Discurso durante a 179ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Voto de pesar pelo falecimento do ator Paulo Autran. Homenagem aos professores pelo transcurso do Dia do Professor. Apelo ao Reitor da Fundação Santo André para que dialogue com os professores que se solidarizaram com as manifestações estudantis por melhorias no ensino daquela instituição.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA INDUSTRIAL. HOMENAGEM. MOVIMENTO TRABALHISTA.:
  • Voto de pesar pelo falecimento do ator Paulo Autran. Homenagem aos professores pelo transcurso do Dia do Professor. Apelo ao Reitor da Fundação Santo André para que dialogue com os professores que se solidarizaram com as manifestações estudantis por melhorias no ensino daquela instituição.
Aparteantes
Garibaldi Alves Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/2007 - Página 35229
Assunto
Outros > POLITICA INDUSTRIAL. HOMENAGEM. MOVIMENTO TRABALHISTA.
Indexação
  • APOIO, SUGESTÃO, SENADOR, PROMOÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ENCONTRO, GOVERNADOR, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ESTADO DO AMAZONAS (AM), DEBATE, INDUSTRIA, MONITOR.
  • HOMENAGEM POSTUMA, ATOR, TEATRO, CINEMA, TELEVISÃO, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, CULTURA, BRASIL.
  • SOLICITAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), PREFEITO, MUNICIPIO, SANTO ANDRE (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), NEGOCIAÇÃO, REITOR, FUNDAÇÃO, ENSINO SUPERIOR, REVISÃO, DECISÃO, PROCESSO, PROFESSOR UNIVERSITARIO, SOLIDARIEDADE, MOVIMENTO ESTUDANTIL, REIVINDICAÇÃO, MELHORIA, QUALIDADE, ENSINO, PROTESTO, REAJUSTE, MENSALIDADE.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Prezado Presidente Senador Mão Santa, primeiro eu gostaria de registrar que acho importante a sugestão feita pelo Senador Arthur Virgílio de que possa o Presidente Lula promover a reunião entre os Governadores de São Paulo e do Amazonas para um melhor entendimento relativamente à indústria de monitores. Senador Arthur Virgílio, quero dar apoio a essa sua sugestão.

Senador Presidente Mão Santa, tendo em conta que o Senador Arthur Virgílio hoje deu entrada a um requerimento de homenagem ao ator Paulo Autran, gostaria de informar que também estou encaminhando requerimento à Mesa não só de voto de pesar pelo falecimento, mas também e sobretudo de homenagem ao ator Paulo Autran, que, aos 85 anos, faleceu vítima de enfisema pulmonar, bem como apresentação de condolências à sua esposa, a atriz Karin Rodrigues, a quem tive a oportunidade de apresentar meus pêsames na noite de 12 de outubro último, dia do seu falecimento.

Fecharam-se as cortinas, apagaram-se as luzes! O teatro está de luto! Perdeu um de seus maiores expoentes, o “Senhor dos Palcos”, o ator Paulo Autran, que dedicou 57 anos da sua vida à arte de interpretar e, como ele próprio se definia, era um homem de teatro.

Paulo Paquet Autran nasceu em 7 de setembro de 1922, no Rio de Janeiro, mas foi criado em São Paulo, onde se formou em Direito, por insistência de seu pai, que era delegado de polícia. 

Consagrado ator de teatro, cinema e televisão, deixou a sua marca em todas as mídias. Chegou aos 85 anos, no dia 7 de setembro, no palco, brilhando como protagonista de O Avarento, 90ª peça de sua carreira - com direito a uma saudação especial no dia do seu aniversário quando a platéia que lotava o Teatro Cultura Artística cantou “Parabéns para Você”.

Tive a oportunidade de assistir Paulo Autran em O Avarento, bem como em tantas outras peças, inclusive em Liberdade, Liberdade, ao tempo em que eu era estudante, nos anos 60, em que ele disse coisas formidáveis sobre a aspiração de liberdade, democracia e justiça de todos nós brasileiros.

