Discurso durante a 177ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reitera esclarecimentos sobre fatos ocorridos em 1996, em que setores da imprensa atribuiu a S.Exa. a utilização indevida da TV Senado. Considerações sobre o caso Renan Calheiros.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Reitera esclarecimentos sobre fatos ocorridos em 1996, em que setores da imprensa atribuiu a S.Exa. a utilização indevida da TV Senado. Considerações sobre o caso Renan Calheiros.
Aparteantes
Delcídio do Amaral, Eduardo Suplicy, Flávio Arns, Garibaldi Alves Filho, Paulo Paim, Sérgio Zambiasi.
Publicação
Publicação no DSF de 11/10/2007 - Página 34826
Assunto
Outros > IMPRENSA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • REPUDIO, MANIPULAÇÃO, IMPRENSA, TENTATIVA, PREJUIZO, REPUTAÇÃO, LEGISLATIVO, COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, REGISTRO, ANTERIORIDADE, ACUSAÇÃO, ORADOR, IRREGULARIDADE, UTILIZAÇÃO, TELEVISÃO, SENADO, POLITICA PARTIDARIA, APRESENTAÇÃO, MATERIA, PERIODO, PUBLICAÇÃO, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESCLARECIMENTOS, GRAVAÇÃO, CAMPANHA, POSTERIORIDADE, PAGAMENTO, RESSARCIMENTO, EQUIPAMENTOS, ANEXAÇÃO, DOCUMENTO.
  • COMENTARIO, ANTERIORIDADE, PUBLICAÇÃO, DIREITO DE RESPOSTA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, IMPRENSA, ATUALIDADE, OCULTAÇÃO, CONCLUSÃO, OCORRENCIA, PROTESTO, MANIPULAÇÃO, CRISE, PRESIDENCIA, SENADO.
  • COMENTARIO, ATUAÇÃO, ORADOR, DEVOLUÇÃO, APOSENTADORIA, RECEBIMENTO, SENADO, DUPLICIDADE, PAGAMENTO, SALARIO, SENADOR, DETALHAMENTO, VIDA PUBLICA, DEFESA, ETICA, CRITICA, CALUNIA, OFENSA, HONRA, POLITICO.
  • DEBATE, POSSIBILIDADE, AFASTAMENTO, RENAN CALHEIROS, PRESIDENTE, SENADO, CAMPANHA, PRESIDENCIA, DEFESA, ENTENDIMENTO, BENEFICIO, INSTITUIÇÃO DEMOCRATICA, REITERAÇÃO, SUGESTÃO, LICENCIAMENTO, CONFIANÇA, ATUAÇÃO, VICE-PRESIDENTE.
  • ELOGIO, ESCOLHA, JEFFERSON PERES, SENADOR, RELATOR, REPRESENTAÇÃO, REU, RENAN CALHEIROS, CONGRESSISTA.
  • ANALISE, HISTORIA, POLITICA PARTIDARIA, BRASIL, ETICA, LUTA, CLASSE POLITICA, ALTERAÇÃO, IDEOLOGIA, EXERCICIO, PODER, GOVERNO.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Orgulho-me muito da amizade de V. Exª, Sr. Presidente, e volto a dizer o que tenho dito: V. Exª tem de andar lá pelo Rio Grande do Sul, porque o respeito de muito mais gente do que pensam que assiste à TV Senado é muito grande por V. Exª; muito, muito grande por V. Exª.

São 19 horas e 37 minutos de uma sessão que está andando porque tem alguém como V. Exª para presidir. Não era horário de eu estar falando aqui, mas venho e até prefiro que seja no final da sessão, porque tenho de falar de um assunto que eu preferiria não falar.

Está havendo uma insistência com relação aos fatos que estamos vivendo no Senado e o envolvimento de Senadores que estariam fazendo pesquisa, levantamento, uma série de coisas para investigar o Senador. Outro dia, apareceu um negócio com relação ao Senador Jefferson Péres, dizendo que a esposa dele trabalhava no gabinete dele. Eu nem perguntei, porque é uma questão íntima de cada Senador. Na semana passada, ele foi à tribuna, quando ficou sabendo, e disse: “Olha, não tenho nada a ver com quem tem ou não tem. Realmente a minha mulher trabalha comigo”, disse ele. “Ela é mais simpática que eu, ela fica o tempo todo lá atendendo e tal. Só tem uma coisa: ela não é funcionária do Senado; nem do Senado nem minha. Ela trabalha porque é minha mulher, minha esposa, está trabalhando comigo”.

E isso tem-se repetido. Vimos ontem aquele problema com relação a Goiás. Fui atingido também. Quando o Senador Renan falou naquela reunião secreta - e olha que é uma coisa chata reunião secreta, porque todo mundo conta o que quer, você não pode dizer se foi, se não foi, o que é, o que não é -, não vi o Senador Renan olhar para mim e dizer: “A jornalista tem uma produtora de televisão. Se eu quisesse, eu podia usar a televisão dela, a produção dela e colocar na conta do Senado”. Ele disse isso, mas não disse o que a imprensa escreveu: “Não é, Senador Pedro Simon?”. O que eu ouvi foi ele dizer: “Senador Pedro Simon [e, quando eu olhei, ele me disse], V. Exª está insistido muito que devo renunciar à Presidência do Senado, mas quero dizer a V. Exª que eu não posso renunciar à Presidência do Senado, porque, se eu renunciar à Presidência do Senado, estarei reconhecendo que sou culpado e eu não sou culpado”. Foi o que ouvi. Mas a verdade é que a imprensa publicou de um jeito...

Ontem, no jornal O Estado de São Paulo, e hoje, no jornal O Sul, de Porto Alegre: “Espionagem contra senadores reduz apoio a Calheiros”. Aqui aparece uma série de Senadores. “O Senador Pedro Simon foi acusado de utilizar as instalações da TV Senado irregularmente em 1996. Simon foi flagrado fazendo propaganda eleitoral para uma candidatura peemedebista no interior da emissora da Casa”.

Senadores Sérgio Zambiasi e Paulo Paim, que me honram aqui - como sempre, nós do Rio Grande estamos unidos -, eu não tinha falado com vocês. Vi agora no jornal. O Estado de S. Paulo, de ontem, faz referência ao Senador Pedro Simon e a mais uma série de coisas. É a mesma coisa.

Vim à tribuna para fazer um histórico, estou colocando todo esse material para fazer parte do meu discurso e vou mandá-lo para todos os jornais. Daqui para frente, não voltar a essa matéria; quando falarem de novo, eu mando o meu discurso de hoje.

Está aqui a Veja de 25 de setembro de 1996: “O rei do vídeo. Tucano usa e abusa da TV Senado na campanha [referem-se ao Senador Vilela Filho, que era presidente do PSDB, às eleições municipais de 96]”. Lá também se disse: “Também gravaram mensagem os Senadores Ramez Tebet, Romeu Tuma, Iris Rezende e Pedro Simon”. Foi isso que saiu a meu respeito na revista Veja de 25 de setembro de 1996.

No dia 30 de setembro, uma semana depois, eu vim à tribuna, e vou transcrever aqui, para os Anais, o discurso que proferi.

Eu tenho uma imagem de respeito à imprensa, quando está do meu lado e quando está contra mim, eu tenho uma imagem imparcial nesse sentido.

A imprensa tem sido, principalmente nos últimos anos, algo assim como os olhos de Deus na prática política e no tratamento da coisa pública [apontando as mazelas, os equívocos e as coisas que devem ser corrigidas].

[...]

Com a revista Veja não é diferente, ela sim parece ter o dom da onipresença. Na sua última edição, a de nº 1.463, ela me flagrou a cometer um pecado que eu classificaria como involuntário [...].  

Aí eu conto que o pedido feito era para as eleições municipais. Eu fiz mais de cinqüenta gravações de televisão a pedido de candidatos a Prefeito do meu partido por todo o Brasil.

A pedido do Senador Tebet, eu fiz uma gravação para um candidato - à época Prefeito de Campo Grande e hoje Governador do Mato Grosso. Quando fui ver essa gravação, quando fui investigar o que havia acontecido, constatei que a equipe do candidato que veio ao meu gabinete e fez a gravação usou equipamento da TV Senado. E isto eu fiquei sabendo: o equipamento era da TV Senado.

