Discurso durante a 156ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Saudação ao povo judeu por ocasião da passagem do Ano 5.768, comemorado nesta semana.

Autor
Marcelo Crivella (PRB - REPUBLICANOS/RJ)
Nome completo: Marcelo Bezerra Crivella
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Saudação ao povo judeu por ocasião da passagem do Ano 5.768, comemorado nesta semana.
Publicação
Publicação no DSF de 14/09/2007 - Página 31294
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • COMENTARIO, HISTORIA, JUDAISMO, TRECHO, BIBLIA, HOMENAGEM, DATA, CELEBRAÇÃO, CONGRATULAÇÕES, COMUNIDADE, DESCENDENTE, IMIGRANTE, BRASIL.
  • IMPORTANCIA, HOMENAGEM, VITIMA, SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, PERSEGUIÇÃO, GENOCIDIO, GRUPO ETNICO, JUDAISMO, REFORÇO, LUTA, LIBERDADE.

            O SR. MARCELO CRIVELLA (Bloco/PRB - RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Muito obrigado, Senador Mão Santa. Pretendo retribuir com modéstia a gratidão de V. Exª.

            Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, senhores ilustres presentes ao nosso plenário, telespectadores da TV Senado e ouvintes da Rádio Senado, senhores jornalistas, venho a esta tribuna para fazer uma saudação ao povo judeu porque, nesta semana, estamos comemorando o Rosh Hashaná, que é o ano novo hebraico, que, na contagem do povo hebreu, marca a criação do mundo, a criação de Adão no Paraíso. Portanto, nós estamos no ano 2007 depois de Cristo, e eles estão no ano 5768.

            E eu me permito, Senador Augusto Botelho, fazer aqui uma rápida e singela exposição da história, da epopéia do povo hebreu, que é registrada nas páginas da Bíblia, desde aqueles momentos gloriosos, em que Moisés narrou a criação nos sete dias e, no sexto dia, a criação do homem e da mulher, e aí vêm os filhos de Adão e os patriarcas, entre eles um ilustre homem chamado Enoc, que, aos 365 anos de idade, por ter sido amigo de Deus, foi transladado. Diz a Bíblia que não se encontrava mais Enoc porque Deus o havia transladado.

            Depois, surge, no cenário dos homens heróicos da Bíblia, Noé. O dilúvio. Um homem que, durante 40 anos, construiu uma arca, e as pessoas achavam que não viria o dilúvio. Ele, então, entra na arca com os animais e com sua família, a arca é selada por um anjo, pelo lado de fora, e 40 dias de chuva e de tempestade varrem a face da terra. Foi o dilúvio.

            Até que Noé solta uma pombinha e ela volta com um ramo no seu bico. Moisés agradece a Deus porque as águas começavam a baixar. E aquela arca encalha num monte da Turquia, chamado Monte Ararat, um monte muito alto. Recentemente, tive a oportunidade de ver num programa de televisão que encontraram madeiras naquela altitude. E no programa do Discovery ficaram surpreendidos. Como poderia madeira desse tipo ser encontrada em um monte tão alto onde não há sequer árvores? E os estudiosos, os geólogos, os geógrafos, enfim aqueles que estavam lá pesquisando, lembraram-se desse fato narrado por Moisés, que foi o dilúvio de Noé.

            Depois a Bíblia fala sobre a civilização caldéia, sobre o império Persa, fala sobre um homem que sai de uma cidade chamada Ur e vai caminhando, peregrinando, pelas terras do Oriente Médio até chegar à Palestina. Era o pai da Nação, dos Hebreus, Abraão, cuja esposa teve um filho quando estava com noventa anos de idade. Era o filho da promessa, chamava-se Isaac. E desse único filho nasce uma nação que eu diria de fortes, de bravos, porque venceram muitas lutas não só na Idade Antiga, mas na Idade Média e, depois, na Idade Contemporânea, quando surge na Europa, na virada do século XX, o movimento anti-sionista. Todos lembram-se que Hitler, no nazismo, pregava duas coisas: a superioridade da raça ariana e também o ódio aos judeus. Esse movimento anti-semita deu à luz o movimento sionista, que, em 1948, na Organização das Nações Unidas, foi celebrado com a volta do povo hebreu para a sua terra, para Israel.