Além do teatro, participou de filmes, entre eles um ícone do cinema nacional Terra em Transe, de Glauber Rocha; teleteatros e novelas na televisão. Ao atuar pela primeira vez numa novela, ele já tinha alcançado prestígio e popularidade - seu nome era reconhecido nacionalmente - por sua atuação nos palcos.

Viajou por todos os Estados brasileiros, apresentando desde tragédias gregas e shakespearianas a peças brasileiras em quadras e sob lonas de circos. Seu reconhecimento nacional pelo teatro é considerado uma proeza - atuou em apenas três novelas. E não só porque os tempos mudaram. Essa trajetória é original, única, mesmo dentro de sua geração.

Curiosamente, sua estréia profissional só se deu aos 27 anos, em 13 de dezembro de 1949, no Rio de Janeiro, na peça Um Deus Dormiu lá em Casa, de Guilherme Figueiredo. Nessa peça, contracenava com a atriz Tônia Carrero, responsável pelo convite ao ator amador que ela vira num palco de Copacabana, atuando na peça À Margem da vida, de Tennesse Williams.

Apesar da data de sua estréia profissional, quase ao fim da temporada anual, Paulo Autran ganhou os principais prêmios de ator daquele ano. “Não foi para mim. Era muito imaturo e, na época, fiquei completamente idiotizado”, em entrevista ao Estado de São Paulo.

Fã de Dulcina de Moraes, freqüentava teatro desde os oito anos de idade. Também ele recitava poemas desde os oito anos de idade, conforme ainda vi ontem à noite, quando a TV Bandeirantes apresentou uma entrevista dele, formidável, de dois anos atrás.

Cumprimento a TV Bandeirantes por ter apresentado essa entrevista pelo âncora Joelmir Beting e toda sua equipe.

Naquela época, o palco era tomado pelos grandes atores, de gestos grandiloqüentes, voz impostada. O movimento amador veio para mudar não só a hierarquia em cena, passando a dar igual valor a atuação, direção, iluminação e cenário, como também para mudar um estilo de representação. E o temperamento de ator de Paulo Autran - rigoroso na técnica, sóbrio, elegante, capaz de criar modulações de voz, de intenções e de gestos no limite da filigrana - adequava-se como uma luva às novas exigências do palco.

Advogado, formado na tradicional Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo, como muitos jovens de sua época, ele estreou no Teatro Brasileiro de Comédia, em 1946, como amador, antes da profissionalização da casa fundada por Franco Zampari.

Ficou no TBC de 1951 a 1955, onde atuou em 18 peças em pouco mais de quatro anos, entre elas “Antígona”, de Sófocles; “Seis Personagens em Busca de um Autor” e “Assim é se lhe Parece”, de Luigi Pirandello; “Mortos sem Sepultura”, de Sartre; e “Leonor de Mendonça”, de Gonçalves Dias.

Em 1956 decidiu fundar sua própria companhia com Tônia Carrero e Adolfo Celi na qual estréia no papel de Otelo. Foi um verdadeiro sucesso. Logo depois de desfeita a companhia dirigida por Celi, Autran atuaria no musical My Fair Lady, outro estrondoso sucesso. Em seguida, viria “Liberdade, Liberdade” e “Depois de Queda, de Arthur Miller, “Édipo Rei”, “O Burguês Fidalgo” e “Morte e Vida Severina” - todos grandes sucessos de público.

“Uma coisa aprendi nesses anos todos de teatro. Não há regras”, diria Autran em entrevista sobre os percalços da profissão. Sim, porque, após essa série de sucessos, a coisa mudaria de figura. “Veio uma série de montagens mornas. Não eram um grande sucesso, nem um grande fracasso. De alguma forma, parecia que eu só fazia o já esperado de mim", disse ele em uma de suas entrevistas.

No início da década de 70, pela primeira e única vez na sua vida, Paulo Autran afastou-se do palco durante seis meses. "Precisava pensar no que estava acontecendo na minha carreira." Chegou à conclusão de que ser a um só tempo ator e produtor atrapalhava. Decidiu, então, oferecer-se ao diretor Antunes Filho. Foi assim, sob a batuta de Antunes, na peça "Em Família", de Vianinha, em 1972, que recuperou seu bem-sucedido casamento com o palco. E nunca mais parou.