O que eu fiz? Primeiro, mandei um ofício cuja cópia tenho aqui - foi publicado no Diário do Senado Federal de terça-feira, 1º de outubro de 1996. No ofício aparece o seguinte o nome da empresa: Apoio Empreendimentos de Comunicação Ltda. É uma empresa técnica, especializada, que faz essas gravações, e disse que, para usar por dez minutos - tempo que usei - aquela aparelhagem, o valor era x. Eu peguei esse dinheiro e depositei na conta do Senado. Está aqui o número da conta e está aqui o comprovante de que eu depositei: Banco do Brasil, conta número tal e a importância que eu depositei em nome do Senado.

Mandei ofício ao Senador José Sarney, que era o Presidente do Senado à época, dizendo que a revista Veja colocou meu nome como um dos envolvidos e que fui ver, tal. Foi o único caso. Foi uma vez que apareceu meu nome em uma das gravações, no pleito de 3 de outubro, relatado por Veja. “Com o propósito de sanear este erro - repito, involuntário - decidi ressarcir os cofres do Senado Federal [...]”. No ofício, expliquei que estava pagando, devolvendo ao Senado o correspondente àquela gravação e depositando o dinheiro no Banco do Brasil.

Estou acrescentando aqui a carta que eu mandei para a revista Veja, onde agradeço, digo que o ato foi feito, mostro a minha ação.

A revista Veja, de 2 de outubro de 1996 - está aqui -, publica na seção Carta ao Leitor, com uma fotografia minha, o seguinte: “A sabedoria de um senador”. Acho positiva essa parte, que é o exemplo do que eu acho que deve fazer a imprensa brasileira, mas que, às vezes, não faz: publica matéria e não publica a retificação. Aqui a revista está publicando, com destaque até maior, modéstia à parte, a retificação: “A sabedoria de um senador”. Explica como foi, fala da acusação que fez de que eu tinha recebido, de que tinha visto, tinha vindo uma empresa técnica, era a importância x, que depositei na conta do Senado no Banco do Brasil.

Escrevi para a Veja dando todas essas explicações, e ela termina - eu poderia ler o editorial todo, que é bonito, modéstia à parte - dizendo o seguinte: “Veja já andou às turras com Pedro Simon. Algumas vezes, o senador estava certo. Noutras, a revista. Desta vez, no entanto, Pedro Simon não só mostra sua correção como dá uma lição de sabedoria.” É assim que a revista que publicou a matéria conclui, com as minhas explicações.

Tem mais ainda. O saudoso e querido Senador Tebet... Só falo para mostrar a grandiosidade do querido Tebet, se não fosse isso, nem tocaria no nome dele. O que ele faz? Manda uma carta para mim, dizendo que eu tinha atendido um pedido dele para fazer a gravação e que ele não sabia de que maneira tinha sido feita. E que ele tinha insistido para que eu recebesse aquela importância e que eu não aceitei. Ele depositou a importância, em meu nome, no Senado. Está aqui a carta.

O que eu fiz? Peguei essa importância e depositei na conta da senhora que servia o cafezinho - de acordo com o meu levantamento, no Senado, era quem recebia menos. Peguei o comprovante do cheque depositado em nome dela: está aqui nos Anais do Senado.

O Tebet ficou irritado comigo, porque achava que ele é que tinha de pagar, e eu fiquei irritado com ele, porque ele não tinha culpa nenhuma. Ele fez a parte dele, achou que tinha de depositar na minha conta. Peguei aquele dinheiro e depositei, em cheque, na conta da funcionária aqui do Senado. Foi isso o que aconteceu.

         Onze anos depois, publicarem, como está sendo publicado aqui... "Renan levanta dados sobre despesa de todos os Senadores". E eu apareço aqui com essa acusação. Nos jornais da minha terra apareço aqui... Como é? Meu Deus do Céu! Meu Deus do Céu! Fui acusado de utilizar as instalações da TV Senado irregularmente: "Simon foi flagrado fazendo propaganda eleitoral para um candidato peemedebista do interior na emissora da Casa".

Continuo felicitando a imprensa brasileira. Acho que é assim que se faz. Cumpri minha parte. A televisão cumpriu a parte dela. Só não entendo o fato de, dez anos depois, aparecer uma matéria que foi amplamente esclarecida, com o órgão que fez, inclusive o jornalista... Quero agradecer ao jornalista, que era da Veja e hoje está no Estadão e dizer que fiquei emocionado, o jornalista Expedito. Foi ele que me avisou, porque eu não sabia. Eu não sabia nem que... Quando vi essa matéria, pensei: “Mas que negócio de produção de televisão? Nunca usei esse negócio de televisão!” Onze anos depois, eu não lembrava desse episódio. Não me lembrava, digo de todo coração. Eu não me lembrava. Eu estava simplesmente desmentindo. Aí ele falou: “Senador, houve aquilo. Eu estava na Veja quando saiu aquela matéria; o senhor fez isso, fez isso, fez isso”. E tem a segunda matéria. Quem fez essa matéria só pegou o primeiro pedaço, pegou a primeira publicação e não pegou a segunda, que continha toda a retificação.

É o meu estilo. Meu estilo é esse.

Não ganho aposentadoria de Governador. Não ganho. Quem ganha, ganha bem. Não ganho, e não ganho mal. Não ganho aposentadoria que preenchi como Deputado Estadual. Agora, quando renunciei ao Governo do Estado para ser candidato a Senador, ganhei, porque fiquei seis meses... Só vivo com o salário do Senado. Só tenho isso. Então, recebi. Recebi, como Senador, quando da renúncia até a minha posse aqui. O que aconteceu? Assumi. Assumi, entreguei meu mandato, Senador da República, sentei na cadeira. Nem me passou pela cabeça que eu ia continuar recebendo a aposentadoria do Senado. A contabilidade é uma só, a tesouraria é uma só. Como eles me pagaram? Como Senador, tanto; e como aposentadoria do Senado, tanto. Achei aquilo ali estranho. Um mês, dois meses. Deixei um ano, não mexi no dinheiro. Não mexi, aquela conta estava ali, foi depositando ali, depositando, depositando. Quando completou um ano, vim para esta tribuna. E por que eu fiz isso? Não era para aparecer, não era para nada. Era para mostrar a este País como as irregularidades existem sem má-fé e como quanta coisa, quando tomamos conhecimento... O “cara” já morreu há 20 anos e continua ganhando aposentadoria, não sei o quê, não sei o quê! No Senado, já aconteceu disso.

Então, eu vim para esta tribuna. Mostrei o cheque que eu tinha depositado na conta do Senado Federal, mostrei que não tinha mexido naquele dinheiro. E disse para o Presidente: “Sr. Presidente, estou aqui há um ano. Esperei um ano. Agora, mais que um ano, nem filho de burro leva para nascer. Eu esperei um ano para ver se a coisa iria ser alterada”. Eu estava com o dinheiro guardado, os “caras” iriam querer cobrar: “mas você recebeu irregularmente”. E estava lá no Banco do Brasil depositado o dinheiro. Vim, dei a explicação, mostrei para o Presidente Sarney a conta, o cheque, o depósito, e tudo bem! Dei a explicação para a imprensa, e tudo bem!

Então, quero dizer que não podemos brincar com a honra de ninguém.

Eu faço assim. Eu era líder da oposição no Rio Grande do Sul, Sr. Presidente, numa época muito dura. Desculpem-me, mas o Rio Grande do Sul sofreu mais do que qualquer outro Estado. O Brizola era do Rio Grande do Sul, o Jango, que tinha sido deposto, era do Rio Grande do Sul, e estavam ali do lado, no Uruguai. Então, massacraram-nos. O Peracchi foi “eleito” - entre aspas - Governador na Assembléia. Primeiro, tiraram do povo o direito de eleger; a eleição foi para a Assembléia. Na Assembléia, fizemos um entendimento: tínhamos 33 Deputados e apresentamos a candidatura do Cirne Lima. Pois o Governador cassou, fez o que podia e o Peracchi foi eleito com 23 votos, numa Assembléia com 55. Então, o clima era pesado entre nós e o Peracchi, Governador do Rio Grande do Sul.

