Discurso durante a 156ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Decepção e constrangimento com a decisão adotada pelo Senado na sessão de ontem. Defesa do fim da sessão e voto secretos.

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. POLITICA SOCIAL.:
  • Decepção e constrangimento com a decisão adotada pelo Senado na sessão de ontem. Defesa do fim da sessão e voto secretos.
Publicação
Publicação no DSF de 14/09/2007 - Página 31296
Assunto
Outros > SENADO. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • FRUSTRAÇÃO, DECISÃO, SENADO, SESSÃO SECRETA, REJEIÇÃO, PROCESSO, CASSAÇÃO, MANDATO PARLAMENTAR, RENAN CALHEIROS, SENADOR, REGISTRO, CONSCIENTIZAÇÃO, VOTO, ORADOR, BENEFICIO, ETICA, PAIS, EXPECTATIVA, EXTINÇÃO, VOTO SECRETO.
  • PROTESTO, PROGRAMA ASSISTENCIAL, GOVERNO FEDERAL, MANIPULAÇÃO, POPULAÇÃO CARENTE, FALTA, ATENDIMENTO, SERVIÇO PUBLICO, TRANSPORTE, SAUDE, SANEAMENTO, ENERGIA, EDUCAÇÃO.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Mão Santa, Srªs e Srs. Senadores, hoje, ao sair de minha casa, vinha eu decidindo se subiria nesta tribuna na tarde de hoje. Vinha eu meditando sobre o que aconteceu nesta Casa na tarde de ontem. Vinha eu profundamente decepcionado, um Senador que chegou aqui há menos de um ano e que não esperava passar por tão grande decepção. Lembrei-me, Presidente Mão Santa, dos seus discursos nesta Casa, feitos várias e várias vezes olhando para Rui Barbosa, aconselhando-se em Rui Barbosa, elogiando Rui Barbosa, falando sempre com relação à história desta Casa. Uma história, um passado de respeito, que figuras eminentes da nossa Nação passaram por este plenário e por esta Casa, honrando-a.

            Senador Jarbas Vasconcelos, senti, então, que a minha decisão teria que ser, sim, de subir a esta tribuna, para que eu pudesse falar à Nação brasileira do meu constrangimento com o que aconteceu ontem aqui neste Senado. Senti vontade de dizer à Nação brasileira, principalmente ao meu Estado querido do Pará, o que senti ontem ao participar daquela sessão.

            Votei. Ao chegar a minha casa, nobres Senadores que me escutam, ao sentar-me na minha cama para o hábito de rezar sempre antes de dormir, coloquei minha cabeça no meu travesseiro e senti que o travesseiro, Senador Jarbas Vasconcelos, não dava nenhuma sensação de ter espinhos. Era um travesseiro leve, era um travesseiro cômodo. Fiz a minha oração, pedindo a Deus que protegesse o futuro deste Senado Federal.

            Votei. Votei com a minha consciência. Disse a Deus que votei com o meu Estado. Disse a Deus que votei em proteção ao meu Senado. Disse a Deus que votei em proteção ao povo brasileiro. Disse a Deus que votei pela moralidade! Disse a Deus que o povo desta Nação exige de cada um de nós o direito de dizer, orgulhosamente, que é cidadão brasileiro.

            Por isso, Srªs e Srs. Senadores, nenhum incômodo terei ao dormir. Nenhum! Minha consciência está tranqüila. Minha luta não vai parar! A luta pela moralidade desta Nação. A luta contra aqueles que só pensam em si e em cargos públicos! A luta contra aqueles que não pensam no povo deste País! A luta contra aqueles que não pensam que existe neste País um bando de miseráveis e que hoje se submetem a um Bolsa-Família, como que recebendo uma esmola. E onde está a oferta de emprego para esse povo?

            Se V. Exª, Senador Jarbas Vasconcelos, for ao interior de Pernambuco, naquele mais pobre, no interior do interior, como falam, e observar que V. Exª fez muito, como Almir Gabriel e Simão Jatene fizeram no meu Estado do Pará, pode ter a certeza de que lá sempre ainda há várias comunidades que não têm transporte, que não têm dentista, que não têm médico, que não têm água potável, que não têm energia elétrica, que têm uma escola, mas não têm transporte escolar... Enfim, não têm nada, absolutamente nada! Só Deus. E, se Deus cobrasse impostos, essas pessoas ainda estavam atrasadas com os impostos.

