Discurso durante a 167ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Satisfação com a sessão de ontem do Senado Federal que sinalizou ao governo federal a necessidade de rever o número excessivo de edições de medidas provisórias. Repúdio à proposta do Governo Federal de licitar áreas florestais na Amazônia.

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Satisfação com a sessão de ontem do Senado Federal que sinalizou ao governo federal a necessidade de rever o número excessivo de edições de medidas provisórias. Repúdio à proposta do Governo Federal de licitar áreas florestais na Amazônia.
Aparteantes
Cristovam Buarque, João Pedro, Mão Santa, Pedro Simon, Tião Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 28/09/2007 - Página 33281
Assunto
Outros > SENADO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • ELOGIO, SENADO, REJEIÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), REPUDIO, USURPAÇÃO, GOVERNO, FUNÇÃO LEGISLATIVA, PROTESTO, TENTATIVA, PRORROGAÇÃO, CONTRIBUIÇÃO PROVISORIA SOBRE A MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA (CPMF), CONTINUAÇÃO, AUMENTO, GASTOS PUBLICOS, CRIAÇÃO, CARGO PUBLICO, AUSENCIA, COMBATE, CORRUPÇÃO, APRESENTAÇÃO, DADOS, BANCO MUNDIAL.
  • COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O LIBERAL, ESTADO DO PARA (PA), DENUNCIA, VENDA, REGIÃO AMAZONICA, REALIZAÇÃO, LEILÃO, FLORESTA AMAZONICA, LICITAÇÃO, CONCESSÃO DE USO, EXPLORAÇÃO, RECURSOS NATURAIS, OBJETIVO, AUMENTO, ARRECADAÇÃO.
  • APREENSÃO, PREVISÃO, APROVAÇÃO, SENADO, NOME, AUTORIDADE, DIRETORIA, DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-ESTRUTURA DOS TRANSPORTES (DNIT), CONTINUAÇÃO, CORRUPÇÃO.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero, primeiro, externar a minha satisfação pela sessão de ontem, realizada aqui, neste Senado, em que mostramos ao Presidente da República que ele precisa acabar com essa fábrica de medidas provisórias que manda a esta Casa.

Eu não sei, não entendo, Senador Mão Santa, por que o Governo usa de todas as estratégias possíveis para prorrogar a CPMF. Eu não consigo entender, Senador Mão Santa! Eu acho, Senador João Pedro, que o Governo devia se preocupar em combater a corrupção dentro do Governo. Se o Governo combatesse a corrupção, se a corrupção no Governo Lula pelo menos diminuísse, não precisaria o Presidente Lula estar preocupado com a CPMF. Como há um excesso de arrecadação neste País, se combatêssemos a corrupção, eu acho que o Governo Lula teria dinheiro, e muito dinheiro, para governar e fazer muitas obras.

Eu fico preocupado. O Governo inventa receita, quer receita, quer dinheiro, e a corrupção está aí clara, cristalina. Vou mostrar dados aqui que comprovam a corrupção neste País, que comprovam que este Governo é o mais corrupto da história do Brasil. Sim, comprovam que este Governo é o mais corrupto da história do Brasil! Tenho falado muito isso aqui desta tribuna. Tenho certeza de que há muitas pessoas aborrecidas comigo. Não interessa. Eu estou defendendo os interesses do povo brasileiro e do meu querido Estado do Pará nesta tribuna.

Pasmem, senhoras e senhores! Veja aqui, Sr. Presidente, esta manchete de jornal. Eu gostaria que a TV Senado mostrasse a todo o País - porque não interessa só ao Estado do Pará - esta manchete do jornal O Liberal, um dos jornais mais lidos na região Norte: “Amazônia está à venda”. Eu gostaria que mostrassem isto ao meu País para que o Brasil tomasse conhecimento de que o Presidente Lula está vendendo a Amazônia. A Amazônia está sendo leiloada! A Amazônia está sendo leiloada, Senador Jarbas Vasconcelos. Lerei o artigo para V. Exª. Sabe por que isso, Senador? Mais receita para o Governo, que agora está vendendo madeira; resolveu vender madeira para fazer caixa - está aqui, Senador - e vai acabar com a Amazônia. Se não bastasse a ansiedade para renovar a CPMF, trocando cargos, liberando emendas para parlamentares, está fazendo tudo - tudo! - para conseguir renovar a CPMF. Tudo! E ainda mais: agora quer vender a Amazônia.

