Tempesta, Arcebispo Metropolitano de Belém; Deputado Nilson Pinto, que, neste ato, representa a Bancada dos Deputados Federais do Estado do Pará; Drª Ann Pontes, Presidente da Paratur, neste ato, representando a Exmª Governadora do Estado do Pará, Ana Júlia Carepa; Exmº Sr. Duciomar Costa, Prefeito Municipal de Belém; quarto Senador paraense, Senador Papaléo Paes, que compõe também a Mesa que dirige esta sessão em homenagem ao Círio de Nazaré; Padre Ramos, Reitor do Santuário de Nossa Senhora de Nazaré e Presidente da Diretoria da festa; Srs. Diretores da Festa do Círio de Nazaré; Srs. Senadores; Srªs Senadoras; Sr. Desembargador João Mendonça - é uma alegria tê-lo aqui conosco; sei que V. Exª também é devoto e já foi Coordenador da Festa; aliás, quero saudar a todos os ex-coordenadores em nome do Sr. José Ventura, que coordena a festa este ano; Minhas Senhoras e Meus Senhores; Senador Renan Calheiros, esta sessão em homenagem ao Círio de Nazaré foi motivada por um requerimento que não é somente de minha autoria, mas também dos outros dois Senadores que tão bem representam aqui o Estado do Pará - Senadores Mário Couto e José Nery - e de todos os 17 Deputados Federais da Bancada do nosso Estado, todos eles irmanados nesta homenagem que fazemos neste dia ao Círio de Nazaré e, em especial, à Virgem de Nazaré.

            Como ocorre todos os anos, no segundo domingo de outubro - em 2007, será no dia 14 -, acontece em Belém a maior manifestação de fé mariana do mundo, o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, também chamado pelos amazônidas de Natal dos paraenses, quando todos se irmanam na devoção à Virgem padroeira da Amazônia.

            Trata-se, sem sombra de dúvida, do maior evento de fé católica de todo o País. Dizem D. Orani e o Padre Ramos que é do mundo, se considerarmos o tempo em que a procissão e a demonstração de fé acontecem. Talvez existam outras demonstrações de fé, mas levam dias para serem feitas as homenagens. No tempo em que o Círio se processa, ao longo de cinco horas, D. Orani está defendendo que, com certeza absoluta, é, sem sombra de dúvida, o maior evento, como dizia, de fé católica de todo o País, mas quiçá do mundo, cujas comemorações começam trinta dias antes, com a celebração da Missa do Mandato, que dá início às peregrinações de Nossa Senhora, com réplicas da imagem percorrendo as casas de todos os bairros de Belém para as novenas noturnas.

            Pela TV Senado e pela Rádio Senado, o povo do Pará e do Brasil nos assistem e nos ouvem nesta homenagem que fazemos, neste momento, ao Círio de Nazaré.

            A festa do Círio de Nazaré impressiona, Sr. Presidente, não só por seu gigantismo, capaz de alavancar o turismo e de mudar o cotidiano dos moradores de toda a região metropolitana, mas, principalmente, pela soberba demonstração de fé e pelo espírito de congraçamento. Unidos pelos objetivos comuns de fortalecimento nos ideais religiosos e de louvor à Virgem de Nazaré, os romeiros, vindos de todas as partes, se confraternizam durante as festividades sem que haja qualquer incidente.

            A devoção a Nossa Senhora de Nazaré, como se sabe, é uma tradição religiosa que tem suas raízes em Portugal. A imagem original seria de Nazaré, na Galiléia, onde a Sagrada Família morou até o batismo de Jesus, e, por muito tempo, esteve no Mosteiro de Caulina, na Espanha, levada depois para Portugal. A partir de então, muitos milagres lhe foram atribuídos, o que ocasionou a sua veneração.

            Falar do Círio é lembrar a história do caboclo Plácido José de Souza. Em 1700, Plácido encontrou uma imagem de Nossa Senhora de Nazaré às margens de um igarapé. Plácido levou a imagem várias vezes para casa, mas, misteriosamente, ela retornava para o local onde foi encontrada. Ele, então, construiu uma pequena capela no local, onde, posteriormente, foi erguida a Basílica de Nazaré, a qual, desde o ano passado, foi elevada pela Igreja à condição de Santuário Mariano Arquidiocesano, passando a denominar-se Basílica-Santuário de Nossa Senhora de Nazaré.

            O título de Santuário à Basílica de Nazaré foi concedido pelo Arcebispo de Belém, Dom Orani João Tempesta, sendo Reitor do Santuário o Padre José Adelson Ramos das Mercês.

