Discurso durante a 154ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Círio de Nazaré, denominado "Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira" pelo transcurso dos seus 240 anos.

Autor
Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Círio de Nazaré, denominado "Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira" pelo transcurso dos seus 240 anos.
Publicação
Publicação no DSF de 12/09/2007 - Página 30908
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, FESTA, IGREJA CATOLICA, MUNICIPIO, BELEM (PA), ESTADO DO PARA (PA), IMPORTANCIA, MANIFESTAÇÃO, TRADIÇÃO, CRENÇA RELIGIOSA, INFLUENCIA, CRIAÇÃO, CERIMONIA RELIGIOSA, ESTADO DO AMAPA (AP), CONGREGAÇÃO, POPULAÇÃO, SOLIDARIEDADE, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, APOIO, AUTORIDADE, GOVERNO ESTADUAL.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Senador Flexa Ribeiro, Presidente da nossa sessão especial na tarde de hoje e autor do requerimento que nos ensejou esta bela festa de homenagem; Exmº Sr. Duciomar Costa, Prefeito da cidade de Belém do Pará, que foi nosso companheiro aqui no Senado Federal, onde exerceu sua função de Senador representando o Estado do Pará com muita dignidade, e cuja conduta nesta Casa queremos registrar, bem como a nossa admiração e a saudade que temos de S. Exª; S. Emª Revmª D. Orani Tempesta, Arcebispo de Belém; Srª Ann Pontes, Presidente da Paratur, aqui representando a Srª Governadora, também ex-Senadora, Ana Júlia Carepa; Exmº Sr. Deputado Nilson Pinto, representando a Bancada de Deputados Federais do Estado do Amapá; Sr. Presidente da Diretoria da Festa de Nazaré, Revmº Padre Ramos; demais autoridades presentes; senhoras e senhores, com muita honra também, registro que a TV Nazaré, que tem trinta repetidoras na Região Norte, está em cadeia com a TV Senado, dando oportunidade a que todos os habitantes da Região Norte que usam a fé como parte de suas vidas possam presenciar esta grande homenagem ao Círio de Nazaré, à Nossa Senhora de Nazaré.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, por mais que se queira e se esforce por fazê-lo, é difícil - se não impossível - traduzir em palavras o sentido, o significado e a dimensão do Círio de Nazaré. Dizer que é a maior e mais impressionante manifestação popular do mundo cristão ainda é pouco. Falar da gigantesca massa humana que se aglomera em torno da imagem que simboliza a Mãe do Deus feito Homem também é insuficiente para traduzir o espírito que move essa expressão pura de fé, de esperança, de gratidão, de religiosidade, enfim.

            O que me traz a esta tribuna, no instante em que o Senado Federal homenageia tão formidável acontecimento de cunho religioso e cultural, que se renova há mais de dois séculos, é a certeza de que verbalizo os mais sinceros sentimentos de minha gente amapaense. Sim, ainda que, em terras brasileiras, a origem do Círio se prenda a Belém, tendo na capital paraense seu núcleo central e mais conhecido, a prática se estendeu pela Região Norte, com ela interagindo de maneira natural e profunda.

            Veja-se, por exemplo, o caso do Amapá, que tenho a honra de representar nesta Casa. O Círio de Macapá acontece desde o já longínquo ano de 1934. Explicitando a vigorosa influência da cultura paraense sobre meu Estado, nosso Círio incorporou-se à cultura local e, em termos de religiosidade e da fé que anima os participantes, nada fica a dever ao modelo do qual se originou. A diferença, como seria natural, restringe-se tão-somente aos aspectos quantitativos, ao número de fiéis que dele participam, na proporção exata do número de habitantes de cada cidade.

            Tanto quanto em Belém, o Círio de Macapá ocorre, sempre, no segundo domingo de outubro. Em linhas gerais, obedece à mesma programação do de Belém. Por assim ser, nos dias que antecedem a data principal, a imagem sacrossanta de Nossa Senhora de Nazaré é trasladada também entre igrejas. Por meio de carreatas e de procissões, os macapaenses acompanham fervorosamente o cortejo que corta ruas, praças e avenidas da Capital nas mais diversas direções.

            O Senador Flexa Ribeiro fez uma narração do que acontece no Estado do Pará, que todos nós conhecemos - eu já acompanhei vários Círios no Estado do Pará -, e, lá no Amapá, nós, realmente, pegamos essa origem, essa cultura religiosa do Pará e conseguimos fazer também uma festa religiosa de Nossa Senhora de Nazaré que de fato nos deixa muito honrados.

            Adaptada às condições locais e plenamente incorporada à vida da cidade, a grande festa se desdobra nas mais distintas manifestações. Todas, sem exceção, voltadas para o mesmo objetivo: agradecer à Virgem Maria as graças alcançadas, buscar nela abrigo e proteção, além de cristalizar o sentimento de fé profunda que a todos anima. Assim, por todo o período de preparação e durante a culminância do Círio, Macapá participa de intensa programação religiosa, na qual se multiplicam as orações do terço, as missas e as pregações litúrgicas, sem faltar, é claro, o festivo arraial em honra de Nossa Senhora.

            Enfatizo, Sr. Presidente, Srs. Membros da Mesa, um aspecto do Círio em meu Estado que denota a extraordinária força popular de que se revestem suas celebrações. A população dos diversos bairros de Macapá, dos mais humildes aos considerados mais elegantes, assume, com alegria e disposição, a tarefa de organizar tudo e de tudo participar.

            Ao mesmo tempo, em clima de congraçamento absoluto, quando as diferenças sociais, econômicas, políticas e culturais são simplesmente esquecidas e superadas pela identidade na fé, setores do Estado também se sentem motivados a dar seu quinhão para o maior brilhantismo das comemorações. Órgãos do Executivo, do Legislativo, do Judiciário e do Ministério Público, por exemplo, se irmanam a associações profissionais, de moradores e de bairros para que, ano após ano, se consolide a tradição em torno do Círio de Macapá.

            De parabéns está o Senado Federal ao decidir-se pela homenagem ao Círio de Nazaré. Prova de sintonia fina com as mais legítimas manifestações da cultura popular brasileira, esta Casa interrompe por alguns momentos seus trabalhos rotineiros e volta a sua atenção para esses milhões de brasileiros que, em romaria, oferecem suas orações e exteriorizam sua crença no transcendente, sua inabalável fé em Deus, sua devoção à Mulher-símbolo da Cristandade.

            O Círio é justamente isso. Mais que uma festa trazida pelos colonizadores portugueses, ele se transformou em congraçamento de homens e de mulheres unidos pela fé. Muito mais que gesto mecânico de pessoas levadas pela rotina de tantos e tantos anos de celebração, o Círio de Nazaré é o momento do encontro de sentimentos elevados, aqueles sentimentos que, em suma, são o instrumento de humanização do próprio homem.

            Por isso faço este registro. Ao celebrar mais um ano de Círio, junto-me aos habitantes de minha terra, do meu Estado, o Pará, e de minha Região. Com eles, renovo minhas esperanças de um tempo melhor para todos. Com eles, renovo as súplicas dirigidas a Nossa Senhora de Nazaré, no comovido e humilde pedido de bênção a todos.

            Era o que eu tinha a dizer, e muito obrigado. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/09/2007 - Página 30908