Pasmem, senhoras e senhores! Olhem aqui:

Amazônia está à venda. Privatização da floresta começa por Rondônia. Em março chega ao Pará. O governo federal rejeita a palavra privatização, mas abre caminho para a venda de grandes áreas de floresta, mediante licitação para uso de recursos naturais de 90 mil hectares (...). As concessões chegarão a 1 milhão de hectares na região.

Acabou a floresta amazônica. Sabem por quê? Sabe quanto o Governo vai arrecadar, Senador? Sabe quanto o Governo vai arrecadar com isso, Senador Pedro Simon? Cento e vinte milhões por ano! Está vendendo a Amazônia, meu caro e competente Senador Pedro Simon.

Estou aqui fazendo um requerimento à Mesa e espero seja aprovado - tenho certeza de que vai -, porque nós brasileiros não podemos calar diante deste fato, diante deste fato lamentável, inconseqüente. Inconseqüente! Aonde chegou o Presidente Lula? Ministra Marina, tenho o maior respeito por V. Exª. Venha aqui a esta Casa dizer o que é isso. Eu não acredito que seja verdade, eu não acredito que querem acabar com a Amazônia de uma vez, se já não bastassem as queimadas, se já não bastasse a falta de fiscalização, se já não bastassem as grilagens, se já não bastassem as estradas clandestinas, agora querem acabar de vez com a Amazônia.

Pois não, Senador, é com muita honra que lhe escuto.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Eu tenho admirado os pronunciamentos de V. Exª. Até outro dia eu estava dizendo lá no meu gabinete: eu tenho que falar com esse querido Senador para ele não ameaçar renunciar muito, “se fizer isso eu renuncio”, porque daqui a pouco eles vão fazer mesmo. Porque o que está acontecendo é absurdo. Eu não consigo entender esse projeto. Votei contra esse projeto e fui para a tribuna dizendo que era contra. No regime militar ninguém apresentou isso. No regime do Sr. Collor ninguém falou nisso. No do Fernando Henrique ninguém falou nisso. E o Governo do Lula fazer uma coisa dessas? O argumento é de que hoje estão devastando a Amazônia, estão devastando de uma maneira criminosa, e o Governo não tem condições de fiscalizar. Então, por mais que se fiscalize, a devastação aumenta cada vez mais. Este é o argumento do Governo. Então, o que vai fazer? Entregará áreas enormes para grandes empresas, que explorarão dentro de um esquema previsto pelo Governo, no qual eles exploram, cuidam, eticamente - eticamente é bobagem, porque não tem nada de ético aqui -, ou melhor, de uma forma racionalmente compreensível. Então, entregam uma área de quantos mil quilômetros?

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Um milhão de hectares.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Para cada um?

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Não, um milhão de hectares no total das áreas. Vão lotear.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Mas o loteamento é de tamanho específico ou podem dar o que quiserem para cada um?

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Eu acho que podem dar o que quiserem para cada um.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Bom, é praticamente gratuito, porque isso que estão dando é piada. Milhões para explorar a Amazônia por um ano? E pode ser renovada, Senador. Pode ser renovada. Outra coisa: agora entendemos porque mudaram o conceito de empresa nacional. Empresa nacional é, tradicionalmente, uma empresa brasileira, com empresários brasileiros, feita no Brasil. Hoje, se a empresa é feita, criada, registrada no Brasil... A Ford do Brasil é empresa nacional. A Chevrolet é empresa nacional. As filiais de todas as empresas multinacionais que estão aqui passaram a ser empresa nacional. Essas empresas nacionais, que são estrangeiras, podem explorar a Amazônia. Elas podem, primeiro, renovar por mais 30 anos e podem, segundo, passar a concessão para outra empresa internacional por livre vontade. Escolhe a empresa e transfere para ela.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Como se tudo isso...