            Dizem os historiadores que a devoção a Nossa Senhora, no Pará, começou pelo Município de Vigia, antes mesmo da chegada dos padres jesuítas naquele Município, por volta de 1697. Em mais de 300 anos de veneração, fé, esperança e devoção em Nossa Senhora, várias cidades do Estado escolheram a Santa como padroeira de seus filhos.

            Mas esse espetáculo de devoção já ultrapassou as fronteiras do Pará. Já se encontra em São Paulo, no Rio de Janeiro, no Amazonas, no Amapá, no Ceará, no Acre, em Rondônia, em Roraima, no Maranhão e aqui no Distrito Federal. Todos compartilham com os paraenses as bênçãos de Nossa Senhora.

            O primeiro Círio, em Belém, foi realizado no dia 8 de setembro de 1793, iniciando-se ali, Srªs e Srs. Senadores, essa longa tradição do povo paraense. Inicialmente, não havia data fixa para a realização do Círio, embora a procissão tradicionalmente ocorresse entre setembro e novembro. Desde 1901, porém, por determinação do Bispo D. Francisco do Rêgo Maia, a procissão passou a realizar-se sempre no segundo domingo de outubro, como ocorre ainda hoje.

            Na sexta-feira, a imagem é levada em grande carreata do Santuário de Nazaré para a Igreja Matriz do Município de Ananindeua. No sábado, ela é transportada para ... (Palmas.)

            Agradeço a Dom Orani e ao Coordenador da festa, trazendo, para abençoar esta sessão, a imagem peregrina, a imagem que acompanha todos os anos o Círio de Nazaré. Agradeço, Sr. Presidente Renan Calheiros, porque a imagem peregrina dificilmente sai do Estado. Realmente, é uma homenagem ao Congresso Nacional trazê-la para estar presente, abençoando a todos nós nesta sessão e na exposição que abriremos mais à frente, no Salão Branco.

            Como dizia, no sábado, a imagem é transportada para o trapiche da Vila de Icoaraci, acompanhada já por uma pequena multidão de devotos. Dali, num espetáculo emocionante, singrando as águas da Baía de Guajará, vai, em romaria fluvial, em cortejo com centenas de barcos enfeitados, para o cais do Porto de Belém, onde os fiéis lhe prestam novas homenagens.

            Do Porto de Belém, a imagem segue em carro aberto, acompanhada pelos fiéis e por grande número de motociclistas, saudada pela população, até o Colégio Gentil Bittencourt, onde, à noite, é celebrada a missa em louvor da Virgem de Nazaré. Após a missa, a imagem segue em Trasladação para a Catedral Metropolitana, numa cerimônia emocionante, com queima de fogos de artifícios e procissão à luz de velas.

            A procissão do Círio, no dia seguinte, domingo, é o ponto alto das comemorações. Acompanhado por centenas e milhares de fiéis, tendo essa multidão chegado a dois milhões de pessoas em 2005, o Círio percorre uma distância de cinco quilômetros, entre a catedral e o Santuário de Nazaré. Literalmente, a população de Belém toma as ruas, juntamente com os turistas e romeiros de todas as partes do País e até do exterior. Trata-se de um evento inesquecível, de uma demonstração inequívoca de fé religiosa que a todos irmana no entusiasmo coletivo, no sentimento de fraternidade e de congraçamento.

            O Círio de Nazaré, Srªs Senadoras, Srs. Senadores, Sr. Presidente, não é apenas um grande cortejo. Trata-se de um evento religioso que, ao longo de mais de dois séculos de veneração à Virgem, fez-se acompanhar por um simbolismo intenso, presente em cada trajeto, em cada vestuário, em cada objeto. Entre os principais símbolos do Círio, podemos destacar a berlinda, que é o carro onde é transportada a imagem da Santa; o manto, tradicionalmente confeccionado pelas mesmas pessoas envolvidas com a cerimônia; os círios, que são grandes velas em formatos diferentes; e a corda utilizada para puxar a berlinda, de sisal torcido, com cerca de 800 m, que foi incorporada à cerimônia há mais de um século.

            O Círio, Srªs e Srs. Senadores, é mais do que uma festa. Ali se transpira fé, devoção, misticismo, religiosidade e crença no poder divino e na fraternidade universal.

            Por tudo isso, por sua grandiosidade, pelo poder de congregar tamanha multidão impregnada pela devoção à Virgem de Nazaré, não admira que o Círio tenha sido registrado pelo Iphan como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial.

