Discurso durante a 179ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem aos professores brasileiros e em especial, ao Educador Marcílio Rangel.

Autor
Heráclito Fortes (DEM - Democratas/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Homenagem aos professores brasileiros e em especial, ao Educador Marcílio Rangel.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/2007 - Página 35146
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, PROFESSOR, ELOGIO, FORMAÇÃO, CIDADÃO.
  • ELOGIO, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, CRISTOVAM BUARQUE, SENADOR, PRIORIDADE, DEBATE, EDUCAÇÃO.
  • APREENSÃO, SITUAÇÃO, SAUDE, TRANSPORTE, ENERGIA ELETRICA, ENSINO PUBLICO.
  • HOMENAGEM POSTUMA, PROFESSOR, DIRETOR, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, ESTADO DO PIAUI (PI), SUPERIORIDADE, AVALIAÇÃO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como faço todo ano, eu não poderia estar ausente nesta homenagem que se presta ao professor brasileiro, esse professor anônimo, mas que tem, Senador João Pedro, uma importância muito grande na formação de cada um de nós.

Esta Casa é cheia de bacharéis, de intelectuais, de homens com mestrado, mas não há um só que não se lembre, Presidente Jayme Campos, da sua escola primeira, da professora primária. Eu sou de um Estado onde a escola primária era realizada dois, três, quatro anos consecutivos na mesma sala, e o aluno terminava, se atento, fazendo uma base da escola primária bem mais forte em decorrência do ensinamento coletivo que se recebia. E eu tive, na figura da dona Maria Dina Soares e da sua filha Lígia, exatamente o início do meu período escolar. Guardo das duas as maiores recordações. Foram professoras de uma geração importante em Teresina e disputavam com dona Eremita e com dona Ana Cordeiro a primazia da formação das crianças da minha cidade naquela época.

A homenagem de hoje, Senador Mão Santa, no plenário do Senado, ficaria mais fácil - tive o azar de não estar aqui presente - com o Senador Cristovam Buarque. Eu, que coordenei, representando o meu Partido, a campanha de Geraldo Alckmin, tive a oportunidade de assistir a alguns debates com a participação do Senador Cristovam, como candidato à Presidência da República, conhecido como “o candidato de uma nota só”; só que a nota mais importante de todas, que é exatamente a educação.

É impressionante como Cristovam criou uma empatia com o Brasil todo pela sua pregação, principalmente com a juventude. Andar por esse Brasil afora na companhia de Cristovam é motivo, inclusive, de orgulho para um Senador. Em um momento em que esta Casa sofre desgastes, ele é reconhecido, cumprimentado e abraçado por todos.

Ontem, Senador Mão Santa, tive a oportunidade de presenciar um professor do interior de Santa Catarina ofertar ao Senador Cristovam um livro e fazer questão de, com ele, tirar uma fotografia. Acho que termos aqui o privilégio de conviver com essa figura é altamente positivo, Senador Romeu Tuma. Quero, nesta homenagem que presto, fazer por justiça essa citação.

Mas, sendo eu do Estado do Piauí, onde as coisas não andam bem... Senador Mão Santa, a saúde, no Piauí, anda mal; as estradas, péssimas; os programas são verdadeiras embromações.

Agora mesmo, em relação ao Programa Luz para Todos, a imprensa começa noticiar que fizeram algumas instalações monofásicas. Assim, o programa perde o objetivo, porque não pode ser usado na agricultura e a limitação da carga permite apenas a instalação de uma geladeira - se, além da geladeira, se quiser ligar uma televisão, essa limitação não permite. Ou seja, toda aquela promessa feita é promessa enganosa.

No Estado onde as coisas não andam bem e o ensino público vai de mal a pior, tivemos, no ano passado, uma felicidade que encheu a todos nós, piauienses, de muito orgulho: na iniciativa privada, o Colégio Dom Barreto, comandado, durante muitos anos, pelo Professor Marcílio Flávio Rangel de Farias, falecido no ano passado, foi o melhor avaliado em todo o Brasil. Aquela escola, que começou como uma extensão da atividade religiosa na década de 50, por determinação de Dom Severino Vieira de Melo, comandada pelas Missionárias de Jesus Crucificado, na década de 80 foi entregue a esse extraordinário homem público, que, infelizmente, já não se encontra entre nós, que era o Professor Marcílio.

O mais interessante, Mão Santa, é que, percorrendo as ruas de Teresina, vemos escolas e faculdades que são verdadeiros impérios, de lucratividades fantásticas, com os donos nadando em dinheiro, mas cuja eficiência escolar não segue o mesmo ritmo.

E o Professor Marcílio, que sempre investiu tudo daquela entidade no ensino, sempre foi um homem de hábitos modestos. Não se tem notícia de nenhum esbanjamento de recursos por parte dele. O que ele deixou foi um exemplo extraordinário de educador, de cidadão, e fez dos seus ex-alunos uma verdadeira legião de amigos.

No ano passado, fiz uma homenagem - o Senador Mão Santa estava presente - à dona Clotilde, que é mãe do nosso querido amigo e Deputado Marcelo Castro. Fiz essa homenagem pela admiração que tenho àquela senhora, que teve, ao longo da vida, uma única missão, que foi educar seus muitos filhos. Primeiro, em São Raimundo Nonato, e depois, quando viu que a cidade, àquela época, possuía precárias condições para que os filhos continuassem os estudos, forçou junto ao marido a transferência dos filhos para Teresina. E obteve sucesso, tendo os filhos todos hoje destacados nas atividades a que se dedicaram no Estado do Piauí.

Este ano, presto homenagem ao trabalho do Professor Marcílio e aos que o sucedem, neste momento, na direção do Colégio Dom Barreto. Que ele sirva, realmente, de exemplo a ser seguido, pela maneira como aquele educador desempenhou, ao longo da sua vida, a atividade de educar.