Aí, houve um episódio grave, a fazenda Santa Rita, um negócio gravíssimo envolvendo venda pela metade do preço. Foi um escândalo. Ao final, fui para a tribuna dizer que o Peracchi não tinha responsabilidade. As pessoas do MDB não gostaram disso, mas eu estava lá dentro, e disse: “Ao Coronel Peracchi quero dizer que estão envolvidos na história da fazenda o fulano de tal, o fulano de tal, o fulano de tal”. Dei os nomes. “Agora, quanto ao Governador, tenho a convicção e provo que ele não sabia de nada.” O Coronel Peracchi chorou quando pronunciei isso. Disse: “Poxa, esse rapaz tinha uma oportunidade...”, porque era a minha palavra contra a de ninguém, “e faz uma coisa dessas”.

Mas esse é o meu estilo. É o meu estilo!

O MDB sempre teve a maioria na Assembléia do Rio Grande do Sul, mas não nos deixavam eleger o Governador. Em 1986, fizemos uma esmagadora maioria de Deputados, mas o Governador foi nomeado; quatro anos depois, cassaram tantos quantos necessários - tínhamos maioria no Colégio Eleitoral, “Assembléia Legislativa” -, cassaram tantos quantos necessários para eleger o Coronel Triches.

Olha que eu dei duro, bati, sofri. Mas eu tinha um lema: o que é bom para o Rio Grande do Sul é bom para o MDB. Não deixei que se misturasse a raiva que tínhamos do governo, daquela gente da polícia pelo que faziam conosco, com as coisas que interessavam ao Rio Grande do Sul.

Eu, Presidente do MDB, líder da bancada, fui presidente da comissão que levou para o Rio Grande do Sul a Aços Finos Piratini. Fui presidente da comissão que levou para o Rio Grande do Sul o terceiro pólo petroquímico. E éramos da oposição. Falaram: “Não pode fazer isso. Esse pólo é uma coisa fantástica, vai gerar milhares e milhares em mão-de-obra, é um mar de dinheiro. Vão usar contra você”. Eu disse: “Não importa, é a favor do Rio Grande do Sul”.

Acho que esse é o estilo de fazer política, é o estilo de fazer política que eu tenho.

Por exemplo, tem Senadores que falam com uma vibração, com uma garra. Eu não sei falar assim quando se trata de cobrar de alguém. Só fui advogado de defesa. Nunca fiz uma acusação em toda a minha vida, só trabalhei na defesa. Vejo meu amigo Demóstenes, que foi Promotor, só trabalhou na acusação. Ele é brilhante. Quando fala, ele fala com garra, ele bate assim. Fico admirado, porque acho que é uma categoria dele que eu não tenho.

Quando falo do nosso querido Presidente do Senado, falo com profundidade. Estou machucado e estou vindo agora, às 8 horas da noite, para falar e mostrar ao Sul e ao Estado de São Paulo uma circunstância que aconteceu onze anos atrás, que não tem nada; mas venho porque tenho obrigação de explicar. “Mas como que é o Simon que é isso, que aquilo, de repente tem essas coisas?” Eu entendo que o Renan tem o direito de debater, de discutir, de fazer interrogações. Ele tem o direito. Mas quando digo que o nosso Presidente Renan deve se afastar da Presidência do Senado, não estou falando como opositor a ele.

E já quero deixar muito claro que, quando falamos e conversamos com a oposição, se porventura o Renan se afastar ou for afastado, não me passa pela cabeça participar de qualquer entendimento visando aproveitar isso para pegar alguém de oposição e fazer oposição na Presidência do Senado.

Se isso acontecer, temos que fazer como fizemos com o Tebet. Quando o Jader saiu, o Tebet era Ministro, mas era o homem que tinha a unanimidade da Casa - não é verdade, Senador? -, tinha a unanimidade da Casa. Era um homem que, de um lado tinha apresentado a denúncia contra um Senador da República, pedindo a cassação dele, e, de outro, era um homem que tinha independência com relação ao governo. E foi uma unanimidade o trabalho dele, foi uma unanimidade o trabalho dele. E veio para a Presidência do Senado e fez um trabalho brilhante. Mas a sua escolha foi assim: conversou-se, conversou-se e tal e chegou-se a um entendimento.

Alguém fala no Jarbas. Eu sou apaixonado pelo Jarbas. O Jarbas é um ideal, uma identidade, um idealismo, uma pureza; o Jarbas está acima do bem e do mal, porque diz as coisas dele, é autêntico em tudo que fala. Quando falaram, eu disse na frente dele: “Eu acho que não é para proveito do Jarbas; nem falo em mim, porque ninguém fala em mim, mas também...” E o Jarbas disse da tribuna: “Estão falando o meu nome, parem com isso. Eu não posso ser candidato hoje a Presidente do Senado porque sou contra este Governo, não gosto deste Governo, acho que está errado. Então, não tenho isenção para ser Presidente do Senado”. Isso é um gesto de grandeza. É um gesto de grandeza.

Ninguém está preocupado em pegar... E não vejo, sinceramente não vejo, nem no PSDB, nem nos Democratas, nem nos outros partidos qualquer preocupação para usurpar o cargo, pelo amor de Deus, não estou vendo isso. Até no início eu dizia isso. O senhor se lembra quando o nosso Presidente fez o discurso dele da Presidência? Ele fez o pronunciamento dele na Presidência. Todo o Senado, inclusive eu, entrou na fila para felicitá-lo, embora ele tenha errado. Ele não deveria ter falado da Presidência, deveria ter ido para a tribuna. Mas o Líder do Governo pediu: Presidente, peço ao senhor para suspender a sessão para os abraços ao Presidente do Senado. Não era o Presidente do Senado, era um Senador que estava respondendo a uma denúncia. Ali ele tinha unanimidade. O PSDB estava com ele, o Líder do PSDB foi abraçá-lo. O PFL, os Democratas de hoje, também estava com ele. O MDB. A Líder do PT, meu Deus! Não podíamos tocar no nome do Presidente do Senado que ela virava uma leoa! Nunca vi ninguém defender tanto, com tanta convicção e paixão, como ela defendia o Presidente! Foi ali que fui ao seu gabinete falar com ele: “Renan, te licencia, te afasta. Tens que dar um exemplo de isenção e de grandeza. Está todo mundo contigo”.

Ele foi mal aconselhado. Nosso ex-Presidente... Alguns nomes, faço questão até de me esquecer, mas foi o Presidente do Senado que renunciou, do Pará... Jader. Ele foi falar com o Presidente Renan, dizendo o seguinte: “Olha, não te afaste. Eu me afastei, virei um morto-vivo andando por aí e depois tive que renunciar para não ser cassado”. Normal o que se fez. Anormal foi o Sr. Jader dar esse conselho infeliz. Isso martela na cabeça do Renan. Não era a mesma circunstância. Até então, era aquele primeiro caso, que ele respondeu com muita categoria: “Tive um caso. Atire a primeira pedra quem pode fazer”. Não vi ninguém querer atirar, até porque não dava. E ele teria saído com categoria. Está lá, pagou a pensão, a coisa estava resolvida. Infelizmente, ele não... Eu não pedi a renúncia. Pedi a licença.

Pois, hoje, venho aqui para dizer a mesma coisa.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Simon, V Exª permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Só um minuto e já lhe darei.

Eu digo: “Renan, te licencia!”. Eu fiquei preocupado com o Renan ontem. Reparem que o Dr. Getúlio Vargas sofreu muito menos pressão e foi ao suicídio. O que ele está sofrendo de pressão é qualquer coisa de impressionante. Eu já teria largado há muito tempo! Ele tem uma capacidade de resistência, a fibra dele... Eu tiro o chapéu! Mas, ontem, ele mostrou que sua fibra está no fim. Está. Reparem a diferença entre as primeiras vezes que ele falava da Presidência, e falava com um, e dava aparte e não sei o quê, e ontem. Ontem, ele saiu do normal: a cassação da palavra do Mercadante, a cassação do término do Senador Demóstenes aqui, ele falando da Presidência, gesticulando. Quer dizer, ele está... Eu acho que não é hora nem momento de se querer criticar, de se querer cobrar. Eu tenho curso de Psicologia, embora não exerça a profissão, e digo isto: fiquei preocupado porque acho que ele está num esgotamento. Ele está numa situação realmente delicada. E, quando vejo a angústia dele, aquilo...