Mesmo fumando muitos cigarros diários, vício que lhe valeu algumas pontes de safena, Paulo Autran ostentava disposição invejável. Se não estava atuando, podia ser visto quase todo fim de semana na platéia dos teatros paulistanos. Jamais deixou de acompanhar a cena teatral.

Os mais jovens, aqueles que não tiveram a oportunidade de vê-lo em muitos desses grandes papéis, certamente ainda puderam comprovar o seu talento nos seus últimos trabalhos. Por exemplo, na detalhada composição para o velhinho judeu da peça "Visitando o Sr. Green". Os mais ousados, que esperavam no camarim após o espetáculo para um abraço ao autor, invariavelmente se surpreendiam com a diferença entre Autran e seu alquebrado Sr. Green.

Paulo Autran cuidou, sim, de aprimorar o modelo de interpretação minucioso, o que se pôde ver na montagem de "O Avarento", seu último trabalho no palco .

O mesmo cuidado ele também tinha ao escolher seus textos. Quando da escolha da peça "Liberdade, Liberdade", de Millôr Fernandes, que estreou em abril de 1965, no Rio de Janeiro, numa produção do Grupo Opinião e do Teatro Arena de São Paulo, e que tinha no elenco, além dele, Paulo Autran, Nara Leão, Oduvaldo Vianna Filho e Tereza Raquel (participação especial), ele assim se justificou:

         Tenho 15 anos de teatro. Só há pouco tempo atingi uma posição profissional que me permite escolher os textos que vou representar. Poder interpretar num mesmo espetáculo farsa, drama, comédia, tragédia, textos íntimos, épicos, românticos, é tarefa com que sonha qualquer ator, principalmente quando os autores se chamam Shakespeare, Beaumarchais, Büchner, Brecht, Castro Alves, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles, Manoel Bandeira, Sócrates... A responsabilidade é pesada, o trabalho é árduo; mas o prazer, a satisfação de viver palavras tão oportunamente concatenadas, ou tão certas, ou tão belas, compensa tudo. Se o público compreendê-las, assimilá-las e amá-las, teremos lucrado nós, eles e o País também. Se isso não acontecer, a culpa será principalmente minha,...

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Garibaldi Filho (PMDB - RN) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Com muita honra, Senador. Só me permita concluir o trecho.

O Sr. Garibaldi Filho (PMDB - RN) - Pois não.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Disse, então, Paulo Autran:

        Se isso não acontecer, a culpa será principalmente minha, mas pelo menos guardarei dentro de mim a consoladora idéia de que tentei. Por isso escolhi a Liberdade...”

Um dos trechos mais bonitos de “Liberdade, Liberdade!”, peça de Millôr Fernandes a que assisti na década de 60, e que foi declamado por Autran, ele disse:

Sou apenas um homem de teatro. Sempre fui e sempre serei um homem de teatro. Quem é capaz de dedicar toda a vida à humanidade e à paixão existente nestes metros de tablado, esse é um homem de teatro.

Nós achamos que é preciso cantar. Agora, mais que nunca, é preciso cantar. Por isso:

Operário do canto me apresento

Sem marcas ou cicatriz, limpas as mãos

Minha alma limpa e a face descoberta

Aberto o peito e expresso o documento

A palavra conforme o pensamento.

Fui chamado a cantar e para tanto

Há um mar de som no búzio do meu canto.

Trabalho à noite e sem revezamentos.

Se há mais quem cante, cantaremos juntos;

Sem se tornar com isso menos pura,

A voz sobe uma oitava na mistura.

Não canto onde não seja a boca livre,

Onde não haja ouvidos limpos e almas

afeitas a escutar sem preconceito.

Para enganar o tempo ou distrair

criaturas já de si tão mal atentas,

não canto... Canto apenas quando dança,

nos olhos dos que me ouvem, a esperança.

