Discurso durante a 154ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Círio de Nazaré, denominado "Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira" pelo transcurso dos seus 240 anos.

Autor
Romeu Tuma (DEM - Democratas/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Círio de Nazaré, denominado "Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira" pelo transcurso dos seus 240 anos.
Publicação
Publicação no DSF de 12/09/2007 - Página 30911
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, FESTA, CERIMONIA RELIGIOSA, IGREJA CATOLICA, MUNICIPIO, BELEM (PA), ESTADO DO PARA (PA), IMPORTANCIA, DECLARAÇÃO, INSTITUTO DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL (IPHAN), PATRIMONIO CULTURAL, BRASIL.

            O SR. ROMEU TUMA (DEM - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Meu caro Presidente, Senador Marco Maciel, que tem Nossa Senhora permanentemente em seu coração; Senador Flexa Ribeiro, que se ausentou um pouco e que homenageamos por ter tido a iniciativa, junto com os Senadores Mário Couto e José Nery, da realização deste evento; Dr. Duciomar Costa, nosso Prefeito de Belém; Dom Orani João Tempesta, Reverendíssimo Arcebispo de Belém; Deputado Nilson Pinto, representando a Bancada de Deputados Federais do Pará; Srª Ann Pontes, Presidente da Paratur, representando a Governadora, nossa colega, Ana Júlia Carepa.

            Meu Presidente Marco Maciel, Sr. Arcebispo, antes de iniciar as palavras de uma pesquisa praticamente reduzida, em razão da descrição perfeita que foi feita pelo Flexa Ribeiro e pelos outros Senadores que me antecederam, senti, por um momento, Senador Mozarildo, que uma coisa estranha tomou conta do meu corpo, um arrepio, uma alma liberada, porque há algum tempo que a força espiritual negativa que reina neste plenário tem-nos feito sofrer bastante, de angústia, às vezes de desesperança, pois o povo repete, todas as vezes que o encontramos, algo desagradável que sente com respeito a este plenário. Mas a presença de Nossa Senhora - agradecemos imensamente pela oportunidade -, a Nossa Senhora Peregrina de Nazaré aqui presente traz-nos uma alegria, um alívio no coração e na alma.

            Acredito, Senador Marco Maciel, que a própria fé que temos em Deus - sou mariano, fui fundador de congregação mariana, tive nove estrelas na minha fita azul - e essa alegria imensa de ter Nossa Senhora de Nazaré traz algo muito mais do que uma forte emoção, traz uma fé maravilhosa de que o Brasil caminha certo, porque não dispensa sua fé. E o Papa não precisa chamar a atenção para o fato de que temos de voltar ao Cristianismo, porque nele acreditamos permanentemente.

            Acho que vivemos um momento espetacular neste plenário. Com a presença de Nossa Senhora, trazida por aqueles que são responsáveis por sua guarda, e certamente com a benção do Arcebispo em nome dela, teremos momentos de alegria e fé neste plenário.

            A caminhada é longa. Nós sabemos que a festa do Círio de Nazaré repercute pelo mundo afora; em Belém, toma conta de todos os espaços da imprensa, na televisão, praticamente em todos os setores de comunicação.

            Senador Marco Maciel, em São Paulo, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, no Bairro do Sumaré, um general - infelizmente, ele já se foi - começou a realizar a festa do Círio de Nazaré, porque ele comandou um período em Belém e trouxe as homenagens que fazia à Igreja de Nossa Senhora de Fátima, que também, por ser a padroeira de Portugal, sem dúvida, manda suas bênçãos para o Brasil.

            Não sei nem se vou conseguir ler o que escrevi. Há momentos em que a espiritualidade substitui todo e qualquer raciocínio, porque acreditamos, sem pestanejar, nos dogmas de fé. Não discuto dogma de fé, porque ou se acredita, ou não se acredita na existência de Cristo, de Nossa Senhora, e em sua presença permanente.