Eu, quando falei para dar um aparte a ele, falei devagarzinho, quase tinha medo de falar, porque eu olhava para ele e dizia: “Meu Deus do céu!”. Então, eu acho que a gente devia fazer uma pausa, e o nosso querido Presidente Renan se licenciar. Vai fazer uma recuperação, vai fazer um descanso, vai respirar.

Eu acho que ninguém tem dúvida da seriedade, da responsabilidade do 1º Vice-Presidente. Ninguém vai levar isso em dúvida. O 1º Vice-Presidente não vai ser menos fiel em cumprir as questões do que o Presidente do Senado de hoje, o Renan. O 1º Vice-Presidente vai ter autoridade, vai ter autenticidade, vai ter condições, realmente, de levar adiante, e não vai deixar as interrogações, porque nada do que o Presidente fez, se fosse o outro, teria tanta interrogação. Mas tudo que o Presidente fizer - o Renan - deixa uma interrogação, porque é ele que está em juízo.

Vim aqui para me defender e para felicitar a escolha do Jefferson Péres. Isso já mostra que o Presidente Renan, ontem, naquela sessão dramática, teve a humildade de se recolher, e a primeira resposta é a indicação do Jefferson Péres. Nota dez. Pela isenção, pelo caráter, pela seriedade do Jefferson Péres, sabemos, realmente, que foi um ato de muita coragem e de muito respeito.

Se o Presidente Renan se licenciar e for recuperar os seus nervos, a angústia, que deve sentir, S. Exª vai fazer muito bem para si e para a Casa. E a Casa, sem essa angústia que vive hoje, vai ter a serenidade para fazer o julgamento.

Pois não, Senador Paulo Paim.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Simon, de forma muita rápida, quero primeiro dizer que a sua história, a sua vida avaliza, não só para este plenário, mas para o Rio Grande e para o País, a sua conduta. Conseqüentemente, Senador Pedro Simon, sinto-me até privilegiado, porque V. Exª comentou comigo e pude ler os documentos que V. Exª levou para a tribuna.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Comentei, não. Aconselhei-me com V. Exª e com o Senador Sérgio Zambiasi.

O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - V. Exª não precisava, como disse muito bem, fazer esse comentário de notícias infundadas, de fato muito bem explicado pela própria revista Veja, acontecido há onze anos. Assim mesmo, V. Exª foi à tribuna, e mais uma vez deixa claro ao País porque é tão querido por todos. A segunda questão, Senador Simon, é que deixo aqui registrada a minha solidariedade em relação ao fato de o PMDB retirar V. Exª e o Senador Jarbas da CCJ. Faço isso com o maior carinho e respeito a V. Exª, porque V. Exª também demonstrou solidariedade a mim quando, em um momento no passado, quando eu era Vice-Presidente, fui retirado da Comissão Mista Especial do Salário Mínimo. Sei o quanto isso é chato, o quanto isso nos deixa desgostosos, essa conduta totalmente equivocada do PMDB quando retira V. Exª da CCJ. Fica aqui registrada a minha total solidariedade. Repito: a sua vida mostra para todos nós que a sua conduta, a sua forma de agir é intocável. Eu diria que o Rio Grande do Sul, neste momento, está vendo este debate com muito orgulho do seu Senador Pedro Simon. Parabéns a V. Exª!

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu fico emocionado e agradeço. Uma prova do respeito recíproco e de que nós conseguimos o fato meio inédito de três partidos diferentes, três correntes diferentes estarem juntas quando se trata do Rio Grande do Sul é que, nesta hora, 20 horas e 8 minutos, V. Exª e o Senador Zambiasi estão aqui para me honrarem com as suas presenças.

Senador Sérgio Zambiasi, concedo um aparte a V Exª.

O Sr. Sérgio Zambiasi (Bloco/PTB - RS) - Senador Pedro Simon, eu estava, como todos aqui no plenário, acompanhando a sua manifestação, e V Exª nos permitiu viajar um pouco na história política do Brasil e também do nosso Estado. Acho que são momentos ricos para esta Casa acompanhar uma manifestação como esta que estamos vivendo neste momento, com a franqueza, a clareza e a transparência que caracterizam a sua vida. É verdade que conseguimos construir na Bancada de Senadores do Rio Grande do Sul um conjunto de ações e de atuações que nos deixam muito felizes e, com certeza, aos gaúchos também, porque sabem que, quando o tema é de interesse do Estado, não existem diferenças entre nós, em nenhum sentido. Nós estamos aqui para uma causa, e a principal causa que nos traz até aqui é o nosso Estado, o Rio Grande do Sul, mesmo esta sendo uma Casa da Nação. Então, o Estado tem consciência desse processo. Cheguei a comentar com o Senador Pedro Simon, ao perceber a sua preocupação com a ilação da notícia, que a grandeza do seu personagem, da sua pessoa, da sua história, não exigiria sequer uma explicação da tribuna. Mas, agora, vejo que eu estava errado, porque V. Exª reafirma a grandeza do seu caráter, a retidão da sua conduta, e nos ensina, mais uma vez, que criticar uma posição não é ofender, que ter uma posição não é agredir. E somos testemunhas aqui de que a primeira voz neste plenário a sugerir ao Presidente Renan que se licenciasse foi a sua. Nesse sentido, V. Exª foi a primeira voz, neste plenário, absolutamente respeitosa. V. Exª não sugeriu renúncia, não sugeriu afastamento. Com sua sabedoria, com sua experiência de muitos anos na vida pública, tendo vivido e superado muitas crises - seja nesta Casa; seja no Executivo, como Governador de Estado ou como Ministro; seja como Deputado Estadual, conduzindo a Assembléia; na Oposição, no tempo da ditadura -, V. Exª teve a serenidade de propor uma saída política adequada para aquele momento. Então, é bom se resgatar também aquele momento, quando a crise ainda estava apenas ensaiando nesta Casa. V. Exª, de forma respeitosa, propõe, publicamente, corajosamente, de forma transparente, a licença do Presidente, para que S. Exª possa, com serenidade, trabalhar sua defesa e para que a Casa continue trabalhando. E, como bem comentou o Senador Paim, este também é o momento para - sem querer entrar nos assuntos internos da Bancada do PMDB - registrarmos nossa solidariedade, por um fato que, do nosso ponto de vista, foi um ato de injustiça. O Senado e a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania desta Casa precisam da sua presença, da presença do Senador Jarbas Vasconcelos e da presença de tantos quantos têm toda essa sabedoria, essa experiência, essa sensibilidade política para analisar os projetos, com a responsabilidade que se exige na análise dos projetos. Após tantas manifestações - e o Brasil inteiro manifestou-se -, não tenho dúvida de que, hoje, o Senador Pedro Simon é uma das pessoas mais queridas, mais respeitadas deste País. Espero que a Liderança do PMDB possa rever essa situação e que a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania o tenha de volta logo, para que V. Exª possa continuar oferecendo sua experiência como forma de contribuição, a fim de que esta Casa continue seu caminho, sua história. Parabéns por tudo, Senador Pedro Simon! Estamos felizes por este momento! Engrandecidos, ouvimos um pouco das experiências da sua vida, que, não tenho dúvida, servem para reforçar a história política do Brasil. Cumprimento-o realmente pela sua transparência, por sua franqueza e pela forma justa com que sempre se manifesta.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado, Senador Zambiasi. V. Exª, o Senador Paim e eu consolidamos aqui uma amizade que me parece muito importante, o que demonstra que se pode, quando se quer, ter uma identidade de propósito pela busca do bem comum.