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - A Oposição entrou com duas emendas aqui: uma diz que, para passar para outra empresa, o Congresso tem que aprovar. Faz o projeto, manda para cá e nós aprovamos. Para transferir para uma empresa estrangeira, o Congresso tinha que aprovar. Para fazer a renovação, o Congresso tinha que aprovar. V. Exª acredita que o Presidente vetou? As três medidas foram vetadas pelo Presidente da República, caíram. Honestamente, eu não sei. E o Lula agora está falando lá na Europa que há muita inveja sobre a Amazônia. Não, mas não tem por que ter inveja sobre a Amazônia, a Amazônia é nossa, a soberania é nossa, e ele garante... Já entregou.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Já entregou.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Ele já entregou.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - É verdade. E como se isso fosse acabar com a grilagem, fosse acabar com as queimadas... Vai é aumentar.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Eu felicito V. Exª, que, por ser daquela região, deveria nos convocar para fazer um debate aqui no Senado, chamar o Governo...

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - É isso que nós estamos fazendo.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) -... não digo nem aqui na Casa...

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - É isso que nós estamos fazendo.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) -... nem aqui no plenário, mas numa Comissão.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - É isso que nós estamos fazendo.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Vamos discutir essa questão. Vamos ouvir os argumentos do Governo com sinceridade e vamos responder com sinceridade.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Com certeza.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Cumprimento V. Exª.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Mas a minha grande preocupação é com os números...

(Interrupção do som.)

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Vou apenas concluir meu pronunciamento para conceder o aparte a V. Exªs depois.

Mas eu fico pensando é nesta arrecadação que o Governo quer vender a Amazônia: 120 milhões por ano. O Governo quer tudo, mas não controla a corrupção.

Vou citar os dados concretos, conforme prometi. Senador Mão Santa, o Governo, nós, brasileiros, paraenses, nós pagamos pela corrupção, hoje, neste Brasil, US$3,5 bilhões por ano. É difícil questionar esses dados porque eles são fornecidos pelo Banco Mundial. Eu não os estou inventando, Senador Cristovam Buarque. Pagamos US$3,5 bilhões por ano. E isso no ano passado, em 2006, quando não havia nenhuma obra de infra-estrutura neste País. Faça uma idéia agora, com a criação do PAC! Isso era o que se pagava quando o Governo estava bem devagar na questão da infra-estrutura. Está aqui, dados tirados do site da Wikipédia.

Senador Jarbas Vasconcelos, preste atenção a esses dados. No Governo Geisel, de 1974 a 1979, houve nove casos de escândalos de corrupção; no Governo Figueiredo, de 1979 a 1985, houve onze casos de escândalos de corrupção; no Governo Sarney, de 1985 a 1990, seis casos de escândalos de corrupção; no Governo Collor, de 1990 a 1992, dezenove casos de escândalos de corrupção; no Governo Itamar Franco, de 1992 a 1995, 32 casos de escândalos de corrupção; no Governo Fernando Henrique Cardoso, em oito anos, 46 casos de escândalos de corrupção; no Governo Lula - atenção senhores e senhoras, brasileiros e brasileiras, atenção Brasil! -, de 2003 para cá, em cinco anos - vira-se a primeira página, vira-se a segunda página, vira-se a terceira página e chega-se à quarta página -, cento e trinta casos. Cento e trinta! Vou citar os maiores. Nossa Senhora de Nazaré, protetora dos paraenses e minha protetora querida, onde nós vamos chegar neste Governo?

Agora vou para as crises, crises graves. Escândalo dos bingos, ou melhor caso Waldomiro Diniz, primeira grave crise política do Governo Lula, que não foi apurado e em nada deu. Segundo grande escândalo: dos Correios. Estou citando apenas crises graves. O escândalo do “mensalão” é a terceira grande crise grave. A quarta é a da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo. A quinta é o escândalo dos “sanguessugas” e a sexta é a do dossiê...

Não vou continuar, pois meu tempo vai acabar. Não vai dar para continuar. O meu tempo vai acabar e eu não terminarei de ler os grandes escândalos!

E O Governo Lula quer CPMF, quer vender a Amazônia, quer arrecadar tanto dinheiro, não controla a inflação, deixa os brasileiros amanhecerem sem atendimento hospitalar. É a crise da saúde... A insegurança neste País está estabelecida. Não há mais condições...