            Mas, se V. Exª perguntar, Senador Jonas Pinheiro, se eles gostam do Lula, eles vão dizer que gostam, porque recebem o Bolsa-Família. Miseráveis, sem nada, absolutamente nada! E o Presidente diz assim: “Eu estou bem nas pesquisas; para quê me lembrar daqueles que não têm infra-estrutura para viver? Para quê?”

            Eu não sou contra o Bolsa Família, mas eu sou contra dar o Bolsa Família e não dar condição de vida para aqueles que precisam viver.

            Meu caro Presidente, está aqui o meu discurso da tarde de hoje. Não vou fazê-lo. Estou amplamente decepcionado, estou altamente desmotivado. Pensei até em renunciar ao meu mandato. Fui aconselhado ontem, por Senadores amigos, que não devia fazer isso, em respeito a 1,5 milhão de votos que tive no Estado do Pará, em respeito ao povo do meu Estado, em respeito à luta que travo aqui em relação ao meu Estado. Mas não me senti confortável hoje, Senador Jarbas Vasconcelos, Senador Jonas Pinheiro, em fazer o meu pronunciamento na tarde de hoje.

            Tenho a certeza de que quem neste momento me vê pela TV Senado, principalmente no meu Estado do Pará, que não viu, infelizmente não viu a tal sessão secreta... E é muito engraçado falar em voto secreto neste Parlamento. É muito engraçado. Veja só, Senador Jarbas Vasconcelos: o voto é secreto, Presidente, voto secreto, e dá-se condição para qualquer um discuti-lo. Pelo amor de Nossa Senhora de Nazaré, santa protetora dos paraenses, voto secreto, e qualquer um pode discuti-lo?! Com todo respeito aos portugueses pelo que vou falar, mas é igual àquele português, da polícia secreta de Portugal, que se vestiu com o uniforme da polícia secreta com um baita nome no peito: “Polícia Secreta’. Igual, igual, igual. Voto secreto, e o Senador vem aqui e diz o voto dele; só não pode dizer “sim” ou “não”. É muito engraçado. Temos que acabar com isso i-me-dia-ta-men-te!

            Eu não acredito! Sinceramente, eu não acredito, Senador Cristovam, que haja um Senador que tenha a coragem - quero ver quem é - de não acabar...

(Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - V. Exª esgotou seu tempo; dei mais dez minutos, que é a nota que V. Exª merece.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Não vou precisar. Muito obrigado.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Estou aqui para mostrar que acredito neste Senado. Este Senado foi fechado por sete vezes. Eu estava do lado de Petrônio Portella quando ele recebeu uma ordem para fechar o Senado...

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Mas nós estamos de luto.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Ele disse: “Este é o dia mais triste da minha vida”. E todos nós choramos quando arrancaram Juscelino Kubitschek aí. Isso faz parte, mas nós estamos aqui para garantir a grandeza do Senado.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Mas nós estamos de luto, Presidente, e vou colocar o meu símbolo de luto no paletó.

            Como eu ia dizendo - e já vou encerrar, Sr. Presidente; obrigado por me conceder mais tempo -, hoje, sinceramente, estou fazendo um esforço muito grande para estar nesta tribuna.

            Quero ver qual é o Senador ou a Senadora que vai dizer que, numa sessão em que se possa cassar o mandato de alguém, o voto tem que ser secreto e que a sessão tem que ser secreta. Temos que acabar com isso i-me-dia-ta-men-te! Não se pode mais conviver com isso.

            Presidente, desço desta tribuna, dizendo aos meus companheiros do Estado do Pará: fiz ontem, com certeza absoluta - não tenho dúvida alguma -, a vontade de cada um de vocês. Com certeza, se vocês estivessem aqui, fariam o que o Senador Mário Couto fez: votaria com o povo brasileiro, com a sua consciência e com o desejo de todos aqueles que querem a moralidade neste País.

            Muito obrigado, Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/09/2007 - Página 31296