Não nego a V. Exª e ao Senador Paim que fiquei magoado. Estou há 25 anos no Senado. Ora, 25 anos é um quarto de século! Não acredito que eu fique aqui muito tempo. Faço aniversário exatamente no dia em que termina meu mandato: 31 de janeiro. Daqui a sete anos, estarei com 85 anos; o termo certo não é “estarei”, mas, sim “poderei fazer” 85 anos. Na minha família, ninguém chegou a essa idade. Meu pai, minha mãe, meus tios, meus avós, ninguém chegou a essa idade. Se eu chegar...

Eu disse ao PMDB do Rio Grande do Sul: “Terminei minha carreira”. Eles me disseram: “Mas o senhor não deve dizer isso”. “Mas, por que não devo? Ninguém vai me aceitar com 85 anos”. Perguntaram: “Mas e se o senhor chegar aos 85? E se o senhor decidir ser candidato?”. Respondi: “Bom, aí vocês me levem para um asilo de loucos, porque terei enlouquecido! Posso fazer até muita coisa, se Deus me ajudar, mas fora de uma posição dessa”.

Então, há 25 anos, no primeiro dia em que cheguei aqui, mandaram-me para a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Estou lá até hoje. Nunca fui Presidente de Comissão, não é meu estilo. Nunca presidi Comissão: nem Comissão mista, nem CPI, nem Comissão permanente, nunca fui membro de Mesa nenhuma. É meu estilo. Mas que machucou, machucou! Mas tenho de olhar para frente. Até tenho mexido com o pessoal, dizendo: “Faço parte de Comissão demais. Posso, agora, dormir até um pouco mais tarde”. O diabo é que levanto cedo e não sei o que fazer.

Ouço o Senador Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Caro Senador Pedro Simon, desde o primeiro dia em que passamos a conviver aqui, nesta Casa...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Senador Suplicy, perdoe-me, mas tenho de dizer mais uma vez algo que já disse dez, quinze vezes. Querido Senador Arns, houve época em que, aqui, em seu Partido, só havia o Suplicy. Só havia um Senador no seu Partido. E sou capaz de dizer que o Suplicy dava mais trabalho do que o PT hoje.

Em primeiro lugar, não consigo entender! No Rio Grande do Sul, há um Prefeito e um Deputado de Guaporé, Fernando Postal e Alexandre Postal, respectivamente, que são irmãos gêmeos: um é igual ao outro. Todos mexem com eles, dizendo que, nos grandes comícios, em final de campanha, um vai à frente; o outro, atrás. O Suplicy parecia que estava em vários lugares.

Vejo V. Exª como um respeito muito grande. Não se sabia para onde é que ia o PT; não se sabia o que seria o PT. Os trabalhadores o criaram. E V. Exª, aqui, desde o início, defende sua bandeira. Com o maior respeito, vejo V. Exª, o Senador Paim e o Senador Flávio Arns. V. Exªs são firmes em tentar manter uma identidade em relação àquilo que foram e em relação àquilo que são. Enalteço uma posição como essa. O Partido está no Governo há oito anos, e dizer “sim” para o Partido é a coisa mais simples. Os cargos estão abertos. V. Exª disse “sim” à coerência. Isso não significa dizer “não” ao Partido, mas significa dizer “sim” à coerência.

Penso assim também, identifico-me com a idéia. Hoje, sou incompreendido, porque digo, com toda sinceridade, que o PT foi um Partido fantástico na Oposição.

Quando eu era do MDB, na época da ditadura, pensei que eu estava chefiando as Cruzadas. Aquela minha gente do MDB era de luta, era de garra. No Rio Grande do Sul, era ditadura, era cadeia, era prisão, era tortura, era desaparecimento! Tínhamos de juntar os tostões. Lembro-me, como se fosse hoje, do Prefeito de Porto Alegre, Sereno Chaise: ele estava preso, na cadeia, e tínhamos de ajudar a família dele a se recompor. Isso aconteceu centenas de vezes, e aquela gente lutava. Pensei que éramos os novos Apóstolos! Quando chegamos ao Governo, vi que não era bem assim. Isso aconteceu com o PSDB, que saiu do PMDB, porque éramos puros, mas, quando chegaram ao Governo... E isso aconteceu com o PT.

Passei oito anos criticando Fernando Henrique Cardoso, que era Ministro da Fazenda, um baita cara! O homem escreveu, escreveu e mandou que esquecessem o que ele escreveu quando foi para o Governo. Eu era para ser o Líder do Governo dele. Saímos juntos do Palácio: o Itamar, ele e eu. Ele era nosso candidato; saímos juntos. Mas, quando percebi, não pude aceitar e passei oito anos ao lado do PT, batendo.

Agora, quando falo que estou do lado do PSDB, batendo no PT, as pessoas perguntam: ”O que é isso?”. Com todo respeito, o nosso querido amigo Lula é um Fernando Henrique com mais competência. Fernando Henrique era um intelectual de primeira grandeza, um escritor espetacular, um orador, o melhor que conheço; o outro, um operário, também malandro, fala muito bem, é de outro jeito, tem outras características, mas as duas pessoas, para mim, estão se confundindo, estão se identificando.

A social-democracia, quando Fernando Henrique entrou, era moda no mundo inteiro, não somente no Brasil. A social-democracia estava na França, com Miterrand; estava na Espanha, com Felipe González; estava na Inglaterra, com o então Primeiro-Ministro que terminou de deixar o governo; e chegou ao Brasil. Mas não era social-democracia. E, com todo o respeito, o PT também não foi um Partido de esquerda progressista. Mas V. Exª está lá, com seu projeto de renda.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - É o projeto de renda básica de cidadania, já aprovado, sancionado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Está defendendo seus princípios, e eu o admiro muito. Digo, do fundo do coração, que o admiro muito. Fiquei muito magoado com uma manchete que vi nos jornais. V. Exª, no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, discordou e apresentou uma proposta, e a manchete do jornal dizia: “Lula: quem botou o Suplicy no Conselho de Ética?”. Meus cumprimentos a V. Exª. Termine o aparte.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Caro Senador Pedro Simon, o pronunciamento de V. Exª, hoje, faz-me ter a certeza de que têm sido bons os momentos em que eu, tantas vezes, aqui conversei com V. Exª, inclusive para me aconselhar quanto aos melhores caminhos vividos por ambos no Senado Federal. Quero dizer a V. Exª, com sua experiência e com seu conhecimento, que os princípios e anseios que tem, que são próprios do povo gaúcho e do povo brasileiro, hoje reconhecidos em todo o território nacional, são muito próximos dos meus. V.Exª, com a forma transparente com que esclarece os fatos, hoje, dá mais um exemplo disso. Comungo com V. Exª também com respeito à boa nova que surgiu, hoje, no Senado: a designação do Senador Jefferson Péres, feita pelo Senador Leomar Quintanilha. V. Exª quase quis dizer, no seu pronunciamento, que teria sido uma decisão do Senador Renan Calheiros, mas acredito que devamos reconhecer e dar esse mérito ao Senador Leomar Quintanilha.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Por amor de Deus, V. Exª está-me deixando mal!

