Discurso durante a 179ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem pela passagem do dia nacional comemorativo dos profissionais em educação, especialmente citando sua mãe.

Autor
Leomar Quintanilha (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/TO)
Nome completo: Leomar de Melo Quintanilha
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Homenagem pela passagem do dia nacional comemorativo dos profissionais em educação, especialmente citando sua mãe.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/2007 - Página 35150
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, PROFESSOR, ESPECIFICAÇÃO, MÃE, ORADOR, EXERCICIO PROFISSIONAL, CONTRIBUIÇÃO, EDUCAÇÃO.
  • REGISTRO, ENGAJAMENTO, ORADOR, PERIODO, JUVENTUDE, ALFABETIZAÇÃO, ADULTO, UTILIZAÇÃO, METODO, PAULO FREIRE, PEDAGOGO, NECESSIDADE, CONTINUAÇÃO, LUTA, ERRADICAÇÃO, ANALFABETISMO, DEFESA, VALORIZAÇÃO, EXERCICIO PROFISSIONAL, PROFESSOR, MELHORIA, QUALIDADE, ENSINO.
  • REGISTRO, EXPERIENCIA, ORADOR, SECRETARIO DE ESTADO, EDUCAÇÃO, ESTADO DO TOCANTINS (TO), INICIO, DIVISÃO TERRITORIAL, IMPLEMENTAÇÃO, SISTEMA, ENSINO, FALTA, CONDIÇÕES DE TRABALHO, FORMAÇÃO, PROFESSOR.

O SR. LEOMAR QUINTANILHA (PMDB - TO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Jayme Campos, que conduz os trabalhos desta Casa, Srªs e Srs. Senadores, uso a tribuna para trazer minha modesta homenagem aos professores brasileiros no dia em que o País inteiro comemora o Dia dos Professores.

Ouvi eminentes Senadores, que se manifestaram de forma muita apropriada, de forma justa e adequada, rendendo também seus preitos a essa categoria profissional tão fundamental e tão importante à composição da sociedade brasileira.

Entendo que faria, com a força do meu sentimento, uma homenagem muito intensa, muito profunda aos professores brasileiros se o fizesse em nome de uma professora que aprendi a respeitar, a admirar, a amar e a acompanhar seus ensinamentos. Refiro-me à Dona Lilia, minha mãe. Ela tem hoje 82 anos. Dedicou uma parte importante da sua vida à Educação. Foi professora do ensino fundamental - à sua época, o primário - e trabalhou com inteireza, dando sua vida, seu trabalho, seu esforço, sua dedicação, sua inteligência. E tinha um interesse tão grande, Sr. Presidente, pela Educação que disse às quatro filhas: “Vocês podem seguir a profissão que quiserem; podem estudar o que quiserem; podem fazer Medicina, Engenharia, Direito. Façam o que quiserem, mas o façam depois de fazer o Magistério. Vocês precisam passar pelo banco da escola, vocês precisam dar sua contribuição à formação da inteligência contemporânea”.

Esse esforço, Sr. Presidente, acabou servindo para mim também. Recordo-me que, na passagem da adolescência para a juventude, recebi um forte apelo nacional: convoquei jovens brasileiros a participar de uma maratona de erradicação do analfabetismo, exatamente porque era grande o índice de analfabetos, sobretudo daqueles cujo tempo do período escolar já havia passado, ou seja, o índice de analfabetos adultos no Brasil era elevado demais.

Recordo-me que, com muito entusiasmo, com senso de patriotismo, com muito interesse, recorri a um método muito utilizado à época, do emérito Professor Paulo Freire, Mão Santa. Paulo Freire recorria a um método que ele havia criado para facilitar a ação daqueles que pretendiam dar essa contribuição ao povo brasileiro e tirar das trevas inúmeras pessoas que não sabiam ler e escrever.

Recordo-me que eu estudava de manhã e trabalhava à tarde, mas comecei a formar turmas de adultos, à noite, na escola Grupo Escolar Vasco da Gama, no Setor Sul, em Goiânia. E fiz, se não me falha a memória, quatro turmas. Alfabetizei quatro turmas sucessivamente.

Recordo-me da emoção das pessoas ao perceberem que tinham condição de ler. Era intensa, era grande, era uma verdadeira dádiva. Lembro-me da reação, que nos emocionou a todos, de uma senhora sexagenária após aprender a ler. Quando chegou à sala de aula, disse-me ter vindo de casa até a escola lendo o nome das empresas comerciais por onde ela passava. Ela estava muito emocionada, muito feliz por ter tido, mesmo depois dos sessenta anos, a oportunidade de aprender a ler.