            Já tive momentos difíceis na minha vida, Arcebispo. Quando senti que a morte chegou perto, no leito de hospital, senti a presença de Jesus, que me ajudou a reviver. Cada vez que se realiza um ato que traz a imagem de Nossa Senhora, mãe de Cristo, faz-nos sentir uma imensa felicidade, passando por nossa cabeça todo aquele sofrimento, aquelas andanças que filhos de imigrantes passam em qualquer país do mundo. Os seus pais tentam, numa sobrevida de dificuldade, trazer a educação para os filhos em uma escola boa, como disse o Senador Mozarildo Cavalcanti. Passam fome para que os filhos não tenham nenhuma dificuldade no futuro, com uma formação, com uma educação clara.

            Eu fui praticamente criado dentro da Igreja de Nossa Senhora da Penha, onde iniciei como congregado mariano. Depois, ajudei a fundar a Congregação Mariana do Largo São José do Maranhão, em São Paulo, onde construímos uma capelinha com as nossas próprias mãos. Os filhos e as filhas de Maria trabalhavam para construir uma capelinha. Hoje, ela é uma igreja muito bonita que existe lá.

            Então, com a idade, vamos nos emocionando com os fatos que nos fazem lembrar o passado.

            Sr. Presidente, Sr. Arcebispo, Sr. Prefeito, quando Delegado de Polícia, Chefe da Polícia Federal, eu ia a Belém para fazer trabalhos difíceis, de uma região difícil, em relação a trabalho escravo, a furto de madeira e uma série de atividades criminosas que passaram a ser registradas no Pará, com esse perigo das organizações criminosas e das ações de pessoas que queriam, pelo poder do dinheiro, dominar várias regiões daquele Estado. Está aqui o delegado, que não me deixa mentir. Ele trabalhou e nos ajudou a vencer várias dificuldades. Eu não deixava de passar na Igreja de Nossa Senhora de Nazaré. Era o que eu pedia: “Vamos comigo até a igreja, porque, se eu não fizer uma oração, o nosso trabalho será um fracasso”.

            Quero agradecer, Sr. Presidente, e pedir que seja registrado como lido o pequeno discurso que fiz aqui. Creio que meu coração falou mais alto por mim, porque Nossa Senhora não nos abandonará nunca, nem a fé e a esperança. Ela vem numa hora boa, Tião Viana, para abençoar este plenário no momento mais difícil que enfrentará nas próximas 24 horas. Essa presença, sem dúvida nenhuma, dará a cada um de nós a força espiritual para sabermos a condução do nosso destino, da nossa fé, por meio da justiça que ela sempre soube pregar, até ensinando a seu filho Jesus o caminho certo que ele deveria seguir. Ela foi quem primeiro deu ordem a Ele para fazer o primeiro milagre. Não foi Jesus; foi Maria.

            Ela disse a Jesus: “Chegou a sua hora”. Então, ela está nos dizendo agora que chegou a nossa hora de respeitarmos o que a Igreja nos ensina: a ter fé e esperança. E que as nossas orações matinais sejam sempre para pedir a Deus que nos abençoe e nunca permita que pratiquemos uma injustiça na vida.

            Obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, DISCURSO DO SR. SENADOR ROMEU TUMA.

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            O SR. ROMEU TUMA (DEM - SP. Sem apanhamento taquigráfico.) -- Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, são do poeta maranhense Euclides Farias, autor do hino intitulado “Vós sois o Lírio Mimoso”, os versos considerados como cântico oficial da maior manifestação de fé em solo pátrio, declarada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) como Patrimônio Imaterial da Cultura Brasileira e reverenciada hoje pelo Senado da República, três dias antes de completar 214 anos de existência.

            Embora pertencendo a amplo acervo de hinos compostos em louvor a Nossa Senhora de Nazaré, entre eles o da poetisa paraense Ermelinda de Almeida, musicado pelo Padre Vitalino Vari em 1960, e o que data de 1975, de autoria do padre mineiro José Fernandes de Oliveira, ele retrata desde 1900 o fervor popular em seus belos versos, como naquele que diz:

            “Vós sois a flor da inocência / que nossa vida embalsama

            Com suavíssima essência / que sobre nós se derrama.