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - É que V. Exª fez uma observação.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não, não, V. Exª foi correto. Quero dizer que cometi um equívoco. Tenho o maior carinho e a maior amizade pelo Senador Leomar Quintanilha e não tenho nenhuma dúvida de que S. Exª tomou a decisão, mas também não tenho nenhuma dúvida de que o Senador Renan o aconselhou. Os dois conversaram, e a decisão foi do Quintanilha, depois de ouvir o Senador Renan.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Quero-lhe dizer que, ainda ontem - acredito que até passei por V. Exª -, vim aqui, onde estavam os Senadores Leomar Quintanilha e Valdir Raupp. Disse a S. Exª, no meio da tarde: “Olha, é muito importante que venha logo a escolher o Relator”. Saí daqui, e uma senhora aqui postada, por acaso, ouviu-os conversando. E um disse para o outro: “Quem sabe ele pudesse ser escolhido Relator!”. O outro falou: “Sim, seria bom, mas agora já escolhi o Senador Jefferson Péres”. Soube disso ontem à noite e achei ótima a escolha. Cumprimentei o Senador Jefferson Péres e aqui quero reiterar o cumprimento. Digo a V. Exª que, se algum dia - e espero que isto não ocorra -, eu cometer alguma bobagem, alguma incorreção, e se V. Exª e outros levarem-me, por justiça, ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, se for o Senador Jefferson Péres o escolhido para relatar, estarei certo de que a justiça será procurada. Tenho certeza disso e eu o disse, hoje, ao Senador Renan Calheiros. Hoje à tarde, quando S. Exª veio aqui, eu concluía meu pronunciamento - V. Exª adentrava o plenário - e tive a oportunidade de lhe falar, como amigo, como irmão, como se irmão eu fosse dele - conforme V. Exª, ontem, tão adequadamente falou como amigo -, que seria bom se S. Exª se licenciasse. Vejo, agora, no portal Terra, uma declaração do próprio Senador Renan Calheiros de que S. Exª é como um coco: o coco pode cair naturalmente, mas, muitas vezes, as pessoas precisam subir na árvore para arrancá-lo. Ele disse que só sairá como um coco arrancado. Quero ponderar, mais uma vez, em concordância com o que V. Exª, Senador Pedro Simon, está procurando transmitir: Senador Presidente Renan Calheiros, não se trata, de maneira alguma, de querer arrancá-lo do topo da árvore. O que o Senador Pedro Simon e outros estão dizendo é que, no nosso entender, isso será melhor para V. Exª, Presidente Renan Calheiros, em quem votamos por duas vezes.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Por duas vezes, nele votamos.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Estamos percebendo que, assim, o Senador Renan Calheiros poderia dedicar todo o seu tempo - ainda mais que o próprio Senador Jefferson Péres disse que, até o dia 02 de novembro, espera concluir e que os demais Relatores também se comprometeram a fazer o mesmo até a semana de Finados - não para descansar, porque tem a árdua tarefa de explicar os fatos, mas para se colocar à disposição dos Relatores João Pedro, Almeida Lima, Jefferson Péres e daquele que ainda deverá ser designado para o caso Francisco Escórcio. Ele poderia dizer: “Olha, estou à disposição para colaborar intensamente com os Senadores Relatores e com o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Perguntem-me o que vocês quiserem e chamem-me na hora que for preciso. Se quiserem, faço um diálogo com o Sr. João [o que foi seu sócio e fez uma denúncia] para um esclarecimento. Se for necessário um diálogo com ele, vou ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar e me disponho a esclarecer inteiramente, para que as Srªs Senadoras e os Srs. Senadores possam avaliar”. O Presidente Renan nos afirma que sua verdade é inteira e que, no seu entender, não feriu o decoro parlamentar. É preciso que, dada a circunstância e a forma como a imprensa e os meios de comunicação o estão tratando, S. Exª possa nos persuadir e o povo brasileiro, para que retorne com tranqüilidade à Presidência do Senado Federal se todos nós julgarmos e avaliarmos que S. Exª não feriu o decoro parlamentar. Hoje, conversei com V. Exª a respeito de qual seria o amigo próximo, o irmão que lhe pudesse dizer isso, para sensibilizá-lo. V. Exª, no meu entender, é, em especial, esse amigo, seu companheiro de Partido. Queira Deus esteja o Senador Renan Calheiros ouvindo a recomendação de V. Exª, dessa forma, ainda mais diante da observação dele, de que é como o coco e de que só sai dali arrancado. Sei que V. Exª não deseja arrancá-lo lá de cima da árvore. V. Exª quer dizer ao amigo: “Proceda da melhor maneira; eis o caminho melhor para você, meu amigo”.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado, Senador. Muito obrigado. Obrigado mesmo.

Senador Garibaldi Alves.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Pedro Simon, creio que o povo do Rio Grande do Norte, a comunidade norte-rio-grandense, espera uma palavra minha, neste momento. Na verdade, eles não me entenderiam se eu não dissesse a V. Exª que, no outro lado do País, no outro extremo, no outro Rio Grande - e há pouco eu dizia a V. Exª, na presença da Governadora Yeda Crusius -, o Rio Grande mais pobre, o Rio Grande do Norte, lá também, não somente no seu Rio Grande, mas nesse outro Rio Grande, V. Exª é ouvido, V. Exª é acatado, V. Exª é respeitado. V. Exª sabe disso, porque já foi lá e já sentiu o carinho da nossa gente. Já participou de lutas políticas. Portanto, venho trazer esta palavra. Já trouxe a palavra de solidariedade; agora trago uma palavra de amizade, de carinho por V. Exª, sobretudo porque sempre tive por V. Exª a maior admiração. Sou daqueles que ainda tenho um livro de V. Exª, publicado com seus discursos na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. Está lá na minha estante, fazendo com que eu possa, aqui e acolá, ler o que V. Exª dizia, com a certeza de que V. Exª não mandou ninguém esquecer o que V. Exª disse quando era Deputado Estadual. Estou ao lado de V. Exª nesta nossa luta para salvar a dignidade do Senado, para que o Senado volte a ser a Casa maior da Federação, representando nossos Estados, tanto o Rio Grande de V. Exª como o meu Rio Grande. Muito obrigado, Senador.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Fico muito emocionado com V. Exª. Realmente, desde seu primeiro mandato, temos nos respeitado, e tenho acompanhado o brilho de V. Exª. São impressionantes a liderança e o prestígio que V. Exª tem no Rio Grande do Norte, com esse seu estilo manso, tranqüilo, sereno de falar, e é a grande voz nas horas difíceis.

Hoje V. Exª tomou uma posição corajosa. V. Exª realmente vem se debatendo no sentido de encontrar uma fórmula, não contra ninguém, mas a favor do nosso País, do nosso Rio Grande e do nosso querido PMDB. Essa luta nós vimos travando há longo tempo, V. Exª com a sua competência, com a sua capacidade, no sentido de que nos lembremos das nossas origens. Nós nascemos na hora de uma aliança popular, na dramaticidade dos momentos que esta Nação já viveu, quando as armas dos militares pareciam que iam durar uma eternidade, vimos vindo, e não podemos agora esquecer nosso passado. V. Exª é uma das figuras mais dignas, mais corretas e por quem tenho uma grande admiração. Muito obrigado a V. Exª.

Senador Flávio Arns.

O Sr. Flávio Arns (Bloco/PT - PR) - Senador Pedro Simon, em primeiro lugar, é sempre uma alegria, uma honra, um prazer escutá-lo e vê-lo também; não apenas sua palavra, mas sua presença é sempre sinal de entusiasmo, de esperança, de credibilidade. Vou dizer três coisas. A primeira, para o povo do Rio Grande do Sul, como Senador do Paraná. Que honra o Estado tem, que alegria, que satisfação em poder dizer, de peito aberto, de peito cheio, em relação à figura de V. Exª: “Nós temos um excelente Senador, um Senador digno, um Senador combativo, um Senador competente, um Senador que tem um ideal para a sociedade, um Senador que tem uma palavra, esteja na oposição ou na situação”, como disseram as demais pessoas, ou seja, um Senador que tem uma palavra definida na sua história de vida. Como Senador do Paraná, digo ao povo do Rio Grande do Sul: “Sintam orgulho. Oxalá, povo do Rio Grande do Sul, que em...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, Petrônio Portela marcava uma hora para o grande Líder gaúcho, Brossard. O homem é o homem e as circunstâncias. Nossas circunstâncias são outras. Estou, em nome do Piauí, garantindo o tempo que V. Exª queira. Há um orgulho no Piauí. Nós nos sentimos os gaúchos do Nordeste. V. Exª pode continuar na tribuna o tempo que julgar conveniente.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª calcule a emoção que tenho com suas palavras. Realmente, tenho sensibilidade, e sei que estou ultrapassando, que estou abusando. V. Exª é tão generoso que eu lhe aconselho daqui a pouco a apertar a campainha e cortar meu microfone, porque eu, às vezes, abuso mais do que o necessário.

De coração, muito obrigado.