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - Conclua, Senador.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Já vou terminar. Não há mais condições de aturar a violência neste País!

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Sr. Presidente, faço um apelo a V. Exª. O Senador nos deixou uma interrogação. V. Exª poderia permitir que o Senador lesse todos os escândalos para deles sabermos, para informarmos à Nação inteira. A televisão está mostrando e a Nação está acompanhando.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - São 131 escândalos! Não dá para ler todos, infelizmente, Senador. Só li seis dos maiores. Não dá para ler os outros. Já pensou, Senador Pedro Simon, eu ler 130 escândalos?! Não dá. Se fossem 16 ou até 48, como no Governo Fernando Henrique Cardoso, eu os leria. Mas como são 130, citei apenas os mais escandalosos, aberrantes. Não é possível ler 130!

Sr. Presidente, V. Exª me dá condições de eu conceder aparte, Senador?

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - Três minutos eu já concedi para V. Exª ser aparteado pelos Srs. Senadores.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Concedo o aparte ao Senador João Pedro. Vou começar pelos petistas, que me dão a honra de apartear-me. Não chorem pelo amor de Deus! Isso aqui é realidade. Vamos aos apartes de V. Exªs. Quero ouvi-los.

O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Esse desejo com o PT só Freud para explicar.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Espere aí. Só um instantezinho, Senador. Dê-me licença.

O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Pois não.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Vou tirar o lenço do bolso para esperar o choro de vocês. Talvez eu também chore, emocionado.

O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Não tem choro, não. Quero falar sobre esse espanto que V. Exª está tendo em relação à concessão de terras públicas. Primeiramente, quero dizer a V. Exª que foi o Senado da República que aprovou essa matéria. Então, trata-se de uma lei. A Ministra Marina está agindo com base numa lei. Ponto! É uma lei inovadora? É uma lei inovadora. V. Exª é da Amazônia, assim como eu sou da Amazônia, do Estado do Amazonas. Sabemos como o roubo de madeira e de minerais e o desrespeito às populações tradicionais acontecem na Amazônia. Então, Senador Mário Couto, penso que a concessão de terras públicas não é título definitivo. Na realidade, a lei rompe com uma tradição.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Com o direito à renovação.

O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Com o direito à renovação, por quê? Porque o objeto é fazer manejo florestal. A renovação não ocorre porque o Estado deseja. A renovação da floresta só se dá nesse binômio, fazendo as mudanças na floresta. Veja só. Penso que a lei zela pela floresta.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Conclua, Sr. Senador, porque ainda há muitos Senadores para apartear.

O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Ela zela pela floresta. É uma lei que precisamos compreender. Evidentemente, devemos fazer a discussão permanente de uma lei que o Senado aprovou. É uma lei inovadora a concessão de floresta - não de terra - e rompe com uma tradição. É preciso andar para fazermos uma avaliação serena e tranqüila acerca dessa nova modalidade de tratar e de combater a ilegalidade das terras e da floresta na Amazônia. Espero que, na relação de V. Exª sobre os corruptos, esteja aí Cacciola, janeiro de 1999.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Estão todos aqui.

O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - O Governo de V. Exª deu R$1 bilhão para esse ladrão que está vivendo hoje em Mônaco.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Estão todos aqui, Senador João Pedro. Calma, Senador. Quando eu citei aqui, isso irritou V. Exª. Eu o avisei de que o irritaria. Eu sabia que V. Exª teria chilique, porque dói, Senador, mas está aqui. É número. Em vez de V. Exª questionar-me, deveria questionar o Lula, chegar ao cafezinho dele, na cozinha, e dizer: “Olha, companheiro, a corrupção aqui está muito grande. O País não agüenta mais, companheiro. Tu bateste o recorde de corrupção em toda a história do Brasil”. É isto, companheiro, que você tem de fazer: falar com o Lula.

O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senador Mário Couto, V. Exª deve levar mais a sério. Isto não é circo, é o Senado da República.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Senador João Pedro, tenha paciência, não se irrite. Tenha calma, Senador. Tenha calma. Em seu nariz, com certeza, cabe uma bolinha bem melhor do que no meu. Eu tenho certeza de que, no seu nariz, cabe a bolinha vermelha bem melhor do que no meu. V. Exª tem mais cara de palhaço do que eu. Tenho certeza disso. Olhe-se no espelho e veja se não é verdade.

