Pronunciamento de Demóstenes Torres em 09/10/2007
Discurso durante a 175ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Considerações sobre a suposta arapongagem contra S.Exa. e o Senador Marconi Perillo.
- Autor
- Demóstenes Torres (DEM - Democratas/GO)
- Nome completo: Demóstenes Lazaro Xavier Torres
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
SENADO.:
- Considerações sobre a suposta arapongagem contra S.Exa. e o Senador Marconi Perillo.
- Aparteantes
- Cristovam Buarque, Valter Pereira.
- Publicação
- Publicação no DSF de 10/10/2007 - Página 34672
- Assunto
- Outros > SENADO.
- Indexação
-
- COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), O POPULAR, ESTADO DE GOIAS (GO), DENUNCIA, ATO ILICITO, FRANCISCO ESCORCIO, EX SENADOR, ESPIONAGEM, VIDA, ORADOR, MARCONI PERILLO, SENADOR, AGRAVAÇÃO, SITUAÇÃO, RENAN CALHEIROS, PRESIDENTE, SENADO, FALTA, CONFIANÇA, OPINIÃO PUBLICA, EXERCICIO, PRESIDENCIA, DEFESA, AFASTAMENTO.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Srªs Senadoras, Srs. Senadores, Sr. Presidente Renan Calheiros, sei perfeitamente que o momento que V. Exª vive não é fácil. E sei que ser mais um é também um procedimento comum numa hora como essa.
Sinceramente, não tenho nenhum prazer em estar nesta situação. Sinto-me como alguém da peça do Chico Buarque e do Ruy Guerra - do filme, especialmente -, quando diz: “Se a sentença se anuncia bruta, mais que depressa a mão cega executa, porque senão o coração perdoa”.
Sr. Presidente, neste fim de semana, primeiro, o blog do Noblat, na sexta-feira, e, segundo, a revista Veja, no fim de semana, trouxeram matérias referentes a uma suposta arapongagem, ocorrida em Goiânia, a mando de V. Exª - digo “supostamente a mando”, porque foi o que foi publicado. O que dizem essas reportagens? Dizem que um senhor, que é funcionário desta Casa, um ex-Senador, Francisco Escórcio, que todos nesta Casa conhecemos, esteve em Goiânia, no escritório de dois advogados; mandou chamar um ex-Deputado Federal, que é empresário, e propôs a ele que fizesse uma arapongagem em relação a mim e ao Senador Marconi Perillo.
Fui contatado pelo Noblat, na quarta-feira, e pela revista Veja na quinta-feira. Em relação ao que foi publicado sobre minha pessoa, confirmo, Sr. Presidente. Realmente, o Sr. Pedrinho Abrão, no dia 28 do mês passado, telefonou-me. Naquele momento, não pude atendê-lo. Retornei o telefonema e marcamos uma reunião na casa dele, um almoço. Lá, ele me disse que, no dia 24, já à tardezinha, quase noite, ele recebeu uma ligação do Sr. Chiquinho Escórcio, que pedia para ele ir a um escritório de advocacia. Naquele momento, ele não me disse nem que era escritório de advogado, nem que era o Sr. Francisco Escórcio. Só que ele começou a dar características: “É um Senador que anda pelo Senado, que foi suplente do Senador Alexandre Costa”. Pensei: “É o Chiquinho Escórcio”. Foi como jogar o sapo n’água. Não havia como não saber que se tratava do Chiquinho Escórcio. E ele me disse que Chiquinho Escórcio teria dito a ele que estava lá numa missão de arapongagem e que estava resolvendo também problemas relativos ao Maranhão, mas queria me flagrar e flagrar o Senador Marconi Perillo voando de forma ilegal. E pediu-lhe que colocasse ali duas câmeras. Pedrinho Abrão disse-me que imediatamente recusou a oferta. Perguntei a ele: “Quem são os advogados?” Ele me disse: “Não posso falar, não quero que meu nome seja mencionado”. Quero dizer que honrei o compromisso com ele. Não mencionei e não trouxe a público o que ele me reportou naquele momento.
Na quarta-feira passada, logo após a reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado, fui almoçar com minha assessora Maria das Graças Cruvinel aqui, no restaurante do Senado Federal. Ali, estavam almoçando também, em outra mesa, o ex-Senador Francisco Escórcio e o repórter Hugo Studart, da revista IstoÉ. O repórter veio até a mesa, e começamos a conversar. Perguntou se eu tinha uma casa em Pirenópolis. Eu lhe disse: “Não, até gostaria de ter, mas quem tem casa é a Cruvinel, que faz festas lá. Eu mesmo já estive algumas vezes lá”. Em seguida, veio o Francisco Escórcio, o que me lembrou também, por coincidência, outra música do Chico Buarque - só que, desta vez, com o Francis Hime. A música chama-se Viva o Rei de Ramos. Eis um trecho da música:
Os seus desafetos e rivais
Misericordioso, não matava
Mandava matar
E financiava os funerais
As pobres viúvas consolava
Chegava a chorar.