O Sr. Flávio Arns (Bloco/PT - PR) - Portanto, Senador, o primeiro ponto é transmitir essa mensagem dos outros Estados para o Estado do Rio Grande do Sul, com a certeza absoluta, em um segundo aspecto, de que este é o sentimento do Brasil. Por onde vamos pelo Brasil, as pessoas se lembram de V. Exª e o associam àquilo que o Senado deveria ser. Esse é o motivo importante de reconhecermos e valorizarmos a presença, a palavra de V. Exª, no sentido da credibilidade que esta Casa tem que ter. Nós temos que ter referências, e V. Exª é essa referência. O terceiro aspecto diz respeito a recapitular o que foi dito em relação aos partidos políticos, quando na oposição e quando no governo. Essa busca, essa necessidade - e V. Exª fez uma reflexão sobre isso -, a necessidade da coerência, da questão ética, do compromisso social, do compromisso com o povo organizado, de transformação, de transparência, de poder acreditar na palavra do político, que, antes de assumir o poder, tem uma palavra e, depois, tem que manter essa palavra. Como nós nos ressentimos de falta de exemplos nesse sentido! Parabéns a V. Exª. Qualquer explicação que V. Exª tenha optado em oferecer à sociedade nesse sentido que V. Exª colocou, de respeito, de querer também sempre dar a instrumentação para o eleitor, tenha a certeza de que, para todos nós, qualquer explicação que venha será recebida com solidariedade, com respeito, com admiração, com entusiasmo, pois V. Exª é uma das maiores figuras públicas que o Brasil já apresentou para o povo em sua história. Parabéns! Que bom que estamos juntos, e oxalá, no dia 31 de janeiro, daqui a sete anos, V. Exª esteja começando mais um mandato como Senador. Parabéns!

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Fico emocionado com o pronunciamento de V. Exª, sinceramente. Sou uma pessoa, no fundo, tímida e mais encabulada do que parece. As palavras de V. Exª me gratificam, no sentido de que V. Exª fez um gesto de carinho e de afeto. É muito bom, nesta hora que estamos vivendo, dias tão tumultuados, como foi a sessão de ontem, que nós aqui, Presidente, possamos mostrar, neste ambiente sereno, que o carinho, o amor e o respeito existem entre nós.

Tenho o maior respeito por V. Exª. Acho o seu trabalho no Paraná muito importante. V. Exª é uma pessoa identificada com os problemas sociais; é uma das vozes, como o Senador Paulo Paim, que representa a gente mais simples, a gente mais humilde, a gente que, sinceramente, não tem voz.

Que bom se o exemplo de V. Exª, como o do Senador Paulo Paim, se multiplicasse e que mais representantes lá do nosso povo mais simples pudessem estar aqui.

Tenho ido ao Paraná, sou muito amigo do Governador Roberto Requião, somos grandes amigos. Considero-o um grande Governador, mas tenho brincado com ele.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Prorrogo novamente a presente sessão, para que se complemente o pensamento de Pedro Simon.

V. Exª será o único Senador que vai completar 32 anos. Iguala-se a Rui Barbosa. O nosso futuro, as nossas crianças e os jovens vão saber qual foi o maior. V. Exª foi Governador do seu Estado, Rui Barbosa não foi Governador da Bahia. Será uma grande diversão para nossos jovens essa disputa de valores, Rui Barbosa e Pedro Simon engrandecem o Senado.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Eu não vou dormir à noite. Quando chegar em casa, não sei o que vou fazer. Minha mulher vai dizer: “Pedro, você está caminhando ou flutando?”

Obrigado.

Mas digo para o Requião assim: “Requião, tu tens grandes qualidades. Se tivesses a língua um pouco menor, tu serias um grande candidato a tudo que pudéssemos imaginar.”

Às vezes estou lá e elogio o Governo dele. São coisas que vi, como, por exemplo, aquela escolinha de governo, que reúne toda a administração dele. Todo mundo pode criticar, falar, debater, analisar. Lá todo mundo fica sabendo o que há em todo o Governo. Se eu voltasse para o Governo, essa seria a primeira coisa que faria. Geralmente, o Secretário de Educação não sabe o que está acontecendo com a Polícia, e a Polícia não sabe o que está acontecendo...

Eu estava elogiando, falava da polícia comunitária, não sei mais o quê... Daqui a pouco, ele diz: “Pedro, esses caras que andaram falando contigo aí, essa gente é fraquinha. Não confia, que não é grande coisa, não.” Estava falando mal do Governo dele, porque a gente estava elogiando demais!

Mas V. Exª, não. Tenho andado, e as referências, o sentimento pelo social, a preocupação pelo social... Em uma época em que estamos vivendo a ditadura do mercado, que dita todas as normas para o Brasil e para o mundo, é muito importante que gente como V. Exª permaneça com seus ideais e com suas bandeiras. De coração, muito obrigado.

Meu querido Senador, V. Exª fez um milagre. Quando foi escolhido Presidente daquela CPMI, a voz generalizada era a de que seria uma direção chapa-branca, que não daria em nada. Eu participei, e a isenção, a dignidade, a correção com que V. Exª agiu, a imparcialidade... V. Exª parecia um desembargador que não tinha andado por outro lugar, que não o Tribunal de Justiça, e os resultados estão aí.

O que o Supremo está julgando agora, que é uma maravilha, começou lá naquela comissão, em que ninguém acreditava, na comissão do fim do mundo. Achavam que não ia dar em nada, mas deu.

V. Exª tem esse grande mérito, grande mérito! E alguns podem não compreender V. Exª: “Mas, como? É companheiro nosso!” Acho que foi o ato talvez mais importante da sua vida, acho que o mais difícil. Pegar uma comissão daquela, com as pressões que sofreu e sair como V. Exª saiu foi uma dignidade. V. Exª é um exemplo a ser seguido. Meus cumprimentos.

O Sr. Delcídio Amaral (Bloco/PT - MS) - Muito obrigado, Senador Pedro Simon. Não poderia também deixar de registrar, nesta quarta-feira, depois de uma semana extremamente complicada...

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade.

O Sr. Delcídio Amaral (Bloco/PT - MS) - E o nome de V. Exª dispensa comentários. Quando era estudante já ouvia falar de Pedro Simon, como Governador de Estado, como Ministro de Estado. V. Exª tem 25 anos de mandato como Senador da República, poucos são os brasileiros que conseguiram essa honra. E V. Exª não a conseguiu à toa: tem uma biografia irretocável. V. Exª honra seu Estado, o Rio Grande do Sul, um Estado em que é difícil fazer política, porque é pujante e tem pessoas com um discernimento grande - não que os outros também não o tenham, mas o Rio Grande do Sul, até pelo perfil econômico de sua sociedade, é um Estado muito rigoroso com seus homens públicos. Com a história de V. Exª, não tenho dúvida nenhuma de que todas as provações e obstáculos que poderia passar como homem público, como político, V. Exª ultrapassou, mas, acima de tudo, V. Exª honrou seu Estado e o Brasil. E, no momento em que existe uma carência tão grande de homens públicos com a imagem de V. Exª, com seu caráter, com seu perfil, temos, mais do que nunca, de ter muito cuidado, muito apreço por V. Exª. V. Exª tem um valor inestimável em função das crises todas que infelizmente o nosso País enfrenta, principalmente com relação aos homens públicos, à classe política. Estamos vivendo um drama, há mais de três meses; a cada semana, uma novidade, e o desgaste aumenta dia a dia. Acho que, no final, Senador, erramos todos.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É verdade.