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. PFL - PB) (Fazendo soar a campainha.) - Srs. Senadores.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Pois não, Senador. Com muita honra, concedo o aparte a V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. PFL - PB) - Peço a V. Exª que utilizemos palavras...

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Ele me ofendeu, ele leva resposta. Assim mesmo. Paraense não leva desaforo para casa.

Pois não, Senador.

O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM. Fora do microfone.) - Nem amazonense, nem amazonense.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Paraense não leva desaforo para casa.

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB. Fazendo soar a campainha.) - Senador, V. Exª concede a palavra...

Senador...

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Comece a me olhar e me respeitar.

Pois não, Senador Tião Viana.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Senador Mário Couto, de maneira muito objetiva, vou-me ater à primeira parte do pronunciamento de V. Exª, sobre a utilização das chamadas florestas públicas. É um tema que exige, de maneira antecipada, uma definição conceitual do que é o manejo. O discurso de V. Exª não abordou esse item. Eu digo isso, Senador, porque olhamos a Amazônia e esse projeto envolve, no todo, utilização de, no máximo, 3% da Região Amazônica. É a área de alcance de todo o processo de debate sobre as florestas públicas. Veja V. Exª, que é sabedor disto, a árvore, ao nascer, de jovem até a sua fase adulta, está consumindo gás carbônico. A partir da fase de maturidade, ela elimina gás carbônico e passa a ser um problema ambiental também. Então, o manejo é absolutamente necessário, correto e pode gerar para um Estado como o meu, que tem 159 mil quilômetros quadrados, nos mais de oito milhões de quilômetros da Amazônia, R$1 bilhão por ano se o manejo for correto, com responsabilidade socioambiental, que, sei, é o propósito de V. Exª. Então, veja o que estamos tratando. Queremos, em um hectare de floresta pública, onde temos em torno de 200 árvores, ou mais, manejar, a cada 10 anos, cinco árvores. É esse o propósito do projeto do Ministério do Meio Ambiente, que foi devidamente aprovado aqui. Então, o que penso é que esse debate que V. Exª propõe vai enriquecer muito a matéria e trazer esclarecimento. V. Exª, pelo respeito que tem pela Ministra, conhecedor da integridade e da honradez dela, sabe que vamos superar isso num amplo e bonito debate de esclarecimento. Sou franco defensor desse tema porque o conheço e o estudei a fundo e penso que a preocupação de V. Exª é justa, por ser de um Estado que foi devidamente devastado e violentado pelo tráfico de madeiras. Hoje as terras são devolutas e a grilagem é que prepondera. Então, respeito o debate e quero ir à comissão com V. Exª para que possamos esclarecer uma matéria que é importante ser colocada nos termos em que está sendo tratada aqui hoje. Muito obrigado.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Parabenizo V. Exª pelo equilíbrio, porque sempre foi assim educado e equilibrado. Por isso, eu o admiro. Cada dia que passa, maior é a admiração que tenho por V. Exª, pelo seu equilíbrio, educação, ética. Parabéns.

Senador, a minha grande preocupação...

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Vou conceder-lhe o aparte. Deus me livre de descer desta tribuna sem dar o aparte a V. Exª, Senador Cristovam. Tenho muito respeito por V. Exª, mas a minha preocupação...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. DEM - PB) - Peço a V. Exª que seja breve na resposta aos apartes.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - O que me preocupa é que me parece que o projeto aprovado aqui não está sendo obedecido, e quero ver exatamente isso. Parece-me que estão fazendo ao vento. Vende a Amazônia. Aí, não. Não vou deixar. Aí, não vai acontecer.