Francisco Escórcio, após ter estado em Goiânia, foi sentar-se à minha mesa, e todos aqui sabemos o quanto Francisco Escórcio é destrambelhado - para não usar um termo mais desqualificado. Ele começou a contar: “Ganhamos no tribunal por quatro a três”. “Ganhou?” “Ganhamos. Agora, vou arrebentar com o Jackson Lago, vou estourar o Jackson Lago. E o Heli Dourado é doido. Nós já filmamos tudo”. Bom, Heli Dourado é um advogado de Goiânia que conheço muito, até porque ele vem sempre ao meu gabinete pedir favores. Agora, vejam bem, já é outro poema: “A mão que afaga é a mesma que apedreja”, não é verdade? O poema inteiro é até bonito, mas não vou declamá-lo para V. Exªs.
O nosso Francisco Escórcio - como diria o Presidente Lula, “o nosso Delúbio” - foi contando. Simplesmente fui puxando a língua dele e, em determinado momento, perguntei: “Então, o senhor vai a Goiânia?” “Estive lá outro dia!”. Então, acredito que a fonte seja ele mesmo, porque ele não consegue ficar com a língua dentro da boca. É um agente de espionagem, digamos, altamente comprometido pela desqualificação nesse quesito.
Nesse mesmo dia, mandei um emissário atrás de Pedrinho Abrão. E disse-lhe: “Já sei que os advogados são Heli Dourado e seu parceiro”. Ele disse: “É verdade”. E informou inclusive onde havia sido o encontro: na Rua 9, esquina com a Avenida D, no terceiro andar, no Setor Oeste. “Embaixo [ele ainda me informava] existe uma drogaria”.
Então, mandei esse emissário dizer a ele: “Concordo em colocar as câmaras, porque quero prender em flagrante o Chiquinho Escórcio; quero prender em flagrante o Chiquinho Escórcio, os arapongas, os advogados”, não por temer nada, Sr. Presidente. Esse é um procedimento comum na vida pública. V. Exª tem passado por maus momentos e, na vida pública, todos nós passamos por maus momentos. Mas não é Francisco Escórcio que vai me constranger. O Francisco Escórcio não é Procurador-Geral da República; o Francisco Escórcio não é Ministro do Supremo Tribunal Federal; ele não pode mandar investigar um Senador; ele não tem esse direito, ele não tem essa competência legal.
O Senado Federal, se não toma uma providência... Acho que V. Exª pode tomar uma providência contra ele, e essa providência é pequena, Sr. Presidente. Veja bem: V. Exª diz que o está afastando, porque existe uma suspeição contra ele, mas V. Exª não se afastou.
Muito bem, mas a medida contra ele, a Senadora Ideli Salvatti...
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Não quero polemizar, estou exercendo um mandato.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Perfeito, mas a Senadora Ideli Salvatti utilizou-se de um argumento que me parece definitivo, Sr. Presidente. Qual é o argumento? É que ele não tem e não pode ter mais a confiança de V. Exª. E, quando assim acontece, a demissão é ad nutum.
Ontem, V. Exª me ligou, conversamos e eu lhe disse: “Todos nós aqui, todos os Srs. Senadores, os repórteres e quem conhece Chiquinho Escórcio achamos [e eu acho também] que isso seria uma missão”. V. Exª foi Ministro da Justiça, V. Exª tem, portanto, contatos dentro da Polícia Federal, o que é normal; V. Exª chefiou a Polícia Federal. Então, poderia muito bem ter-se utilizado, se assim quisesse fazer - estou falando no ramo das hipóteses, no terreno das hipóteses -, de agente mais qualificado para esse fim.