O professor não é somente aquele que completa a sua carga horária e dá-se por satisfeito com a sua missão. O professor, na realidade, vai mais além, meu caro Presidente Jayme Campos. É aquele que está presente no dia-a-dia do jovem, que acompanha o seu desenvolvimento intelectual e moral e é, acima de tudo, um conselheiro.

O Marcílio - sou testemunha disso - é um exemplo que talvez não sirva somente ao Piauí, mas que sirva, Senador Mão Santa, a todo o Brasil. Por isso, eu me sinto muito feliz em ter a oportunidade de fazer esta homenagem nesta data em que se comemora o Dia dos Professores.

Concedo um aparte, com o maior prazer, Senador Mão Santa, a V. Exª.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Heráclito Fortes, nós somos orgulhosos pelos mestres que tivemos no Piauí. V. Exª foi buscar esse exemplo maior que não se limitou ao Piauí e ao Brasil. De repente, o Professor Marcílio outorga o maior prêmio ao Piauí: a melhor escola privada em nível qualitativo. Quero apenas acrescentar que, além dessa particular, ele mantém um orfanato para pobres. Então, aquele, sim, é o mestre que se pode igualar a Cristo. Mas quero prestar um importante testemunho, Senador Jayme Campos.

Não sei se o Senador Heráclito conheceu o Professor José Rodrigues, mas sei que conhece familiares seus. Vou mostrar um quadro. João Paulo dos Reis Velloso foi Ministro por muito tempo. Foi a luz da revolução, filho de Parnaíba, filho de carteiro com costureira, humilde, tinha mania de primeiro lugar, esteve em Harvard. Ele era Ministro e eu era Deputado Estadual. O Governador era o Dr. Lucídio Portela. Pois fomos buscá-lo no aeroporto, para ir rumo à ponte do Jandira. João Paulo ia levar os recursos finais. Era algo entre onze horas e meio-dia. Fomos, num cortejo de carros, buscar o mais ilustre filho da Parnaíba. Vínhamos do aeroporto, na Avenida Chagas Rodrigues, ali perto de São Sebastião, eu no meio dos dois. Eram muitos carros, centenas de carros, de todas as cidades e da vizinhança. O Ministro era a luz do governo revolucionário. Heráclito, então o Ministro disse: “Pára! Pára! Pára!” Eram onze e meia e o sol estava quente. Aí o Ministro disse: “É a casa do Professor José Rodrigues”. Aí parou o cortejo. Ficou tudo parado no sol quente. Aí ele vai e eu o acompanho na Avenida Chagas Rodrigues. Quer dizer, ele estava mostrando a gratidão ao mestre, ao seu primeiro professor de português. Depois, eu também fui aluno do Professor José Rodrigues. Mas é isso: ele se curva, reconhecendo o apoio, o caminho da luz.

V. Exª foi buscar esse exemplo recente e eu um mais recente. Sua homenagem, lembrando o Professor Marcílio, engrandece. Eles, José Rodrigues e Marcílio, se foram, mas ficou o mais importante, que é o exemplo de amor à educação, vendo na educação aquilo que Cristo disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.” É a educação!

O SR. HERÁCLITO FORTES (DEM - PI) - V. Exª tem razão. É próprio do homem grato e de boa formação esse tipo de reconhecimento ao mestre.

Depois que me mudei para Pernambuco, fui estudar no Colégio Estadual de Pernambuco, conhecido como Ginásio Pernambucano, onde fiz política estudantil e talvez tenha começado a despertar em mim o gosto pela política, a qual nunca mais larguei.

Em determinado momento, fomos surpreendidos por um movimento anormal de veículos, inclusive de batedores, à porta do colégio. Era o ex-aluno Mário Gibson Barbosa, à época Ministro das Relações Exteriores, que, em uma rápida passagem por Recife, resolveu matar as saudades e fazer uma visita ao velho Ginásio Pernambucano. Eu tive a felicidade de, pela primeira fez, àquela época, ver o então Ministro Mário Gibson e ver com que emoção e alegria ele percorria os corredores daquele centenário colégio de ensino pernambucano. É outra lembrança fantástica que guardo de vários professores que se destacaram, tendo à frente o Diretor Souto Neto, figura extraordinária como educador.

V. Exª, Senador Mão Santa, falava do trabalho social do Marcílio.

O Marcílio criou várias entidades para atendimento social. Em 1984, criou a Casa Dom Barreto, voltada para o atendimento de alunos de zero a dezessete anos. Em 1993, criou a Escola Popular Madre Maria Villac e a Escolinha Popular São Francisco de Assis, todas para atender os alunos da periferia, os alunos carentes.

Portanto, ao prestar esta homenagem, quero crer que atendo também à vaidade e ao orgulho de todos os piauienses, dos que tiveram a felicidade e a oportunidade de passar pelo Professo Marcílio e dos que não tiveram a oportunidade e a felicidade de passar nem por ele e nem por ninguém, mas que nem por isso deixam de ter uma ponta de orgulho de ver que um Estado com as dificuldades e as adversidades que tem o Estado do Piauí pode ter, entre seus filhos ilustres, um homem desse nível, dessa categoria, que elevou, de maneira determinada, o nome do Piauí da maneira mais nobre que se pode fazer, que é exatamente mostrando ao Brasil que o Piauí, com todas as dificuldades, se o homem tem vontade, se o homem deseja, pode ser exemplo de ensino para todo o Brasil.

São estas as minhas palavras de homenagem que gostaria de prestar a todos os professores do Brasil, simbolizados na figura desse extraordinário piauiense que é o Professor Marcílio.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/2007 - Página 35146