O Sr. Delcídio Amaral (Bloco/PT - MS) - Meu pai dizia que não poderíamos morrer por delicadeza. E, talvez por delicadeza, tenhamos chegado aonde chegamos. Ontem, aliás, desde a semana passada, tenho acompanhado o recrudescimento das nossas dificuldades aqui no Senado. Falo publicamente, porque disse isso sinceramente ao Líder do PMDB, quando tomei conhecimento, em Mato Grosso do Sul, na semana passada, do afastamento de V. Exª e do Senador Jarbas Vasconcelos da CCJ. Com a pouca história que tenho como político e detentor de mandato, acho que foram muito poucas as situações em que isso ocorreu, principalmente, focando-se figuras ilustres da política nacional, como V. Exª e como o Senador Jarbas Vasconcelos. Dentro de um ambiente degradado, entendia que essa medida funcionaria como um complicador grave dentro do processo que estamos vivenciando. Esta semana, na tarde de ontem, quase como um desaguadouro de todos esses desvios e equívocos, eu talvez tenha assistido à sessão mais patética que este Senado desempenhou. Todos saímos menores depois do que aconteceu ontem. Não tenho dúvida nenhuma disso, por mais nobres que fossem os sentimentos de muitos ou da maioria dos Senadores e Senadoras. O reflexo disso, Senador Pedro Simon, é olhar V. Exª trazendo matérias de dez anos atrás da revista Veja, curiosamente em função de um programa eleitoral que gravou para o atual governador do meu Estado, Mato Grosso do Sul, naquela época, para a campanha eleitoral dele a prefeito de Campo Grande; é assistir a V. Exª, com toda essa bagagem, com toda essa história, ter de vir à tribuna para justificar coisas absolutamente ultrapassadas, que foram, mais do que nunca, ultrapassadas com a transparência e a postura pública que V. Exª sempre teve! E agora, de uma hora para outra, e pelo que entendi da sua exposição, até jornais do seu Estado estão colocando dúvidas com relação à carreira pública, absolutamente digna, transparente, cristalina, republicana de V. Exª. Portanto, meu caro Senador Pedro Simon, quero dizer que tudo isso que estamos vivendo aqui, e dentro dessa conversa serena que, como V. Exª disse muito bem, há muito tempo não temos neste plenário, assistindo a V. Exª responder a coisas que nenhum brasileiro pode colocar em xeque, situação que mostra o clima absolutamente descontrolado que infelizmente o Senado tem vivido, leva-me a falar por todos os sul-mato-grossenses - tomo a liberdade de falar por todos os sul-mato-grossenses - que o senhor não somente tem a nossa solidariedade, porque sabemos o homem público que V. Exª é, mas também que é uma honra compartilhar com V. Exª um assento aqui no Senado Federal, aprender com V. Exª, com a experiência, com a sinceridade, com aquele misto de emoção e sensibilidade de argúcia em função do momento que enfrentamos ou de vários outros que enfrentamos aqui. Portanto, não só tenha a admiração de todos nós sul-mato-grossenses, mas, acima de tudo, o respeito da nossa Bancada por tudo que V. Exª representa e que honra, com trabalho e com determinação. Não sabia que V. Exª - fiz as contas e concluí - já estava na casa dos 78 anos; e 78 anos bem vividos, vividos principalmente com preocupação com o Brasil, com a nossa população e com o futuro da nossa terra e da nossa gente. Conte conosco sempre e que Deus continue sempre iluminando V. Exª nessa caminhada de êxitos e, acima de tudo, de brasilidade. Um grande abraço, Senador Pedro Simon. Conte conosco sempre.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agradeço muito o aparte de V. Exª; agradeço muito mesmo. Fui grande amigo do companheiro Tebet, que sei que era grande amigo de V. Exª. E, por intermédio dele, tive a oportunidade de conhecer muito Mato Grosso do Sul. Quando vou lá, tenho me queixado um pouco. É tanto gaúcho bom que vejo lá que digo: é por isso que o Rio Grande tem esse problema, os bons estão indo embora. Mas a identificação deles com a terra de vocês, o carinho que eles têm por ela! Participei, Senador Paim, de um congresso regionalista do CTG em Mato Grosso do Sul - não sei qual número do congresso regionalista foi, mas havia uma infinidade de CTGs, que nos fazia a nós do Rio Grande do Sul ficar com inveja. E eles estão ali levando o mesmo espírito, a mesma garra, a mesma dedicação. Eu, com muito carinho, com muito amor, dizia-me: mas essa gente faz falta para nós. Nós estamos sentindo falta dessa gente. Há uma identidade na maneira de ser, porque o Mato Grosso do Sul é um Estado em que o cidadão se dedica à terra: planta, colhe, vive, ama a sua terra. E, de certa forma, o gaúcho está quase melhor ali do que em seu Estado, porque lá tem as montanhas, tem os morros; em Mato Grosso é uma espetacular terra, da qual V. Exª é um digno representante.

No entanto, saliento a manifestação de V. Exª no que tange à hora que estamos vivendo. E V. Exª disse uma coisa muito importante: na sessão de ontem, ninguém saiu ganhando. Nesses três meses que estamos vivendo aqui, não vamos nos iludir, ninguém está somando, ninguém está ganhando. Cai o Congresso, caímos nós, estamos caindo no mesmo nível. Se tivermos uma solução de grandeza, vai somar para todos.

Meu amigo Renan, veja, aqui estamos nós, do PMDB, do PT, debatendo, analisando. E sinto aqui um ar de carinho pelo Presidente. Ninguém entra aqui com o espírito de que algo aconteça contra o Presidente. Meu amigo Renan, as coisas acontecem. Todos nós temos os momentos de altura e os momentos de descida. A vida é um dia depois do outro como diz o Eclesiástico, “a cada dia a sua agonia”. Alguns têm mais, outros têm menos.

Eu já tive momentos na minha vida que achei não ter mais o que fazer. Perder um filho de dez anos em um acidente. Minha mulher estava guiando o carro, terminou não suportando, e eu a perdi também por diminuição de amor, de entendimento da realidade, uma depressão real. Até hoje, se vocês me perguntarem: “Mas Simon, como tu te elegeste Governador do Rio Grande do Sul?”, eu juro que eu não me lembro. Meu filho morreu, seis meses depois morreu a minha mulher e seis meses depois fui eleito Governador. Não sei. Tiraram-me de casa não sei como. Eu nunca respondi que era ou que não era. Fizeram a convenção, indicaram-me e eu me elegi Governador. Eu sempre digo que foi uma hora muito triste. E eu acho que, se fosse depois, eu teria sido um Governador bem melhor, porque eu vivi uma fase muito difícil. Mas passou.

O importante, como é dito, é que não há porta que se feche e que não se abra outra. Não há janela que se feche e que não se abra outra. Não há dia, por mais escura a noite, por mais torturante, por maior relâmpago que possa acontecer, sempre vai nascer um raio anunciando a aurora de um novo dia. Amanhã é outro dia. Acho que isso é importante.

Doutor Renan, isso é muito importante. Não sucumba; licencie-se. Vá gozar o descanso que você tem direito. Não vai ter de dar nenhuma explicação, porque a sessão de ontem mostrou. Duvido que alguém... O que ele disse eu não levo... Duvido que alguém... Eu não suportaria três meses que nem ele está vivendo. Eu não suportaria. Juro por Deus, eu não suportaria. Vá descansar, vá repousar. Homens que nem Jefferson Péres, por exemplo, tenho a convicção de que nós aqui...

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ... doa a quem doer.

Meu querido irmão Mão Santa, as palavras que V. Exª leu da sua mãe, querida Ministra-Chefe da Coligação Franciscana do Piauí, mostra que ela tinha visão. Você era o grande tesouro da vida dela, o senhor é hoje um grande orgulho para todos nós.

Tenho visto, Senador, V. Exª a cada semana tem dois ou três livros diferentes do que tem de mais importante na política do mundo inteiro - biografia do Lincoln, biografia do Churchill -, as coisas mais significativas. Depois, vejo V. Exª fazer as citações, o debate e a comparação entre o ontem e o hoje; V. Exª está buscando e conseguindo trazer um clima de responsabilidade.

A sua simpatia, o seu Piauí ... Eu podia fazer o mesmo que V. Exª, eu devia dizer, nós gaúchos deveríamos dizer: o Rio Grande do Sul, mas nem o Paim... O Colares dizia na Assembléia. Como Deputado Federal, todo mundo meio que ria dele, mas ele dizia o Rio Grande do Sul.

Tenho muito respeito por V. Exª, apesar de seus pecados veniais. Eu e V. Exª cometemos um pecado venial muito grande: o tamanho do tempo que V. Exª permitiu que eu ficasse nesta tribuna.

Muito obrigado.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR PEDRO SIMON EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“O rei do vídeo - revista Veja”;

“Discurso comunicando pagamento do uso involutário da TV Senado”; Editotial revista Veja: “A sabedoria de um Senador”;

“Ramez Tebet: Simon comunica que Tebet o ressarciu da despesa”; “Discurso - Carta ao IPC”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/10/2007 - Página 34826