Muito bem, V. Exª me disse: “Os advogados negaram, eu não tenho elementos para demitir Francisco Escórcio”. Mas mostro a V. Exª: na revista Veja, Chiquinho Escórcio disse: “Pedro Abrão apareceu por acaso lá”. Estava lá, e o Pedro Abrão apareceu. “Não conversei com ele sobre qualquer assunto”. Já Heli Dourado: “Pedro Abrão não participou da conversa”. Na Folha de S.Paulo de sábado, ele disse que, como funcionário do Senado, “já fez levantamentos contra inimigos políticos de peemedebistas”. V. Exª não o contratou para isso, não o nomeou para isso. “Caso de Jackson Lago”, ele disse.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Essa é uma questão localizada lá no Maranhão.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Mas ele não pode espionar ninguém, sendo funcionário do Senado.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Eu não estou defendendo isso. Isso não é a minha prática, nunca foi.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Mas diz: “Mas não fez contra Demóstenes e Marconi”. E prossegue, no domingo: “Disse que era amigo do Pedro Abrão. Ligou e pediu para ele ir ao escritório e perguntou, politicamente, sobre a conjuntura política, sobre Marconi e sobre Demóstenes”.
Heli já disse, no domingo, à Folha, que teve uma reunião de 45 minutos, que Renan disse, nessa fita, que estava muito preocupado com o resultado das demais votações, que Pedrinho disse que Marconi entrava e saia muito do hangar e que, se quisesse fotografar ou filmar, estaria à vontade.
Já no jornal O Popular, de Goiânia, e na Agência Globo, Chiquinho disse: “Falamos sobre amenidades e a política local”. E Heli, depois de ter declarado, falou: “Não, a Folha está forçando para dar prosseguimento às reportagens”.
Nas notas divulgadas ontem, Chiquinho disse “que esteve em Goiânia para tratar de eleições no Maranhão [agora, veja V. Exª, esteve em Goiânia para tratar de eleições no Maranhão], se encontrou com Pedrinho, mas não constou qualquer sugestão de obter informações sobre Senadores de Goiás”. Na conversa, não constou. E Heli: “Pedrinho foi convidado por Escórcio” - veja V. Exª que ele disse que nem estava, num primeiro momento. “Me retirei para cuidar dos meus afazeres”. Então, ele não estava presente, mas, lá atrás, ele já disse até o que se conversou. E mais: “Eu não estava presente, mas não houve qualquer afirmativa por parte de nenhum dos dois sobre fotografia, espionagem, grampo etc.”.
Eu tomei o cuidado de pedir à Folha de S.Paulo a única manifestação que há do Sr. Heli Dourado.
Peço a V. Exª, e já o solicitei à Casa, que reproduza - é curta, são cinco minutos - a matéria feita pelo jornalista Leonardo Souza com o Sr. Heli Dourado. Peço a V. Exª que defira essa reprodução.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Com todo o prazer, com todo o prazer.
O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - Reproduzir a gravação, é isso?
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - É.
O SR. TASSO JEREISSATI (PSDB - CE) - O que vai ser reproduzido?
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - A entrevista feita pelo Sr. Leonardo Souza, da Folha de S.Paulo, com o Sr. Heli Dourado.
(Procede-se à reprodução do áudio.)
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - V. Exª pode verificar, nessas declarações, primeiro, que a reunião aconteceu; segundo, que Francisco Escórcio mandou buscar Pedrinho Abrão, convidou-o para ir lá; terceiro, que eles falaram em nome de V. Exª, ainda que indevidamente.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Não. Não falaram em meu nome, não. Citaram - com a sua permissão -, citaram o meu nome, mas jamais o envolvendo com esse assunto, que é repugnante.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Não, ao contrário. Fala-se: “Renan está muito preocupado”. Quer voltar a fita?
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Preocupado com o resultado da representação.
O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - Permite-me um aparte, Senador Demóstenes?
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Com o maior prazer.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Senador Demóstenes, imagine a lógica - quero pedir a atenção do Senado - de você contratar ou autorizar o Francisco Escórcio para bisbilhotar a vida de alguém, ainda mais ir a um hangar para ver qual o meio de transporte que o Senador está utilizando. Meu Deus do céu! Isso é uma coisa...
O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - V. Exª me permite um aparte, Senador Demóstenes Torres?
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Não, se o transporte for ilegal, cabe representação. Não é.
O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - V. Exª me permite um aparte?
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Pois não.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Uma campanha poderia levar isso adiante. Só uma campanha poderia levar isso adiante.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Exatamente.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - A fita, a gravação. Não há elemento jornalístico, permitam-me os jornalistas dizer. Não há elemento jornalístico na denúncia. Não há elemento jornalístico na denúncia e lamento dizer isso daqui da Presidência.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Sr. Presidente, acontece que o Heli Dourado, a primeira... Vou ler novamente as contradições: primeiro, ele disse que não aconteceu a reunião; segundo, ele disse que a conversa tinha sido política; terceiro, que não se tinha falado em hangar. V. Exª os ouviu falando que queriam fotografar o Senador Marconi Perillo. Foi tratado, só que eles imputam ao Pedrinho.