Pois não, Senador. Com muita honra.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - V. Exª traz dois pontos importantes e vou analisar cada um, se o Presidente permitir. Um é sobre a questão das licenças para exploração de madeira na Amazônia; o outro é o da corrupção. Quando esse projeto chegou aqui, vindo da Marina Silva, obviamente eu o recebi com carinho especial e com confiança, mas procurei as pessoas da Amazônia que respeito - Tião, Capiberibe, Jefferson Peres -, e todos eles me disseram, com argumentos, que esse é um projeto que poderia até ajudar a proteger, a defender, a usar melhor, mas eu disse para eles que, mesmo assim, iria votar contra. Sabe por quê? Quero lembrar, não sei se o Senador Tião lembra, porque prefiro que, daqui a 30, 50 anos, digam: “Cristovam votou errado. Veja como o projeto era bom e ele votou contra”; a daqui a 20, 30 anos digam: “Esse pessoal votou no projeto que tirou a soberania do Brasil”. Eu não tenho certeza de que o projeto é ruim, mas não me cheira com tranqüilidade esse tipo de ocupação do solo. Não me cheira, por uma questão, talvez, de instinto. De vez em quando, a gente vota pelo instinto, talvez por alguma coisa que eu não saiba explicar direito o que é. Eu não quero ter meu nome vinculado a esse projeto. Se amanhã ele der certo, não tem problema, serei acusado de um erro técnico, mas, se der errado, serei acusado de um erro contra o Brasil, contra a soberania. Por isso fui contra esse projeto. Sobre a corrupção, quero parabenizá-lo por trazer esse tema. Mas volto a insistir em uma coisa na qual sempre bato aqui: tem uma corrupção pior do que a corrupção que a gente vê, é a corrupção invisível das prioridades. Não é apenas a apropriação do dinheiro público para o bolso privado que é a corrupção; é o uso do dinheiro público para projetos que são de interesse privado e não público. Quando no caso do famoso prédio do TRT se denunciou que tinha gente colocando dinheiro no bolso, eu disse: “Esse projeto é corrupto mesmo se ninguém roubasse, porque um País sem água, sem esgoto, sem escola, gastar milhões para fazer prédios públicos é uma forma de corrupção das prioridades”. Penso que é preciso se dar mais atenção a essa corrupção das prioridades. Não usar o dinheiro corretamente para atender a interesses nacionais e do povo é tão corrupto quanto tirar dinheiro e colocar no próprio bolso.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Para encerrar, concedo o aparte ao Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa( PMDB - PI) - Senador Mário Couto, no meu Piauí, há um ditado: mata a cobra e mostra o pau. Eu quero que V. Exª mostre a cobra e o pau. Leia os 136. Outro dia eu li os 76...

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Eu vou distribuir à Nação brasileira o que precisar, mandar um e-mail, eu vou mandar.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - V. Exª é como locutor de futebol: tem uma voz bonita, pareceria um futebol. Eu li os 76. Mas já que estamos falando em números, saiu aí, na imprensa internacional, matéria sobre transparência, austeridade, honestidade, decência...

(Interrupção do som.)

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - O Brasil, cujo capitão é Luiz Inácio, é o 76º em decência, honradez, dignidade, negócio. Não vou citar aí os 76. Mas é o 76º! Então, eu lembraria ainda para terminar que não vou ler nem os dez mandamentos de pecado do Governo do PT. Eu voltaria a lembrar ao Lula, ao Luiz Inácio, que aprenda pelo menos o 7º mandamento: não furtar. Está ali Cristo, e foi ele quem ensinou.

O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Para concluir, Sr. Presidente. Senador Flexa Ribeiro, olhe para mim: são 130... Senador Pedro Simon, olhe para cá: são 130 escândalos. Há mais um. Na terça-feira, vai se somar mais uma aqui. Vai passar para 131 escândalos. Olhem bem, aqueles que me assistem na TV Senado. Vai entrar mais um escândalo nesta lista aqui, na terça-feira. Sabe qual é, Presidente? Vão aprovar o nome do Pagot, aqui, para o Dnit. Isso é um escândalo! Vai ficar na história deste Senado! A maioria vai vencer! Não adianta o Mário Couto espernear, não! A maioria é a maioria! E vai vencer a maioria. E é mais um escândalo que vai para esta lista: serão 131 escândalos no Governo Lula. Mais um, com a aprovação do nome de Luiz Antônio Pagot.

Sr. Presidente, muito obrigado a V. Exª pelo tempo que acresceu ao meu pronunciamento. Sempre o admirei exatamente pela postura nesta Presidência.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/09/2007 - Página 33281