            Durante a procissão do Círio, assistimos a verdadeiras manifestações de amor ao próximo e de solidariedade. São pessoas erguendo as mãos para oferecer um copo de água aos peregrinos, pessoas segurando a corda ou tentando tocar na berlinda. O que para muitos pode parecer sinônimo de sacrifício é apenas o símbolo da fé do povo paraense. Os fiéis seguram a corda, descalços, às vezes até sangrando nas mãos e nos pés, na luta para garantir um lugar. Outros carregam os mais variados objetos, miniaturas de casas, barcos e pedaços do corpo em cera, simbolizando o agradecimento pela graça alcançada.

            O colorido da procissão fica por conta dos brinquedos de miriti - uma madeira que tem a textura leve do isopor -, confeccionados principalmente pelo talento dos artesãos do Município de Abaetetuba, a quem saúdo na pessoa de Amadeu Gonçalves de Sarges, Presidente da Associação dos Artesãos, de D. Nina Abreu, e dos Mestres já falecidos Cambota e Seu Marinho.

            Qual o paraense, Senador Papaléo Paes, Senador Mozarildo Cavalcanti, Senador Gilvam Borges, Senador Romeu Tuma, Senador Marco Maciel, que não adquire no Círio o ratinho, a cobra, o tatu, os pássaros, os barcos, enfim, os objetos que fazem a alegria da criançada e que são verdadeiras peças de arte popular, confeccionados há mais de um século, que passam de pai para filho, retratando a realidade da comunidade ribeirinha? É uma festa religiosa onde a cultura paraense também aflora para homenagear a padroeira.

            Posso dizer que o paraense é um povo abençoado, D. Orani, Padre Ramos, que tem a dupla sorte de se reencontrar com suas famílias, tanto no Natal quanto no Círio, em tempos difíceis de estreitamento de laços de convivência, quando a vida moderna não nos permite usufruir prazeres tão agradáveis e valores tão importantes.

            Nas semanas que antecedem o Círio, as pessoas se cumprimentam nas ruas, dizendo “Feliz Círio” como, em dezembro, dizem “Feliz Natal”.

            Eu gostaria, de todo coração, que todos os meus nobres colegas Senadoras e Senadores pudessem estar conosco, com os paraenses, no domingo, dia 14 de outubro próximo, em Belém. Como representante do povo paraense, ficaria extremamente feliz de poder mostrar a todos essa manifestação popular de fé e emoção, que é o Círio de Nazaré, completando, neste ano, 214 anos.

            Peço, neste instante, à Virgem de Nazaré, Padroeira dos paraenses, que abençoe todos os paraenses, todas as famílias, todos os lares, todos os brasileiros, todos aqueles que devotam a Nossa Senhora o seu sentimento de amor e fé. Que ilumine o Congresso Nacional, os Senadores, os Deputados Federais, os servidores, os membros dos Poderes Executivo e Judiciário, enfim, toda a Nação, para que, fortalecidos pelas suas bênçãos, possamos construir um futuro melhor e mais feliz para todos os brasileiros.

            Congratulo-me com os organizadores desse evento, com os paraenses, os romeiros, a imprensa, com as Organizações Rômulo Maiorana, pela abertura do salão Arte Pará, que compõe o conjunto de eventos do Círio, com todos aqueles que contribuíram e ajudaram para que pudéssemos realizar esta sessão hoje - a Bancada do Estado do Pará, todos os Parlamentares, a Diretoria da Festa de Nazaré, que não economizou esforços para que pudéssemos trazer para Brasília, e daqui transmitir para todo o Brasil, essa exposição que vamos abrir daqui a pouco e que mostra exatamente a magnitude do que é o Círio.

            Com a exposição, tenho certeza absoluta de que a divulgação do Círio se fará de forma mais forte e levará, com certeza, Deputada Ann Pontes, mais pessoas para presenciarem nossa festa de fé, a Festa de Nazaré, convicto de que o Círio só tem essa grandiosidade porque grande e profunda é também a fé e a religiosidade do nosso povo.

            Encerro, Sr. Presidente, com um pequeno trecho da letra da música que é considerada o Hino Oficial do Círio de Nazaré, composta em 1909, e que descreve toda a devoção do povo paraense:

Ó Virgem Mãe amorosa

Fonte de amor e de fé

Dai-nos a bênção bondosa

Senhora de Nazaré.

            Muito obrigado. (Palmas.)

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/09/2007 - Página 30906