Sr. Presidente, o assunto foi tratado, por maior que seja o desconforto de V. Exª, o episódio aconteceu.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Eu estou aqui absolutamente confortável.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Perfeito.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - O Brasil conhece a minha prática, este Senado conhece mais ainda.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Concedo um aparte ao Senador Valter Pereira.
O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - Senador Demóstenes Torres, depois de ouvir essa gravação, cabe uma pergunta: onde estamos? No Senado Federal ou em uma delegacia de polícia?
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - V. Exª pode responder. Não sei qual a intenção da pergunta de V. Exª. Conselho de Ética é justamente para apurar quebra de decoro. É isso que V. Exª quis dizer? Ou V. Exª quis fazer uma defesa? Se quiser, faça-a, V. Exª tem direito.
O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - Creio que estamos diante de um rosário de episódios que deprime extremamente a imagem do Congresso.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Mas eu concordo com isso. Agora, V. Exª não pode ficar no meio termo. Pode se opor, como faz o Senador Renan.
O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - E entendo que temos de encontrar mecanismos para abortar esta fase tão negra da história do Senado Federal. A sociedade brasileira está esperando que luzes venham iluminar a cabeça de cada um dos integrantes deste Poder Legislativo, porque, infelizmente, por onde andamos, nas reuniões que freqüentamos, o que se percebe é a confusão que está na cabeça das pessoas. Parece que estamos transformando o Senado numa delegacia, cujo atendimento não pára, não se esgota.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - E a culpa é de quem, Senador?
O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - A culpa é do Senado, que não está tendo,...
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Exatamente.
O Sr. Valter Pereira (PMDB - MS) - ... não está tendo a atitude necessária no momento adequado para abortar a crise.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Perfeito, nisso eu concordo com V. Exª.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - V. Exª me permite um aparte, Senador Demóstenes Torres?
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Por favor, Senador.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Demóstenes Torres - e isto, Senador Renan Calheiros, eu queria colocar, por isso pedi antes pela ordem -, o problema não é só qual é a verdade; o problema é, também, se há credibilidade ou não. E, neste momento, Senador Renan, a credibilidade se esvaiu na pessoa que está na Presidência, não como Senador. O senhor ganhou aqui aquela votação sobre a cassação ou não, e ninguém está discutindo aqui a cassação do mandato do Senador Renan. Se essa fita falasse do Senador Suplicy, do Senador Mão Santa, do Senador Adelmir, ninguém estaria nem ouvindo, nem discutindo, Senador Renan. Mas esse processo, ao longo de quatro meses, mesmo que não seja verdade nada disso, levou a um esvaziamento da credibilidade do Presidente. É, sem dúvida...
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Não é verdade. Eu mandei para V. Exª uma pesquisa recente que demonstra que o Senado Federal, apesar do bombardeio, apesar de ter sofrido uma campanha como nunca vista...
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Muito bem. Isso. O Senado.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - ...por quem quer atacar a instituições democráticas, e esta é uma instituição democrática importante, o Senado Federal tem avaliação superior à Câmara e tem avaliação superior ao Senado americano.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Muito bem. Estou partindo de que tudo isso é verdade.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - V. Exª disse que não tinha entendido. Mas eu fiz questão de mandar. Mandei uma carta para V. Exª.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Verdade. Sem dúvida alguma. Mas a pesquisa não foi sobre a credibilidade...
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Uma coisa é a opinião pública, outra coisa é a opinião publicada. Esse é o grande equívoco do Brasil.
O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Muito bem. Sr. Presidente, não estou falando do Senado, que entendo que está em baixa também, embora aquela pesquisa diga que não. Fiquei até feliz. Mas eu falo é da Presidência, Sr. Presidente. Mesmo que não seja verdade, a imprensa tem esse poder, maligno muitas vezes, mas felizmente temos uma imprensa livre, de, às vezes, destruir a credibilidade da pessoa, que somente anos depois se recupera. E aí, Sr. Presidente, livre-nos de ouvir fitas como essa. Só há um jeito, o que todos hoje desejam e que eu imaginava que era a sua fala aqui, dizer: “Eu me licencio da Presidência por um tempo”, para que a Casa não fique ouvindo essas fitas, para que a gente retome o trabalho, para que o senhor volte a ter tranqüilidade para levar adiante a defesa e mostrar a verdade, que eu torço que esteja com o senhor, e ainda não tenho razão para dizer que a verdade não está com o senhor. Mas eu creio que, hoje, o Senador Demóstenes Torres, querendo ou não, terminou mostrando que está faltando credibilidade para exercer a Presidência, Sr. Presidente. Mesmo que o senhor esteja com a verdade, a credibilidade se esvaziou. E, neste momento, seria um gesto patriótico e inteligente, patriótico para o País e inteligente do seu ponto de vista, da sua defesa, que o senhor não estivesse na Presidência do Senado.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Sr. Presidente, o que digo é o seguinte: o Senador...