            De Abraão vem Isaac; de Isaac vem Jacó; de Jacó vêm as Doze Tribos de Israel. Em uma dessas Doze Tribos de Israel havia José, que foi vendido por seus irmãos, como escravo, para o Egito. E, lá no Egito, José veio a ser o vice-governador. Numa época de fome no Egito, ele teve a condição de acolher seus irmãos e seu pai, na idade avançada. Então, esses judeus vão passar 400 anos no Egito e chegam a ser dois milhões. Começa a haver uma instabilidade com o faraó, que achava que os judeus, naquele número imenso, poderiam se rebelar e lutar pelo poder no Egito. Assim, o rei decreta a morte de todo primogênito. Mas um deles iria escapar. Numa página de encantamento e heroísmo, sua mãe, arriscando a própria vida, coloca aquele menino formoso numa cestinha de junco, e ele navega pelas águas do Nilo até que é encontrado por uma princesa, a filha do faraó, que dá a ele o nome de Moisés, “tirado das águas”. Esse viria a ser o grande líder do povo hebreu e autor dos cinco primeiros livros, o chamado Pentateuco. Moisés é não só o líder espiritual, mas também é o líder militar, é o líder político, é o líder intelectual de uma nação. Quando sai para a travessia do deserto, ele os leva ao Monte Sinai, onde recebe de Deus as duas tábuas dos Dez Mandamentos.

            Moisés, do alto da montanha, vê a Terra Prometida, mas não consegue entrar ali. Assume o comando um servo seu, que passa a ser o grande líder e que leva o povo para dentro da Terra Prometida, chamado Josué, que foi um homem valente. Segundo conta a Bíblia, ele cercou as muralhas de Jericó e com suas trombetas e seu exército fez com que elas caíssem. E o povo tomou posse da “terra que emana leite e mel”.

            Senador Augusto Botelho, quando eles tomam posse dessa terra há a divisão das terras. A Tribo de Judá fica com as regiões montanhosas da Judéia, onde dois mil anos depois iria nascer Nosso Senhor Jesus Cristo, em Jerusalém, terra do Rei Davi.

            Josué, já com muitos anos, não preparou sucessor. Durante aquele período os hebreus passam a ser julgados pelos profetas. Era uma teocracia. Até que o povo pede por um rei e passa a ser uma monarquia.

            O primeiro Rei de Israel chamou-se Saul. O segundo foi o Rei Davi. Este era poeta, salmista. Escreveu 150 salmos, na Bíblia, dos mais bonitos. Um deles, o Salmo 23, diz: “O Senhor é o meu pastor; nada me faltará.” Escreveu esse Salmo nas areias quentes do deserto da Judéia, quando era perseguido por seus inimigos.

            Davi nunca teve paz. Chegou a fugir até do seu filho mais querido, que se chamava Absalão, um homem bonito, formoso, cujo encantamento era colocar azeite e pó de ouro na cabeleira enorme e desfilar, num jumentinho, sobre as montanhas que cercavam Jerusalém. Com aquela cabeleira ao vento ele fazia um grande sucesso.

            Era o filho amado de Davi, Absalão, que depois liderou grande rebelião contra o próprio pai. Esse rapaz, Absalão, veio a morrer entre o céu e a terra, porque essa cabeleira, que era de tanto orgulho, acabou enganchada nos ramos de uma figueira. Enquanto ele fugia, o jumentinho foi embora e ele ficou preso; então passou um inimigo e o feriu com um dardo no coração. Preso e morto pela própria vaidade. Meu Deus, ele veio a ser o pai da vaidade, ou o pai dos vaidosos!

            Assim vai uma sucessão de reis. O reino é dividido. As dez tribos do norte se tornam Reino de Israel; as duas do sul, o Reino de Judá. Os assírios tomam as dez tribos do norte e as destroem completamente. Não há mais as dez tribos do norte. Não deixaram descendentes. As duas do sul foram levadas para a Babilônia por Nabucodonosor, que depois permitiu que eles voltassem e reconstruíssem a cidade. E quatrocentos anos depois da reconstrução da muralha e do templo de Salomão, vem Nosso Senhor Jesus Cristo, pregando a paz, pregando a vitória pelo ato de humildade de dar a outra face. A maneira definitiva de se ter uma grande vitória. Agora há pouco, quando o Senador César Borges discursava, eu lembrava disso. A vitória definitiva é realmente quando alguém tem a humildade de dar a outra face.

            Ele pregou com a própria vida e com o próprio sangue que é morrendo que se vive e que a semente que cai no chão e não morre ficará só. Grande mensagem desse ilustre hebreu que deu a vida por todos nós.