Confesso que não consegui, à época, avaliar quão grande era esse desafio, porque, passados mais de quarenta anos, o Brasil ainda enfrenta o desafio de erradicar o analfabetismo de sua população.

Já avançamos, Sr. Presidente, é fato que avançamos, mas não conseguimos erradicar o analfabetismo. Avançamos, mas não conseguimos ainda conferir aos professores condição ideal de trabalho, de credibilidade e de respeitabilidade que a categoria está a merecer aqui ou em qualquer lugar, como já merece e recebe nas nações desenvolvidas, que conseguiram compreender que a educação é o caminho mais curto para se alcançar o desenvolvimento.

Essa passagem da minha infância e da minha adolescência na escola, com essa orientação forte dessa mulher, dessa professora, acabou marcando a orientação que tive para minha vida de adulto e me fez compreender o significado, a importância do ensinar, de dar a oportunidade a tantos de conhecer. Uma tarefa inglória, difícil, sem reconhecimento, mal remunerada, mas de fundamental importância para o desenvolvimento de qualquer povo, de qualquer nação.

Eu tive um segundo desafio. Quando criado o Estado do Tocantins, quando apartada a região norte do Estado de Goiás, fui convidado para ser o Secretário de Educação. Incumbiu-me o Governador de implantar o sistema de educação no novel Estado da Federação. E qual foi a minha surpresa, grande surpresa, ao conhecer a estrutura educacional que o Estado possuía. Senador Mão Santa, era vexatória, causava pena e dó a fragilidade da estrutura existente. Encontramos inúmeras pessoas que não tinham o primeiro grau completo na sala de aula, como professores. Imaginem! Encontramos, no meio rural, muitos professores nessas condições, enfrentando uma outra dificuldade: alunos de idades diferentes, com conhecimentos diferenciados, em uma sala de aula comum. O aproveitamento era muito baixo; as dificuldades, enormes!

Por isso eu digo que nós avançamos hoje, no meu Estado, onde eu tive esse exemplo da dificuldade enorme de se ensinar. E olhem que, quando encontrei essas pessoas que não tinham o 1º grau completo na sala de aula, fiquei estupefato: como se pode conceber uma pessoa dentro de uma sala de aula, sem estar devidamente capacitada?!

Mas depois, Mão Santa, percebi que principalmente aqueles que recebiam os ensinamentos desses que não estavam capacitados levantavam as mãos para os céus, porque havia alguém que sabia alguma coisa e que estava ensinando a eles pelo menos a ler e a escrever.

Hoje a nossa realidade é outra. Lá, conseguimos universalizar o ensino, e isso parece que ocorreu em todo o Brasil.

Agora, estamos trabalhando para melhorar a qualidade da educação; do ensino brasileiro. E não conseguiremos esse intento se não resgatarmos a credibilidade, a confiança, a auto-estima, a emoção, o desejo do professor, que é o principal instrumento no sistema educacional. Só conseguiremos realmente dar esse ensino de qualidade, universalizado quando oferecermos ao professor condição condigna de trabalho, com credibilidade, respeitabilidade, capacitação adequada, treinamento e reciclagem permanente, porque o professor é um estudante permanente. Aí, sim, estaremos dando uma efetiva contribuição para que o País acelere, de forma sustentada, o seu processo de crescimento.

Por isso, Sr. Presidente, Srs. Senadores, eu queria fazer esse pequeno registro aos professores do meu Brasil, sobretudo aos professores do meu Tocantins, pela dedicação, pelo esforço, pelo denodo, pela convicção que têm os professores em sala de aula, muito mais pela consciência da responsabilidade que cada um tem no dever de ensinar, de formar as inteligências das nossas gerações do que pela remuneração, pelo retorno que recebem pelo trabalho prestado.

Então, minhas homenagens, meu aplausos, meus cumprimentos aos professores tocantinenses e professores brasileiros nessa luta extraordinária que atravessa gerações, em que vão alcançando e vencendo gradativamente, passo a passo, essa estrutura que deixa muito a desejar, que deve muito a eles.

Quiçá, em um futuro não muito remoto, nós possamos festejar, no nosso País, a presença do mestre, aquele que trabalha a inteligência, aquele que estrutura a formação do cidadão, que contribui para a constituição do cidadão de forma efetiva, com resultados positivos para si. Eu espero que nós possamos estar comemorando em breve que essa extraordinária categoria de profissionais brasileiros, que os ilustres professores, que os insignes mestres tenham reconhecimento e tenham a reciprocidade das condições de trabalho que o relevo, que a importância e o significado da sua profissão estão a exigir.

As minhas homenagens e os meus cumprimentos aos professores brasileiros.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/2007 - Página 35150