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Tem a palavra V. Exª para encerrar.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - O ex-Senador Francisco Escórcio não tem credibilidade para falar em nome de ninguém. Não tem credibilidade para falar em nome do mais humilde servidor desta Casa, quanto mais no nome do Presidente do Senado. Não é um fato corriqueiro, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Mas ele não falou em meu nome. Ele não falaria.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Falou.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Não, não, não.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Falou em nome... Olha, isso é só...
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - A fita de V. Exª não diz nada, absolutamente nada, em relação a isso.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Sr. Presidente, essa é uma das provas para provar que houve a conversa.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Senador Demóstenes, eu afastei o servidor, mandei abrir uma sindicância. É o que me cabe fazer.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Não é verdade. V. Exª pode ir além.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Eu não vou prejulgar, não vou prejulgar, não vou prejulgar.
O Sr. Marconi Perillo (PSDB - GO) - Sr. Presidente, sugiro a V. Exª que passe a Presidência ao Senador Papaléo Paes e venha debater com o Senador. É por essa e por outras razões que há esse apelo a V. Exª.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Senador, o fato é o seguinte: é uma figura da mais alta desqualificação, que V. Exª sabe que é, que nós todos sabemos que é. Isso surgiu por quê? Porque alguém de baixíssimo nível esteve em Goiânia para fazer o que fez. A conversa existiu. O advogado que negou em nota que V. Exª distribuiu acaba de dar uma entrevista à Folha de S.Paulo admitindo que a conversa existiu. Então, o fato é que estamos vivendo...
E temos de concordar, Sr. Presidente, com todas as Srªs e Srs. Senadores, que, à medida em que os próprios fatos vão acontecendo e V. Exª não toma uma medida à altura do Presidente da Casa, fica evidente que V. Exª tem de se afastar para poder responder a todas as demandas que há, a todas as demandas que existem contra V. Exª.
O Sr. Renato Casagrande (Bloco/PSB - ES) - V. Exª me permite um aparte, Senador Demóstenes Torres?
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Pois não. Concedo o aparte ao Senador Renato Casagrande.
O Sr. Renato Casagrande (Bloco/PSB - ES) - Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - O tempo do Senador Demóstenes Torres já está esgotado.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Mas o de V. Exª também se esgotou muito e V. Exª...
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Não, senhor. Não, senhor. O tempo de V. Exª é que está esgotado.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Não. O de V. Exª também se esgotou. V. Exª tinha cinco minutos para falar e falou vinte minutos.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - O tempo de V. Exª está esgotado. V. Exª não pode conceder apartes.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Mas peço a isonomia. V. Exª é o Presidente e pode agir com justiça.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - A Mesa não vai debater com V. Exª.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Mas está debatendo.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Se V. Exª veio com esse propósito, V. Exª veio equivocadamente.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Não vim, Sr. Presidente. Ao contrário, vim com o coração desarmado.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Colocou uma fita aqui, transformou o Senado em delegacia de polícia. Uma fita que não diz nada. Não diz nada.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Exatamente. Essa é uma frase que está sendo muito utilizada para tentar abafar a situação.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - É isso o que V. Exª quer fazer com o Senado brasileiro?
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Não. É o que V. Exª fez com o Senado.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - O que V. Exª quer fazer.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Não tenho responsabilidade alguma nisso.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - V. Exª quer fazer.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Concedo o aparte ao Senador Renato Casagrande.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Não concede aparte. Inscrevo o Senador Renato Casagrande pela ordem. O tempo de V. Exª está encerrado.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - V. Exª está sendo injusto.
O SR. RENATO CASAGRANDE (Bloco/PSB - ES) - Sr. Presidente, estou abrindo mão do aparte e falo como Líder.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, peço a palavra pela ordem.
O SR. RENATO CASAGRANDE (Bloco/PSB - ES) - Assim que V. Exª me passar a palavra, eu falo como Líder, Sr. Presidente.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Sr. Presidente, faço o apelo. V. Exª usou por muito mais tempo.
O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - O tempo de V. Exª está encerrado.
O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Agradeço, Sr. Presidente.