            Quando na vida sofremos / a mais atroz amargura

            De Vossas mãos recebemos / a confortável doçura.”

            Pois é com esses cânticos, nobres Pares, que desde o século XVII milhões de romeiros procedentes de todo o País e do exterior juntam-se à população da formosa Belém do Pará para homenagear a Mãe de Jesus, a cada ano, com uma das maiores procissões católicas vistas sobre a face da Terra. Em meio a outras comemorações e manifestações de fé, a imagem da Virgem é levada da Catedral da capital paraense até a Praça Santuário de Nazaré, onde permanece por 15 dias. São tantos os participantes que o cortejo de 2004 demorou nove horas e quinze minutos para cobrir a distância de apenas 4,5 quilômetros. Esse ano e o anterior detêm o recorde de comparecimento, com dois milhões de participantes.

            Reza a tradição que o Círio de Nazaré - expressão baseada no termo latino cereus, com o sentido de grande vela de cera - iniciou-se anos depois de um caboclo chamado Plácido José de Souza ter achado a pequena estátua de madeira às margens do Igarapé Murutucu. Com 28 centímetros de altura e muitos sinais de deterioração, era réplica da que já estava em Portugal antes de 1182.

            Plácido levou-a para casa, limpou-a e colocou-a num altar improvisado. Mas, na manhã seguinte, verificou que havia desaparecido. Foi reencontrá-la no local de origem. O sumiço e o reencontro repetiram-se algumas vezes até que, entendendo-os como sinal divino, o caboclo erigiu-lhe tosca ermida no terreno lamacento, banhado pelo igarapé.

            A notícia do milagre motivou as primeiras romarias, até que o Governador da Capitania, Francisco da Silva Coutinho, ordenou a remoção da imagem para a Capela do Palácio da Cidade, em Belém. Todavia, mesmo vigiada pela Guarda do Palácio, ela voltou a desaparecer e ressurgir daquela forma. Isso fez crescer a devoção popular e levou o Governador a erguer uma capela em substituição à antiga ermida, no ponto em que hoje vemos a suntuosa Basílica de Nossa Senhora de Nazaré.

            A cidade de Belém está sob a proteção da Virgem desde 1773, conforme ato do então bispo do Pará, Dom João Evangelista. No ano seguinte, a imagem passou por restauração em Portugal e, ao retornar, foi levada do porto até ao santuário em romaria, acompanhada pelo Governador e pelos mais altos prelados da Igreja Católica no Pará. Surgia, assim, o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, que viria a ser repetido anualmente no segundo domingo de outubro.

            São inúmeros os milagres atribuídos à Virgem. Entre os mais expressivos, está o resgate dos passageiros do brigue português São João Batista, que partiu de Belém em 11 de julho de 1846 rumo a Lisboa. Naufragou dias depois, mas seus passageiros conseguiram retornar a salvo a Belém num bote. O brigue e o bote seriam as mesmas embarcações empregadas, em 1774, na viagem que deu origem ao Círio de Nazaré.

            Em Portugal, a tradição do Círio iniciou-se no século XII, quando ali foi ter a pequena imagem de madeira, representando a Virgem Maria com o Menino Jesus nos braços. Ele segura uma esfera azul. O símbolo seria originário da cidade de Nazaré, na Galiléia, norte de Israel, e teria percorrido muitos países antes de chegar ao território lusitano.

            O cavaleiro português Dom Fuas Roupinho erigiu-lhe uma capela em 1182, depois de milagrosamente salvo de grave acidente quando, a cavalo, perseguia um cervo. O Rei Dom Fernando ampliou esse templo, em 1377, e elevou-o à condição de matriz.

            Assim, Sr. Presidente, Sras e Srs. Senadores, a tradição de homenagear a Virgem de Nazaré precede o descobrimento do Brasil. Mas, foi aqui, sem dúvida, que atingiu a maior expressividade graças à fé do povo paraense, robustecida pelos milagres de Belém do Pará. Prodígios como sempre relacionados à humildade e à verdadeira devoção aos ensinamentos de Cristo.

            Era o que eu desejava dizer.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/09/2007 - Página 30911