Senador Garibaldi Alves, concedo o aparte especialmente neste momento de homenagem ao maior ator brasileiro.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Eduardo Suplicy, eu não poderia deixar de me associar e de aplaudir o pronunciamento de V. Exª, que é um pronunciamento denso, no qual V. Exª faz um estudo sobre a vida desse grande ator, desse maior ator brasileiro que foi Paulo Autran. Quero dizer a V. Exª que a dedicação dele ao teatro nos privou - aqueles que não moram em São Paulo, como eu, que só visitam São Paulo esporadicamente, de, pela televisão e por outros meios de comunicação mais abrangentes, vê-lo com maior intensidade. Mas a grande paixão de Paulo Autran era realmente o teatro. E é isso que V. Exª está destacando com brilhantismo. Parabéns, Senador. Parabenizo V. Exª e lamento bastante, em nome do povo do Rio Grande do Norte, o qual represento aqui, o desaparecimento desse gênio do teatro que foi Paulo Autran.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - V. Exª, do Rio Grande do Norte, Senador Garibaldi Alves, aqui mostra o quanto Paulo Autran era admirado em todos os quadrantes do nosso País. Ele, inclusive, também foi um grande professor da vida para todos nós.

Presidente Mão Santa, eu gostaria que V. Exª me desse três minutos a mais para falar, porque, como V. Exª mesmo me chamou, sou também Professor na Fundação Getúlio Vargas. Hoje, sendo o Dia do Professor, eu gostaria, inclusive somando-me à palavra da Senadora Serys Shessarenko, também outra professora, de abraçar...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Está escrito na Bíblia: “Pedi e dar-se-vos-á”. V. Exª tem os seus três minutos.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado. Eu gostaria de abraçar este dia de homenagem aos professores e, inclusive, de transmitir aqui um apelo ao Reitor da Fundação Santo André, o prezado Reitor Odair Bermelho: não é possível que sejam processados os professores da Fundação Santo André no momento em que resolveram se solidarizar com os estudantes, que se sentiam obrigados a fazer manifestações, reivindicações por melhorias de ensino na Fundação Santo André, também expressando o seu sentimento de que não deve haver aumento tão significativo das taxas escolares.

Os professores se solidarizaram com os alunos que haviam protestado em meados do mês passado e que ocuparam por alguns momentos a reitoria para expressar o seu sentimento. Foi diferente até do que ocorreu na Universidade de São Paulo, onde houve a ocupação da reitoria por mais de 60 dias e se procurou de toda maneira não utilizar a tropa de choque, a Polícia Militar. Mas isso ocorreu na Fundação Santo André, e os professores se solidarizaram com os estudantes.

Hoje o Reitor Odair encaminhou para o Fórum da Comarca de Santo André um processo contra 50 professores, dentre os quais a Srª Aline Elizabeth Belarmina dos Santos e o Sr. André Bury da Silva. São 50 professores, e eu aqui coloco a lista com esses nomes, porque me parece, Reitor Odair Bermelho, que é sobretudo o dialogo com os professores e estudantes a melhor maneira de se procurar resolver impasses, dificuldades.

Eu, que sou professor desde 1966, sempre aprendi, inclusive com meus mestres, que um professor e ainda mais um reitor de uma instituição devem procurar o diálogo, e nunca o uso da força, o uso da Polícia Militar, para dirimir problemas.

Portanto, quero aqui fazer um apelo ao Ministro da Educação, Fernando Haddad, que está a par desses episódios, e ao Prefeito João Avamileno, para que procurem colaborar com a Fundação Santo André, com toda a comunidade de professores e estudantes, para que haja uma resolução de bom senso.

Eu, hoje, aceitei um convite que os professores e estudantes da Fundação Santo André me fizeram para um diálogo. No próximo sábado, às 13 horas, visitarei a Fundação Santo André. Mas espero que até lá, em homenagem ao Dia do Professor, esses problemas estejam resolvidos.

Muito obrigado, Sr. Presidente Mão Santa, pela tolerância.

Muito obrigado, Senadora Serys Slhessarenko, cujo pronunciamento quero ouvir agora, inclusive como professora.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e o § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Urgente Fundação Santo André” (e-mail);

“Carta aberta dos estudantes”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/2007 - Página 35229