            Pois bem, esse curto resumo - outros certamente farão com mais brilho e com mais acuidade do que eu fiz aqui hoje - é para comemorar, Sr. Presidente, e prestar uma singela homenagem também a toda essa profícua, trabalhadora, pacífica comunidade hebraica que vive hoje no Brasil.

            Agora, limito-me a fazer apenas um pequeno comentário sobre a conjuntura atual, porque não falar do Oriente Médio dos dias de hoje seria um erro, eu diria um engano irreparável.

            Desde a virada do século XX, surgiu na Europa um movimento de perseguição aos judeus. E aí começou também a surgir o movimento sionista como um efeito da perseguição. Hitler, em seu esforço de guerra, motivado por Pavlov, aquele psicólogo russo do qual V. Exª é um grande estudioso e conhecedor, usava dois argumentos para despertar a sanha guerreira no povo alemão, como Pavlov fazia com o seu cão na hora em que ele salivava. Ele despertava o nacionalismo pregando que o povo ariano era o povo superior e, portanto, tinha o direito de dominar o mundo e retomar os territórios que havia perdido na Primeira Guerra Mundial. Mas também pregava o ódio aos judeus, a destruição do povo judeu - não só do povo judeu, mas dos ciganos, dos homossexuais, das minorias. E assim começou o holocausto que vitimou milhões de judeus. Quem hoje visita Jerusalém tem o momento mais triste dessa viagem, com certeza, ao visitar o Museu do Holocausto.

            Sr. Presidente, o Museu do Holocausto tem, em detalhes, a fotografia de todos campos de concentração da Europa. A parte mais triste é quando se entra em um túnel e ali dentro existe uma coisa muito interessante. Todas as luzes se apagam e as pessoas olham nos espelhos que emolduram as paredes e o chão milhões de luzes pequeninas, parecendo um céu estrelado em uma noite no deserto, onde não há nuvens. Eu perguntei: “Como é que se vêem tantas luzes?” Eles disseram: “É apenas uma. É uma lâmpada acesa, uma velinha acesa que, pelo efeito óptico de dois espelhos, um contra o outro, multiplica-se infinitamente, para tentar representar a dor infinita que foi a perda de um milhão e oitocentas mil crianças que morreram entre aqueles seis milhões de vítimas do holocausto”. E enquanto atravessamos o túnel, todos pesarosos, de cabeça baixa, pois ninguém consegue entrar ali senão de cabeça baixa, Sr. Presidente, eles vão chamando os nomes Sara, Raquel, Lia, e os nomes vão sendo chamados dia após dia, noite após noite, para tentar representar a dor de um povo que perdeu seis milhões de seus filhos, mas também um milhão e oitocentas mil crianças mortas em campos de concentração horrorosos.

            É por isso que nós, no Senado Federal, lutamos tanto pela liberdade, porque todos esses regimes autoritários extravasam sempre na opressão, na intolerância e no sangue. É um horror, Sr. Presidente! E aqui estava uma comitiva de franceses que nos fazem lembrar os princípios da Revolução, da Revolução redentora da França, que são, como V. Exª sempre prega desta tribuna, fraternidade, igualdade e liberdade.

            Sr. Presidente, agradeço muito a generosidade de V. Exª, mas quero aqui deixar o registro deste Senador do Rio de Janeiro a toda a colônia hebraica. Espero que seja uma semana muito feliz a semana do Ano Novo hebraico. Pelo nosso calendário, nós estamos em meados de 2007, mas, para eles o ano que se começa é o ano 5.768 da criação, do pó da terra, do nosso Adão.

            Aliás, Sr. Presidente, se V. Exª me permitir, lembro aqui a história de uma fábula hebraica.

            Senador Paulo Paim, o folclore hebraico é muito rico, mas há uma história que representa bem o espírito da mulher judaica. Diz a lenda que, certo dia, Adão volta para o Paraíso e, muito absorto, muito tomado pelos próprios pensamentos, deita-se sobre a relva e adormece sem dar qualquer atenção à nossa mãe Eva. Então, Senador Paulo Paim, ela passa a fazer uma contagem em alta voz, aflita, mostrando angústia. O que ela contava, Senador Paulo Paim? Ela contava as costelas de Adão, com ciúme, pensando que Deus poderia ter feito outra mulher, que ela teria uma concorrente, já, que Adão tinha voltado sem lhe dar a devida atenção.

            Sr. Presidente, com esse pequeno conto quero homenagear o povo judeu do Brasil, povo trabalhador, honesto, que deu grandes contribuições para o nosso progresso e que nesta semana comemora o ano 5768.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

            


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/09/2007 - Página 31294